Mercado vê câmbio ainda mais pressionado no fim de 2024 por Fed, fiscal e fator Trump


Incertezas sobre a política econômica nos Estados Unidos e o controle das contas públicas no Brasil levam analistas a refazer projeções para o dólar; leia as análises

Por Caroline Aragaki
Atualização:

Desde a virada de setembro, o dólar acumula alta de 4% ante o real e, na visão de participantes do mercado ouvidos pelo Estadão/Broadcast, a pressão tende a elevar as projeções de câmbio para o fim de 2024, ainda que possa haver um alívio em relação ao nível de R$ 5,65 alcançado recentemente. Na ponta do lápis, entram três fatores: o fato de que dirigentes do Federal Reserve (Fed) descartaram novo corte de 0,50 ponto porcentual na próxima reunião de política monetária, a deterioração adicional no sentimento com a política fiscal brasileira e a maior probabilidade de que o republicano Donald Trump, se eleito presidente dos Estados Unidos, adote uma política econômica mais protecionista.

O contraponto seria a possibilidade de preços mais elevados das commodities, mas este também é permeado por incertezas envolvendo a China e o conflito no Oriente Médio. Apesar de a China ter anunciado um novo pacote de estímulos, o governo segue sem dar grandes detalhes, o que vem frustrando investidores.

Nesta semana a Western Asset já elevou a estimativa de câmbio para o fim deste ano: de R$ 5,40 com perspectiva de alta para R$ 5,50, mantendo o viés. A mudança considera a piora da expectativa com o juro dos Estados Unidos, de corte mais lento e com incerteza sobre a taxa terminal de juros a que o Fed vai chegar, levando em conta também conta a possibilidade de eleição de Trump, segundo o economista-chefe da casa, Adauto Lima.

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O contrato à vista já aponta para a perda de apetite do real recentemente, visto que o dólar saiu da casa de R$ 5,40 no fim de setembro para R$ 5,67 nesta quinta-feira, 17.

Valor do dólar em 31 dezembro depende de inúmeras variáveis nos EUA e no Brasil que estão indefinidas Foto: Public Domain

O primeiro ponto de atenção foi no último dia do mês passado, quando o presidente do Fed, Jerome Powell, apontou que o cenário-base do banco central é de mais dois cortes de 0,25 ponto porcentual neste ano. Com falas de outros dirigentes do Fed reforçando essa postura, o mercado parou de apostar em outro corte de 0,50 ponto porcentual na próxima reunião do BC americano, o que mina a atratividade de moedas emergentes — mesmo com o Brasil ainda no início do ciclo de aperto monetário.

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“Com Fed mais data dependent e situação não tão acomodatícia, acaba entrando um risco de cauda de que possa até não ter corte na próxima reunião, caracterizando um ciclo intermitente de flexibilização nos juros. E, se for isso mesmo, não tem jeito: aí é dólar mais forte”, diz o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.

A Ativa projeta dólar a R$ 5,30 para o fim de 2024, mas viés altista por causa do Fed e devido à deterioração do cenário fiscal, que entrou mais forte no preço na última semana, segundo Sanchez.

Mal-estar no cenário local

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O mal-estar com o cenário fiscal aumentou e teve como gatilho a notícia de que o Ministério da Fazenda estaria trabalhando na criação de imposto mínimo para milionários, como contrapartida para aumentar a faixa de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) para R$ 5 mil mensais, promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mesmo após o ministro Fernando Haddad dizer que a medida só deve ficar para 2025 e que o foco, agora, são ações para conter as despesas, o azedume permaneceu no mercado. Tanto que o real teve, de longe, a pior performance ante as principais divisas emergentes e de exportadores de commodities na semana passada, acumulando desvalorização de 2,92%.

“De agora até o fim do ano, acho que tem probabilidade maior de revisões para cima no câmbio. Por mais que vejamos esforço grande do ministro Haddad em entregar metas, a não ser que o governo mude de forma mais contundente a comunicação, não acho que teremos muito alívio e o ambiente deve ficar muito ruidoso”, diz a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico.

