BRASÍLIA - O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega deve desistir da indicação de seu nome para a presidência da Vale e enterrar as movimentações do governo sobre a escolha, segundo pessoas ligados ao Palácio do Planalto ouvidas pelo Estadão/Broadcast.
Nos últimos dias, houve uma articulação nos bastidores por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que Mantega fosse colocado no comando da empresa.
Essas pessoas ouvidas pelo Estadão/Broadcast indicaram que ao menos parte dos ministros do governo perceberam o quão controverso era esse movimento e evitavam se posicionar sobre o assunto com o presidente, por se tratar de uma escolha pessoal do petista.
A notícia de que Mantega planeja desistir da indicação provocou a valorização das ações da Vale, e consequentemente deu força ao Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, a B3. A ação da mineradora subiu mais de 1,50% num intervalo de dez minutos. Foi a maior contribuição para o avanço do Ibovespa, que subia 1,68%, após passar boa parte do pregão perto da estabilidade. Também ajudaram na alta do índice as ações da Petrobras e do setor bancário.
Até a quinta-feira, 25, a Vale já havia perdido R$ 38 bilhões de valor de mercado apenas neste ano, em meio a um momento de baixa do preço do minério de ferro — devido à demanda incerta da China — e às pressões do governo para achar uma posição para Mantega.
Nesta sexta, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que não tratou com Lula sobre a sucessão da mineradora. De acordo com ele, o chefe do Executivo não faria interferência em empresas de capital aberto.
Na quarta-feira, 24, Silveira telefonou para conselheiros da empresa para defender que o comitê de acionistas escolha o indicado de Lula para a presidência da companhia. O grupo deverá se reunir na próxima terça-feira, 30, para deliberar sobre a sucessão na mineradora. A informação confirmada pelo Estadão com um conselheiro.
A operação conduzida pelo governo para tentar emplacar Mantega na presidência da companhia é considerada de alto risco no conselho de acionistas. A chance de o ex-ministro ser eleito pela maioria era tratada como improvável, uma vez que o governo não tem a influência que um dia já teve na mineradora.
Mantega é um aliado de longa data do presidente. Foi ministro do Planejamento no primeiro mandato de Lula, de 2003 a 2004. Em seguida, assumiu a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), onde ficou até 2006, quando foi alçado a ministro da Fazenda.
Foi o mais longevo ministro da Fazenda, tendo permanecido no cargo até o fim do primeiro mandato de Dilma Rousseff, em 2014. Apesar de ter participado de mais de uma gestão petista, seu nome é constantemente associado à debacle econômica na gestão da ex-presidente.