BRASÍLIA - Sob o efeito das medidas tributárias para reduzir os preços de combustíveis e energia, os itens administrados podem ter em 2022 a primeira deflação anual desde o Plano Real, conforme a série histórica do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) consultada pelo economista Leonardo França Costa, da ASA Investments, a pedido do Estadão/Broadcast. A taxa mais baixa registrada até hoje para o período foi de 1,55%, em 2013, durante a intervenção da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) nos preços da conta de luz.
Pelo Boletim Focus divulgado ontem, a mediana esperada pelo mercado financeiro para os preços administrados no ano caiu pela 10.ª semana seguida, e passou a indicar deflação de 0,75% – ante alta de 0,01% na semana anterior. A queda livre, iniciada do pico projetado de 8,06%, está diretamente relacionada à ofensiva do governo federal para baixar os preços de combustíveis e energia às vésperas da eleição.
A deflação nos preços de administrados é atípica porque esse grupo reúne muitos produtos e serviços que costumam ter os reajustes anuais indexados à inflação do ano anterior, como planos de saúde, tarifas de energia e medicamentos. No passado, a indexação era feita pelo Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), que é muito afetado por preços de commodities e pelo dólar, e costuma ter taxas mais elevadas do que o indicador de inflação ao consumidor.
O governo zerou impostos federais sobre os combustíveis e patrocinou o Projeto de Lei Complementar (PLP) 18 para limitar a alíquota de ICMS, um tributo estadual, entre 17% e 18% sobre itens como combustíveis e energia elétrica.
Assim como ocorreu nos anos seguintes a 2013, o mercado financeiro espera um “efeito rebote” parcial no ano que vem, uma vez que a expectativa é de que os impostos federais voltem a ser cobrados. Pelo Focus, a expectativa para os preços administrados em 2023 subiu pela 12.ª semana seguida, de 7,06% para 7,08%. Há 12 semanas, a projeção era de 4,52% (mais informações nesta página). Após a taxa de 1,55% em 2013, os preços administrados subiram 5,3%, em 2014, e 18,1% em 2015, quando o governo Dilma liberou os aumentos na conta de luz.