‘Meta é que não haja fome no País em 2030’, diz Geyze Diniz


Cofundadora do Pacto contra a Fome ataca ‘desperdício enorme’ de comida no País e convoca o setor privado

Por Sonia Racy
Atualização:

Durante a pandemia, o movimento União SP entregou 900 mil cestas básicas – e uma de suas criadoras, Geyze Diniz, engajou-se em seguida na campanha Panela Cheia Salva, que em quatro meses captou o equivalente a 4 milhões de cestas, beneficiando entidades como a Cufa e a Gerando Falcões, entre outras. E assim ela descobriu que, “quando a gente se junta, muda o patamar”. Seu ato seguinte foi estudar a questão da fome no País. “Eu quis entender o que é a fome, o desperdício, a correlação entre eles.”

Resultado: Geyze, conselheira da Península, que abriga investimentos da família Abílio Diniz e do Instituto Península, arregaçou as mangas e, ao lado de outras 40 pessoas, tornou-se uma das fundadoras do Pacto Contra a Fome, lançado na terça-feira, 23, no Teatro Santander. O “hub de iniciativas” é um instituto, com auditoria, estatuto, código de ética. “A gente não vai distribuir cesta básica. Vai buscar e organizar informação, inteligência, sinergia, conexões. Vemos tantas iniciativas no terceiro setor, na área privada e no governo que não se falam.” A seguir, trechos de sua conversa com o Estadão.

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Vocês estão montando o Pacto Contra a Fome. O que é e como vai atuar?

É um movimento da sociedade civil para atuar junto a governos no combate à fome e para reduzir o desperdício de alimentos. Nasce suprapartidário, multissetorial. Não temos problemas ligados a partidos políticos, religiões, classes sociais, gêneros, raças, aqui valem todos. Porque a fome é uma questão tão estrutural e arraigada no País que só a soma de toda a sociedade para acabar com ela.

É verdade que o Brasil desperdiça 30% dos alimentos que produz?

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Sim. A gente comparou a fome versus o desperdício, passou pelo agro, a indústria, distribuidores, supermercados, restaurantes, até chegar à mesa das casas. E constatamos: o desperdício ao longo dessa cadeia tem oito vezes o tamanho suficiente para matar a fome dos que não têm o que comer no Brasil. Então, é no mínimo imoral a gente jogar comida no lixo sabendo que tem gente com fome, num país que produz, exporta e diz, com orgulho, que é o celeiro do mundo. A fome é um problema de diversas naturezas, quanto mais a gente estuda, mais ouve especialistas, trazendo todas essas instituições para atuar de modo sistêmico e estrutural. É nesse lugar que o Pacto se propõe atuar.

Fome aumentou após a pandemia de Covid-19 Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Acompanhamos o processo do Fome Zero, vimos que não funcionou. O que a leva a crer que uma iniciativa privada nessa área pode ir adiante?

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O importante é acreditar. Se acreditarmos, a gente chega lá. Mas quero voltar ao Fome Zero, para dizer que ele trouxe muitos benefícios à população nesse estado de insegurança alimentar. Em 2013 o Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU, quando passou a ter 3,6% da população nessa situação. A ONU considera estado de insegurança alimentar grave quando 5% ou mais da população está nessa condição. De fato, ao longo do tempo a gente viu um certo desmonte, ou esvaziamento dessas políticas públicas. Mas a fome é uma questão complexa, houve entraves em legislações municipais e estaduais. E temos muitos exemplos de o que deu certo, de o que não deu. A gente precisa de informação, inteligência, sinergia e conexões, que são pilares importantes. E vemos tantas iniciativas, no terceiro setor, na área privada e no setor público que não se falam, fica cada um no seu universo. O que queremos? Trazer essa visibilidade a todos os setores. A gente vai entregar uma plataforma que é o hub de iniciativas Pacto Contra a Fome, onde esses grupos se cadastrem, digam o que fazem, como fazem, quais impactos causam. Não vamos distribuir alimentos, entregar cestas básicas. O pacto existe para somar, trazer esse grande guarda-chuva de conexões. O hub é um dos pilares, o outro é a gente atuar com a inteligência de dados, para ajudar nas políticas públicas. E nisso trazer o setor privado, que está muito passivo nessa questão.

Em termos práticos, como chegar a isso?

