Pesquisa aplicada no dia a dia (FGV-EESP)

Opinião|Nova métrica do metano: o boi é aliado do clima


Por mosaicodeeconomia

Daniel Vargas, Professor da FGV EESP e da FGV Direito Rio

Myles Allen, professor de Oxford, é o principal cientista climático do metano do planeta. Suas contribuições científicas sobre o funcionamento deste gás são reconhecidas pela elite científica global, inclusive pelo IPCC (AR6, cap 7).

Na última semana, ele participou da Conferência Internacional Josué de Castro de Segurança Alimentar, em painel intitulado o papel social da carne--mas também debatendo o papel "climático" da pecuária.

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O foco de sua apresentação: a necessidade de revisão dos padrões de cálculo do metano e do tratamento da pecuária na agenda do clima.

 

Para Allen, as métricas de cálculo do metano e as suas aplicações para avaliar a sustentabilidade da carne são "ultrapassadas" e "equivocadas".

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Primeiro, tratamos o metano como se fosse CO2. Cada molécula adicional de CO2 emitida provoca aquecimento da atmosfera "basicamente pra sempre". O metano, por sua vez, sobrevive por 10-12 anos na atmosfera. Após esse período, ele se retira do ar, eliminando seu impacto ambiental. O GWP100, métrica mais influente de apuração do aquecimento do metano, não reconhece corretamente essa subtração.

Segundo, tratamos o boi como se fosse uma petroleira. Uma vez que o petróleo é extraído do solo, o metano é eliminado. Após 10-12 anos, o metano se quebra em CO2, e permanece na atmosfera por 100-1000 anos. O boi, por sua vez, é um filtro: ele consome o CO2, capturado pela fotossíntese do pasto, que será digerido produzindo metano, que logo voltará a ser a mesma molécula de CO2 que residia na atmosfera antes.

Junte as variáveis e temos uma equação bem distinta da imagem popularizada da pecuária. Em vez de problema fundamental para o aquecimento do clima, a pecuária pode, com ganho de produtividade, ser um agente fundamental de "resfriamento" da atmosfera.

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Como corrigir o problema?

Allen apresenta duas propostas.

A primeira: o Brasil deveria, na COP30, pleitear alteração dos padrões "ultrapassados" de mensuração do metano que prejudicam a pecuária e ainda dominam orientação do IPCC, por lobby ou preconceito contra a carne.

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A segunda: criar serviço de pagamento ao pecuarista por ações que reduzam emissões de metano. Se deixar de produzir para plantar floresta "gera crédito", aumentar produtividade da pecuária deveria gerar também, pois o efeito climático é equivalente.

Nada disso, contudo, avançará sem uma preliminar importante: é preciso superar o catastrofismo estridente que ainda predomina no debate sobre a pecuária e a carne; e, no seu lugar, posicionar o rigor e a credibilidade da melhor ciência.

Daniel Vargas, Professor da FGV EESP e da FGV Direito Rio

Myles Allen, professor de Oxford, é o principal cientista climático do metano do planeta. Suas contribuições científicas sobre o funcionamento deste gás são reconhecidas pela elite científica global, inclusive pelo IPCC (AR6, cap 7).

Na última semana, ele participou da Conferência Internacional Josué de Castro de Segurança Alimentar, em painel intitulado o papel social da carne--mas também debatendo o papel "climático" da pecuária.

O foco de sua apresentação: a necessidade de revisão dos padrões de cálculo do metano e do tratamento da pecuária na agenda do clima.

 

Para Allen, as métricas de cálculo do metano e as suas aplicações para avaliar a sustentabilidade da carne são "ultrapassadas" e "equivocadas".

Primeiro, tratamos o metano como se fosse CO2. Cada molécula adicional de CO2 emitida provoca aquecimento da atmosfera "basicamente pra sempre". O metano, por sua vez, sobrevive por 10-12 anos na atmosfera. Após esse período, ele se retira do ar, eliminando seu impacto ambiental. O GWP100, métrica mais influente de apuração do aquecimento do metano, não reconhece corretamente essa subtração.

