'Marca Brasil' esbarra nas empresas por mais que façam a coisa certa, diz Marina Grossi


Líder de conselho para o Desenvolvimento Sustentável afirma que a percepção negativa frente ao desmatamento gera prejuízos na reputação e nos negócios das empresas brasileiras

Por Mariana Durão

RIO -Uma das lideranças à frente da articulação do setor empresarial para cobrar do governo medidas de combate ao desmatamento na Amazônia, a presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi, afirma que a percepção negativa do País na área socioambiental pode gerar prejuízos reputacionais e ao desenvolvimento de negócios. Segundo ela, a “marca Brasil” esbarra nas empresas, mesmo quando estas adotam políticas sustentáveis.

“Não existe uma empresa saudável em um ambiente em que a criminalidade grassa solta”, disse ao Estadão/Broadcast, em referência ao desmatamento ilegal. “A marca Brasil esbarra nas empresas por mais que elas façam a coisa certa”.

Marina Grossi vê empresas em situação delicada devido ao desmatamento no País. Foto: Fiesp
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Iniciado há três semanas, o movimento resultou em uma carta enviada ao Conselho Nacional da Amazônia Legal, liderado pelo vice-presidente da República Hamilton Mourão. O documento em defesa da agenda do desenvolvimento sustentável foi assinado por presidentes de 40 companhias, grupos empresariais dos setores industrial, agrícola e de serviços e organizações setoriais. 

O documento também será protocolado no Supremo Tribunal Federal, Senado Federal, Câmara dos Deputados e na Procuradoria Geral da República (PGR), mas não foi enviado ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de improbidade administrativa na condução da pasta. Segundo Marina, isso se deve ao fato de o comunicado ter como foco a Amazônia, que agora está sob a guarda de Mourão. Veja trechos da entrevista.

O que acendeu o sinal amarelo e levou à elaboração da carta dos CEOs ao vice-presidente Hamilton Mourão?

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O sinal amarelo foi não haver melhora em índices importantes como o desmatamento ilegal ou a questão da grilagem, que aumenta na Amazônia. Não adianta falar que vamos atrair capital e passar o sinal correto se esses índices não mudarem. A Amazônia teve o maior desmatamento em dez anos e 99% se devem ao desmatamento ilegal. A marca Brasil esbarra nas empresas, por mais que façam a coisa certa.

No mundo pós-pandemia o compromisso com a sustentabilidade se tornará ainda mais importante?

Está clara a relação da pandemia com a preservação da biodiversidade. Numa região como a Amazônia produzir preservando e conservando a floresta é fundamental. É preciso pensar como os recursos da sociedade podem sermelhor direcionado para termos uma economia de baixo carbono e mais resiliente, não só à pandemia, mas a questões climáticas também. Não dá mais para ter tolerância, por isso o primeiro ponto é o combate inflexível ao desmatamento ilegal. E o segundo é que você tenha uma retomada (econômica) com critérios. 

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A deterioração da imagem do Brasil na esfera socioambiental atrapalha?

Vemos com preocupação a percepção negativa da imagem (brasileira) em relação às questões socioambientais. As empresas signatárias da carta adotam boas práticas e querem ser reconhecidas por isso. Traz um potencial grande de prejuízo para o Brasil, não só reputacional mas no desenvolvimento de negócios. 

Como os negócios podem ser prejudicados?

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Não existe uma empresa saudável em um ambiente em que a criminalidade grassa solta. Prejudica quando elas têm que estar sempre explicando que não apoiam o desmatamento. É preciso separar o joio do trigo. As empresas sérias querem fazer a coisa certa: respeitar a lei dentro da Amazônia, buscar soluções inovadoras, créditos de carbono. É isso que pode trazer mais rentabilidade para o País, as empresas, a sociedade. 

Pesou o movimento de investidores estrangeiros ameaçando retirar recursos do País se não houver um freio ao desmatamento? 

O movimento desses investidores corrobora, mas a costura do comunicado veio antes. As empresas signatárias têm mercados lá fora. O investidor internacional é importante, assim como o consumidor, que tem um novo padrão. Preocupa vocalizar o setor empresarial de maneira muito contundente para dizer: é esse o modelo de desenvolvimento que está dando certo para nós e acreditamos trazer mais competitividade para o País. A demanda, investidores e empresas estão indo num sentido e não é aquele para o qual o desmatamento ilegal, a grilagem e o modelo retrógrado predador nos levam.