O Pacto quer trazer consciência para toda a comunidade, somos todos responsáveis. Olha, eu não consigo imaginar que estamos em 2023, com tanta inteligência e tecnologia, em um país que produz alimentos, e haja tanta gente com fome. Temos como meta, no Pacto, nenhuma pessoa com fome no Brasil em 2030. E em 2040 todos bem alimentados.

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Daqui a sete anos.

Sete anos. Se todos andarem na mesma direção, é possível.

E uma coisa que o Pacto terá é o Prêmio Pacto Contra a Fome, em colaboração com Unesco e FAO. Ele vai premiar três categorias, serão seis prêmios de R$ 100 mil aos quais concorrem iniciativas do terceiro setor que atuem no combate à fome e ao desperdício. As inscrições estão abertas e vão até 10 de julho. É possível que no ano que vem essa premiação também vá para o setor privado e para o governamental.

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Nesse início de atividade, qual mensagem deixaria para os que podem ajudar?

Vou deixar o tema da campanha, que a gente divulga com o lançamento do Pacto. É ‘Com Fome Não Dá’. Não dá para trabalhar, não dá para brincar, não dá para viver, não dá para desperdiçar. E quem quiser saber mais pode entrar no site pactocontrafome.org.

Durante a pandemia, o movimento União SP entregou 900 mil cestas básicas – e uma de suas criadoras, Geyze Diniz, engajou-se em seguida na campanha Panela Cheia Salva, que em quatro meses captou o equivalente a 4 milhões de cestas, beneficiando entidades como a Cufa e a Gerando Falcões, entre outras. E assim ela descobriu que, “quando a gente se junta, muda o patamar”. Seu ato seguinte foi estudar a questão da fome no País. “Eu quis entender o que é a fome, o desperdício, a correlação entre eles.”

Resultado: Geyze, conselheira da Península, que abriga investimentos da família Abílio Diniz e do Instituto Península, arregaçou as mangas e, ao lado de outras 40 pessoas, tornou-se uma das fundadoras do Pacto Contra a Fome, lançado na terça-feira, 23, no Teatro Santander. O “hub de iniciativas” é um instituto, com auditoria, estatuto, código de ética. “A gente não vai distribuir cesta básica. Vai buscar e organizar informação, inteligência, sinergia, conexões. Vemos tantas iniciativas no terceiro setor, na área privada e no governo que não se falam.” A seguir, trechos de sua conversa com o Estadão.

Vocês estão montando o Pacto Contra a Fome. O que é e como vai atuar?

É um movimento da sociedade civil para atuar junto a governos no combate à fome e para reduzir o desperdício de alimentos. Nasce suprapartidário, multissetorial. Não temos problemas ligados a partidos políticos, religiões, classes sociais, gêneros, raças, aqui valem todos. Porque a fome é uma questão tão estrutural e arraigada no País que só a soma de toda a sociedade para acabar com ela.

É verdade que o Brasil desperdiça 30% dos alimentos que produz?

Sim. A gente comparou a fome versus o desperdício, passou pelo agro, a indústria, distribuidores, supermercados, restaurantes, até chegar à mesa das casas. E constatamos: o desperdício ao longo dessa cadeia tem oito vezes o tamanho suficiente para matar a fome dos que não têm o que comer no Brasil. Então, é no mínimo imoral a gente jogar comida no lixo sabendo que tem gente com fome, num país que produz, exporta e diz, com orgulho, que é o celeiro do mundo. A fome é um problema de diversas naturezas, quanto mais a gente estuda, mais ouve especialistas, trazendo todas essas instituições para atuar de modo sistêmico e estrutural. É nesse lugar que o Pacto se propõe atuar.

Fome aumentou após a pandemia de Covid-19 Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Acompanhamos o processo do Fome Zero, vimos que não funcionou. O que a leva a crer que uma iniciativa privada nessa área pode ir adiante?