Segundo, tratamos o boi como se fosse uma petroleira. Uma vez que o petróleo é extraído do solo, o metano é eliminado. Após 10-12 anos, o metano se quebra em CO2, e permanece na atmosfera por 100-1000 anos. O boi, por sua vez, é um filtro: ele consome o CO2, capturado pela fotossíntese do pasto, que será digerido produzindo metano, que logo voltará a ser a mesma molécula de CO2 que residia na atmosfera antes.

Junte as variáveis e temos uma equação bem distinta da imagem popularizada da pecuária. Em vez de problema fundamental para o aquecimento do clima, a pecuária pode, com ganho de produtividade, ser um agente fundamental de "resfriamento" da atmosfera.

Como corrigir o problema?

Allen apresenta duas propostas.

A primeira: o Brasil deveria, na COP30, pleitear alteração dos padrões "ultrapassados" de mensuração do metano que prejudicam a pecuária e ainda dominam orientação do IPCC, por lobby ou preconceito contra a carne.

A segunda: criar serviço de pagamento ao pecuarista por ações que reduzam emissões de metano. Se deixar de produzir para plantar floresta "gera crédito", aumentar produtividade da pecuária deveria gerar também, pois o efeito climático é equivalente.

Nada disso, contudo, avançará sem uma preliminar importante: é preciso superar o catastrofismo estridente que ainda predomina no debate sobre a pecuária e a carne; e, no seu lugar, posicionar o rigor e a credibilidade da melhor ciência.

Daniel Vargas, Professor da FGV EESP e da FGV Direito Rio

Myles Allen, professor de Oxford, é o principal cientista climático do metano do planeta. Suas contribuições científicas sobre o funcionamento deste gás são reconhecidas pela elite científica global, inclusive pelo IPCC (AR6, cap 7).

Na última semana, ele participou da Conferência Internacional Josué de Castro de Segurança Alimentar, em painel intitulado o papel social da carne--mas também debatendo o papel "climático" da pecuária.

O foco de sua apresentação: a necessidade de revisão dos padrões de cálculo do metano e do tratamento da pecuária na agenda do clima.

 

Para Allen, as métricas de cálculo do metano e as suas aplicações para avaliar a sustentabilidade da carne são "ultrapassadas" e "equivocadas".

Primeiro, tratamos o metano como se fosse CO2. Cada molécula adicional de CO2 emitida provoca aquecimento da atmosfera "basicamente pra sempre". O metano, por sua vez, sobrevive por 10-12 anos na atmosfera. Após esse período, ele se retira do ar, eliminando seu impacto ambiental. O GWP100, métrica mais influente de apuração do aquecimento do metano, não reconhece corretamente essa subtração.

Segundo, tratamos o boi como se fosse uma petroleira. Uma vez que o petróleo é extraído do solo, o metano é eliminado. Após 10-12 anos, o metano se quebra em CO2, e permanece na atmosfera por 100-1000 anos. O boi, por sua vez, é um filtro: ele consome o CO2, capturado pela fotossíntese do pasto, que será digerido produzindo metano, que logo voltará a ser a mesma molécula de CO2 que residia na atmosfera antes.

Junte as variáveis e temos uma equação bem distinta da imagem popularizada da pecuária. Em vez de problema fundamental para o aquecimento do clima, a pecuária pode, com ganho de produtividade, ser um agente fundamental de "resfriamento" da atmosfera.

Como corrigir o problema?

Allen apresenta duas propostas.

A primeira: o Brasil deveria, na COP30, pleitear alteração dos padrões "ultrapassados" de mensuração do metano que prejudicam a pecuária e ainda dominam orientação do IPCC, por lobby ou preconceito contra a carne.

A segunda: criar serviço de pagamento ao pecuarista por ações que reduzam emissões de metano. Se deixar de produzir para plantar floresta "gera crédito", aumentar produtividade da pecuária deveria gerar também, pois o efeito climático é equivalente.

Nada disso, contudo, avançará sem uma preliminar importante: é preciso superar o catastrofismo estridente que ainda predomina no debate sobre a pecuária e a carne; e, no seu lugar, posicionar o rigor e a credibilidade da melhor ciência.

Opinião por mosaicodeeconomia

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