Política Econômica e Economia Política no Brasil e no Mundo

Barata-voa


Quem não haverá de revoltar-se com a proposta de aumentar impostos para cobrir o novo rombo criado?

Por Monica de Bolle
Atualização:

Não foi fácil intitular este artigo. Passei algumas horas entre “barata-voa” e “semianarquia” – no fim, a imagem do inseto pareceu mais apropriada para ilustrar os dias de balbúrdia que assolam o País. Como mostrou o governo, estamos à deriva, sem lideranças capazes de gerir o caos. Como mostrou Temer em discurso desvelando medidas de última hora para tentar desfazer a impressão de que voltamos 20 anos em 2, só faltou ao presidente ajoelhar-se e implorar o perdão dos caminhoneiros e dos donos das transportadoras que paralisaram o Brasil. O vácuo de poder e o déficit de legitimidade do governo Temer têm sido temas de artigos meus para este espaço desde 2016. No entanto, embora a confusão geral da nação fosse previsível – uma quase certeza, até – como exatamente ela se daria era outra história. Deu-se no travamento logístico que estamos a presenciar.

Há quem tenha apontado que a greve dos caminhoneiros era carta marcada. Afinal, já tínhamos visto o filme em 2015, quando o preço do diesel subiu em razão das pressões provocadas por anos de congelamentos de preços de combustíveis para conter os efeitos inflacionários – prática comum entre 2008 e 2014. Em 2015, o governo de Dilma havia decidido elevar as alíquotas do PIS/Cofins e da Cide para aumentar a arrecadação em meio aos temores de crise fiscal que rondavam o País.

Desta vez, o estopim foi a mudança na política de preços da Petrobrás e os reajustes mais frequentes desde meados de 2017, combinados com a desvalorização do real provocada pela saída de investidores dos mercados emergentes, além da alta do preço do petróleo proveniente de fatores diversos. Evidentemente, esse não é o fim da história.

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Diante da falta de liderança do País, da presença de um governante impopular em final de mandato, percebido por parcela relevante da população como ilegítimo, o flanco se abriu. A greve dos caminhoneiros transformou-se rapidamente em plataforma para oportunismos diversos e em símbolo do repúdio aos políticos, ao establishment, à corrupção, ao Estado carcomido. As respostas tépidas do governo, no início, e a inevitável capitulação sangue de barata deixaram claro que a fraqueza é enorme e que outros movimentos podem ser bem-sucedidos diante da imensa lacuna que é hoje a administração de Michel Temer.

No pior dos casos, talvez tenhamos de conviver com paralisações quase ininterruptas até as eleições de outubro – os petroleiros vêm aí. No melhor dos casos, quiçá tenhamos uma interrupção da semianarquia durante a Copa do Mundo. De um jeito ou de outro, o quadro eleitoral acaba de ficar ainda mais imprevisível, se é que isso é possível. A recuperação da economia também.

Escrevo este artigo logo antes de sabermos o resultado do PIB do primeiro trimestre. Ao que tudo indica, os dados a serem divulgados não devem dar alento algum. Mas, ainda que tragam alívio, ele agora será efêmero. Quem haverá de fazer planos para investir após testemunhar a magnitude de todas as crises desveladas pelos caminhoneiros? Quem haverá de consumir ante a perspectiva de mais desemprego? Sobretudo, quem não haverá de revoltar-se ainda mais com a proposta do governo de aumentar impostos para cobrir o rombo criado para atender aos grevistas? Recentemente, o Banco Mundial divulgou lista que calcula o porcentual de impostos pagos pelos contribuintes, embutidos nos preços de produtos essenciais, entre eles: a carne bovina, sobre a qual pagam-se 18,6%; o arroz e o feijão, sobre os quais pagam-se 18%; o sal, sobre o qual pagam-se 29,5%; o papel higiênico, sobre o qual pagam-se 40,5%; a pasta de dente, sobre a qual pagam-se 42%; a geladeira, sobre a qual pagam-se 47,1%. Por aí vai. É verdade que os impostos que o governo pretende aumentar não são os que incidem sobre esses produtos. Mas será que isso importa para a população desgastada, desalentada, agastada com a desfaçatez e o escárnio de nossos governantes?

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A barata é um inseto que pode viver vários dias com a cabeça decepada. Há políticos que passam toda a vida sem cabeça. Contudo, não há governo que possa aguentar a revoada das baratas sem ter cabeça. O drama brasileiro acaba de ficar ainda mais peçonhento.

