Mendonça de Barros: ‘Mudança de tom do Banco Central é um pequeno risquinho em sua credibilidade’


Economista critica recado duro do Copom no comunicado e diz ver custo para a autoridade monetária com alteração de tom na ata

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Entrevista comJosé Roberto Mendonça de BarrosSócio da MB Associados e ex-secretário de Política Econômica

Em sua última coluna no Estadão, o economista José Roberto Mendonça de Barros criticou o tom duro do comunicado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 21 de junho. No encontro, o Banco Central manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano e — ao contrário do que previa o mercado — não deixou a porta aberta para um corte da Selic na reunião de agosto.

“Me parece que o Banco Central perdeu o timing para reconhecer que temos uma enorme deflação de bens (é só olhar os preços de bens agrícolas e industriais no atacado) e uma lenta e segura desinflação de serviços”, escreveu Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados e ex-secretário de Política Econômica.

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Nesta quarta-feira, 27, ao divulgar a ata do encontro, o Banco Central surpreendeu ao adotar um discurso menos duro e revelar que há uma divergência entre os diretores, com um grupo apontando que existe um processo de desinflação em curso, abrindo espaço para uma queda dos juros na reunião de agosto.

“Eu acho que (essa mudança de tom) teve um custo para autoridade monetária, mas é melhor que tenha sido assim do que repetir aquela dureza”, afirma. “Tem um pequeno risquinho na credibilidade (do BC).”

Tom ata da reunião do Copom foi mais positivo do que o comunicado, diz Mendonça de Barros Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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A seguir os principais trechos da entrevista concedida ao Estadão.

Como o sr. vê a diferença de tom do comunicado e da ata?

Não foi a primeira vez que isso aconteceu, de um tom muito duro no comunicado ser seguido de uma ata um pouco menos quadrada. Uma explicação possível é que o comunicado é (feito) em cima do evento, e a ata é (publicada) uma semana depois. Dá tempo para, primeiro, pensar na comunicação, se foi adequada ou não foi adequada, e, segundo, tem mais uma semana para novas informações eventualmente relevantes.

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Em relação a esse segundo ponto, houve alguma mudança de lá para cá?

Eu acho que tem, pelo menos, três coisas que chamam a atenção. Primeiro, foi uma reação muito forte, quase universal, ao tom exageradamente duro (do comunicado). A única coisa que não tinha lá era dizer que poderia aumentar os juros mais um pouco. E, com base no que a gente lê nos jornais, gerou uma reação no mercado muito acima do que é o usual. O mercado, em geral, gosta do Roberto Campos (presidente do BC) e esse tipo de reação não é usual.

E quais foram os outros os dois pontos?

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Teve mais um (relatório) Focus. E mais uma vez uma redução para (a projeção de inflação de) 2023, 2024 e 2026. Para 2025, não mudou nada, mas, no conjunto, a curva desceu. É muito significativo, especialmente, seguindo-se de um comunicado tão duro. E o segundo é o próprio IPCA-15. Seguramente ontem o Banco Central tinha alguma notícia do IPCA-15. Somando tudo, talvez, seja essa a explicação do ocorrido. Não sou capaz de dizer qual é a história exata do que passou, mas acho muito adequado (o tom da ata). E, além de adequado, é muito surpreendente o que está no famoso item 19 (da ata). Não só porque havia dois blocos (no Copom), mas o fato de o bloco predominante ser a favor de dar o sinal (para a reunião de agosto). Isso foi bastante surpreendente.

E o que mais chamou a atenção do sr. na ata?

Uma coisa que eu havia observado no domingo. No item 20, está escrito: “além disso, as expectativas de inflação apresentaram algum recuo, mas seguem desancoradas, em parte em função do questionamento sobre uma possível alteração das metas de inflação futuras”. Eu acho surpreendente isso estar na comunicação do Banco Central. Eu não tenho informação, mas tenho absoluta convicção de que os membros do Conselho Monetário Nacional (o CMN se reúne na quinta-feira, 29, e deve definir a meta de inflação de 2026) já trocaram ideia sobre essa reunião. Não é que vão saber o que vai acontecer lá na quinta-feira. Tem todo o direito de alguém de mercado ter essa dúvida, não tem problemas, mas eu achei um pouco surpreendente a autoridade monetária (ter). Agora, é melhor essa versão da ata do que era a dureza original.

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Essa mudança de tom afeta a credibilidade do Banco Central pelo fato de a comunicação ser algo sensível na política monetária?

Em alguma medida, eu acho que sim. Sou obrigado a considerar que sim. É algo que, em tese, não deveria ter ocorrido no meu entendimento. Eu acho que teve um custo para autoridade monetária, mas é melhor que tenha sido assim do que repetir aquela dureza. Inclusive, como está dito por eles, a maioria (dos integrantes do Copom) queria dar o sinal. Eu acho que tem um pequeno risquinho na credibilidade.

Com esse quadro, é provável, então, uma queda de juros em agosto?

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Sim, acho que é o início. Começar cautelosamente é (cortar) 0,25 ponto percentual. A minha leitura é a de que vai ter um corte em agosto, a menos que tenha um fato não previsto.