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A carta fala da “necessidade de adotar rigorosa fiscalização de irregularidades e crimes ambientais na Amazônia”. Como fazer isso quando o ministro do Meio Ambiente é acusado pelo MPF de promover o desmonte de estruturas de proteção e fala em “passar a boiada” flexibilizando regras ambientais? 

A carta é dirigida ao presidente do Conselho da Amazônia, o vice-presidente Hamilton Mourão. O desmatamento ilegal foi colocado por ele no topo da lista (de prioridades). Queremos fazer isso acontecer. Por mais que haja boas intenções, se o desmatamento ilegal continua subindo não tem campanha de publicidade que resolva. Precisamos agir. Estamos com o maior desmatamento já visto, o que sem dúvida está afetando a credibilidade do País. É preciso combater isso de forma inflexível. 

Na avaliação dos signatários da carta ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, deve ser afastado da pasta?

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Não falamos do ministro para fazer a carta. Estamos distribuindo o comunicado para o presidente do Conselho da Amazônia, o Toffoli (Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal), Maia (Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados), o Alcolumbre (Davi Alcolumbre, presidente do Senado) e para o Aras (Augusto Aras, procurador-geral da República). São representantes dos três poderes para que o governo, seja por meio de lei ou de um ambiente jurídico bem claro, deixe claro estar fechado nessa direção. O MMA não foi pensado como um dos destinatários. 

Deixar o titular da pasta do Meio Ambiente de fora não é sintomático? 

Não porque estamos falando sobretudo do bioma da Amazônia, que saiu da pasta dele. 

Os empresários querem ter um representante no Conselho da Amazônia?

Estamos pedindo diálogo, mas a boa governança dos conselhos recomenda que não sejam só governamentais. O melhor formato é aquele em que se ouve a sociedade.

Duas empresas que assinam a carta, Vale e Eletrobrás, foram excluídas do portfólio do fundo soberano da Noruega por questões ambientais e de direitos humanos. O setor privado está fazendo o dever de casa?

Os signatários da carta têm que ter esses compromissos daqui para frente. Se a empresa assina está fazendo isso ou busca um freio de arrumação para ir nessa direção.

RIO -Uma das lideranças à frente da articulação do setor empresarial para cobrar do governo medidas de combate ao desmatamento na Amazônia, a presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi, afirma que a percepção negativa do País na área socioambiental pode gerar prejuízos reputacionais e ao desenvolvimento de negócios. Segundo ela, a “marca Brasil” esbarra nas empresas, mesmo quando estas adotam políticas sustentáveis.

“Não existe uma empresa saudável em um ambiente em que a criminalidade grassa solta”, disse ao Estadão/Broadcast, em referência ao desmatamento ilegal. “A marca Brasil esbarra nas empresas por mais que elas façam a coisa certa”.

Marina Grossi vê empresas em situação delicada devido ao desmatamento no País. Foto: Fiesp

Iniciado há três semanas, o movimento resultou em uma carta enviada ao Conselho Nacional da Amazônia Legal, liderado pelo vice-presidente da República Hamilton Mourão. O documento em defesa da agenda do desenvolvimento sustentável foi assinado por presidentes de 40 companhias, grupos empresariais dos setores industrial, agrícola e de serviços e organizações setoriais. 

O documento também será protocolado no Supremo Tribunal Federal, Senado Federal, Câmara dos Deputados e na Procuradoria Geral da República (PGR), mas não foi enviado ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de improbidade administrativa na condução da pasta. Segundo Marina, isso se deve ao fato de o comunicado ter como foco a Amazônia, que agora está sob a guarda de Mourão. Veja trechos da entrevista.

O que acendeu o sinal amarelo e levou à elaboração da carta dos CEOs ao vice-presidente Hamilton Mourão?

O sinal amarelo foi não haver melhora em índices importantes como o desmatamento ilegal ou a questão da grilagem, que aumenta na Amazônia. Não adianta falar que vamos atrair capital e passar o sinal correto se esses índices não mudarem. A Amazônia teve o maior desmatamento em dez anos e 99% se devem ao desmatamento ilegal. A marca Brasil esbarra nas empresas, por mais que façam a coisa certa.