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Damico destaca que, do ponto de vista sazonal, há uma saída maior de recursos principalmente nos meses de novembro e dezembro por causa da remessa de dividendos mais forte e pagamento de juros pelas empresas. Ela lembra que os sites de apostas online (as chamadas “bets”) e as criptomoedas vêm pressionando a conta financeira desde o início do ano. “Mas isso já era esperado, a novidade foi ruído adicional fiscal”, afirma.

A Armor Capital projeta R$ 5,50 para o dólar ao fim de 2024, também com viés de alta.

Um protecionista na Casa Branca?

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Mas a cereja do bolo para o cenário adverso no câmbio veio na terça-feira, 15, quando Donald Trump reafirmou a defesa de um aumento das tarifas de importação, caso seja eleito — e parte das pesquisas vem apontando maior probabilidade deste cenário. Essa possibilidade deteriorou ainda mais o apetite de moedas emergentes pelo temor de uma nova guerra comercial.

Para Damico, da Armor Capital, o cenário de Trump mais agressivo e com maioria tanto na Câmara quanto no Senado dos EUA poderia implicar viés de alta mais intenso para o câmbio, pois o dólar se fortaleceria globalmente.

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“Uma eleição de Trump pode afetar a percepção de risco para moedas emergentes, então nesse balanço de risco acreditamos que o real deve se depreciar mais do que o esperado anteriormente”, complementa Lima, da Western Asset.

Desde a virada de setembro, o dólar acumula alta de 4% ante o real e, na visão de participantes do mercado ouvidos pelo Estadão/Broadcast, a pressão tende a elevar as projeções de câmbio para o fim de 2024, ainda que possa haver um alívio em relação ao nível de R$ 5,65 alcançado recentemente. Na ponta do lápis, entram três fatores: o fato de que dirigentes do Federal Reserve (Fed) descartaram novo corte de 0,50 ponto porcentual na próxima reunião de política monetária, a deterioração adicional no sentimento com a política fiscal brasileira e a maior probabilidade de que o republicano Donald Trump, se eleito presidente dos Estados Unidos, adote uma política econômica mais protecionista.

O contraponto seria a possibilidade de preços mais elevados das commodities, mas este também é permeado por incertezas envolvendo a China e o conflito no Oriente Médio. Apesar de a China ter anunciado um novo pacote de estímulos, o governo segue sem dar grandes detalhes, o que vem frustrando investidores.

Nesta semana a Western Asset já elevou a estimativa de câmbio para o fim deste ano: de R$ 5,40 com perspectiva de alta para R$ 5,50, mantendo o viés. A mudança considera a piora da expectativa com o juro dos Estados Unidos, de corte mais lento e com incerteza sobre a taxa terminal de juros a que o Fed vai chegar, levando em conta também conta a possibilidade de eleição de Trump, segundo o economista-chefe da casa, Adauto Lima.

O contrato à vista já aponta para a perda de apetite do real recentemente, visto que o dólar saiu da casa de R$ 5,40 no fim de setembro para R$ 5,67 nesta quinta-feira, 17.

Valor do dólar em 31 dezembro depende de inúmeras variáveis nos EUA e no Brasil que estão indefinidas Foto: Public Domain

O primeiro ponto de atenção foi no último dia do mês passado, quando o presidente do Fed, Jerome Powell, apontou que o cenário-base do banco central é de mais dois cortes de 0,25 ponto porcentual neste ano. Com falas de outros dirigentes do Fed reforçando essa postura, o mercado parou de apostar em outro corte de 0,50 ponto porcentual na próxima reunião do BC americano, o que mina a atratividade de moedas emergentes — mesmo com o Brasil ainda no início do ciclo de aperto monetário.

