‘O meio ambiente é chave para retomada do crescimento brasileiro’, diz Mendonça de Barros


Economista afirma que o País pode atrair investimentos se Lula der uma guinada na política ambiental e criar regra fiscal ‘crível’

Por Luciana Dyniewicz

Apesar das perspectivas para um 2023 difícil na área econômica, há oportunidades para o novo governo Lula amenizar esse cenário e preparar o País para avançar com maior velocidade em 2024. O economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, aponta que uma guinada na política ambiental pode ser um dos principais chamarizes de investimento internacional nos próximos anos.

Segundo ele, medidas de preservação do meio ambiente, aliadas à retomada da diplomacia com o mundo e a investimentos na área de educação e pesquisa, podem elevar o fluxo de capital para o País. Consequentemente, a taxa de câmbio recuaria, diminuindo a inflação e permitindo que o Banco Central cortasse o juro.

“Essas medidas não dependem do Congresso nem de grande volume de dinheiro – mesmo porque não tem dinheiro. Elas são um grande ativo que não podemos perder. Pouca gente se objetaria a isso. Junto com o fiscal, isso permite algo rápido e construtivo”, destaca.

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Mendonça de Barros acrescenta, porém, que tudo isso precisa ser feito ao mesmo tempo em que se crie uma regra fiscal “crível”. “Os atores do mercado estão dispostos a comprar essa regra. Ninguém está exigindo mundos e fundos”, acrescenta.

A seguir, trechos da entrevista.

Qual economia o presidente eleito vai herdar?

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Lula reclamou da herança em 2003, mas agora que vai receber a herança maldita de verdade. Temos uma longa estagnação. O Brasil não cresce há tempo, e país que não cresce há tempo tem dificuldade de distribuição do bolo. O País também vive uma combinação de pandemia com o que aconteceu depois e acentuou a disparidade econômica. Na pandemia, empresas maiores, boa parte que está na B3, reagiram de forma construtiva. Empresas bem administradas, com balanço robusto e capacidade de recorrer ao mercado de capitais melhoraram o desempenho produtivo. Parte delas está ligadas ao resto do mundo ou ao setor de commodities. Com a política fiscal expansionista, elas se saíram bem e a força de trabalho ligada a elas também. Essa força é de pessoas com nível escolar e produtividade mais altos. Além dessas empresas, startups também se saíram bem. Elas são inovadoras o suficiente para promover produtividade. Mas a maior parte das empresas médias e pequenas não foi bem, e a maior parte da população é ligada a elas. Isso resulta em indicadores econômicos piores. Então, o desafio do novo governo não é só digerir a herança fiscal, mas trazer o crescimento sustentado de volta. E tem que fazer as duas coisas ao mesmo tempo. A bomba fiscal é um pepino sem tamanho, e será importante que a regra fiscal seja vista como crível.

Mendonça de Barros:'Temos chance de voltar a crescer, não de forma rápida, mas sustentável' Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 23/3/2018

O que será possível fazer?

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É preciso um conjunto de ações que vão além das reformas, administrativa e tributária, por exemplo. O que pode ajudar na retomada de um crescimento sustentável e que o governo Lula tem possibilidade de definir rapidamente é a política de acabar com a destruição da Amazônia. Isso e a diplomacia podem ser alavancas fundamentais. Como ficou óbvio com a questão da Noruega (que anunciou o desbloqueio de verbas do Fundo Amazônico após a vitória de Lula) , isso destrava, abre a possibilidade de investimentos internacionais imediatos e vem junto à proposta de desenvolvimento econômico verde. Projetos de hidrogênio verde estão aguardando esse tipo de medida. O Brasil pode se tornar uma potência verde, e isso ajuda a indústria nacional. Equipamentos podem ser produzidos no Brasil. Então: Amazônia, meio ambiente, Itamaraty e energia formam um conjunto fundamental e uma alavanca de retomada rápida.

Outras áreas do futuro governo podem ajudar?