O importante é acreditar. Se acreditarmos, a gente chega lá. Mas quero voltar ao Fome Zero, para dizer que ele trouxe muitos benefícios à população nesse estado de insegurança alimentar. Em 2013 o Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU, quando passou a ter 3,6% da população nessa situação. A ONU considera estado de insegurança alimentar grave quando 5% ou mais da população está nessa condição. De fato, ao longo do tempo a gente viu um certo desmonte, ou esvaziamento dessas políticas públicas. Mas a fome é uma questão complexa, houve entraves em legislações municipais e estaduais. E temos muitos exemplos de o que deu certo, de o que não deu. A gente precisa de informação, inteligência, sinergia e conexões, que são pilares importantes. E vemos tantas iniciativas, no terceiro setor, na área privada e no setor público que não se falam, fica cada um no seu universo. O que queremos? Trazer essa visibilidade a todos os setores. A gente vai entregar uma plataforma que é o hub de iniciativas Pacto Contra a Fome, onde esses grupos se cadastrem, digam o que fazem, como fazem, quais impactos causam. Não vamos distribuir alimentos, entregar cestas básicas. O pacto existe para somar, trazer esse grande guarda-chuva de conexões. O hub é um dos pilares, o outro é a gente atuar com a inteligência de dados, para ajudar nas políticas públicas. E nisso trazer o setor privado, que está muito passivo nessa questão.

Em termos práticos, como chegar a isso?

O Pacto quer trazer consciência para toda a comunidade, somos todos responsáveis. Olha, eu não consigo imaginar que estamos em 2023, com tanta inteligência e tecnologia, em um país que produz alimentos, e haja tanta gente com fome. Temos como meta, no Pacto, nenhuma pessoa com fome no Brasil em 2030. E em 2040 todos bem alimentados.

Daqui a sete anos.

Sete anos. Se todos andarem na mesma direção, é possível.

E uma coisa que o Pacto terá é o Prêmio Pacto Contra a Fome, em colaboração com Unesco e FAO. Ele vai premiar três categorias, serão seis prêmios de R$ 100 mil aos quais concorrem iniciativas do terceiro setor que atuem no combate à fome e ao desperdício. As inscrições estão abertas e vão até 10 de julho. É possível que no ano que vem essa premiação também vá para o setor privado e para o governamental.

Nesse início de atividade, qual mensagem deixaria para os que podem ajudar?

Vou deixar o tema da campanha, que a gente divulga com o lançamento do Pacto. É ‘Com Fome Não Dá’. Não dá para trabalhar, não dá para brincar, não dá para viver, não dá para desperdiçar. E quem quiser saber mais pode entrar no site pactocontrafome.org.

Durante a pandemia, o movimento União SP entregou 900 mil cestas básicas – e uma de suas criadoras, Geyze Diniz, engajou-se em seguida na campanha Panela Cheia Salva, que em quatro meses captou o equivalente a 4 milhões de cestas, beneficiando entidades como a Cufa e a Gerando Falcões, entre outras. E assim ela descobriu que, “quando a gente se junta, muda o patamar”. Seu ato seguinte foi estudar a questão da fome no País. “Eu quis entender o que é a fome, o desperdício, a correlação entre eles.”

Resultado: Geyze, conselheira da Península, que abriga investimentos da família Abílio Diniz e do Instituto Península, arregaçou as mangas e, ao lado de outras 40 pessoas, tornou-se uma das fundadoras do Pacto Contra a Fome, lançado na terça-feira, 23, no Teatro Santander. O “hub de iniciativas” é um instituto, com auditoria, estatuto, código de ética. “A gente não vai distribuir cesta básica. Vai buscar e organizar informação, inteligência, sinergia, conexões. Vemos tantas iniciativas no terceiro setor, na área privada e no governo que não se falam.” A seguir, trechos de sua conversa com o Estadão.

Vocês estão montando o Pacto Contra a Fome. O que é e como vai atuar?

É um movimento da sociedade civil para atuar junto a governos no combate à fome e para reduzir o desperdício de alimentos. Nasce suprapartidário, multissetorial. Não temos problemas ligados a partidos políticos, religiões, classes sociais, gêneros, raças, aqui valem todos. Porque a fome é uma questão tão estrutural e arraigada no País que só a soma de toda a sociedade para acabar com ela.

É verdade que o Brasil desperdiça 30% dos alimentos que produz?

Sim. A gente comparou a fome versus o desperdício, passou pelo agro, a indústria, distribuidores, supermercados, restaurantes, até chegar à mesa das casas. E constatamos: o desperdício ao longo dessa cadeia tem oito vezes o tamanho suficiente para matar a fome dos que não têm o que comer no Brasil. Então, é no mínimo imoral a gente jogar comida no lixo sabendo que tem gente com fome, num país que produz, exporta e diz, com orgulho, que é o celeiro do mundo. A fome é um problema de diversas naturezas, quanto mais a gente estuda, mais ouve especialistas, trazendo todas essas instituições para atuar de modo sistêmico e estrutural. É nesse lugar que o Pacto se propõe atuar.

