Morre Maria da Conceição Tavares, ícone do pensamento econômico desenvolvimentista


Economista foi deputada federal pelo PT entre 1995 e 1999 e uma participante ativa do debate econômico no País, sobretudo no período da redemocratização, nos anos 1980

Por Redação
Atualização:

Morreu neste sábado, aos 94 anos, a economista Maria da Conceição Tavares, um dos principais nomes do pensamento desenvolvimentista, que defende uma maior intervenção do Estado na economia para estimular o crescimento. De acordo com amigos e familiares, ela estava em casa, e morreu dormindo, durante a madrugada.

Nascida em Portugal, em 1930, e radicada no Brasil desde 1954 - se naturalizou brasileira em 1957 -, Maria da Conceição foi professora na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi deputada federal pelo PT entre 1995 e 1999 e participante ativa do debate público sobre política econômica, sobretudo no período da redemocratização, nos anos 1980.

“Conceição ensinou toda uma geração que economista não era uma questão de mercado. Comemoramos o prazer de ter vivo na mesma época”, afirmou Gloria Moraes, economista, amiga e ex-aluna de Maria Conceição Tavares, ao informar o falecimento.

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Maria da Conceição Tavares, em 2010 Foto: Marcos De Paula/Estadão

Além de professora e deputada, Maria da Conceição trabalhou no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (hoje BNDES) e na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). No ano 2000, a publicação inglesa A biographical dictionary of dissenting economist (Um dicionário biográfico da economia dissidente, em tradução livre), editada por professores da Universidade de Cambridge e da Universidade de Leeds, a elegeu uma dos 100 mais importantes economistas mundiais do século XX que trabalhavam com correntes de pensamento econômico não neoclássicas.

Seu trabalho costuma ser dividido por pesquisadores em três fases. Na primeira, quando estava ligada à Cepal, dedicou-se ao desenvolvimento econômico do que se chamava “periferia” global, sobretudo o caso brasileiro. Em um segundo momento, na Unicamp, analisou criticamente e dialogou com textos de autores tradicionais da economia política, como Karl Marx, John Maynard Keynes e Michal Kalecki. Posteriormente, na UFRJ, focou seus estudos em economia política internacional, analisando a organização econômica global dos anos 1980 e a hegemonia americana.

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Era uma crítica feroz do liberalismo e neoliberalismo econômico. Em artigo publicado no site da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, em 2021 - ainda no governo de Jair Bolsonaro -, escreveu: “Com o neoliberalismo não vamos a lugar algum. Sobretudo porque, repito: historicamente o Brasil nunca deu saltos se não com impulsos do próprio Estado. Esses últimos dois anos têm sido pavorosos, do ponto de vista econômico, social e político. Todas as reformas propostas são reacionárias, da trabalhista à previdenciária. Vivemos um momento de ‘acerto de contas’ com Getúlio, com uma sanha inquisidora de direitos sem precedentes. Trata-se de um ajuste feito em cima dos desfavorecidos, da renda do trabalho, da contribuição previdenciária, da mão de obra. O Brasil virou uma economia de rentistas, o que eu mais temia. É necessário fazer uma eutanásia no rentismo, a forma mais eficaz e perversa de concentração de riquezas.”

Em 2015, em um evento em sua homenagem no Rio, disse que o Brasil precisava de uma aliança ampla com diversos setores da sociedade, para além de uma “frente de esquerda”, para vencer a crise política, e uma política de substituição de importações para vencer a crise econômica. “Hoje é fundamental recuperar a esperança porque a conjuntura está muito adversa”, afirmou.

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No mesmo evento, disse não crer na possibilidade, no curto prazo, de se levar adiante um projeto de desenvolvimento econômico do País com inserção internacional. Nem mesmo quando “o Estado nacional recuperar sua capacidade de operação, pelo menos fiscal” ou com o câmbio mais favorável às exportações. Isso porque, segundo ela, o fim do superciclo de commodities e a desaceleração do crescimento da China seriam obstáculos difíceis de transpor. Por isso, a saída para a economia nacional, disse, seria “voltar ao começo”.

