Na sexta-feira, ao comentar o desempenho da Bovespa, um operador do mercado financeiro disse que o cenário para as ações no Brasil é positivo. ?O que atrapalha são os Estados Unidos?, ressaltou. Ele tem razão. As incertezas sobre a saúde da economia americana deixaram o mercado acionário brasileiro refém das bolsas em Nova York nas últimas semanas. Tanto lá quanto aqui, os índices têm variado de acordo com informações e declarações de autoridades sobre a atividade econômica e a inflação nos EUA. Notícias internas positivas, como a revisão para cima do Produto Interno Bruto (PIB) dos últimos anos, são quase ignoradas. ?A volatilidade será a tônica deste ano, principalmente nas bolsas de valores?, diz Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria. O intenso vaivém não é explicado por nenhuma teoria mirabolante. Reflete apenas o momento atual da economia americana, marcado por uma grande dicotomia. De um lado, teme-se que o país entre em recessão. De outro, o que assusta é a inflação. Os dois são negativos para a economia mundial, pois os Estados Unidos respondem sozinhos por quase um terço do PIB do planeta. Se o juro lá sobe para conter a inflação, provoca um rearranjo dos fluxos financeiros globais. Investidores tendem a tirar recursos de países emergentes para aplicar em títulos americanos. No caso de uma recessão, o impacto sobre o resto do mundo se daria por dois canais. No da economia real, influenciaria negativamente as exportações para os EUA - no ano passado, o país comprou do resto do mundo o equivalente a US$ 2,2 trilhões. No lado financeiro, a queda da atividade econômica americana desvalorizaria ações de empresas no mundo todo, com reflexos no bolso dos detentores desses papéis. Apesar da tensão, o cenário mais provável para os EUA é de um pouso suave: o crescimento econômico deve desacelerar para a faixa de 2% a 2,5% (superou 3% nos últimos três anos) e a inflação deve convergir para um número abaixo de 2% ao ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.