Outra bola pedindo para ir para o gol é a questão de educação, ciência e tecnologia. Universidades estão sofrendo asfixia, além da falta de entendimento de o que é ciência. Uma política que mude isso e a questão ambiental tem a possibilidade de abrir a porta para investimentos estrangeiros. Com isso sendo bem feito, o câmbio cai e tende a ajudar o trabalho fiscal. Aí o Banco Central, pode reduzir o juro. Essas medidas não dependem do Congresso nem de grande volume de dinheiro – mesmo porque não tem dinheiro. Elas são um grande ativo que não podemos perder. Pouca gente se objetaria a isso. Junto com o fiscal, isso permite algo rápido e construtivo.

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Quando o sr. fala que Lula receberá uma herança maldita, refere-se à situação fiscal ou ao cenário econômico como um todo?

É o fiscal, o meio ambiente, o crescimento, os resultados econômicos e sociais. Foi feito um embelezamento de tudo. A relação dívida/PIB caiu, mas porque a inflação aumentou, porque houve um choque de commodities favorável ao Brasil, que vai mudar, e porque todos os tipos de gastos foram postergados.

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Como o cenário internacional pode interferir na economia brasileira em 2023?

Teremos um baixo crescimento global. No mundo ocidental, por causa da inflação e da política monetária dura, a desaceleração vai ser muito forte. Na Ásia tem a desaceleração da China. Isso fará o preço das commodities cair. O cenário é muito difícil. Por outro lado, podemos ganhar com a volta da diplomacia, de acordos comerciais. Mas não dá para esquecer que o cenário internacional é enormemente desafiador.

O panorama para 2023, portanto, é negativo?

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Tem um caminho possível, mas vai depender da habilidade de montar a regra fiscal. Os atores do mercado estão dispostos a comprar essa regra. Ninguém está exigindo mundos e fundos. O desenvolvimento depende de criar uma expectativa de que um futuro melhor é possível. O investimento é feito se o empresário acredita que ele vai dar certo. Para isso, depende da construção de um ambiente favorável. Acho que há possibilidade de construir essa expectativa positiva. Por isso, acho que o meio ambiente é chave. Temos chance de voltar a crescer, não de forma rápida, mas sustentável.

Apesar das perspectivas para um 2023 difícil na área econômica, há oportunidades para o novo governo Lula amenizar esse cenário e preparar o País para avançar com maior velocidade em 2024. O economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, aponta que uma guinada na política ambiental pode ser um dos principais chamarizes de investimento internacional nos próximos anos.

Segundo ele, medidas de preservação do meio ambiente, aliadas à retomada da diplomacia com o mundo e a investimentos na área de educação e pesquisa, podem elevar o fluxo de capital para o País. Consequentemente, a taxa de câmbio recuaria, diminuindo a inflação e permitindo que o Banco Central cortasse o juro.

“Essas medidas não dependem do Congresso nem de grande volume de dinheiro – mesmo porque não tem dinheiro. Elas são um grande ativo que não podemos perder. Pouca gente se objetaria a isso. Junto com o fiscal, isso permite algo rápido e construtivo”, destaca.

Mendonça de Barros acrescenta, porém, que tudo isso precisa ser feito ao mesmo tempo em que se crie uma regra fiscal “crível”. “Os atores do mercado estão dispostos a comprar essa regra. Ninguém está exigindo mundos e fundos”, acrescenta.

A seguir, trechos da entrevista.

Qual economia o presidente eleito vai herdar?

Lula reclamou da herança em 2003, mas agora que vai receber a herança maldita de verdade. Temos uma longa estagnação. O Brasil não cresce há tempo, e país que não cresce há tempo tem dificuldade de distribuição do bolo. O País também vive uma combinação de pandemia com o que aconteceu depois e acentuou a disparidade econômica. Na pandemia, empresas maiores, boa parte que está na B3, reagiram de forma construtiva. Empresas bem administradas, com balanço robusto e capacidade de recorrer ao mercado de capitais melhoraram o desempenho produtivo. Parte delas está ligadas ao resto do mundo ou ao setor de commodities. Com a política fiscal expansionista, elas se saíram bem e a força de trabalho ligada a elas também. Essa força é de pessoas com nível escolar e produtividade mais altos. Além dessas empresas, startups também se saíram bem. Elas são inovadoras o suficiente para promover produtividade. Mas a maior parte das empresas médias e pequenas não foi bem, e a maior parte da população é ligada a elas. Isso resulta em indicadores econômicos piores. Então, o desafio do novo governo não é só digerir a herança fiscal, mas trazer o crescimento sustentado de volta. E tem que fazer as duas coisas ao mesmo tempo. A bomba fiscal é um pepino sem tamanho, e será importante que a regra fiscal seja vista como crível.

