Rio - O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, voltou a defender políticas industriais e a redução da taxa básica de juros para impulsionar o que chamou de “neoindustrialização” do País, ao parafrasear o vice-presidente da República Geraldo Alckmin. Mas, segundo o presidente do BNDES, há no Brasil uma recorrente tentativa de intimidação a ações nesse sentido.
“Precisamos de uma neoindustrialização. Acho que é forte a ideia de uma nova industrialização, que seja transformadora, digital e sustentável, que impulsione a descarbonização da economia”, disse.
Mercadante fez as afirmações no seminário “Financiamento para o grande impulso para a Sustentabilidade”, organizado pelo BNDES em parceria com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e a Fundação Friedrich Ebert Stiftung (FES), da Alemanha.
Intimidação
Segundo Mercadante, enquanto os Estados Unidos e Europa tornaram “explícitos” seus esforços para proteger e desenvolver sua indústria, por meio de subsídios diretos, no Brasil haveria uma “tentativa recorrente de intimidação” a esse tipo de política.
Além disso, sugeriu, o investimento em capital produtivo estaria sufocado pela alta taxa básica de juros da economia, a Selic. Em maio, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano pela sexta reunião seguida.
“Precisamos de uma taxa de juros que seja competitiva no cenário internacional. Hoje temos a maior taxa de juros da economia mundial. Precisamos de mais flexibilidade”, reclamou. O presidente do BNDES é um dos mais vocais sobre o tema no governo.
Leia mais
“É só olhar o tamanho dos subsídios que Estados Unidos e União Europeia estão dando à sua indústria. É uma política explícita. E aqui temos uma tentativa recorrente de intimidar a política industrial”, continuou. “O BNDES não vai se intimidar, vai voltar a ser um banco industrializante”, disse.
Mercadante afirmou que enquanto os EUA voltam a ser um estado industrializador, com subsídios a setores estratégicos, como o automotivo, a Europa não fica atrás com esforços voltados a hidrogênio verde, microprocessadores e eletromobilidade.
“Os Estados Unidos dão US$ 7 mil por carro elétrico fabricado. No Brasil, herdamos isenção fiscal para o carro importado. Qual é a chance de fazermos a transição da nossa indústria automotiva?”, questionou.
Como já havia dito na última sexta-feira, 2, Mercadante disse que o parque industrial de ônibus do País vai pelo mesmo caminho da míngua, quando é estratégico à geração de empregos. Para ele, é preciso dar fôlego ao setor automotivo, mas a partir de um olhar mais sustentável. Na semana passada, ele citou que o BNDES vai apoiar a fabricação de ônibus a gás e elétricos.
O presidente do BNDES voltou a dizer que, no Brasil, a elite dirigente e boa parte do empresariado perderam a visão estruturante da economia que já tiveram no passado, o que levou a uma vertiginosa redução da participação da indústria no PIB. O processo de “neoindustrialização” do País, disse, passou e passa pelo BNDES. Nesse ponto, ele citou a fabricante de aviões Embraer, principal cliente do banco hoje, como um exemplo histórico de êxito da atuação da instituição.