* ECONOMISTA, PESQUISADORA DO PETERSON INSTITUTE FOR INTERNATIONAL ECONOMICS E PROFESSORA DA SAIS/JOHNS HOPKINS UNIVERSITY

Não foi fácil intitular este artigo. Passei algumas horas entre “barata-voa” e “semianarquia” – no fim, a imagem do inseto pareceu mais apropriada para ilustrar os dias de balbúrdia que assolam o País. Como mostrou o governo, estamos à deriva, sem lideranças capazes de gerir o caos. Como mostrou Temer em discurso desvelando medidas de última hora para tentar desfazer a impressão de que voltamos 20 anos em 2, só faltou ao presidente ajoelhar-se e implorar o perdão dos caminhoneiros e dos donos das transportadoras que paralisaram o Brasil. O vácuo de poder e o déficit de legitimidade do governo Temer têm sido temas de artigos meus para este espaço desde 2016. No entanto, embora a confusão geral da nação fosse previsível – uma quase certeza, até – como exatamente ela se daria era outra história. Deu-se no travamento logístico que estamos a presenciar.

Há quem tenha apontado que a greve dos caminhoneiros era carta marcada. Afinal, já tínhamos visto o filme em 2015, quando o preço do diesel subiu em razão das pressões provocadas por anos de congelamentos de preços de combustíveis para conter os efeitos inflacionários – prática comum entre 2008 e 2014. Em 2015, o governo de Dilma havia decidido elevar as alíquotas do PIS/Cofins e da Cide para aumentar a arrecadação em meio aos temores de crise fiscal que rondavam o País.

Desta vez, o estopim foi a mudança na política de preços da Petrobrás e os reajustes mais frequentes desde meados de 2017, combinados com a desvalorização do real provocada pela saída de investidores dos mercados emergentes, além da alta do preço do petróleo proveniente de fatores diversos. Evidentemente, esse não é o fim da história.

Diante da falta de liderança do País, da presença de um governante impopular em final de mandato, percebido por parcela relevante da população como ilegítimo, o flanco se abriu. A greve dos caminhoneiros transformou-se rapidamente em plataforma para oportunismos diversos e em símbolo do repúdio aos políticos, ao establishment, à corrupção, ao Estado carcomido. As respostas tépidas do governo, no início, e a inevitável capitulação sangue de barata deixaram claro que a fraqueza é enorme e que outros movimentos podem ser bem-sucedidos diante da imensa lacuna que é hoje a administração de Michel Temer.

No pior dos casos, talvez tenhamos de conviver com paralisações quase ininterruptas até as eleições de outubro – os petroleiros vêm aí. No melhor dos casos, quiçá tenhamos uma interrupção da semianarquia durante a Copa do Mundo. De um jeito ou de outro, o quadro eleitoral acaba de ficar ainda mais imprevisível, se é que isso é possível. A recuperação da economia também.

Escrevo este artigo logo antes de sabermos o resultado do PIB do primeiro trimestre. Ao que tudo indica, os dados a serem divulgados não devem dar alento algum. Mas, ainda que tragam alívio, ele agora será efêmero. Quem haverá de fazer planos para investir após testemunhar a magnitude de todas as crises desveladas pelos caminhoneiros? Quem haverá de consumir ante a perspectiva de mais desemprego? Sobretudo, quem não haverá de revoltar-se ainda mais com a proposta do governo de aumentar impostos para cobrir o rombo criado para atender aos grevistas? Recentemente, o Banco Mundial divulgou lista que calcula o porcentual de impostos pagos pelos contribuintes, embutidos nos preços de produtos essenciais, entre eles: a carne bovina, sobre a qual pagam-se 18,6%; o arroz e o feijão, sobre os quais pagam-se 18%; o sal, sobre o qual pagam-se 29,5%; o papel higiênico, sobre o qual pagam-se 40,5%; a pasta de dente, sobre a qual pagam-se 42%; a geladeira, sobre a qual pagam-se 47,1%. Por aí vai. É verdade que os impostos que o governo pretende aumentar não são os que incidem sobre esses produtos. Mas será que isso importa para a população desgastada, desalentada, agastada com a desfaçatez e o escárnio de nossos governantes?

A barata é um inseto que pode viver vários dias com a cabeça decepada. Há políticos que passam toda a vida sem cabeça. Contudo, não há governo que possa aguentar a revoada das baratas sem ter cabeça. O drama brasileiro acaba de ficar ainda mais peçonhento.

