BRASÍLIA - Na esteira da divulgação da nova fase de reformas, a equipe econômica vai elevar nesta semana sua previsão para o crescimento da economia em 2020. A nova estimativa deve ficar mais próxima de 2,5% – hoje é de 2,17%. Na avaliação do governo, o setor privado está puxando a retomada do PIB.
Segundo o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, esse movimento já pode ser verificado nos últimos dados das contas nacionais, destrinchados em estudo preparado pela sua equipe. O trabalho foi concluído na semana passada e será divulgado essa semana em boletim macroeconômico da Secretaria.
O estudo separa o crescimento, os investimentos e a criação de vagas formais de trabalho no setor público e no setor privado, e o diagnóstico é uma inversão de tendência. Se em 2014 os números registrados pelo governo eram acima dos das empresas, a crise fiscal e a falta de recursos reduziram o espaço do governo, levando as empresas a aumentarem sua participação.
De acordo com o secretário, essa tendência será reforçada com as novas reformas que serão encaminhadas ao Congresso, com as medidas já em andamento para o crédito e mercado de capitais e com a liberação do FGTS. Ele citou ainda ações para facilitar a quitação de dívidas, os investimentos no setor de petróleo e os efeitos plenos da queda de juros, que demoram de seis a nove meses para refletir na atividade econômica.
“A nossa leitura é que esse é um crescimento sustentável no longo prazo e que preserva as contas públicas. Esse modelo veio para ficar”, diz o secretário. Sachsida ressalta que, nas últimas semanas, os economistas também estão revisando para cima as suas estimativas para o crescimento econômico, depois de um período em que alguns deles apostavam num quadro de recessão técnica no segundo trimestre do ano.
Investimentos
O estudo da Economia mostra que, ao final do segundo trimestre, o investimento privado crescia 7,02%, enquanto o público teve tombo de 14,30% em relação ao mesmo período de 2018. Já o PIB do setor privado avançava 1,69%, ante queda de 1,56% do público.
“Isso significa crescimento sustentável”, ressalta o secretário. Em resposta às críticas ao forte recuo dos investimentos realizados pelo governo, o secretário diz que eles são importantes em diversas áreas, mas pondera que é preciso separar o investimento que é fundamental para a estrutura do funcionamento do setor público do que foi feito no passado recente, que gerou perda produtividade e prejudicou as contas públicas. A estimativa do governo é que os investimentos fiquem em cerca de R$ 49 bilhões, um dos menores da história.
Para Sachsida, a queda dos juros para o patamar de 5% vai favorecer ainda mais os investimentos do setor privado. Além disso, a não reposição das vagas do setor público depois das novas aposentadorias também tem levado um distanciamento da criação de vagas formais do setor privado.
Em junho, o número de vagas abertas pelas empresas nos 12 meses anteriores chegou a 480,6 mil, enquanto no setor público houve uma redução de 28,8 mil empregos no período. “Antes caminhavam juntos.”
Tentação
Sachsida revela que o momento mais difícil para a equipe econômica foi em julho, quando diante da falta de recursos e de uma quase paralisação da máquina administrativa, especialistas recomendavam a revisão da meta fiscal do ano e mudanças no teto de gastos para liberar gastos públicos e impulsionar a economia. Segundo ele, o governo não caiu na “tentação” de seguir por esse caminho.
“O resultado deixou claro que a estratégia se pagou, com a credibilidade que o governo conquistou sendo firme em julho e agosto, quando havia várias cobranças”, afirma. O quadro negativo, na sua avaliação, passou a mudar em setembro. Para o secretário, a política adotada pelo ministro da economia, Paulo Guedes, está corrigido os problemas de má alocação de recursos. “Agora, quem é o líder é o setor privado. Estamos usando os recursos públicos onde ele é o mais eficiente.”