No mundo pós-pandemia o compromisso com a sustentabilidade se tornará ainda mais importante?

Está clara a relação da pandemia com a preservação da biodiversidade. Numa região como a Amazônia produzir preservando e conservando a floresta é fundamental. É preciso pensar como os recursos da sociedade podem sermelhor direcionado para termos uma economia de baixo carbono e mais resiliente, não só à pandemia, mas a questões climáticas também. Não dá mais para ter tolerância, por isso o primeiro ponto é o combate inflexível ao desmatamento ilegal. E o segundo é que você tenha uma retomada (econômica) com critérios. 

A deterioração da imagem do Brasil na esfera socioambiental atrapalha?

Vemos com preocupação a percepção negativa da imagem (brasileira) em relação às questões socioambientais. As empresas signatárias da carta adotam boas práticas e querem ser reconhecidas por isso. Traz um potencial grande de prejuízo para o Brasil, não só reputacional mas no desenvolvimento de negócios. 

Como os negócios podem ser prejudicados?

Não existe uma empresa saudável em um ambiente em que a criminalidade grassa solta. Prejudica quando elas têm que estar sempre explicando que não apoiam o desmatamento. É preciso separar o joio do trigo. As empresas sérias querem fazer a coisa certa: respeitar a lei dentro da Amazônia, buscar soluções inovadoras, créditos de carbono. É isso que pode trazer mais rentabilidade para o País, as empresas, a sociedade. 

Pesou o movimento de investidores estrangeiros ameaçando retirar recursos do País se não houver um freio ao desmatamento? 

O movimento desses investidores corrobora, mas a costura do comunicado veio antes. As empresas signatárias têm mercados lá fora. O investidor internacional é importante, assim como o consumidor, que tem um novo padrão. Preocupa vocalizar o setor empresarial de maneira muito contundente para dizer: é esse o modelo de desenvolvimento que está dando certo para nós e acreditamos trazer mais competitividade para o País. A demanda, investidores e empresas estão indo num sentido e não é aquele para o qual o desmatamento ilegal, a grilagem e o modelo retrógrado predador nos levam.

A carta fala da “necessidade de adotar rigorosa fiscalização de irregularidades e crimes ambientais na Amazônia”. Como fazer isso quando o ministro do Meio Ambiente é acusado pelo MPF de promover o desmonte de estruturas de proteção e fala em “passar a boiada” flexibilizando regras ambientais? 

A carta é dirigida ao presidente do Conselho da Amazônia, o vice-presidente Hamilton Mourão. O desmatamento ilegal foi colocado por ele no topo da lista (de prioridades). Queremos fazer isso acontecer. Por mais que haja boas intenções, se o desmatamento ilegal continua subindo não tem campanha de publicidade que resolva. Precisamos agir. Estamos com o maior desmatamento já visto, o que sem dúvida está afetando a credibilidade do País. É preciso combater isso de forma inflexível. 

Na avaliação dos signatários da carta ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, deve ser afastado da pasta?

Não falamos do ministro para fazer a carta. Estamos distribuindo o comunicado para o presidente do Conselho da Amazônia, o Toffoli (Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal), Maia (Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados), o Alcolumbre (Davi Alcolumbre, presidente do Senado) e para o Aras (Augusto Aras, procurador-geral da República). São representantes dos três poderes para que o governo, seja por meio de lei ou de um ambiente jurídico bem claro, deixe claro estar fechado nessa direção. O MMA não foi pensado como um dos destinatários. 

Deixar o titular da pasta do Meio Ambiente de fora não é sintomático? 

Não porque estamos falando sobretudo do bioma da Amazônia, que saiu da pasta dele. 

Os empresários querem ter um representante no Conselho da Amazônia?

Estamos pedindo diálogo, mas a boa governança dos conselhos recomenda que não sejam só governamentais. O melhor formato é aquele em que se ouve a sociedade.

Duas empresas que assinam a carta, Vale e Eletrobrás, foram excluídas do portfólio do fundo soberano da Noruega por questões ambientais e de direitos humanos. O setor privado está fazendo o dever de casa?