Mendonça de Barros:'Temos chance de voltar a crescer, não de forma rápida, mas sustentável' Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 23/3/2018

O que será possível fazer?

É preciso um conjunto de ações que vão além das reformas, administrativa e tributária, por exemplo. O que pode ajudar na retomada de um crescimento sustentável e que o governo Lula tem possibilidade de definir rapidamente é a política de acabar com a destruição da Amazônia. Isso e a diplomacia podem ser alavancas fundamentais. Como ficou óbvio com a questão da Noruega (que anunciou o desbloqueio de verbas do Fundo Amazônico após a vitória de Lula) , isso destrava, abre a possibilidade de investimentos internacionais imediatos e vem junto à proposta de desenvolvimento econômico verde. Projetos de hidrogênio verde estão aguardando esse tipo de medida. O Brasil pode se tornar uma potência verde, e isso ajuda a indústria nacional. Equipamentos podem ser produzidos no Brasil. Então: Amazônia, meio ambiente, Itamaraty e energia formam um conjunto fundamental e uma alavanca de retomada rápida.

Outras áreas do futuro governo podem ajudar?

Outra bola pedindo para ir para o gol é a questão de educação, ciência e tecnologia. Universidades estão sofrendo asfixia, além da falta de entendimento de o que é ciência. Uma política que mude isso e a questão ambiental tem a possibilidade de abrir a porta para investimentos estrangeiros. Com isso sendo bem feito, o câmbio cai e tende a ajudar o trabalho fiscal. Aí o Banco Central, pode reduzir o juro. Essas medidas não dependem do Congresso nem de grande volume de dinheiro – mesmo porque não tem dinheiro. Elas são um grande ativo que não podemos perder. Pouca gente se objetaria a isso. Junto com o fiscal, isso permite algo rápido e construtivo.

Quando o sr. fala que Lula receberá uma herança maldita, refere-se à situação fiscal ou ao cenário econômico como um todo?

É o fiscal, o meio ambiente, o crescimento, os resultados econômicos e sociais. Foi feito um embelezamento de tudo. A relação dívida/PIB caiu, mas porque a inflação aumentou, porque houve um choque de commodities favorável ao Brasil, que vai mudar, e porque todos os tipos de gastos foram postergados.

Como o cenário internacional pode interferir na economia brasileira em 2023?

Teremos um baixo crescimento global. No mundo ocidental, por causa da inflação e da política monetária dura, a desaceleração vai ser muito forte. Na Ásia tem a desaceleração da China. Isso fará o preço das commodities cair. O cenário é muito difícil. Por outro lado, podemos ganhar com a volta da diplomacia, de acordos comerciais. Mas não dá para esquecer que o cenário internacional é enormemente desafiador.

O panorama para 2023, portanto, é negativo?

Tem um caminho possível, mas vai depender da habilidade de montar a regra fiscal. Os atores do mercado estão dispostos a comprar essa regra. Ninguém está exigindo mundos e fundos. O desenvolvimento depende de criar uma expectativa de que um futuro melhor é possível. O investimento é feito se o empresário acredita que ele vai dar certo. Para isso, depende da construção de um ambiente favorável. Acho que há possibilidade de construir essa expectativa positiva. Por isso, acho que o meio ambiente é chave. Temos chance de voltar a crescer, não de forma rápida, mas sustentável.

Apesar das perspectivas para um 2023 difícil na área econômica, há oportunidades para o novo governo Lula amenizar esse cenário e preparar o País para avançar com maior velocidade em 2024. O economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, aponta que uma guinada na política ambiental pode ser um dos principais chamarizes de investimento internacional nos próximos anos.

Segundo ele, medidas de preservação do meio ambiente, aliadas à retomada da diplomacia com o mundo e a investimentos na área de educação e pesquisa, podem elevar o fluxo de capital para o País. Consequentemente, a taxa de câmbio recuaria, diminuindo a inflação e permitindo que o Banco Central cortasse o juro.