Fome aumentou após a pandemia de Covid-19 Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Acompanhamos o processo do Fome Zero, vimos que não funcionou. O que a leva a crer que uma iniciativa privada nessa área pode ir adiante?

O importante é acreditar. Se acreditarmos, a gente chega lá. Mas quero voltar ao Fome Zero, para dizer que ele trouxe muitos benefícios à população nesse estado de insegurança alimentar. Em 2013 o Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU, quando passou a ter 3,6% da população nessa situação. A ONU considera estado de insegurança alimentar grave quando 5% ou mais da população está nessa condição. De fato, ao longo do tempo a gente viu um certo desmonte, ou esvaziamento dessas políticas públicas. Mas a fome é uma questão complexa, houve entraves em legislações municipais e estaduais. E temos muitos exemplos de o que deu certo, de o que não deu. A gente precisa de informação, inteligência, sinergia e conexões, que são pilares importantes. E vemos tantas iniciativas, no terceiro setor, na área privada e no setor público que não se falam, fica cada um no seu universo. O que queremos? Trazer essa visibilidade a todos os setores. A gente vai entregar uma plataforma que é o hub de iniciativas Pacto Contra a Fome, onde esses grupos se cadastrem, digam o que fazem, como fazem, quais impactos causam. Não vamos distribuir alimentos, entregar cestas básicas. O pacto existe para somar, trazer esse grande guarda-chuva de conexões. O hub é um dos pilares, o outro é a gente atuar com a inteligência de dados, para ajudar nas políticas públicas. E nisso trazer o setor privado, que está muito passivo nessa questão.

Em termos práticos, como chegar a isso?

O Pacto quer trazer consciência para toda a comunidade, somos todos responsáveis. Olha, eu não consigo imaginar que estamos em 2023, com tanta inteligência e tecnologia, em um país que produz alimentos, e haja tanta gente com fome. Temos como meta, no Pacto, nenhuma pessoa com fome no Brasil em 2030. E em 2040 todos bem alimentados.

Daqui a sete anos.

Sete anos. Se todos andarem na mesma direção, é possível.

E uma coisa que o Pacto terá é o Prêmio Pacto Contra a Fome, em colaboração com Unesco e FAO. Ele vai premiar três categorias, serão seis prêmios de R$ 100 mil aos quais concorrem iniciativas do terceiro setor que atuem no combate à fome e ao desperdício. As inscrições estão abertas e vão até 10 de julho. É possível que no ano que vem essa premiação também vá para o setor privado e para o governamental.

Nesse início de atividade, qual mensagem deixaria para os que podem ajudar?

Vou deixar o tema da campanha, que a gente divulga com o lançamento do Pacto. É ‘Com Fome Não Dá’. Não dá para trabalhar, não dá para brincar, não dá para viver, não dá para desperdiçar. E quem quiser saber mais pode entrar no site pactocontrafome.org.

Durante a pandemia, o movimento União SP entregou 900 mil cestas básicas – e uma de suas criadoras, Geyze Diniz, engajou-se em seguida na campanha Panela Cheia Salva, que em quatro meses captou o equivalente a 4 milhões de cestas, beneficiando entidades como a Cufa e a Gerando Falcões, entre outras. E assim ela descobriu que, “quando a gente se junta, muda o patamar”. Seu ato seguinte foi estudar a questão da fome no País. “Eu quis entender o que é a fome, o desperdício, a correlação entre eles.”

Resultado: Geyze, conselheira da Península, que abriga investimentos da família Abílio Diniz e do Instituto Península, arregaçou as mangas e, ao lado de outras 40 pessoas, tornou-se uma das fundadoras do Pacto Contra a Fome, lançado na terça-feira, 23, no Teatro Santander. O “hub de iniciativas” é um instituto, com auditoria, estatuto, código de ética. “A gente não vai distribuir cesta básica. Vai buscar e organizar informação, inteligência, sinergia, conexões. Vemos tantas iniciativas no terceiro setor, na área privada e no governo que não se falam.” A seguir, trechos de sua conversa com o Estadão.

Vocês estão montando o Pacto Contra a Fome. O que é e como vai atuar?

É um movimento da sociedade civil para atuar junto a governos no combate à fome e para reduzir o desperdício de alimentos. Nasce suprapartidário, multissetorial. Não temos problemas ligados a partidos políticos, religiões, classes sociais, gêneros, raças, aqui valem todos. Porque a fome é uma questão tão estrutural e arraigada no País que só a soma de toda a sociedade para acabar com ela.

