Opinião|Reflorestar o imaginário


Tragédia no Rio Grande do Sul traz lições dolorosas, e reconstrução precisa ser feita a partir de mentalidade alinhada com novo modelo de desenvolvimento

Por Marina Grossi

Os números do desastre climático no Rio Grande do Sul trazem uma dimensão dos impactos causados à população gaúcha, mas não traduzem por completo o doloroso quadro que se pintou com tantas perdas humanas e materiais. Circularam pelo mundo as cenas de ruas alagadas, pessoas ilhadas, animais acossados em telhados e escombros de casas e comércios que apareciam à medida que a água lodosa baixava. Decorrido mais de um mês do início dos temporais, o saldo é de 94% dos 497 municípios gaúchos atingidos, 600 mil pessoas ainda fora de suas residências, vivendo em abrigos, casas de parentes ou amigos ou em acampamentos nas margens de rodovias. Dos quase 66 mil que tiveram suas casas destruídas, mais da metade são da região metropolitana de Porto Alegre, o que mostra uma face muito urbana da tragédia.

Nossas cidades foram erguidas desconsiderando a natureza – o fluxo dos rios, as áreas de várzea, o tipo de solo, o bioma em que estão inseridas e sua biodiversidade. Aprendemos a construir cidades alheias às suas condições e ciclos naturais, e estamos colhendo também os frutos da falta de planejamento urbano e do descaso dos gestores públicos com os alertas da ciência e com a própria legislação vigente. Exemplo disso é que, a despeito do regramento legal, as áreas de preservação permanente (APPs), como margens de rios e topos de morros, seguem sendo violadas, deixando livre o caminho para o assoreamento dos rios e os deslizamentos de terra. “A cidade virou a caixa-preta da civilização”, como coloca nosso imortal Ailton Krenak, ao refletir sobre como o planejamento urbano é feito contra a paisagem, em seu livro Futuro Ancestral. E lança a pergunta: como reconverter o tecido urbano industrial em tecido urbano natural, trazendo a natureza para o centro e transformando as cidades por dentro?

“Temos que reflorestar o nosso imaginário” é uma das respostas trazidas por Krenak. Não por acaso, em meio à miríade de informações sobre a crise climática e possíveis soluções, começamos a nos deparar com conceitos como “cidades-esponja”, criado pelo arquiteto e paisagista chinês Kongjian Yu. Este modelo urbano é centrado em uma infraestrutura ecológica que permite reter a água em suas fontes e sumidouros e desacelerar seu fluxo em caso de chuvas muito fortes, a partir da criação de zonas úmidas, jardins de chuva e aumento das áreas verdes nas cidades. Filho de camponês criado em um vilarejo na província de Zhejiang, na costa leste chinesa, sua vivência e observação da natureza o influenciaram para que seu trabalho fosse voltado a fomentar cidades mais amigáveis ao meio ambiente. Hoje seu escritório totaliza mais de 600 projetos de soluções baseadas na natureza (SBNs) em uma dezena de países.

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Temporais atingiram 497 municípios gaúchos  Foto: Wilton Junior/ Estadao

O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) vem defendendo, nos últimos anos, a adoção das SBNs como parte do cardápio das tecnologias para o enfrentamento da crise climática nas cidades. Em abril deste ano, pouco antes da tragédia gaúcha, Yu foi um dos palestrantes do seminário de Segurança Hídrica 2024, que realizamos em parceria com a Firjan e a CNI, onde foram abordadas soluções para enfrentar questões que envolvem a demanda por água face ao agravamento dos eventos extremos. A aposta na infraestrutura verde também faz parte das contribuições ao Plano de Transformação Ecológica do governo federal, onde propusemos a construção de uma infraestrutura de adaptação resiliente a eventos extremos, com gestão integrada de recursos hídricos e proteção de áreas vulneráveis, especialmente nas regiões costeiras.

