Mudança nas metas de inflação: qual será o efeito para o mercado?


Embora não exista um consenso em relação aos impactos de uma eventual alteração, a leitura de parte dos analistas é de que pode haver uma subida - ainda que leve - nas projeções do IPCA

Por Luiz Guilherme Gerbelli

Se concretizada, uma mudança das metas de inflação para os próximos anos deve levar uma parcela dos economistas a enxergar uma piora do quadro inflacionário do País. Embora não exista um consenso em relação aos impactos dessa eventual alteração, a leitura é de que pode haver uma subida - ainda que leve - nas projeções.

Com a discussão sobre metas de inflação ganhando força neste ano, boa parte dos analistas incorporou nas previsões para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alguma alteração na meta de inflação. Entretanto, mais do que mudar ou não a regra, há uma dúvida adicional: qual pode ser o tamanho da mexida a ser promovida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

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O centro da meta de inflação para os próximos dois anos é de 3%, com um intervalo de 1,5 ponto porcentual. No relatório Focus, realizado pelo Banco Central, as previsões dos economistas consultados para o IPCA de 2024 e 2025 são de 4,15% e 4%, respectivamente.

“A minha previsão para o IPCA de 2024 é de 4,20%, com uma alteração na meta para 3,5%. Mas se a meta não for alterada, e permanecer em 3%, a nossa projeção cai para 4,10%”, afirma Andréa Angelo, sócia e estrategista de inflação na Warren Rena.

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Em abril, uma pesquisa realizada pela Warren Rena com participantes do mercado apontou que, no caso de a meta de inflação subir para 4% em 2024, 25% dos respondentes apontavam um impacto na projeção para o IPCA entre 0,5 e 0,75 ponto porcentual. “A previsão no Focus poderia ir rapidamente para 4,5%”, diz Andréa.

Campos Neto e Haddad integram o CMN, que define a meta de inflação para o País Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado / Edilson Rodrigues/Agv™ncia Senad

Em junho, o CMN deve apontar qual será a meta de inflação para 2026, mas também pode rever as que foram definidas para 2023 e 2024. O órgão é formado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pela ministra do Planejamento, Simone Tebet.

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“O impacto imediato (de uma mudança nas metas) vai depender da magnitude de uma eventual alta”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. “Se, por exemplo, houver um ajuste na meta de inflação de 3% para 4%, o mercado, no outro dia, vai subir a expectativa de inflação, para 5%.”

“Se for uma decisão conjunta da Simone e do Haddad, com uma pressão do Lula, que faça com que os dois ministros decidam dessa forma, será uma sinalização muito ruim”, afirma Vale.

A discussão sobre uma eventual mudança na meta de inflação está no centro do debate econômico desde o início do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem culpado o patamar da taxa básica de juros - atualmente em 13,75% ao ano - pelo cenário de baixo crescimento do País. Na visão do governo, a solução, então, seria reduzir a meta de inflação para permitir uma queda da Selic.

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“A minha impressão é que não deve acontecer nada (se houver uma mudança), porque o mercado já antecipou isso. No Focus, em três, quatro meses, as expectativas de inflação naqueles horizontes bem distantes, para 2026, 2027, saíram rapidamente de 3% para 4%, mas estacionaram nos 4%”, afirma Bráulio Borges, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Em abril, durante audiência pública realizada no Senado, Campos Neto afirmou que a discussão sobre meta de inflação tem mérito e ocorre inclusive em países desenvolvidos. Em entrevista ao Estadão, Haddad disse já ter conversado com presidente do BC para uma definição de meta de inflação para um período contínuo ao longo do tempo, em vez do ano calendário.

“Eu acredito que um aprimoramento do sistema de metas seria bem-visto. No Brasil, o nosso sistema tem como base o ano calendário. Ou seja, o BC tem de cumprir uma meta em determinado ano. Na maioria dos países do mundo, inclusive nos mercados emergentes, não se usa o ano calendário, mas se usa o horizonte relevante, e ele é móvel. Então, ao longo do tempo, a inflação tem de estar em torno do centro da meta”, afirma Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Pine.