É verdade que o Brasil desperdiça 30% dos alimentos que produz?

Sim. A gente comparou a fome versus o desperdício, passou pelo agro, a indústria, distribuidores, supermercados, restaurantes, até chegar à mesa das casas. E constatamos: o desperdício ao longo dessa cadeia tem oito vezes o tamanho suficiente para matar a fome dos que não têm o que comer no Brasil. Então, é no mínimo imoral a gente jogar comida no lixo sabendo que tem gente com fome, num país que produz, exporta e diz, com orgulho, que é o celeiro do mundo. A fome é um problema de diversas naturezas, quanto mais a gente estuda, mais ouve especialistas, trazendo todas essas instituições para atuar de modo sistêmico e estrutural. É nesse lugar que o Pacto se propõe atuar.

Fome aumentou após a pandemia de Covid-19 Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Acompanhamos o processo do Fome Zero, vimos que não funcionou. O que a leva a crer que uma iniciativa privada nessa área pode ir adiante?

O importante é acreditar. Se acreditarmos, a gente chega lá. Mas quero voltar ao Fome Zero, para dizer que ele trouxe muitos benefícios à população nesse estado de insegurança alimentar. Em 2013 o Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU, quando passou a ter 3,6% da população nessa situação. A ONU considera estado de insegurança alimentar grave quando 5% ou mais da população está nessa condição. De fato, ao longo do tempo a gente viu um certo desmonte, ou esvaziamento dessas políticas públicas. Mas a fome é uma questão complexa, houve entraves em legislações municipais e estaduais. E temos muitos exemplos de o que deu certo, de o que não deu. A gente precisa de informação, inteligência, sinergia e conexões, que são pilares importantes. E vemos tantas iniciativas, no terceiro setor, na área privada e no setor público que não se falam, fica cada um no seu universo. O que queremos? Trazer essa visibilidade a todos os setores. A gente vai entregar uma plataforma que é o hub de iniciativas Pacto Contra a Fome, onde esses grupos se cadastrem, digam o que fazem, como fazem, quais impactos causam. Não vamos distribuir alimentos, entregar cestas básicas. O pacto existe para somar, trazer esse grande guarda-chuva de conexões. O hub é um dos pilares, o outro é a gente atuar com a inteligência de dados, para ajudar nas políticas públicas. E nisso trazer o setor privado, que está muito passivo nessa questão.

Em termos práticos, como chegar a isso?

O Pacto quer trazer consciência para toda a comunidade, somos todos responsáveis. Olha, eu não consigo imaginar que estamos em 2023, com tanta inteligência e tecnologia, em um país que produz alimentos, e haja tanta gente com fome. Temos como meta, no Pacto, nenhuma pessoa com fome no Brasil em 2030. E em 2040 todos bem alimentados.

Daqui a sete anos.

Sete anos. Se todos andarem na mesma direção, é possível.

E uma coisa que o Pacto terá é o Prêmio Pacto Contra a Fome, em colaboração com Unesco e FAO. Ele vai premiar três categorias, serão seis prêmios de R$ 100 mil aos quais concorrem iniciativas do terceiro setor que atuem no combate à fome e ao desperdício. As inscrições estão abertas e vão até 10 de julho. É possível que no ano que vem essa premiação também vá para o setor privado e para o governamental.

Nesse início de atividade, qual mensagem deixaria para os que podem ajudar?

Vou deixar o tema da campanha, que a gente divulga com o lançamento do Pacto. É ‘Com Fome Não Dá’. Não dá para trabalhar, não dá para brincar, não dá para viver, não dá para desperdiçar. E quem quiser saber mais pode entrar no site pactocontrafome.org.

Durante a pandemia, o movimento União SP entregou 900 mil cestas básicas – e uma de suas criadoras, Geyze Diniz, engajou-se em seguida na campanha Panela Cheia Salva, que em quatro meses captou o equivalente a 4 milhões de cestas, beneficiando entidades como a Cufa e a Gerando Falcões, entre outras. E assim ela descobriu que, “quando a gente se junta, muda o patamar”. Seu ato seguinte foi estudar a questão da fome no País. “Eu quis entender o que é a fome, o desperdício, a correlação entre eles.”