“Temos de fazer, por um lado, por razões de conjuntura internacional e interna, um esforço de substituição de importações outra vez e, por outro, fazer um Estado social de bem-estar, porque esse curso dos últimos dez anos não pode ser interrompido”, afirmou. Ela dizia ser possível manter políticas de distribuição de renda com a substituição das importações e com investimentos em infraestrutura.

Morreu neste sábado, aos 94 anos, a economista Maria da Conceição Tavares, um dos principais nomes do pensamento desenvolvimentista, que defende uma maior intervenção do Estado na economia para estimular o crescimento. De acordo com amigos e familiares, ela estava em casa, e morreu dormindo, durante a madrugada.

Nascida em Portugal, em 1930, e radicada no Brasil desde 1954 - se naturalizou brasileira em 1957 -, Maria da Conceição foi professora na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi deputada federal pelo PT entre 1995 e 1999 e participante ativa do debate público sobre política econômica, sobretudo no período da redemocratização, nos anos 1980.

“Conceição ensinou toda uma geração que economista não era uma questão de mercado. Comemoramos o prazer de ter vivo na mesma época”, afirmou Gloria Moraes, economista, amiga e ex-aluna de Maria Conceição Tavares, ao informar o falecimento.

Maria da Conceição Tavares, em 2010 Foto: Marcos De Paula/Estadão

Além de professora e deputada, Maria da Conceição trabalhou no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (hoje BNDES) e na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). No ano 2000, a publicação inglesa A biographical dictionary of dissenting economist (Um dicionário biográfico da economia dissidente, em tradução livre), editada por professores da Universidade de Cambridge e da Universidade de Leeds, a elegeu uma dos 100 mais importantes economistas mundiais do século XX que trabalhavam com correntes de pensamento econômico não neoclássicas.

Seu trabalho costuma ser dividido por pesquisadores em três fases. Na primeira, quando estava ligada à Cepal, dedicou-se ao desenvolvimento econômico do que se chamava “periferia” global, sobretudo o caso brasileiro. Em um segundo momento, na Unicamp, analisou criticamente e dialogou com textos de autores tradicionais da economia política, como Karl Marx, John Maynard Keynes e Michal Kalecki. Posteriormente, na UFRJ, focou seus estudos em economia política internacional, analisando a organização econômica global dos anos 1980 e a hegemonia americana.

Era uma crítica feroz do liberalismo e neoliberalismo econômico. Em artigo publicado no site da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, em 2021 - ainda no governo de Jair Bolsonaro -, escreveu: “Com o neoliberalismo não vamos a lugar algum. Sobretudo porque, repito: historicamente o Brasil nunca deu saltos se não com impulsos do próprio Estado. Esses últimos dois anos têm sido pavorosos, do ponto de vista econômico, social e político. Todas as reformas propostas são reacionárias, da trabalhista à previdenciária. Vivemos um momento de ‘acerto de contas’ com Getúlio, com uma sanha inquisidora de direitos sem precedentes. Trata-se de um ajuste feito em cima dos desfavorecidos, da renda do trabalho, da contribuição previdenciária, da mão de obra. O Brasil virou uma economia de rentistas, o que eu mais temia. É necessário fazer uma eutanásia no rentismo, a forma mais eficaz e perversa de concentração de riquezas.”

Em 2015, em um evento em sua homenagem no Rio, disse que o Brasil precisava de uma aliança ampla com diversos setores da sociedade, para além de uma “frente de esquerda”, para vencer a crise política, e uma política de substituição de importações para vencer a crise econômica. “Hoje é fundamental recuperar a esperança porque a conjuntura está muito adversa”, afirmou.

No mesmo evento, disse não crer na possibilidade, no curto prazo, de se levar adiante um projeto de desenvolvimento econômico do País com inserção internacional. Nem mesmo quando “o Estado nacional recuperar sua capacidade de operação, pelo menos fiscal” ou com o câmbio mais favorável às exportações. Isso porque, segundo ela, o fim do superciclo de commodities e a desaceleração do crescimento da China seriam obstáculos difíceis de transpor. Por isso, a saída para a economia nacional, disse, seria “voltar ao começo”.

“Temos de fazer, por um lado, por razões de conjuntura internacional e interna, um esforço de substituição de importações outra vez e, por outro, fazer um Estado social de bem-estar, porque esse curso dos últimos dez anos não pode ser interrompido”, afirmou. Ela dizia ser possível manter políticas de distribuição de renda com a substituição das importações e com investimentos em infraestrutura.