A expectativa é pela manutenção da meta em 3% pelo CMN?

Isso, tirando aquela ligação (de cumprir a meta) com o ano civil. Eu acho que não vai ter surpresa com isso.

Em sua última coluna no Estadão, o economista José Roberto Mendonça de Barros criticou o tom duro do comunicado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 21 de junho. No encontro, o Banco Central manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano e — ao contrário do que previa o mercado — não deixou a porta aberta para um corte da Selic na reunião de agosto.

“Me parece que o Banco Central perdeu o timing para reconhecer que temos uma enorme deflação de bens (é só olhar os preços de bens agrícolas e industriais no atacado) e uma lenta e segura desinflação de serviços”, escreveu Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados e ex-secretário de Política Econômica.

Nesta quarta-feira, 27, ao divulgar a ata do encontro, o Banco Central surpreendeu ao adotar um discurso menos duro e revelar que há uma divergência entre os diretores, com um grupo apontando que existe um processo de desinflação em curso, abrindo espaço para uma queda dos juros na reunião de agosto.

“Eu acho que (essa mudança de tom) teve um custo para autoridade monetária, mas é melhor que tenha sido assim do que repetir aquela dureza”, afirma. “Tem um pequeno risquinho na credibilidade (do BC).”

Tom ata da reunião do Copom foi mais positivo do que o comunicado, diz Mendonça de Barros Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A seguir os principais trechos da entrevista concedida ao Estadão.

Como o sr. vê a diferença de tom do comunicado e da ata?

Não foi a primeira vez que isso aconteceu, de um tom muito duro no comunicado ser seguido de uma ata um pouco menos quadrada. Uma explicação possível é que o comunicado é (feito) em cima do evento, e a ata é (publicada) uma semana depois. Dá tempo para, primeiro, pensar na comunicação, se foi adequada ou não foi adequada, e, segundo, tem mais uma semana para novas informações eventualmente relevantes.

Em relação a esse segundo ponto, houve alguma mudança de lá para cá?

Eu acho que tem, pelo menos, três coisas que chamam a atenção. Primeiro, foi uma reação muito forte, quase universal, ao tom exageradamente duro (do comunicado). A única coisa que não tinha lá era dizer que poderia aumentar os juros mais um pouco. E, com base no que a gente lê nos jornais, gerou uma reação no mercado muito acima do que é o usual. O mercado, em geral, gosta do Roberto Campos (presidente do BC) e esse tipo de reação não é usual.

E quais foram os outros os dois pontos?

Teve mais um (relatório) Focus. E mais uma vez uma redução para (a projeção de inflação de) 2023, 2024 e 2026. Para 2025, não mudou nada, mas, no conjunto, a curva desceu. É muito significativo, especialmente, seguindo-se de um comunicado tão duro. E o segundo é o próprio IPCA-15. Seguramente ontem o Banco Central tinha alguma notícia do IPCA-15. Somando tudo, talvez, seja essa a explicação do ocorrido. Não sou capaz de dizer qual é a história exata do que passou, mas acho muito adequado (o tom da ata). E, além de adequado, é muito surpreendente o que está no famoso item 19 (da ata). Não só porque havia dois blocos (no Copom), mas o fato de o bloco predominante ser a favor de dar o sinal (para a reunião de agosto). Isso foi bastante surpreendente.

E o que mais chamou a atenção do sr. na ata?

Uma coisa que eu havia observado no domingo. No item 20, está escrito: “além disso, as expectativas de inflação apresentaram algum recuo, mas seguem desancoradas, em parte em função do questionamento sobre uma possível alteração das metas de inflação futuras”. Eu acho surpreendente isso estar na comunicação do Banco Central. Eu não tenho informação, mas tenho absoluta convicção de que os membros do Conselho Monetário Nacional (o CMN se reúne na quinta-feira, 29, e deve definir a meta de inflação de 2026) já trocaram ideia sobre essa reunião. Não é que vão saber o que vai acontecer lá na quinta-feira. Tem todo o direito de alguém de mercado ter essa dúvida, não tem problemas, mas eu achei um pouco surpreendente a autoridade monetária (ter). Agora, é melhor essa versão da ata do que era a dureza original.

Essa mudança de tom afeta a credibilidade do Banco Central pelo fato de a comunicação ser algo sensível na política monetária?

Em alguma medida, eu acho que sim. Sou obrigado a considerar que sim. É algo que, em tese, não deveria ter ocorrido no meu entendimento. Eu acho que teve um custo para autoridade monetária, mas é melhor que tenha sido assim do que repetir aquela dureza. Inclusive, como está dito por eles, a maioria (dos integrantes do Copom) queria dar o sinal. Eu acho que tem um pequeno risquinho na credibilidade.

Com esse quadro, é provável, então, uma queda de juros em agosto?

Sim, acho que é o início. Começar cautelosamente é (cortar) 0,25 ponto percentual. A minha leitura é a de que vai ter um corte em agosto, a menos que tenha um fato não previsto.

A expectativa é pela manutenção da meta em 3% pelo CMN?

