BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou há pouco que uma eventual mudança das metas de inflação não estará na pauta da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) marcada para esta quinta-feira, 16 de fevereiro. “Não está [na pauta do CMN]. Existe uma coisa chamada Comoc [Comissão Técnica da Moeda e do Crédito] que define a pauta do CMN. [A discussão do regime de metas] não está na pauta”, disse Haddad.
O debate sobre a mudança das metas de inflação foi iniciado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Lula tem criticado publicamente a taxa de juros, atualmente em 13,75% ao ano, e as metas de inflação, de 3,25% para 2023 e de 3% para 2024. O CMN, que define o patamar, é formado por Haddad, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet.
Além de Lula, diversos parlamentares do PT têm criticado o patamar de juros no Brasil. O partido lançou na Câmara nesta terça-feira uma frente parlamentar “contra juros abusivos”. O ato político, coordenado pelo deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), contou com a presença da presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann. Nos discursos, houve menção ao economista André Lara Resende, um dos idealizadores do Plano Real, que tem criticado o nível da taxa básica de juros, a Selic, mantida em 13,75% na reunião mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom).
Ontem, Campos Neto disse que que uma mudança da meta de inflação teria como “efeito prático a perda de flexibilidade”, em resposta às críticas que tem recebido do governo Lula pelo alto patamar dos juros na economia. Em entrevista ao programa Roda Viva, Campos Neto defendeu “aperfeiçoamento” no sistema de metas, mas disse que em nenhum momento isso significa revisar o patamar deste e do próximo ano para o controle da inflação.
“Em nenhum momento a gente defende simplesmente aumentar a meta, no sentido de ganhar flexibilidade, mesmo porque não é nossa crença. A gente acredita que, se faz uma mudança de meta no sentido de ganhar mais flexibilidade, o efeito prático vai ser perder flexibilidade”, afirmou.
O presidente do BC disse discordar do grupo de economistas que afirma acreditar que a meta atual é muito difícil de ser atingida porque foi fixada num momento de inflação mundial baixa por causa dos efeitos da economia. Ele disse ainda fazer parte de outra corrente que entende que uma mudança neste momento, “sem ter um ambiente de tranquilidade, vai gerar um efeito contrário ao desejado”.
Haddad afirmou que Campos Neto sinalizou na entrevista que as políticas adotadas até o momento estão corretas. O ministro disse que parte das medidas será aprovada pelo Congresso e ajudarão a reduzir o déficit fiscal, estimado R$ 231,5 bilhões, para um rombo em torno de R$ 100 bilhões.
“Como os resultados virão, vai ajudar a autoridade monetária a concluir que a taxa de juros compromete os objetivos do País. Ele [Campos Neto] próprio reconheceu na entrevista. Se trouxermos o debate para o plano do que está sendo feito, podemos retomar uma trajetória importante. Hoje eu vi uma declaração do presidente do BC que é natural reclamarem das taxas de juros. Nós estamos numa situação do ponto de vista da inflação mais confortável e do crescimento menos confortável. Vamos trabalhar nesta direção. Certeza que teremos um bom entendimento”, disse.