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“Mas e se mudar o centro da meta? Isso, certamente, provocaria uma desancoragem adicional nas expectativas para prazos mais longos, sobretudo, para 2025 e 2026. E isso tem um custo. E o custo de uma inflação prolongadamente mais alta é uma redução da taxa de crescimento do PIB potencial vinda de um processo de inflação que torna o País menos produtivo”, diz Oliveira.

Meio do caminho

Um cenário que também está no radar da Warren Rena é visto como o meio do caminho: o CMN pode subir o centro da meta em 2024 e 2025, mas, depois, volta a reduzir para 2026. “Há chances de subir a meta para 2024 e 2025 e, quando estiver nesse horizonte e atingir a meta, você diminui”, diz Andréa.

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Na avaliação dela, essa sinalização seria importante num cenário em que a saída de Campos Neto do Banco Central está prevista para o fim de 2024 e há dúvidas sobre como deve ser a condução do BC com a troca de presidência. “Se for esse o caminho, a gente vê como bastante positivo, mesmo que suba (a meta) agora”, afirma.

Se concretizada, uma mudança das metas de inflação para os próximos anos deve levar uma parcela dos economistas a enxergar uma piora do quadro inflacionário do País. Embora não exista um consenso em relação aos impactos dessa eventual alteração, a leitura é de que pode haver uma subida - ainda que leve - nas projeções.

Com a discussão sobre metas de inflação ganhando força neste ano, boa parte dos analistas incorporou nas previsões para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alguma alteração na meta de inflação. Entretanto, mais do que mudar ou não a regra, há uma dúvida adicional: qual pode ser o tamanho da mexida a ser promovida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

O centro da meta de inflação para os próximos dois anos é de 3%, com um intervalo de 1,5 ponto porcentual. No relatório Focus, realizado pelo Banco Central, as previsões dos economistas consultados para o IPCA de 2024 e 2025 são de 4,15% e 4%, respectivamente.

“A minha previsão para o IPCA de 2024 é de 4,20%, com uma alteração na meta para 3,5%. Mas se a meta não for alterada, e permanecer em 3%, a nossa projeção cai para 4,10%”, afirma Andréa Angelo, sócia e estrategista de inflação na Warren Rena.

Em abril, uma pesquisa realizada pela Warren Rena com participantes do mercado apontou que, no caso de a meta de inflação subir para 4% em 2024, 25% dos respondentes apontavam um impacto na projeção para o IPCA entre 0,5 e 0,75 ponto porcentual. “A previsão no Focus poderia ir rapidamente para 4,5%”, diz Andréa.

Campos Neto e Haddad integram o CMN, que define a meta de inflação para o País Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado / Edilson Rodrigues/Agv™ncia Senad

Em junho, o CMN deve apontar qual será a meta de inflação para 2026, mas também pode rever as que foram definidas para 2023 e 2024. O órgão é formado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pela ministra do Planejamento, Simone Tebet.

“O impacto imediato (de uma mudança nas metas) vai depender da magnitude de uma eventual alta”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. “Se, por exemplo, houver um ajuste na meta de inflação de 3% para 4%, o mercado, no outro dia, vai subir a expectativa de inflação, para 5%.”

“Se for uma decisão conjunta da Simone e do Haddad, com uma pressão do Lula, que faça com que os dois ministros decidam dessa forma, será uma sinalização muito ruim”, afirma Vale.

A discussão sobre uma eventual mudança na meta de inflação está no centro do debate econômico desde o início do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem culpado o patamar da taxa básica de juros - atualmente em 13,75% ao ano - pelo cenário de baixo crescimento do País. Na visão do governo, a solução, então, seria reduzir a meta de inflação para permitir uma queda da Selic.