Os signatários da carta têm que ter esses compromissos daqui para frente. Se a empresa assina está fazendo isso ou busca um freio de arrumação para ir nessa direção.

RIO -Uma das lideranças à frente da articulação do setor empresarial para cobrar do governo medidas de combate ao desmatamento na Amazônia, a presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi, afirma que a percepção negativa do País na área socioambiental pode gerar prejuízos reputacionais e ao desenvolvimento de negócios. Segundo ela, a “marca Brasil” esbarra nas empresas, mesmo quando estas adotam políticas sustentáveis.

“Não existe uma empresa saudável em um ambiente em que a criminalidade grassa solta”, disse ao Estadão/Broadcast, em referência ao desmatamento ilegal. “A marca Brasil esbarra nas empresas por mais que elas façam a coisa certa”.

Marina Grossi vê empresas em situação delicada devido ao desmatamento no País. Foto: Fiesp

Iniciado há três semanas, o movimento resultou em uma carta enviada ao Conselho Nacional da Amazônia Legal, liderado pelo vice-presidente da República Hamilton Mourão. O documento em defesa da agenda do desenvolvimento sustentável foi assinado por presidentes de 40 companhias, grupos empresariais dos setores industrial, agrícola e de serviços e organizações setoriais. 

O documento também será protocolado no Supremo Tribunal Federal, Senado Federal, Câmara dos Deputados e na Procuradoria Geral da República (PGR), mas não foi enviado ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de improbidade administrativa na condução da pasta. Segundo Marina, isso se deve ao fato de o comunicado ter como foco a Amazônia, que agora está sob a guarda de Mourão. Veja trechos da entrevista.

O que acendeu o sinal amarelo e levou à elaboração da carta dos CEOs ao vice-presidente Hamilton Mourão?

O sinal amarelo foi não haver melhora em índices importantes como o desmatamento ilegal ou a questão da grilagem, que aumenta na Amazônia. Não adianta falar que vamos atrair capital e passar o sinal correto se esses índices não mudarem. A Amazônia teve o maior desmatamento em dez anos e 99% se devem ao desmatamento ilegal. A marca Brasil esbarra nas empresas, por mais que façam a coisa certa.

No mundo pós-pandemia o compromisso com a sustentabilidade se tornará ainda mais importante?

Está clara a relação da pandemia com a preservação da biodiversidade. Numa região como a Amazônia produzir preservando e conservando a floresta é fundamental. É preciso pensar como os recursos da sociedade podem sermelhor direcionado para termos uma economia de baixo carbono e mais resiliente, não só à pandemia, mas a questões climáticas também. Não dá mais para ter tolerância, por isso o primeiro ponto é o combate inflexível ao desmatamento ilegal. E o segundo é que você tenha uma retomada (econômica) com critérios. 

A deterioração da imagem do Brasil na esfera socioambiental atrapalha?

Vemos com preocupação a percepção negativa da imagem (brasileira) em relação às questões socioambientais. As empresas signatárias da carta adotam boas práticas e querem ser reconhecidas por isso. Traz um potencial grande de prejuízo para o Brasil, não só reputacional mas no desenvolvimento de negócios. 

Como os negócios podem ser prejudicados?

Não existe uma empresa saudável em um ambiente em que a criminalidade grassa solta. Prejudica quando elas têm que estar sempre explicando que não apoiam o desmatamento. É preciso separar o joio do trigo. As empresas sérias querem fazer a coisa certa: respeitar a lei dentro da Amazônia, buscar soluções inovadoras, créditos de carbono. É isso que pode trazer mais rentabilidade para o País, as empresas, a sociedade. 

Pesou o movimento de investidores estrangeiros ameaçando retirar recursos do País se não houver um freio ao desmatamento? 

O movimento desses investidores corrobora, mas a costura do comunicado veio antes. As empresas signatárias têm mercados lá fora. O investidor internacional é importante, assim como o consumidor, que tem um novo padrão. Preocupa vocalizar o setor empresarial de maneira muito contundente para dizer: é esse o modelo de desenvolvimento que está dando certo para nós e acreditamos trazer mais competitividade para o País. A demanda, investidores e empresas estão indo num sentido e não é aquele para o qual o desmatamento ilegal, a grilagem e o modelo retrógrado predador nos levam.