“Essas medidas não dependem do Congresso nem de grande volume de dinheiro – mesmo porque não tem dinheiro. Elas são um grande ativo que não podemos perder. Pouca gente se objetaria a isso. Junto com o fiscal, isso permite algo rápido e construtivo”, destaca.

Mendonça de Barros acrescenta, porém, que tudo isso precisa ser feito ao mesmo tempo em que se crie uma regra fiscal “crível”. “Os atores do mercado estão dispostos a comprar essa regra. Ninguém está exigindo mundos e fundos”, acrescenta.

A seguir, trechos da entrevista.

Qual economia o presidente eleito vai herdar?

Lula reclamou da herança em 2003, mas agora que vai receber a herança maldita de verdade. Temos uma longa estagnação. O Brasil não cresce há tempo, e país que não cresce há tempo tem dificuldade de distribuição do bolo. O País também vive uma combinação de pandemia com o que aconteceu depois e acentuou a disparidade econômica. Na pandemia, empresas maiores, boa parte que está na B3, reagiram de forma construtiva. Empresas bem administradas, com balanço robusto e capacidade de recorrer ao mercado de capitais melhoraram o desempenho produtivo. Parte delas está ligadas ao resto do mundo ou ao setor de commodities. Com a política fiscal expansionista, elas se saíram bem e a força de trabalho ligada a elas também. Essa força é de pessoas com nível escolar e produtividade mais altos. Além dessas empresas, startups também se saíram bem. Elas são inovadoras o suficiente para promover produtividade. Mas a maior parte das empresas médias e pequenas não foi bem, e a maior parte da população é ligada a elas. Isso resulta em indicadores econômicos piores. Então, o desafio do novo governo não é só digerir a herança fiscal, mas trazer o crescimento sustentado de volta. E tem que fazer as duas coisas ao mesmo tempo. A bomba fiscal é um pepino sem tamanho, e será importante que a regra fiscal seja vista como crível.

Mendonça de Barros:'Temos chance de voltar a crescer, não de forma rápida, mas sustentável' Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 23/3/2018

O que será possível fazer?

É preciso um conjunto de ações que vão além das reformas, administrativa e tributária, por exemplo. O que pode ajudar na retomada de um crescimento sustentável e que o governo Lula tem possibilidade de definir rapidamente é a política de acabar com a destruição da Amazônia. Isso e a diplomacia podem ser alavancas fundamentais. Como ficou óbvio com a questão da Noruega (que anunciou o desbloqueio de verbas do Fundo Amazônico após a vitória de Lula) , isso destrava, abre a possibilidade de investimentos internacionais imediatos e vem junto à proposta de desenvolvimento econômico verde. Projetos de hidrogênio verde estão aguardando esse tipo de medida. O Brasil pode se tornar uma potência verde, e isso ajuda a indústria nacional. Equipamentos podem ser produzidos no Brasil. Então: Amazônia, meio ambiente, Itamaraty e energia formam um conjunto fundamental e uma alavanca de retomada rápida.

Outras áreas do futuro governo podem ajudar?

Outra bola pedindo para ir para o gol é a questão de educação, ciência e tecnologia. Universidades estão sofrendo asfixia, além da falta de entendimento de o que é ciência. Uma política que mude isso e a questão ambiental tem a possibilidade de abrir a porta para investimentos estrangeiros. Com isso sendo bem feito, o câmbio cai e tende a ajudar o trabalho fiscal. Aí o Banco Central, pode reduzir o juro. Essas medidas não dependem do Congresso nem de grande volume de dinheiro – mesmo porque não tem dinheiro. Elas são um grande ativo que não podemos perder. Pouca gente se objetaria a isso. Junto com o fiscal, isso permite algo rápido e construtivo.

Quando o sr. fala que Lula receberá uma herança maldita, refere-se à situação fiscal ou ao cenário econômico como um todo?

É o fiscal, o meio ambiente, o crescimento, os resultados econômicos e sociais. Foi feito um embelezamento de tudo. A relação dívida/PIB caiu, mas porque a inflação aumentou, porque houve um choque de commodities favorável ao Brasil, que vai mudar, e porque todos os tipos de gastos foram postergados.

Como o cenário internacional pode interferir na economia brasileira em 2023?

