"A economia cresce a ritmo não sustentável e é preciso produzir algum arrefecimento da demanda doméstica", disse o economista-chefe do banco HSBC, Alexandre Bassoli, em entrevista ao AE Broadcast Ao Vivo. Segundo ele, trata-se da principal preocupação em relação à economia brasileira hoje. - Ouça a entrevista com Alexandre Bassoli Bassoli disse que a tendência de elevação de inflação no mundo, sobretudo nos emergentes, preocupa. "Os preços das commodities estão se elevando, os preços dos bens importados têm mostrado uma forte pressão ao longo dos últimos meses e isso tem impacto sobre a inflação doméstica", afirmou. "Mas a questão que me parece mais importante diz respeito à robustez do crescimento da absorção doméstica. Há evidências de que a economia está crescendo a níveis não sustentáveis. Como conseqüência temos níveis crescentes de utilização da capacidade, um mercado de trabalho extremamente aperto e os dados de hoje reforçam essa noção", acrescentou. Bassoli disse que o aumento do compulsório seria uma possibilidade de uma arma extra no combate à inflação, uma vez que existe uma preocupação com o ritmo de crescimento do crédito, que tem sido muito forte. "Mas em princípio acho que a alta da Selic é o instrumento mais adequado. A elevação do compulsório produz distorções na economia e, além disso, a elevação da Selic atua de maneira mais ampla sobre os canais de transmissão. Acho que é o instrumento mais poderoso, mais adequado e que gera menos distorções", explicou. O economista-chefe do HSBC, no entanto, acredita que seria bem-vindo um aumento da meta do superávit primário. "Seria extremamente adequado que nós tivéssemos um aumento (da meta) do superávit primário. Evidente que se houvesse uma maior prudência no campo fiscal não seria necessário elevar tão fortemente a taxa de juros. Se a gente tivesse políticas contracionistas no campo fiscal, no todo, a política econômica teria efeitos mais benignos sobre o investimento e sobre o crescimento de longo prazo". Bassoli disse acreditar na eficácia da política monetária, mas diz que não é possível descartar uma continuidade do ciclo de aperto monetário em 2009, embora deixe claro que esse cenário ainda não pareça ser o mais provável. Segundo ele, é importante ter em mente que existe uma defasagem da política monetária. "No momento a gente observa um impulso relacionado aos cortes do segundo semestre. Os efeitos do início de aperto vão se materializar bem mais adiante e vão produzir arrefecimento da atividade e a inflação vai ceder", avaliou. Bassoli ainda mantém em seu cenário base a possibilidade de a Selic cair no segundo semestre do ano que vem, encerrando o ano em 12%.Para o IPCA deste ano, a projeção é de que fique em 5,6%, com "riscos para cima" e em 4,5% em 2009. Ele disse ainda que as projeções da pesquisa Focus para inflação 2008 poderão ter revisões adicionais para cima. "IPCA em 5% é uma projeção otimista", observou. Meta Bassoli disse que a discussão em torno da hipótese de o governo elevar a meta de inflação de 2008 de 4,5% para 5% é uma questão "secundária". "A inflação de 2008 deve ficar acima do centro da meta e não há nada de tão grave nisso. O importante é que a política monetária seja calibrada para atingir o centro da meta, mesmo que nem sempre ela seja atingida", afirmou. Para Bassoli, as decisões tomadas pelo Banco Central daqui para frente terão impacto na inflação de 2009. "Para a inflação de 2008 não há muito o que o BC possa fazer. A política monetária tem que ser calibrada para atingir o centro da meta em 2009", reforçou. O economista não acredita na possibilidade de uma elevação da meta de inflação do ano que vem. "Não acredito que o BC irá buscar uma inflação mais alta em 2009. Seria um equívoco, pois as expectativas para 2009 estão ancoradas em 4,5%", disse Bassoli. Bassoli acredita que o cenário atual de inflação abre espaço para uma atuação mais agressiva do BC. "Não é possível descartar uma aceleração no ritmo de alta dos juros. As informações dos últimos cenários sugerem uma piora do balanço de riscos para a inflação", comentou. O economista espera que a Selic suba 2,5 pontos porcentuais ou 3 pp até o final do ano. Atualmente a taxa básica está em 11,75%. "E é possível elevações de 0,75 pp ao longo do ciclo", acrescentou. A magnitude da alta da reunião de junho poderá ser definida, segundo ele, após os dados do IPCA-15 de maio (a ser divulgado na próxima quarta-feira, 28) e produção industrial de abril (a ser divulgada em 3 de junho). "Esses são dados bastante importantes", disse.
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