Isso, tirando aquela ligação (de cumprir a meta) com o ano civil. Eu acho que não vai ter surpresa com isso.

Em sua última coluna no Estadão, o economista José Roberto Mendonça de Barros criticou o tom duro do comunicado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 21 de junho. No encontro, o Banco Central manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano e — ao contrário do que previa o mercado — não deixou a porta aberta para um corte da Selic na reunião de agosto.

“Me parece que o Banco Central perdeu o timing para reconhecer que temos uma enorme deflação de bens (é só olhar os preços de bens agrícolas e industriais no atacado) e uma lenta e segura desinflação de serviços”, escreveu Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados e ex-secretário de Política Econômica.

Nesta quarta-feira, 27, ao divulgar a ata do encontro, o Banco Central surpreendeu ao adotar um discurso menos duro e revelar que há uma divergência entre os diretores, com um grupo apontando que existe um processo de desinflação em curso, abrindo espaço para uma queda dos juros na reunião de agosto.

“Eu acho que (essa mudança de tom) teve um custo para autoridade monetária, mas é melhor que tenha sido assim do que repetir aquela dureza”, afirma. “Tem um pequeno risquinho na credibilidade (do BC).”

Tom ata da reunião do Copom foi mais positivo do que o comunicado, diz Mendonça de Barros Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A seguir os principais trechos da entrevista concedida ao Estadão.

Como o sr. vê a diferença de tom do comunicado e da ata?

Não foi a primeira vez que isso aconteceu, de um tom muito duro no comunicado ser seguido de uma ata um pouco menos quadrada. Uma explicação possível é que o comunicado é (feito) em cima do evento, e a ata é (publicada) uma semana depois. Dá tempo para, primeiro, pensar na comunicação, se foi adequada ou não foi adequada, e, segundo, tem mais uma semana para novas informações eventualmente relevantes.

Em relação a esse segundo ponto, houve alguma mudança de lá para cá?

Eu acho que tem, pelo menos, três coisas que chamam a atenção. Primeiro, foi uma reação muito forte, quase universal, ao tom exageradamente duro (do comunicado). A única coisa que não tinha lá era dizer que poderia aumentar os juros mais um pouco. E, com base no que a gente lê nos jornais, gerou uma reação no mercado muito acima do que é o usual. O mercado, em geral, gosta do Roberto Campos (presidente do BC) e esse tipo de reação não é usual.

E quais foram os outros os dois pontos?

Teve mais um (relatório) Focus. E mais uma vez uma redução para (a projeção de inflação de) 2023, 2024 e 2026. Para 2025, não mudou nada, mas, no conjunto, a curva desceu. É muito significativo, especialmente, seguindo-se de um comunicado tão duro. E o segundo é o próprio IPCA-15. Seguramente ontem o Banco Central tinha alguma notícia do IPCA-15. Somando tudo, talvez, seja essa a explicação do ocorrido. Não sou capaz de dizer qual é a história exata do que passou, mas acho muito adequado (o tom da ata). E, além de adequado, é muito surpreendente o que está no famoso item 19 (da ata). Não só porque havia dois blocos (no Copom), mas o fato de o bloco predominante ser a favor de dar o sinal (para a reunião de agosto). Isso foi bastante surpreendente.

E o que mais chamou a atenção do sr. na ata?

Uma coisa que eu havia observado no domingo. No item 20, está escrito: “além disso, as expectativas de inflação apresentaram algum recuo, mas seguem desancoradas, em parte em função do questionamento sobre uma possível alteração das metas de inflação futuras”. Eu acho surpreendente isso estar na comunicação do Banco Central. Eu não tenho informação, mas tenho absoluta convicção de que os membros do Conselho Monetário Nacional (o CMN se reúne na quinta-feira, 29, e deve definir a meta de inflação de 2026) já trocaram ideia sobre essa reunião. Não é que vão saber o que vai acontecer lá na quinta-feira. Tem todo o direito de alguém de mercado ter essa dúvida, não tem problemas, mas eu achei um pouco surpreendente a autoridade monetária (ter). Agora, é melhor essa versão da ata do que era a dureza original.

Essa mudança de tom afeta a credibilidade do Banco Central pelo fato de a comunicação ser algo sensível na política monetária?

Em alguma medida, eu acho que sim. Sou obrigado a considerar que sim. É algo que, em tese, não deveria ter ocorrido no meu entendimento. Eu acho que teve um custo para autoridade monetária, mas é melhor que tenha sido assim do que repetir aquela dureza. Inclusive, como está dito por eles, a maioria (dos integrantes do Copom) queria dar o sinal. Eu acho que tem um pequeno risquinho na credibilidade.

Com esse quadro, é provável, então, uma queda de juros em agosto?

Sim, acho que é o início. Começar cautelosamente é (cortar) 0,25 ponto percentual. A minha leitura é a de que vai ter um corte em agosto, a menos que tenha um fato não previsto.

A expectativa é pela manutenção da meta em 3% pelo CMN?

Isso, tirando aquela ligação (de cumprir a meta) com o ano civil. Eu acho que não vai ter surpresa com isso.

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