“A minha impressão é que não deve acontecer nada (se houver uma mudança), porque o mercado já antecipou isso. No Focus, em três, quatro meses, as expectativas de inflação naqueles horizontes bem distantes, para 2026, 2027, saíram rapidamente de 3% para 4%, mas estacionaram nos 4%”, afirma Bráulio Borges, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Em abril, durante audiência pública realizada no Senado, Campos Neto afirmou que a discussão sobre meta de inflação tem mérito e ocorre inclusive em países desenvolvidos. Em entrevista ao Estadão, Haddad disse já ter conversado com presidente do BC para uma definição de meta de inflação para um período contínuo ao longo do tempo, em vez do ano calendário.

“Eu acredito que um aprimoramento do sistema de metas seria bem-visto. No Brasil, o nosso sistema tem como base o ano calendário. Ou seja, o BC tem de cumprir uma meta em determinado ano. Na maioria dos países do mundo, inclusive nos mercados emergentes, não se usa o ano calendário, mas se usa o horizonte relevante, e ele é móvel. Então, ao longo do tempo, a inflação tem de estar em torno do centro da meta”, afirma Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Pine.

“Mas e se mudar o centro da meta? Isso, certamente, provocaria uma desancoragem adicional nas expectativas para prazos mais longos, sobretudo, para 2025 e 2026. E isso tem um custo. E o custo de uma inflação prolongadamente mais alta é uma redução da taxa de crescimento do PIB potencial vinda de um processo de inflação que torna o País menos produtivo”, diz Oliveira.

Meio do caminho

Um cenário que também está no radar da Warren Rena é visto como o meio do caminho: o CMN pode subir o centro da meta em 2024 e 2025, mas, depois, volta a reduzir para 2026. “Há chances de subir a meta para 2024 e 2025 e, quando estiver nesse horizonte e atingir a meta, você diminui”, diz Andréa.

Na avaliação dela, essa sinalização seria importante num cenário em que a saída de Campos Neto do Banco Central está prevista para o fim de 2024 e há dúvidas sobre como deve ser a condução do BC com a troca de presidência. “Se for esse o caminho, a gente vê como bastante positivo, mesmo que suba (a meta) agora”, afirma.

Se concretizada, uma mudança das metas de inflação para os próximos anos deve levar uma parcela dos economistas a enxergar uma piora do quadro inflacionário do País. Embora não exista um consenso em relação aos impactos dessa eventual alteração, a leitura é de que pode haver uma subida - ainda que leve - nas projeções.

Com a discussão sobre metas de inflação ganhando força neste ano, boa parte dos analistas incorporou nas previsões para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alguma alteração na meta de inflação. Entretanto, mais do que mudar ou não a regra, há uma dúvida adicional: qual pode ser o tamanho da mexida a ser promovida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

O centro da meta de inflação para os próximos dois anos é de 3%, com um intervalo de 1,5 ponto porcentual. No relatório Focus, realizado pelo Banco Central, as previsões dos economistas consultados para o IPCA de 2024 e 2025 são de 4,15% e 4%, respectivamente.

“A minha previsão para o IPCA de 2024 é de 4,20%, com uma alteração na meta para 3,5%. Mas se a meta não for alterada, e permanecer em 3%, a nossa projeção cai para 4,10%”, afirma Andréa Angelo, sócia e estrategista de inflação na Warren Rena.

Em abril, uma pesquisa realizada pela Warren Rena com participantes do mercado apontou que, no caso de a meta de inflação subir para 4% em 2024, 25% dos respondentes apontavam um impacto na projeção para o IPCA entre 0,5 e 0,75 ponto porcentual. “A previsão no Focus poderia ir rapidamente para 4,5%”, diz Andréa.

Campos Neto e Haddad integram o CMN, que define a meta de inflação para o País Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado / Edilson Rodrigues/Agv™ncia Senad

Em junho, o CMN deve apontar qual será a meta de inflação para 2026, mas também pode rever as que foram definidas para 2023 e 2024. O órgão é formado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pela ministra do Planejamento, Simone Tebet.