Teremos um baixo crescimento global. No mundo ocidental, por causa da inflação e da política monetária dura, a desaceleração vai ser muito forte. Na Ásia tem a desaceleração da China. Isso fará o preço das commodities cair. O cenário é muito difícil. Por outro lado, podemos ganhar com a volta da diplomacia, de acordos comerciais. Mas não dá para esquecer que o cenário internacional é enormemente desafiador.

O panorama para 2023, portanto, é negativo?

Tem um caminho possível, mas vai depender da habilidade de montar a regra fiscal. Os atores do mercado estão dispostos a comprar essa regra. Ninguém está exigindo mundos e fundos. O desenvolvimento depende de criar uma expectativa de que um futuro melhor é possível. O investimento é feito se o empresário acredita que ele vai dar certo. Para isso, depende da construção de um ambiente favorável. Acho que há possibilidade de construir essa expectativa positiva. Por isso, acho que o meio ambiente é chave. Temos chance de voltar a crescer, não de forma rápida, mas sustentável.

Apesar das perspectivas para um 2023 difícil na área econômica, há oportunidades para o novo governo Lula amenizar esse cenário e preparar o País para avançar com maior velocidade em 2024. O economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, aponta que uma guinada na política ambiental pode ser um dos principais chamarizes de investimento internacional nos próximos anos.

Segundo ele, medidas de preservação do meio ambiente, aliadas à retomada da diplomacia com o mundo e a investimentos na área de educação e pesquisa, podem elevar o fluxo de capital para o País. Consequentemente, a taxa de câmbio recuaria, diminuindo a inflação e permitindo que o Banco Central cortasse o juro.

“Essas medidas não dependem do Congresso nem de grande volume de dinheiro – mesmo porque não tem dinheiro. Elas são um grande ativo que não podemos perder. Pouca gente se objetaria a isso. Junto com o fiscal, isso permite algo rápido e construtivo”, destaca.

Mendonça de Barros acrescenta, porém, que tudo isso precisa ser feito ao mesmo tempo em que se crie uma regra fiscal “crível”. “Os atores do mercado estão dispostos a comprar essa regra. Ninguém está exigindo mundos e fundos”, acrescenta.

A seguir, trechos da entrevista.

Qual economia o presidente eleito vai herdar?

Lula reclamou da herança em 2003, mas agora que vai receber a herança maldita de verdade. Temos uma longa estagnação. O Brasil não cresce há tempo, e país que não cresce há tempo tem dificuldade de distribuição do bolo. O País também vive uma combinação de pandemia com o que aconteceu depois e acentuou a disparidade econômica. Na pandemia, empresas maiores, boa parte que está na B3, reagiram de forma construtiva. Empresas bem administradas, com balanço robusto e capacidade de recorrer ao mercado de capitais melhoraram o desempenho produtivo. Parte delas está ligadas ao resto do mundo ou ao setor de commodities. Com a política fiscal expansionista, elas se saíram bem e a força de trabalho ligada a elas também. Essa força é de pessoas com nível escolar e produtividade mais altos. Além dessas empresas, startups também se saíram bem. Elas são inovadoras o suficiente para promover produtividade. Mas a maior parte das empresas médias e pequenas não foi bem, e a maior parte da população é ligada a elas. Isso resulta em indicadores econômicos piores. Então, o desafio do novo governo não é só digerir a herança fiscal, mas trazer o crescimento sustentado de volta. E tem que fazer as duas coisas ao mesmo tempo. A bomba fiscal é um pepino sem tamanho, e será importante que a regra fiscal seja vista como crível.

Mendonça de Barros:'Temos chance de voltar a crescer, não de forma rápida, mas sustentável' Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 23/3/2018

O que será possível fazer?

É preciso um conjunto de ações que vão além das reformas, administrativa e tributária, por exemplo. O que pode ajudar na retomada de um crescimento sustentável e que o governo Lula tem possibilidade de definir rapidamente é a política de acabar com a destruição da Amazônia. Isso e a diplomacia podem ser alavancas fundamentais. Como ficou óbvio com a questão da Noruega (que anunciou o desbloqueio de verbas do Fundo Amazônico após a vitória de Lula) , isso destrava, abre a possibilidade de investimentos internacionais imediatos e vem junto à proposta de desenvolvimento econômico verde. Projetos de hidrogênio verde estão aguardando esse tipo de medida. O Brasil pode se tornar uma potência verde, e isso ajuda a indústria nacional. Equipamentos podem ser produzidos no Brasil. Então: Amazônia, meio ambiente, Itamaraty e energia formam um conjunto fundamental e uma alavanca de retomada rápida.