Resultado: Geyze, conselheira da Península, que abriga investimentos da família Abílio Diniz e do Instituto Península, arregaçou as mangas e, ao lado de outras 40 pessoas, tornou-se uma das fundadoras do Pacto Contra a Fome, lançado na terça-feira, 23, no Teatro Santander. O “hub de iniciativas” é um instituto, com auditoria, estatuto, código de ética. “A gente não vai distribuir cesta básica. Vai buscar e organizar informação, inteligência, sinergia, conexões. Vemos tantas iniciativas no terceiro setor, na área privada e no governo que não se falam.” A seguir, trechos de sua conversa com o Estadão.

Vocês estão montando o Pacto Contra a Fome. O que é e como vai atuar?

É um movimento da sociedade civil para atuar junto a governos no combate à fome e para reduzir o desperdício de alimentos. Nasce suprapartidário, multissetorial. Não temos problemas ligados a partidos políticos, religiões, classes sociais, gêneros, raças, aqui valem todos. Porque a fome é uma questão tão estrutural e arraigada no País que só a soma de toda a sociedade para acabar com ela.

É verdade que o Brasil desperdiça 30% dos alimentos que produz?

Sim. A gente comparou a fome versus o desperdício, passou pelo agro, a indústria, distribuidores, supermercados, restaurantes, até chegar à mesa das casas. E constatamos: o desperdício ao longo dessa cadeia tem oito vezes o tamanho suficiente para matar a fome dos que não têm o que comer no Brasil. Então, é no mínimo imoral a gente jogar comida no lixo sabendo que tem gente com fome, num país que produz, exporta e diz, com orgulho, que é o celeiro do mundo. A fome é um problema de diversas naturezas, quanto mais a gente estuda, mais ouve especialistas, trazendo todas essas instituições para atuar de modo sistêmico e estrutural. É nesse lugar que o Pacto se propõe atuar.

Fome aumentou após a pandemia de Covid-19 Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Acompanhamos o processo do Fome Zero, vimos que não funcionou. O que a leva a crer que uma iniciativa privada nessa área pode ir adiante?

O importante é acreditar. Se acreditarmos, a gente chega lá. Mas quero voltar ao Fome Zero, para dizer que ele trouxe muitos benefícios à população nesse estado de insegurança alimentar. Em 2013 o Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU, quando passou a ter 3,6% da população nessa situação. A ONU considera estado de insegurança alimentar grave quando 5% ou mais da população está nessa condição. De fato, ao longo do tempo a gente viu um certo desmonte, ou esvaziamento dessas políticas públicas. Mas a fome é uma questão complexa, houve entraves em legislações municipais e estaduais. E temos muitos exemplos de o que deu certo, de o que não deu. A gente precisa de informação, inteligência, sinergia e conexões, que são pilares importantes. E vemos tantas iniciativas, no terceiro setor, na área privada e no setor público que não se falam, fica cada um no seu universo. O que queremos? Trazer essa visibilidade a todos os setores. A gente vai entregar uma plataforma que é o hub de iniciativas Pacto Contra a Fome, onde esses grupos se cadastrem, digam o que fazem, como fazem, quais impactos causam. Não vamos distribuir alimentos, entregar cestas básicas. O pacto existe para somar, trazer esse grande guarda-chuva de conexões. O hub é um dos pilares, o outro é a gente atuar com a inteligência de dados, para ajudar nas políticas públicas. E nisso trazer o setor privado, que está muito passivo nessa questão.

Em termos práticos, como chegar a isso?

O Pacto quer trazer consciência para toda a comunidade, somos todos responsáveis. Olha, eu não consigo imaginar que estamos em 2023, com tanta inteligência e tecnologia, em um país que produz alimentos, e haja tanta gente com fome. Temos como meta, no Pacto, nenhuma pessoa com fome no Brasil em 2030. E em 2040 todos bem alimentados.

Daqui a sete anos.

Sete anos. Se todos andarem na mesma direção, é possível.

E uma coisa que o Pacto terá é o Prêmio Pacto Contra a Fome, em colaboração com Unesco e FAO. Ele vai premiar três categorias, serão seis prêmios de R$ 100 mil aos quais concorrem iniciativas do terceiro setor que atuem no combate à fome e ao desperdício. As inscrições estão abertas e vão até 10 de julho. É possível que no ano que vem essa premiação também vá para o setor privado e para o governamental.

Nesse início de atividade, qual mensagem deixaria para os que podem ajudar?

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