A ciência tem nos mostrado que nunca estivemos tão perto de ultrapassar os limites estabelecidos no Acordo de Paris, de limitar o aumento global da temperatura a 1,5ºC. O crescimento da frequência e da intensidade dos eventos extremos torna tangível a percepção, para toda a população, de que a emergência climática se impõe como um problema do presente, não mais de um futuro distante – é o que pensam 96% dos brasileiros, segundo pesquisa Quaest, divulgada recentemente. Nada menos do que 99% dos entrevistados disseram que a tragédia no Rio Grande do Sul tem relação, totalmente ou em parte, com as mudanças climáticas. Virá a cobrança por uma ação mais efetiva e urgente de mitigação e adaptação climática, de modo que tanto os gestores públicos quanto o setor empresarial precisarão dar respostas à altura, no planejamento urbano, na oferta de seguros voltados à população mais vulnerável e com inovação de ponta para lidar com esses novos cenários.

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A tragédia no extremo sul do Brasil traz lições dolorosas, mas a reconstrução dessas áreas e infraestruturas tão abaladas precisa partir de uma mentalidade alinhada com um novo modelo de desenvolvimento, centrado nas pessoas e na cooperação com o meio ambiente – não na sua conveniência ou controle. Em meio a uma crise dessas proporções, fica cada vez mais claro que, se quisermos continuar a viver neste planeta, precisamos voltar a nos entender como parte da natureza.

Os números do desastre climático no Rio Grande do Sul trazem uma dimensão dos impactos causados à população gaúcha, mas não traduzem por completo o doloroso quadro que se pintou com tantas perdas humanas e materiais. Circularam pelo mundo as cenas de ruas alagadas, pessoas ilhadas, animais acossados em telhados e escombros de casas e comércios que apareciam à medida que a água lodosa baixava. Decorrido mais de um mês do início dos temporais, o saldo é de 94% dos 497 municípios gaúchos atingidos, 600 mil pessoas ainda fora de suas residências, vivendo em abrigos, casas de parentes ou amigos ou em acampamentos nas margens de rodovias. Dos quase 66 mil que tiveram suas casas destruídas, mais da metade são da região metropolitana de Porto Alegre, o que mostra uma face muito urbana da tragédia.

Nossas cidades foram erguidas desconsiderando a natureza – o fluxo dos rios, as áreas de várzea, o tipo de solo, o bioma em que estão inseridas e sua biodiversidade. Aprendemos a construir cidades alheias às suas condições e ciclos naturais, e estamos colhendo também os frutos da falta de planejamento urbano e do descaso dos gestores públicos com os alertas da ciência e com a própria legislação vigente. Exemplo disso é que, a despeito do regramento legal, as áreas de preservação permanente (APPs), como margens de rios e topos de morros, seguem sendo violadas, deixando livre o caminho para o assoreamento dos rios e os deslizamentos de terra. “A cidade virou a caixa-preta da civilização”, como coloca nosso imortal Ailton Krenak, ao refletir sobre como o planejamento urbano é feito contra a paisagem, em seu livro Futuro Ancestral. E lança a pergunta: como reconverter o tecido urbano industrial em tecido urbano natural, trazendo a natureza para o centro e transformando as cidades por dentro?

“Temos que reflorestar o nosso imaginário” é uma das respostas trazidas por Krenak. Não por acaso, em meio à miríade de informações sobre a crise climática e possíveis soluções, começamos a nos deparar com conceitos como “cidades-esponja”, criado pelo arquiteto e paisagista chinês Kongjian Yu. Este modelo urbano é centrado em uma infraestrutura ecológica que permite reter a água em suas fontes e sumidouros e desacelerar seu fluxo em caso de chuvas muito fortes, a partir da criação de zonas úmidas, jardins de chuva e aumento das áreas verdes nas cidades. Filho de camponês criado em um vilarejo na província de Zhejiang, na costa leste chinesa, sua vivência e observação da natureza o influenciaram para que seu trabalho fosse voltado a fomentar cidades mais amigáveis ao meio ambiente. Hoje seu escritório totaliza mais de 600 projetos de soluções baseadas na natureza (SBNs) em uma dezena de países.