A carta fala da “necessidade de adotar rigorosa fiscalização de irregularidades e crimes ambientais na Amazônia”. Como fazer isso quando o ministro do Meio Ambiente é acusado pelo MPF de promover o desmonte de estruturas de proteção e fala em “passar a boiada” flexibilizando regras ambientais? 

A carta é dirigida ao presidente do Conselho da Amazônia, o vice-presidente Hamilton Mourão. O desmatamento ilegal foi colocado por ele no topo da lista (de prioridades). Queremos fazer isso acontecer. Por mais que haja boas intenções, se o desmatamento ilegal continua subindo não tem campanha de publicidade que resolva. Precisamos agir. Estamos com o maior desmatamento já visto, o que sem dúvida está afetando a credibilidade do País. É preciso combater isso de forma inflexível. 

Na avaliação dos signatários da carta ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, deve ser afastado da pasta?

Não falamos do ministro para fazer a carta. Estamos distribuindo o comunicado para o presidente do Conselho da Amazônia, o Toffoli (Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal), Maia (Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados), o Alcolumbre (Davi Alcolumbre, presidente do Senado) e para o Aras (Augusto Aras, procurador-geral da República). São representantes dos três poderes para que o governo, seja por meio de lei ou de um ambiente jurídico bem claro, deixe claro estar fechado nessa direção. O MMA não foi pensado como um dos destinatários. 

Deixar o titular da pasta do Meio Ambiente de fora não é sintomático? 

Não porque estamos falando sobretudo do bioma da Amazônia, que saiu da pasta dele. 

Os empresários querem ter um representante no Conselho da Amazônia?

Estamos pedindo diálogo, mas a boa governança dos conselhos recomenda que não sejam só governamentais. O melhor formato é aquele em que se ouve a sociedade.

Duas empresas que assinam a carta, Vale e Eletrobrás, foram excluídas do portfólio do fundo soberano da Noruega por questões ambientais e de direitos humanos. O setor privado está fazendo o dever de casa?

Os signatários da carta têm que ter esses compromissos daqui para frente. Se a empresa assina está fazendo isso ou busca um freio de arrumação para ir nessa direção.

RIO -Uma das lideranças à frente da articulação do setor empresarial para cobrar do governo medidas de combate ao desmatamento na Amazônia, a presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi, afirma que a percepção negativa do País na área socioambiental pode gerar prejuízos reputacionais e ao desenvolvimento de negócios. Segundo ela, a “marca Brasil” esbarra nas empresas, mesmo quando estas adotam políticas sustentáveis.

“Não existe uma empresa saudável em um ambiente em que a criminalidade grassa solta”, disse ao Estadão/Broadcast, em referência ao desmatamento ilegal. “A marca Brasil esbarra nas empresas por mais que elas façam a coisa certa”.

Marina Grossi vê empresas em situação delicada devido ao desmatamento no País. Foto: Fiesp

Iniciado há três semanas, o movimento resultou em uma carta enviada ao Conselho Nacional da Amazônia Legal, liderado pelo vice-presidente da República Hamilton Mourão. O documento em defesa da agenda do desenvolvimento sustentável foi assinado por presidentes de 40 companhias, grupos empresariais dos setores industrial, agrícola e de serviços e organizações setoriais. 

O documento também será protocolado no Supremo Tribunal Federal, Senado Federal, Câmara dos Deputados e na Procuradoria Geral da República (PGR), mas não foi enviado ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de improbidade administrativa na condução da pasta. Segundo Marina, isso se deve ao fato de o comunicado ter como foco a Amazônia, que agora está sob a guarda de Mourão. Veja trechos da entrevista.

O que acendeu o sinal amarelo e levou à elaboração da carta dos CEOs ao vice-presidente Hamilton Mourão?

O sinal amarelo foi não haver melhora em índices importantes como o desmatamento ilegal ou a questão da grilagem, que aumenta na Amazônia. Não adianta falar que vamos atrair capital e passar o sinal correto se esses índices não mudarem. A Amazônia teve o maior desmatamento em dez anos e 99% se devem ao desmatamento ilegal. A marca Brasil esbarra nas empresas, por mais que façam a coisa certa.