“O impacto imediato (de uma mudança nas metas) vai depender da magnitude de uma eventual alta”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. “Se, por exemplo, houver um ajuste na meta de inflação de 3% para 4%, o mercado, no outro dia, vai subir a expectativa de inflação, para 5%.”

“Se for uma decisão conjunta da Simone e do Haddad, com uma pressão do Lula, que faça com que os dois ministros decidam dessa forma, será uma sinalização muito ruim”, afirma Vale.

A discussão sobre uma eventual mudança na meta de inflação está no centro do debate econômico desde o início do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem culpado o patamar da taxa básica de juros - atualmente em 13,75% ao ano - pelo cenário de baixo crescimento do País. Na visão do governo, a solução, então, seria reduzir a meta de inflação para permitir uma queda da Selic.

“A minha impressão é que não deve acontecer nada (se houver uma mudança), porque o mercado já antecipou isso. No Focus, em três, quatro meses, as expectativas de inflação naqueles horizontes bem distantes, para 2026, 2027, saíram rapidamente de 3% para 4%, mas estacionaram nos 4%”, afirma Bráulio Borges, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Em abril, durante audiência pública realizada no Senado, Campos Neto afirmou que a discussão sobre meta de inflação tem mérito e ocorre inclusive em países desenvolvidos. Em entrevista ao Estadão, Haddad disse já ter conversado com presidente do BC para uma definição de meta de inflação para um período contínuo ao longo do tempo, em vez do ano calendário.

“Eu acredito que um aprimoramento do sistema de metas seria bem-visto. No Brasil, o nosso sistema tem como base o ano calendário. Ou seja, o BC tem de cumprir uma meta em determinado ano. Na maioria dos países do mundo, inclusive nos mercados emergentes, não se usa o ano calendário, mas se usa o horizonte relevante, e ele é móvel. Então, ao longo do tempo, a inflação tem de estar em torno do centro da meta”, afirma Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Pine.

“Mas e se mudar o centro da meta? Isso, certamente, provocaria uma desancoragem adicional nas expectativas para prazos mais longos, sobretudo, para 2025 e 2026. E isso tem um custo. E o custo de uma inflação prolongadamente mais alta é uma redução da taxa de crescimento do PIB potencial vinda de um processo de inflação que torna o País menos produtivo”, diz Oliveira.

Meio do caminho

Um cenário que também está no radar da Warren Rena é visto como o meio do caminho: o CMN pode subir o centro da meta em 2024 e 2025, mas, depois, volta a reduzir para 2026. “Há chances de subir a meta para 2024 e 2025 e, quando estiver nesse horizonte e atingir a meta, você diminui”, diz Andréa.

Na avaliação dela, essa sinalização seria importante num cenário em que a saída de Campos Neto do Banco Central está prevista para o fim de 2024 e há dúvidas sobre como deve ser a condução do BC com a troca de presidência. “Se for esse o caminho, a gente vê como bastante positivo, mesmo que suba (a meta) agora”, afirma.

Se concretizada, uma mudança das metas de inflação para os próximos anos deve levar uma parcela dos economistas a enxergar uma piora do quadro inflacionário do País. Embora não exista um consenso em relação aos impactos dessa eventual alteração, a leitura é de que pode haver uma subida - ainda que leve - nas projeções.

Com a discussão sobre metas de inflação ganhando força neste ano, boa parte dos analistas incorporou nas previsões para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alguma alteração na meta de inflação. Entretanto, mais do que mudar ou não a regra, há uma dúvida adicional: qual pode ser o tamanho da mexida a ser promovida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

O centro da meta de inflação para os próximos dois anos é de 3%, com um intervalo de 1,5 ponto porcentual. No relatório Focus, realizado pelo Banco Central, as previsões dos economistas consultados para o IPCA de 2024 e 2025 são de 4,15% e 4%, respectivamente.