Temporais atingiram 497 municípios gaúchos  Foto: Wilton Junior/ Estadao

O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) vem defendendo, nos últimos anos, a adoção das SBNs como parte do cardápio das tecnologias para o enfrentamento da crise climática nas cidades. Em abril deste ano, pouco antes da tragédia gaúcha, Yu foi um dos palestrantes do seminário de Segurança Hídrica 2024, que realizamos em parceria com a Firjan e a CNI, onde foram abordadas soluções para enfrentar questões que envolvem a demanda por água face ao agravamento dos eventos extremos. A aposta na infraestrutura verde também faz parte das contribuições ao Plano de Transformação Ecológica do governo federal, onde propusemos a construção de uma infraestrutura de adaptação resiliente a eventos extremos, com gestão integrada de recursos hídricos e proteção de áreas vulneráveis, especialmente nas regiões costeiras.

A ciência tem nos mostrado que nunca estivemos tão perto de ultrapassar os limites estabelecidos no Acordo de Paris, de limitar o aumento global da temperatura a 1,5ºC. O crescimento da frequência e da intensidade dos eventos extremos torna tangível a percepção, para toda a população, de que a emergência climática se impõe como um problema do presente, não mais de um futuro distante – é o que pensam 96% dos brasileiros, segundo pesquisa Quaest, divulgada recentemente. Nada menos do que 99% dos entrevistados disseram que a tragédia no Rio Grande do Sul tem relação, totalmente ou em parte, com as mudanças climáticas. Virá a cobrança por uma ação mais efetiva e urgente de mitigação e adaptação climática, de modo que tanto os gestores públicos quanto o setor empresarial precisarão dar respostas à altura, no planejamento urbano, na oferta de seguros voltados à população mais vulnerável e com inovação de ponta para lidar com esses novos cenários.

A tragédia no extremo sul do Brasil traz lições dolorosas, mas a reconstrução dessas áreas e infraestruturas tão abaladas precisa partir de uma mentalidade alinhada com um novo modelo de desenvolvimento, centrado nas pessoas e na cooperação com o meio ambiente – não na sua conveniência ou controle. Em meio a uma crise dessas proporções, fica cada vez mais claro que, se quisermos continuar a viver neste planeta, precisamos voltar a nos entender como parte da natureza.

Os números do desastre climático no Rio Grande do Sul trazem uma dimensão dos impactos causados à população gaúcha, mas não traduzem por completo o doloroso quadro que se pintou com tantas perdas humanas e materiais. Circularam pelo mundo as cenas de ruas alagadas, pessoas ilhadas, animais acossados em telhados e escombros de casas e comércios que apareciam à medida que a água lodosa baixava. Decorrido mais de um mês do início dos temporais, o saldo é de 94% dos 497 municípios gaúchos atingidos, 600 mil pessoas ainda fora de suas residências, vivendo em abrigos, casas de parentes ou amigos ou em acampamentos nas margens de rodovias. Dos quase 66 mil que tiveram suas casas destruídas, mais da metade são da região metropolitana de Porto Alegre, o que mostra uma face muito urbana da tragédia.

Nossas cidades foram erguidas desconsiderando a natureza – o fluxo dos rios, as áreas de várzea, o tipo de solo, o bioma em que estão inseridas e sua biodiversidade. Aprendemos a construir cidades alheias às suas condições e ciclos naturais, e estamos colhendo também os frutos da falta de planejamento urbano e do descaso dos gestores públicos com os alertas da ciência e com a própria legislação vigente. Exemplo disso é que, a despeito do regramento legal, as áreas de preservação permanente (APPs), como margens de rios e topos de morros, seguem sendo violadas, deixando livre o caminho para o assoreamento dos rios e os deslizamentos de terra. “A cidade virou a caixa-preta da civilização”, como coloca nosso imortal Ailton Krenak, ao refletir sobre como o planejamento urbano é feito contra a paisagem, em seu livro Futuro Ancestral. E lança a pergunta: como reconverter o tecido urbano industrial em tecido urbano natural, trazendo a natureza para o centro e transformando as cidades por dentro?