* ECONOMISTA, PESQUISADORA DO PETERSON INSTITUTE FOR INTERNATIONAL ECONOMICS E PROFESSORA DA SAIS/JOHNS HOPKINS UNIVERSITY

Não foi fácil intitular este artigo. Passei algumas horas entre “barata-voa” e “semianarquia” – no fim, a imagem do inseto pareceu mais apropriada para ilustrar os dias de balbúrdia que assolam o País. Como mostrou o governo, estamos à deriva, sem lideranças capazes de gerir o caos. Como mostrou Temer em discurso desvelando medidas de última hora para tentar desfazer a impressão de que voltamos 20 anos em 2, só faltou ao presidente ajoelhar-se e implorar o perdão dos caminhoneiros e dos donos das transportadoras que paralisaram o Brasil. O vácuo de poder e o déficit de legitimidade do governo Temer têm sido temas de artigos meus para este espaço desde 2016. No entanto, embora a confusão geral da nação fosse previsível – uma quase certeza, até – como exatamente ela se daria era outra história. Deu-se no travamento logístico que estamos a presenciar.

Há quem tenha apontado que a greve dos caminhoneiros era carta marcada. Afinal, já tínhamos visto o filme em 2015, quando o preço do diesel subiu em razão das pressões provocadas por anos de congelamentos de preços de combustíveis para conter os efeitos inflacionários – prática comum entre 2008 e 2014. Em 2015, o governo de Dilma havia decidido elevar as alíquotas do PIS/Cofins e da Cide para aumentar a arrecadação em meio aos temores de crise fiscal que rondavam o País.

Desta vez, o estopim foi a mudança na política de preços da Petrobrás e os reajustes mais frequentes desde meados de 2017, combinados com a desvalorização do real provocada pela saída de investidores dos mercados emergentes, além da alta do preço do petróleo proveniente de fatores diversos. Evidentemente, esse não é o fim da história.

Diante da falta de liderança do País, da presença de um governante impopular em final de mandato, percebido por parcela relevante da população como ilegítimo, o flanco se abriu. A greve dos caminhoneiros transformou-se rapidamente em plataforma para oportunismos diversos e em símbolo do repúdio aos políticos, ao establishment, à corrupção, ao Estado carcomido. As respostas tépidas do governo, no início, e a inevitável capitulação sangue de barata deixaram claro que a fraqueza é enorme e que outros movimentos podem ser bem-sucedidos diante da imensa lacuna que é hoje a administração de Michel Temer.

No pior dos casos, talvez tenhamos de conviver com paralisações quase ininterruptas até as eleições de outubro – os petroleiros vêm aí. No melhor dos casos, quiçá tenhamos uma interrupção da semianarquia durante a Copa do Mundo. De um jeito ou de outro, o quadro eleitoral acaba de ficar ainda mais imprevisível, se é que isso é possível. A recuperação da economia também.

Escrevo este artigo logo antes de sabermos o resultado do PIB do primeiro trimestre. Ao que tudo indica, os dados a serem divulgados não devem dar alento algum. Mas, ainda que tragam alívio, ele agora será efêmero. Quem haverá de fazer planos para investir após testemunhar a magnitude de todas as crises desveladas pelos caminhoneiros? Quem haverá de consumir ante a perspectiva de mais desemprego? Sobretudo, quem não haverá de revoltar-se ainda mais com a proposta do governo de aumentar impostos para cobrir o rombo criado para atender aos grevistas? Recentemente, o Banco Mundial divulgou lista que calcula o porcentual de impostos pagos pelos contribuintes, embutidos nos preços de produtos essenciais, entre eles: a carne bovina, sobre a qual pagam-se 18,6%; o arroz e o feijão, sobre os quais pagam-se 18%; o sal, sobre o qual pagam-se 29,5%; o papel higiênico, sobre o qual pagam-se 40,5%; a pasta de dente, sobre a qual pagam-se 42%; a geladeira, sobre a qual pagam-se 47,1%. Por aí vai. É verdade que os impostos que o governo pretende aumentar não são os que incidem sobre esses produtos. Mas será que isso importa para a população desgastada, desalentada, agastada com a desfaçatez e o escárnio de nossos governantes?

A barata é um inseto que pode viver vários dias com a cabeça decepada. Há políticos que passam toda a vida sem cabeça. Contudo, não há governo que possa aguentar a revoada das baratas sem ter cabeça. O drama brasileiro acaba de ficar ainda mais peçonhento.