“Com Fed mais data dependent e situação não tão acomodatícia, acaba entrando um risco de cauda de que possa até não ter corte na próxima reunião, caracterizando um ciclo intermitente de flexibilização nos juros. E, se for isso mesmo, não tem jeito: aí é dólar mais forte”, diz o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.

A Ativa projeta dólar a R$ 5,30 para o fim de 2024, mas viés altista por causa do Fed e devido à deterioração do cenário fiscal, que entrou mais forte no preço na última semana, segundo Sanchez.

Mal-estar no cenário local

O mal-estar com o cenário fiscal aumentou e teve como gatilho a notícia de que o Ministério da Fazenda estaria trabalhando na criação de imposto mínimo para milionários, como contrapartida para aumentar a faixa de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) para R$ 5 mil mensais, promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mesmo após o ministro Fernando Haddad dizer que a medida só deve ficar para 2025 e que o foco, agora, são ações para conter as despesas, o azedume permaneceu no mercado. Tanto que o real teve, de longe, a pior performance ante as principais divisas emergentes e de exportadores de commodities na semana passada, acumulando desvalorização de 2,92%.

“De agora até o fim do ano, acho que tem probabilidade maior de revisões para cima no câmbio. Por mais que vejamos esforço grande do ministro Haddad em entregar metas, a não ser que o governo mude de forma mais contundente a comunicação, não acho que teremos muito alívio e o ambiente deve ficar muito ruidoso”, diz a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico.

Damico destaca que, do ponto de vista sazonal, há uma saída maior de recursos principalmente nos meses de novembro e dezembro por causa da remessa de dividendos mais forte e pagamento de juros pelas empresas. Ela lembra que os sites de apostas online (as chamadas “bets”) e as criptomoedas vêm pressionando a conta financeira desde o início do ano. “Mas isso já era esperado, a novidade foi ruído adicional fiscal”, afirma.

A Armor Capital projeta R$ 5,50 para o dólar ao fim de 2024, também com viés de alta.

Um protecionista na Casa Branca?

Mas a cereja do bolo para o cenário adverso no câmbio veio na terça-feira, 15, quando Donald Trump reafirmou a defesa de um aumento das tarifas de importação, caso seja eleito — e parte das pesquisas vem apontando maior probabilidade deste cenário. Essa possibilidade deteriorou ainda mais o apetite de moedas emergentes pelo temor de uma nova guerra comercial.

Para Damico, da Armor Capital, o cenário de Trump mais agressivo e com maioria tanto na Câmara quanto no Senado dos EUA poderia implicar viés de alta mais intenso para o câmbio, pois o dólar se fortaleceria globalmente.

“Uma eleição de Trump pode afetar a percepção de risco para moedas emergentes, então nesse balanço de risco acreditamos que o real deve se depreciar mais do que o esperado anteriormente”, complementa Lima, da Western Asset.

Desde a virada de setembro, o dólar acumula alta de 4% ante o real e, na visão de participantes do mercado ouvidos pelo Estadão/Broadcast, a pressão tende a elevar as projeções de câmbio para o fim de 2024, ainda que possa haver um alívio em relação ao nível de R$ 5,65 alcançado recentemente. Na ponta do lápis, entram três fatores: o fato de que dirigentes do Federal Reserve (Fed) descartaram novo corte de 0,50 ponto porcentual na próxima reunião de política monetária, a deterioração adicional no sentimento com a política fiscal brasileira e a maior probabilidade de que o republicano Donald Trump, se eleito presidente dos Estados Unidos, adote uma política econômica mais protecionista.

O contraponto seria a possibilidade de preços mais elevados das commodities, mas este também é permeado por incertezas envolvendo a China e o conflito no Oriente Médio. Apesar de a China ter anunciado um novo pacote de estímulos, o governo segue sem dar grandes detalhes, o que vem frustrando investidores.