“Temos que reflorestar o nosso imaginário” é uma das respostas trazidas por Krenak. Não por acaso, em meio à miríade de informações sobre a crise climática e possíveis soluções, começamos a nos deparar com conceitos como “cidades-esponja”, criado pelo arquiteto e paisagista chinês Kongjian Yu. Este modelo urbano é centrado em uma infraestrutura ecológica que permite reter a água em suas fontes e sumidouros e desacelerar seu fluxo em caso de chuvas muito fortes, a partir da criação de zonas úmidas, jardins de chuva e aumento das áreas verdes nas cidades. Filho de camponês criado em um vilarejo na província de Zhejiang, na costa leste chinesa, sua vivência e observação da natureza o influenciaram para que seu trabalho fosse voltado a fomentar cidades mais amigáveis ao meio ambiente. Hoje seu escritório totaliza mais de 600 projetos de soluções baseadas na natureza (SBNs) em uma dezena de países.

Temporais atingiram 497 municípios gaúchos  Foto: Wilton Junior/ Estadao

O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) vem defendendo, nos últimos anos, a adoção das SBNs como parte do cardápio das tecnologias para o enfrentamento da crise climática nas cidades. Em abril deste ano, pouco antes da tragédia gaúcha, Yu foi um dos palestrantes do seminário de Segurança Hídrica 2024, que realizamos em parceria com a Firjan e a CNI, onde foram abordadas soluções para enfrentar questões que envolvem a demanda por água face ao agravamento dos eventos extremos. A aposta na infraestrutura verde também faz parte das contribuições ao Plano de Transformação Ecológica do governo federal, onde propusemos a construção de uma infraestrutura de adaptação resiliente a eventos extremos, com gestão integrada de recursos hídricos e proteção de áreas vulneráveis, especialmente nas regiões costeiras.

A ciência tem nos mostrado que nunca estivemos tão perto de ultrapassar os limites estabelecidos no Acordo de Paris, de limitar o aumento global da temperatura a 1,5ºC. O crescimento da frequência e da intensidade dos eventos extremos torna tangível a percepção, para toda a população, de que a emergência climática se impõe como um problema do presente, não mais de um futuro distante – é o que pensam 96% dos brasileiros, segundo pesquisa Quaest, divulgada recentemente. Nada menos do que 99% dos entrevistados disseram que a tragédia no Rio Grande do Sul tem relação, totalmente ou em parte, com as mudanças climáticas. Virá a cobrança por uma ação mais efetiva e urgente de mitigação e adaptação climática, de modo que tanto os gestores públicos quanto o setor empresarial precisarão dar respostas à altura, no planejamento urbano, na oferta de seguros voltados à população mais vulnerável e com inovação de ponta para lidar com esses novos cenários.

A tragédia no extremo sul do Brasil traz lições dolorosas, mas a reconstrução dessas áreas e infraestruturas tão abaladas precisa partir de uma mentalidade alinhada com um novo modelo de desenvolvimento, centrado nas pessoas e na cooperação com o meio ambiente – não na sua conveniência ou controle. Em meio a uma crise dessas proporções, fica cada vez mais claro que, se quisermos continuar a viver neste planeta, precisamos voltar a nos entender como parte da natureza.

Os números do desastre climático no Rio Grande do Sul trazem uma dimensão dos impactos causados à população gaúcha, mas não traduzem por completo o doloroso quadro que se pintou com tantas perdas humanas e materiais. Circularam pelo mundo as cenas de ruas alagadas, pessoas ilhadas, animais acossados em telhados e escombros de casas e comércios que apareciam à medida que a água lodosa baixava. Decorrido mais de um mês do início dos temporais, o saldo é de 94% dos 497 municípios gaúchos atingidos, 600 mil pessoas ainda fora de suas residências, vivendo em abrigos, casas de parentes ou amigos ou em acampamentos nas margens de rodovias. Dos quase 66 mil que tiveram suas casas destruídas, mais da metade são da região metropolitana de Porto Alegre, o que mostra uma face muito urbana da tragédia.