* ECONOMISTA, PESQUISADORA DO PETERSON INSTITUTE FOR INTERNATIONAL ECONOMICS E PROFESSORA DA SAIS/JOHNS HOPKINS UNIVERSITY

Não foi fácil intitular este artigo. Passei algumas horas entre “barata-voa” e “semianarquia” – no fim, a imagem do inseto pareceu mais apropriada para ilustrar os dias de balbúrdia que assolam o País. Como mostrou o governo, estamos à deriva, sem lideranças capazes de gerir o caos. Como mostrou Temer em discurso desvelando medidas de última hora para tentar desfazer a impressão de que voltamos 20 anos em 2, só faltou ao presidente ajoelhar-se e implorar o perdão dos caminhoneiros e dos donos das transportadoras que paralisaram o Brasil. O vácuo de poder e o déficit de legitimidade do governo Temer têm sido temas de artigos meus para este espaço desde 2016. No entanto, embora a confusão geral da nação fosse previsível – uma quase certeza, até – como exatamente ela se daria era outra história. Deu-se no travamento logístico que estamos a presenciar.

Há quem tenha apontado que a greve dos caminhoneiros era carta marcada. Afinal, já tínhamos visto o filme em 2015, quando o preço do diesel subiu em razão das pressões provocadas por anos de congelamentos de preços de combustíveis para conter os efeitos inflacionários – prática comum entre 2008 e 2014. Em 2015, o governo de Dilma havia decidido elevar as alíquotas do PIS/Cofins e da Cide para aumentar a arrecadação em meio aos temores de crise fiscal que rondavam o País.

Desta vez, o estopim foi a mudança na política de preços da Petrobrás e os reajustes mais frequentes desde meados de 2017, combinados com a desvalorização do real provocada pela saída de investidores dos mercados emergentes, além da alta do preço do petróleo proveniente de fatores diversos. Evidentemente, esse não é o fim da história.

Diante da falta de liderança do País, da presença de um governante impopular em final de mandato, percebido por parcela relevante da população como ilegítimo, o flanco se abriu. A greve dos caminhoneiros transformou-se rapidamente em plataforma para oportunismos diversos e em símbolo do repúdio aos políticos, ao establishment, à corrupção, ao Estado carcomido. As respostas tépidas do governo, no início, e a inevitável capitulação sangue de barata deixaram claro que a fraqueza é enorme e que outros movimentos podem ser bem-sucedidos diante da imensa lacuna que é hoje a administração de Michel Temer.

No pior dos casos, talvez tenhamos de conviver com paralisações quase ininterruptas até as eleições de outubro – os petroleiros vêm aí. No melhor dos casos, quiçá tenhamos uma interrupção da semianarquia durante a Copa do Mundo. De um jeito ou de outro, o quadro eleitoral acaba de ficar ainda mais imprevisível, se é que isso é possível. A recuperação da economia também.

Escrevo este artigo logo antes de sabermos o resultado do PIB do primeiro trimestre. Ao que tudo indica, os dados a serem divulgados não devem dar alento algum. Mas, ainda que tragam alívio, ele agora será efêmero. Quem haverá de fazer planos para investir após testemunhar a magnitude de todas as crises desveladas pelos caminhoneiros? Quem haverá de consumir ante a perspectiva de mais desemprego? Sobretudo, quem não haverá de revoltar-se ainda mais com a proposta do governo de aumentar impostos para cobrir o rombo criado para atender aos grevistas? Recentemente, o Banco Mundial divulgou lista que calcula o porcentual de impostos pagos pelos contribuintes, embutidos nos preços de produtos essenciais, entre eles: a carne bovina, sobre a qual pagam-se 18,6%; o arroz e o feijão, sobre os quais pagam-se 18%; o sal, sobre o qual pagam-se 29,5%; o papel higiênico, sobre o qual pagam-se 40,5%; a pasta de dente, sobre a qual pagam-se 42%; a geladeira, sobre a qual pagam-se 47,1%. Por aí vai. É verdade que os impostos que o governo pretende aumentar não são os que incidem sobre esses produtos. Mas será que isso importa para a população desgastada, desalentada, agastada com a desfaçatez e o escárnio de nossos governantes?

A barata é um inseto que pode viver vários dias com a cabeça decepada. Há políticos que passam toda a vida sem cabeça. Contudo, não há governo que possa aguentar a revoada das baratas sem ter cabeça. O drama brasileiro acaba de ficar ainda mais peçonhento.

* ECONOMISTA, PESQUISADORA DO PETERSON INSTITUTE FOR INTERNATIONAL ECONOMICS E PROFESSORA DA SAIS/JOHNS HOPKINS UNIVERSITY

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