Outras áreas do futuro governo podem ajudar?

Outra bola pedindo para ir para o gol é a questão de educação, ciência e tecnologia. Universidades estão sofrendo asfixia, além da falta de entendimento de o que é ciência. Uma política que mude isso e a questão ambiental tem a possibilidade de abrir a porta para investimentos estrangeiros. Com isso sendo bem feito, o câmbio cai e tende a ajudar o trabalho fiscal. Aí o Banco Central, pode reduzir o juro. Essas medidas não dependem do Congresso nem de grande volume de dinheiro – mesmo porque não tem dinheiro. Elas são um grande ativo que não podemos perder. Pouca gente se objetaria a isso. Junto com o fiscal, isso permite algo rápido e construtivo.

Quando o sr. fala que Lula receberá uma herança maldita, refere-se à situação fiscal ou ao cenário econômico como um todo?

É o fiscal, o meio ambiente, o crescimento, os resultados econômicos e sociais. Foi feito um embelezamento de tudo. A relação dívida/PIB caiu, mas porque a inflação aumentou, porque houve um choque de commodities favorável ao Brasil, que vai mudar, e porque todos os tipos de gastos foram postergados.

Como o cenário internacional pode interferir na economia brasileira em 2023?

Teremos um baixo crescimento global. No mundo ocidental, por causa da inflação e da política monetária dura, a desaceleração vai ser muito forte. Na Ásia tem a desaceleração da China. Isso fará o preço das commodities cair. O cenário é muito difícil. Por outro lado, podemos ganhar com a volta da diplomacia, de acordos comerciais. Mas não dá para esquecer que o cenário internacional é enormemente desafiador.

O panorama para 2023, portanto, é negativo?

Tem um caminho possível, mas vai depender da habilidade de montar a regra fiscal. Os atores do mercado estão dispostos a comprar essa regra. Ninguém está exigindo mundos e fundos. O desenvolvimento depende de criar uma expectativa de que um futuro melhor é possível. O investimento é feito se o empresário acredita que ele vai dar certo. Para isso, depende da construção de um ambiente favorável. Acho que há possibilidade de construir essa expectativa positiva. Por isso, acho que o meio ambiente é chave. Temos chance de voltar a crescer, não de forma rápida, mas sustentável.

Apesar das perspectivas para um 2023 difícil na área econômica, há oportunidades para o novo governo Lula amenizar esse cenário e preparar o País para avançar com maior velocidade em 2024. O economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, aponta que uma guinada na política ambiental pode ser um dos principais chamarizes de investimento internacional nos próximos anos.

Segundo ele, medidas de preservação do meio ambiente, aliadas à retomada da diplomacia com o mundo e a investimentos na área de educação e pesquisa, podem elevar o fluxo de capital para o País. Consequentemente, a taxa de câmbio recuaria, diminuindo a inflação e permitindo que o Banco Central cortasse o juro.

“Essas medidas não dependem do Congresso nem de grande volume de dinheiro – mesmo porque não tem dinheiro. Elas são um grande ativo que não podemos perder. Pouca gente se objetaria a isso. Junto com o fiscal, isso permite algo rápido e construtivo”, destaca.

Mendonça de Barros acrescenta, porém, que tudo isso precisa ser feito ao mesmo tempo em que se crie uma regra fiscal “crível”. “Os atores do mercado estão dispostos a comprar essa regra. Ninguém está exigindo mundos e fundos”, acrescenta.

A seguir, trechos da entrevista.

Qual economia o presidente eleito vai herdar?