Nossas cidades foram erguidas desconsiderando a natureza – o fluxo dos rios, as áreas de várzea, o tipo de solo, o bioma em que estão inseridas e sua biodiversidade. Aprendemos a construir cidades alheias às suas condições e ciclos naturais, e estamos colhendo também os frutos da falta de planejamento urbano e do descaso dos gestores públicos com os alertas da ciência e com a própria legislação vigente. Exemplo disso é que, a despeito do regramento legal, as áreas de preservação permanente (APPs), como margens de rios e topos de morros, seguem sendo violadas, deixando livre o caminho para o assoreamento dos rios e os deslizamentos de terra. “A cidade virou a caixa-preta da civilização”, como coloca nosso imortal Ailton Krenak, ao refletir sobre como o planejamento urbano é feito contra a paisagem, em seu livro Futuro Ancestral. E lança a pergunta: como reconverter o tecido urbano industrial em tecido urbano natural, trazendo a natureza para o centro e transformando as cidades por dentro?

“Temos que reflorestar o nosso imaginário” é uma das respostas trazidas por Krenak. Não por acaso, em meio à miríade de informações sobre a crise climática e possíveis soluções, começamos a nos deparar com conceitos como “cidades-esponja”, criado pelo arquiteto e paisagista chinês Kongjian Yu. Este modelo urbano é centrado em uma infraestrutura ecológica que permite reter a água em suas fontes e sumidouros e desacelerar seu fluxo em caso de chuvas muito fortes, a partir da criação de zonas úmidas, jardins de chuva e aumento das áreas verdes nas cidades. Filho de camponês criado em um vilarejo na província de Zhejiang, na costa leste chinesa, sua vivência e observação da natureza o influenciaram para que seu trabalho fosse voltado a fomentar cidades mais amigáveis ao meio ambiente. Hoje seu escritório totaliza mais de 600 projetos de soluções baseadas na natureza (SBNs) em uma dezena de países.

Temporais atingiram 497 municípios gaúchos  Foto: Wilton Junior/ Estadao

O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) vem defendendo, nos últimos anos, a adoção das SBNs como parte do cardápio das tecnologias para o enfrentamento da crise climática nas cidades. Em abril deste ano, pouco antes da tragédia gaúcha, Yu foi um dos palestrantes do seminário de Segurança Hídrica 2024, que realizamos em parceria com a Firjan e a CNI, onde foram abordadas soluções para enfrentar questões que envolvem a demanda por água face ao agravamento dos eventos extremos. A aposta na infraestrutura verde também faz parte das contribuições ao Plano de Transformação Ecológica do governo federal, onde propusemos a construção de uma infraestrutura de adaptação resiliente a eventos extremos, com gestão integrada de recursos hídricos e proteção de áreas vulneráveis, especialmente nas regiões costeiras.

A ciência tem nos mostrado que nunca estivemos tão perto de ultrapassar os limites estabelecidos no Acordo de Paris, de limitar o aumento global da temperatura a 1,5ºC. O crescimento da frequência e da intensidade dos eventos extremos torna tangível a percepção, para toda a população, de que a emergência climática se impõe como um problema do presente, não mais de um futuro distante – é o que pensam 96% dos brasileiros, segundo pesquisa Quaest, divulgada recentemente. Nada menos do que 99% dos entrevistados disseram que a tragédia no Rio Grande do Sul tem relação, totalmente ou em parte, com as mudanças climáticas. Virá a cobrança por uma ação mais efetiva e urgente de mitigação e adaptação climática, de modo que tanto os gestores públicos quanto o setor empresarial precisarão dar respostas à altura, no planejamento urbano, na oferta de seguros voltados à população mais vulnerável e com inovação de ponta para lidar com esses novos cenários.

A tragédia no extremo sul do Brasil traz lições dolorosas, mas a reconstrução dessas áreas e infraestruturas tão abaladas precisa partir de uma mentalidade alinhada com um novo modelo de desenvolvimento, centrado nas pessoas e na cooperação com o meio ambiente – não na sua conveniência ou controle. Em meio a uma crise dessas proporções, fica cada vez mais claro que, se quisermos continuar a viver neste planeta, precisamos voltar a nos entender como parte da natureza.

Opinião por Marina Grossi

Economista, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds)

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