Morreu neste sábado, aos 94 anos, a economista Maria da Conceição Tavares, um dos principais nomes do pensamento desenvolvimentista, que defende uma maior intervenção do Estado na economia para estimular o crescimento. De acordo com amigos e familiares, ela estava em casa, e morreu dormindo, durante a madrugada.

Nascida em Portugal, em 1930, e radicada no Brasil desde 1954 - se naturalizou brasileira em 1957 -, Maria da Conceição foi professora na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi deputada federal pelo PT entre 1995 e 1999 e participante ativa do debate público sobre política econômica, sobretudo no período da redemocratização, nos anos 1980.

“Conceição ensinou toda uma geração que economista não era uma questão de mercado. Comemoramos o prazer de ter vivo na mesma época”, afirmou Gloria Moraes, economista, amiga e ex-aluna de Maria Conceição Tavares, ao informar o falecimento.

Maria da Conceição Tavares, em 2010 Foto: Marcos De Paula/Estadão

Além de professora e deputada, Maria da Conceição trabalhou no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (hoje BNDES) e na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). No ano 2000, a publicação inglesa A biographical dictionary of dissenting economist (Um dicionário biográfico da economia dissidente, em tradução livre), editada por professores da Universidade de Cambridge e da Universidade de Leeds, a elegeu uma dos 100 mais importantes economistas mundiais do século XX que trabalhavam com correntes de pensamento econômico não neoclássicas.

Seu trabalho costuma ser dividido por pesquisadores em três fases. Na primeira, quando estava ligada à Cepal, dedicou-se ao desenvolvimento econômico do que se chamava “periferia” global, sobretudo o caso brasileiro. Em um segundo momento, na Unicamp, analisou criticamente e dialogou com textos de autores tradicionais da economia política, como Karl Marx, John Maynard Keynes e Michal Kalecki. Posteriormente, na UFRJ, focou seus estudos em economia política internacional, analisando a organização econômica global dos anos 1980 e a hegemonia americana.

Era uma crítica feroz do liberalismo e neoliberalismo econômico. Em artigo publicado no site da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, em 2021 - ainda no governo de Jair Bolsonaro -, escreveu: “Com o neoliberalismo não vamos a lugar algum. Sobretudo porque, repito: historicamente o Brasil nunca deu saltos se não com impulsos do próprio Estado. Esses últimos dois anos têm sido pavorosos, do ponto de vista econômico, social e político. Todas as reformas propostas são reacionárias, da trabalhista à previdenciária. Vivemos um momento de ‘acerto de contas’ com Getúlio, com uma sanha inquisidora de direitos sem precedentes. Trata-se de um ajuste feito em cima dos desfavorecidos, da renda do trabalho, da contribuição previdenciária, da mão de obra. O Brasil virou uma economia de rentistas, o que eu mais temia. É necessário fazer uma eutanásia no rentismo, a forma mais eficaz e perversa de concentração de riquezas.”

Em 2015, em um evento em sua homenagem no Rio, disse que o Brasil precisava de uma aliança ampla com diversos setores da sociedade, para além de uma “frente de esquerda”, para vencer a crise política, e uma política de substituição de importações para vencer a crise econômica. “Hoje é fundamental recuperar a esperança porque a conjuntura está muito adversa”, afirmou.

No mesmo evento, disse não crer na possibilidade, no curto prazo, de se levar adiante um projeto de desenvolvimento econômico do País com inserção internacional. Nem mesmo quando “o Estado nacional recuperar sua capacidade de operação, pelo menos fiscal” ou com o câmbio mais favorável às exportações. Isso porque, segundo ela, o fim do superciclo de commodities e a desaceleração do crescimento da China seriam obstáculos difíceis de transpor. Por isso, a saída para a economia nacional, disse, seria “voltar ao começo”.

“Temos de fazer, por um lado, por razões de conjuntura internacional e interna, um esforço de substituição de importações outra vez e, por outro, fazer um Estado social de bem-estar, porque esse curso dos últimos dez anos não pode ser interrompido”, afirmou. Ela dizia ser possível manter políticas de distribuição de renda com a substituição das importações e com investimentos em infraestrutura.

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