“A minha previsão para o IPCA de 2024 é de 4,20%, com uma alteração na meta para 3,5%. Mas se a meta não for alterada, e permanecer em 3%, a nossa projeção cai para 4,10%”, afirma Andréa Angelo, sócia e estrategista de inflação na Warren Rena.

Em abril, uma pesquisa realizada pela Warren Rena com participantes do mercado apontou que, no caso de a meta de inflação subir para 4% em 2024, 25% dos respondentes apontavam um impacto na projeção para o IPCA entre 0,5 e 0,75 ponto porcentual. “A previsão no Focus poderia ir rapidamente para 4,5%”, diz Andréa.

Campos Neto e Haddad integram o CMN, que define a meta de inflação para o País Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado / Edilson Rodrigues/Agv™ncia Senad

Em junho, o CMN deve apontar qual será a meta de inflação para 2026, mas também pode rever as que foram definidas para 2023 e 2024. O órgão é formado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pela ministra do Planejamento, Simone Tebet.

“O impacto imediato (de uma mudança nas metas) vai depender da magnitude de uma eventual alta”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. “Se, por exemplo, houver um ajuste na meta de inflação de 3% para 4%, o mercado, no outro dia, vai subir a expectativa de inflação, para 5%.”

“Se for uma decisão conjunta da Simone e do Haddad, com uma pressão do Lula, que faça com que os dois ministros decidam dessa forma, será uma sinalização muito ruim”, afirma Vale.

A discussão sobre uma eventual mudança na meta de inflação está no centro do debate econômico desde o início do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem culpado o patamar da taxa básica de juros - atualmente em 13,75% ao ano - pelo cenário de baixo crescimento do País. Na visão do governo, a solução, então, seria reduzir a meta de inflação para permitir uma queda da Selic.

“A minha impressão é que não deve acontecer nada (se houver uma mudança), porque o mercado já antecipou isso. No Focus, em três, quatro meses, as expectativas de inflação naqueles horizontes bem distantes, para 2026, 2027, saíram rapidamente de 3% para 4%, mas estacionaram nos 4%”, afirma Bráulio Borges, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Em abril, durante audiência pública realizada no Senado, Campos Neto afirmou que a discussão sobre meta de inflação tem mérito e ocorre inclusive em países desenvolvidos. Em entrevista ao Estadão, Haddad disse já ter conversado com presidente do BC para uma definição de meta de inflação para um período contínuo ao longo do tempo, em vez do ano calendário.

“Eu acredito que um aprimoramento do sistema de metas seria bem-visto. No Brasil, o nosso sistema tem como base o ano calendário. Ou seja, o BC tem de cumprir uma meta em determinado ano. Na maioria dos países do mundo, inclusive nos mercados emergentes, não se usa o ano calendário, mas se usa o horizonte relevante, e ele é móvel. Então, ao longo do tempo, a inflação tem de estar em torno do centro da meta”, afirma Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Pine.

“Mas e se mudar o centro da meta? Isso, certamente, provocaria uma desancoragem adicional nas expectativas para prazos mais longos, sobretudo, para 2025 e 2026. E isso tem um custo. E o custo de uma inflação prolongadamente mais alta é uma redução da taxa de crescimento do PIB potencial vinda de um processo de inflação que torna o País menos produtivo”, diz Oliveira.

Meio do caminho

Um cenário que também está no radar da Warren Rena é visto como o meio do caminho: o CMN pode subir o centro da meta em 2024 e 2025, mas, depois, volta a reduzir para 2026. “Há chances de subir a meta para 2024 e 2025 e, quando estiver nesse horizonte e atingir a meta, você diminui”, diz Andréa.

Na avaliação dela, essa sinalização seria importante num cenário em que a saída de Campos Neto do Banco Central está prevista para o fim de 2024 e há dúvidas sobre como deve ser a condução do BC com a troca de presidência. “Se for esse o caminho, a gente vê como bastante positivo, mesmo que suba (a meta) agora”, afirma.

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