Nesta semana a Western Asset já elevou a estimativa de câmbio para o fim deste ano: de R$ 5,40 com perspectiva de alta para R$ 5,50, mantendo o viés. A mudança considera a piora da expectativa com o juro dos Estados Unidos, de corte mais lento e com incerteza sobre a taxa terminal de juros a que o Fed vai chegar, levando em conta também conta a possibilidade de eleição de Trump, segundo o economista-chefe da casa, Adauto Lima.

O contrato à vista já aponta para a perda de apetite do real recentemente, visto que o dólar saiu da casa de R$ 5,40 no fim de setembro para R$ 5,67 nesta quinta-feira, 17.

Valor do dólar em 31 dezembro depende de inúmeras variáveis nos EUA e no Brasil que estão indefinidas Foto: Public Domain

O primeiro ponto de atenção foi no último dia do mês passado, quando o presidente do Fed, Jerome Powell, apontou que o cenário-base do banco central é de mais dois cortes de 0,25 ponto porcentual neste ano. Com falas de outros dirigentes do Fed reforçando essa postura, o mercado parou de apostar em outro corte de 0,50 ponto porcentual na próxima reunião do BC americano, o que mina a atratividade de moedas emergentes — mesmo com o Brasil ainda no início do ciclo de aperto monetário.

“Com Fed mais data dependent e situação não tão acomodatícia, acaba entrando um risco de cauda de que possa até não ter corte na próxima reunião, caracterizando um ciclo intermitente de flexibilização nos juros. E, se for isso mesmo, não tem jeito: aí é dólar mais forte”, diz o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.

A Ativa projeta dólar a R$ 5,30 para o fim de 2024, mas viés altista por causa do Fed e devido à deterioração do cenário fiscal, que entrou mais forte no preço na última semana, segundo Sanchez.

Mal-estar no cenário local

O mal-estar com o cenário fiscal aumentou e teve como gatilho a notícia de que o Ministério da Fazenda estaria trabalhando na criação de imposto mínimo para milionários, como contrapartida para aumentar a faixa de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) para R$ 5 mil mensais, promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mesmo após o ministro Fernando Haddad dizer que a medida só deve ficar para 2025 e que o foco, agora, são ações para conter as despesas, o azedume permaneceu no mercado. Tanto que o real teve, de longe, a pior performance ante as principais divisas emergentes e de exportadores de commodities na semana passada, acumulando desvalorização de 2,92%.

“De agora até o fim do ano, acho que tem probabilidade maior de revisões para cima no câmbio. Por mais que vejamos esforço grande do ministro Haddad em entregar metas, a não ser que o governo mude de forma mais contundente a comunicação, não acho que teremos muito alívio e o ambiente deve ficar muito ruidoso”, diz a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico.

Damico destaca que, do ponto de vista sazonal, há uma saída maior de recursos principalmente nos meses de novembro e dezembro por causa da remessa de dividendos mais forte e pagamento de juros pelas empresas. Ela lembra que os sites de apostas online (as chamadas “bets”) e as criptomoedas vêm pressionando a conta financeira desde o início do ano. “Mas isso já era esperado, a novidade foi ruído adicional fiscal”, afirma.

A Armor Capital projeta R$ 5,50 para o dólar ao fim de 2024, também com viés de alta.

Um protecionista na Casa Branca?

Mas a cereja do bolo para o cenário adverso no câmbio veio na terça-feira, 15, quando Donald Trump reafirmou a defesa de um aumento das tarifas de importação, caso seja eleito — e parte das pesquisas vem apontando maior probabilidade deste cenário. Essa possibilidade deteriorou ainda mais o apetite de moedas emergentes pelo temor de uma nova guerra comercial.

Para Damico, da Armor Capital, o cenário de Trump mais agressivo e com maioria tanto na Câmara quanto no Senado dos EUA poderia implicar viés de alta mais intenso para o câmbio, pois o dólar se fortaleceria globalmente.

“Uma eleição de Trump pode afetar a percepção de risco para moedas emergentes, então nesse balanço de risco acreditamos que o real deve se depreciar mais do que o esperado anteriormente”, complementa Lima, da Western Asset.

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