Lula reclamou da herança em 2003, mas agora que vai receber a herança maldita de verdade. Temos uma longa estagnação. O Brasil não cresce há tempo, e país que não cresce há tempo tem dificuldade de distribuição do bolo. O País também vive uma combinação de pandemia com o que aconteceu depois e acentuou a disparidade econômica. Na pandemia, empresas maiores, boa parte que está na B3, reagiram de forma construtiva. Empresas bem administradas, com balanço robusto e capacidade de recorrer ao mercado de capitais melhoraram o desempenho produtivo. Parte delas está ligadas ao resto do mundo ou ao setor de commodities. Com a política fiscal expansionista, elas se saíram bem e a força de trabalho ligada a elas também. Essa força é de pessoas com nível escolar e produtividade mais altos. Além dessas empresas, startups também se saíram bem. Elas são inovadoras o suficiente para promover produtividade. Mas a maior parte das empresas médias e pequenas não foi bem, e a maior parte da população é ligada a elas. Isso resulta em indicadores econômicos piores. Então, o desafio do novo governo não é só digerir a herança fiscal, mas trazer o crescimento sustentado de volta. E tem que fazer as duas coisas ao mesmo tempo. A bomba fiscal é um pepino sem tamanho, e será importante que a regra fiscal seja vista como crível.

Mendonça de Barros:'Temos chance de voltar a crescer, não de forma rápida, mas sustentável' Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 23/3/2018

O que será possível fazer?

É preciso um conjunto de ações que vão além das reformas, administrativa e tributária, por exemplo. O que pode ajudar na retomada de um crescimento sustentável e que o governo Lula tem possibilidade de definir rapidamente é a política de acabar com a destruição da Amazônia. Isso e a diplomacia podem ser alavancas fundamentais. Como ficou óbvio com a questão da Noruega (que anunciou o desbloqueio de verbas do Fundo Amazônico após a vitória de Lula) , isso destrava, abre a possibilidade de investimentos internacionais imediatos e vem junto à proposta de desenvolvimento econômico verde. Projetos de hidrogênio verde estão aguardando esse tipo de medida. O Brasil pode se tornar uma potência verde, e isso ajuda a indústria nacional. Equipamentos podem ser produzidos no Brasil. Então: Amazônia, meio ambiente, Itamaraty e energia formam um conjunto fundamental e uma alavanca de retomada rápida.

Outras áreas do futuro governo podem ajudar?

Outra bola pedindo para ir para o gol é a questão de educação, ciência e tecnologia. Universidades estão sofrendo asfixia, além da falta de entendimento de o que é ciência. Uma política que mude isso e a questão ambiental tem a possibilidade de abrir a porta para investimentos estrangeiros. Com isso sendo bem feito, o câmbio cai e tende a ajudar o trabalho fiscal. Aí o Banco Central, pode reduzir o juro. Essas medidas não dependem do Congresso nem de grande volume de dinheiro – mesmo porque não tem dinheiro. Elas são um grande ativo que não podemos perder. Pouca gente se objetaria a isso. Junto com o fiscal, isso permite algo rápido e construtivo.

Quando o sr. fala que Lula receberá uma herança maldita, refere-se à situação fiscal ou ao cenário econômico como um todo?

É o fiscal, o meio ambiente, o crescimento, os resultados econômicos e sociais. Foi feito um embelezamento de tudo. A relação dívida/PIB caiu, mas porque a inflação aumentou, porque houve um choque de commodities favorável ao Brasil, que vai mudar, e porque todos os tipos de gastos foram postergados.

Como o cenário internacional pode interferir na economia brasileira em 2023?

Teremos um baixo crescimento global. No mundo ocidental, por causa da inflação e da política monetária dura, a desaceleração vai ser muito forte. Na Ásia tem a desaceleração da China. Isso fará o preço das commodities cair. O cenário é muito difícil. Por outro lado, podemos ganhar com a volta da diplomacia, de acordos comerciais. Mas não dá para esquecer que o cenário internacional é enormemente desafiador.

O panorama para 2023, portanto, é negativo?

Tem um caminho possível, mas vai depender da habilidade de montar a regra fiscal. Os atores do mercado estão dispostos a comprar essa regra. Ninguém está exigindo mundos e fundos. O desenvolvimento depende de criar uma expectativa de que um futuro melhor é possível. O investimento é feito se o empresário acredita que ele vai dar certo. Para isso, depende da construção de um ambiente favorável. Acho que há possibilidade de construir essa expectativa positiva. Por isso, acho que o meio ambiente é chave. Temos chance de voltar a crescer, não de forma rápida, mas sustentável.

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