No mundo pós-pandemia o compromisso com a sustentabilidade se tornará ainda mais importante?

Está clara a relação da pandemia com a preservação da biodiversidade. Numa região como a Amazônia produzir preservando e conservando a floresta é fundamental. É preciso pensar como os recursos da sociedade podem sermelhor direcionado para termos uma economia de baixo carbono e mais resiliente, não só à pandemia, mas a questões climáticas também. Não dá mais para ter tolerância, por isso o primeiro ponto é o combate inflexível ao desmatamento ilegal. E o segundo é que você tenha uma retomada (econômica) com critérios. 

A deterioração da imagem do Brasil na esfera socioambiental atrapalha?

Vemos com preocupação a percepção negativa da imagem (brasileira) em relação às questões socioambientais. As empresas signatárias da carta adotam boas práticas e querem ser reconhecidas por isso. Traz um potencial grande de prejuízo para o Brasil, não só reputacional mas no desenvolvimento de negócios. 

Como os negócios podem ser prejudicados?

Não existe uma empresa saudável em um ambiente em que a criminalidade grassa solta. Prejudica quando elas têm que estar sempre explicando que não apoiam o desmatamento. É preciso separar o joio do trigo. As empresas sérias querem fazer a coisa certa: respeitar a lei dentro da Amazônia, buscar soluções inovadoras, créditos de carbono. É isso que pode trazer mais rentabilidade para o País, as empresas, a sociedade. 

Pesou o movimento de investidores estrangeiros ameaçando retirar recursos do País se não houver um freio ao desmatamento? 

O movimento desses investidores corrobora, mas a costura do comunicado veio antes. As empresas signatárias têm mercados lá fora. O investidor internacional é importante, assim como o consumidor, que tem um novo padrão. Preocupa vocalizar o setor empresarial de maneira muito contundente para dizer: é esse o modelo de desenvolvimento que está dando certo para nós e acreditamos trazer mais competitividade para o País. A demanda, investidores e empresas estão indo num sentido e não é aquele para o qual o desmatamento ilegal, a grilagem e o modelo retrógrado predador nos levam.

A carta fala da “necessidade de adotar rigorosa fiscalização de irregularidades e crimes ambientais na Amazônia”. Como fazer isso quando o ministro do Meio Ambiente é acusado pelo MPF de promover o desmonte de estruturas de proteção e fala em “passar a boiada” flexibilizando regras ambientais? 

A carta é dirigida ao presidente do Conselho da Amazônia, o vice-presidente Hamilton Mourão. O desmatamento ilegal foi colocado por ele no topo da lista (de prioridades). Queremos fazer isso acontecer. Por mais que haja boas intenções, se o desmatamento ilegal continua subindo não tem campanha de publicidade que resolva. Precisamos agir. Estamos com o maior desmatamento já visto, o que sem dúvida está afetando a credibilidade do País. É preciso combater isso de forma inflexível. 

Na avaliação dos signatários da carta ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, deve ser afastado da pasta?

Não falamos do ministro para fazer a carta. Estamos distribuindo o comunicado para o presidente do Conselho da Amazônia, o Toffoli (Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal), Maia (Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados), o Alcolumbre (Davi Alcolumbre, presidente do Senado) e para o Aras (Augusto Aras, procurador-geral da República). São representantes dos três poderes para que o governo, seja por meio de lei ou de um ambiente jurídico bem claro, deixe claro estar fechado nessa direção. O MMA não foi pensado como um dos destinatários. 

Deixar o titular da pasta do Meio Ambiente de fora não é sintomático? 

Não porque estamos falando sobretudo do bioma da Amazônia, que saiu da pasta dele. 

Os empresários querem ter um representante no Conselho da Amazônia?

Estamos pedindo diálogo, mas a boa governança dos conselhos recomenda que não sejam só governamentais. O melhor formato é aquele em que se ouve a sociedade.

Duas empresas que assinam a carta, Vale e Eletrobrás, foram excluídas do portfólio do fundo soberano da Noruega por questões ambientais e de direitos humanos. O setor privado está fazendo o dever de casa?

Os signatários da carta têm que ter esses compromissos daqui para frente. Se a empresa assina está fazendo isso ou busca um freio de arrumação para ir nessa direção.

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