A ata da reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira, 14, foi interpretada como “hawkish” (agressiva) pelo mercado e consolidou a percepção de que a Selic pode encerrar o atual ciclo de afrouxamento monetário em um nível mais alto do que o previsto inicialmente.
A mediana do mercado financeiro para a taxa no fim do atual ciclo de cortes subiu de 9,75% para 10% após a ata. As estimativas variam de 9,5% a 10,5%.
A ausência de indicativos no documento sobre os próximos passos do comitê e o reforço por parte do colegiado de que as expectativas de inflação seguem desancoradas também colocaram no radar a possibilidade de o corte derradeiro acontecer já no próximo encontro, em junho, ou mesmo de não haver mais reduções no juro básico.
Pelo levantamento, o encerramento do atual ciclo de cortes agora é previsto para julho, pela moda das projeções. Nas pesquisas anteriores, desde janeiro, a expectativa mais citada era de fim do ciclo em setembro.
A maioria das casas consultadas ainda prevê mais um corte de 0,25 ponto porcentual na próxima reunião, em junho — esse é o cenário-base de 34 de 38 instituições (89%). Há, porém, quatro casas que avaliam que a Selic deverá ficar parada em 10,50% nos próximos meses. As medianas para taxa no fim de 2025 e de 2026 permaneceram inalteradas, em 9% para ambos os anos.
“O cenário para corte de juro está mais difícil agora”, afirma o economista do BTG Pactual Álvaro Frasson, que avalia que a ata foi muito clara em mostrar uma deterioração do cenário em relação ao encontro anterior, sobretudo na economia doméstica. Para ele, o cenário-base do BTG hoje, de mais dois cortes de 0,25 ponto na Selic e o juro básico encerrando o atual ciclo de afrouxamento em 10% é “otimista”.
Frasson interpreta que a ata indicou que, para os membros que votaram pelo corte de 0,25 ponto na última reunião, só há um vetor que pode levar a uma nova redução da Selic em junho: a reancoragem das expectativas de inflação para 2025.
“Se não houver ancoragem, esse grupo não deve votar por um novo corte”, frisa. “Não estou falando que esse grupo mais hawk vai votar pela manutenção do juro e ponto, mas sim que, para eles, só há um driver para isso acontecer (um novo corte), e, na minha opinião, parece difícil de se concretizar”, complementa.
O Itaú Unibanco também enxerga uma Selic mais alta. “A ata do Copom veio bastante dura, e a nosso ver, abriu a porta para o fim do ciclo de flexibilização”, escreve o economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, em relatório. O banco prevê, por ora, um novo corte de 0,25 ponto em junho, “seguido por uma pausa prolongada”.
O Bradesco pondera que a ata sugere um ciclo de afrouxamento mais curto e condicional à evolução das expectativas de inflação. “O Copom se mostrou unânime em um diagnóstico mais preocupado com a desancoragem das expectativas de inflação e da resiliência da atividade econômica”, escreve, também em relatório. “Entendemos que há risco de uma Selic terminal (ao fim do ciclo de cortes) mais elevada que nosso cenário base de 9,5%.”
O JPMorgan, por sua vez, elevou a estimativa para a Selic ao final do atual ciclo de afrouxamento, para 10,5%. Há menos de um mês, o banco já havia elevado essa estimativa, de 9,5% para 10%.
Em relatório, o banco americano salienta que a ata não deixou claro qual a opinião da maioria dos membros do colegiado para a reunião de junho e quais vetores serão mais sensíveis para a decisão.
“No entanto, considerando que as expectativas de inflação de médio prazo parecem estar em ascensão, pelo menos no curto prazo, assumimos que o ciclo de flexibilização monetária será interrompido na próxima reunião”, diz.
Já o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, segue com o cenário-base de que há espaço para mais três cortes de 0,25 ponto da Selic.
Ele reconhece, porém, que a discussão sobre o nível da taxa terminal tende a ganhar cada vez mais força, diante da aparente dissonância dos “dois grupos” do Copom sobre qual deve ser essa porcentagem. “O grupo que votou por 0,25 ponto em maio vê uma taxa maior e o que votou por 0,50 ponto, menor.”
O economista afirma que, frente à conjuntura exposta pela ata, é possível, inclusive que o grupo que votou pelo corte de 0,25 ponto em maio já vislumbre uma pausa nos cortes nas próximas reuniões.