Mudanças climáticas e governança corporativa


Conselhos de administração precisam definir posicionamento das organizações em relação ao aquecimento global e ao ESG

Por Roberto Waack

ESG e mudanças climáticas têm ocupado boa parte dos debates empresariais. Há um bom espectro de opiniões sobre relevância, mas seja qual for a crença sobre o impacto dessa onda nos negócios, ele não deve ser negligenciado pelas instâncias de governança. É papel dos conselhos de administração definir o posicionamento das organizações nesses campos.

As empresas têm girado em torno de seis tipologias: as negacionistas, que ignoram ou negam que as mudanças climáticas estejam ocorrendo, mantendo suas estratégias desconectadas do tema; as enrustidas (em inglês, denominadas green hushing), empresas que reconhecem impactos e responsabilidades, mas se mantém em silêncio, num estágio de observação distante e em alguns casos propositadamente escondidas; as empresas que fazem uso da disseminação de informações falsas ou sabidamente incorretas (green washing) para construção ou manipulação de uma imagem associada a temas sociais ou climático-ambientais; as empresas aspirantes climáticas (green whishing), que demonstram desejo de participação ativa no campo, considerando mudanças estratégicas, mas com ações tímidas, hesitantes, ainda sem conteúdo e impacto tangível; as empresas que adotam instrumentos associados à lista de elementos que a onda da sustentabilidade/ESG aportou nos últimos 20 anos (ESG adopters), contemplando essas práticas como compliance, algumas incorporando cardápios completos (rastreabilidade, diversidade, inclusão, reporting, etc.) e outras com maior ênfase em um ou outro componente desse variado menu de externalidades; e finalmente as empresas que estão alterando substancialmente seus modelos de negócio (green business models), com inovações relevantes em processos, produtos e mercados.

A questão central sobre governança neste campo é o quanto conselhos e conselheiros estão preparados para contribuírem com orientações e decisões determinantes desses posicionamentos. Não se trata apenas do fluxo de informações, mas do letramento mínimo de conselheiros sobre esses assuntos, sem a necessidade de se tornarem especialistas. Por trás do processo de capacitação de administradores, a escolha das fontes de informação tem se tornado crescentemente relevante. Numa sociedade onde a avalanche de estudos, conceitos, opiniões, algoritmos e desinformações só cresce, a atenção na curadoria das fontes é crítica. Comitês dedicados a inovações e estratégias (não necessariamente ESG ou Sustentabilidade) são instrumentos da maior importância para o assessoramento de conselhos. Especialistas independentes (e nesses fóruns a presença de especialistas é chave) têm impacto direto na qualidade das informações providas.

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Mas não só o conteúdo é relevante. A forma como estes conhecimentos são organizados e repassados é igualmente critica. Relatórios densos, longos e complexos devem dar lugar a documentos com boa qualidade editorial, redigidos por quem sabe escrever para leigos, com fluidez e objetividade, assim fazendo a diferença nesse letramento. A rotina, periodicidade, tempestividade e conexão em tempo real com as circunstâncias que cercam o empreendimento, são fundamentais.

A diversidade de fontes é vital na curadoria de informações. Como grande parte dos riscos e oportunidades relacionados ao campo climático e ESG estão conectados a externalidades (positivas e negativas) e, em muitos casos, à internalização de externalidades aos modelos de negócio, a escuta ativa e permanente de stakeholders é da maior importância. Nada trivial! Este processo deve ir além dos já tradicionais mapas e painéis de stakeholders, navegando por campos que envolvem relacionamentos efetivos com a sociedade direta e indiretamente afetada pelas ações das empresas. Como sói acontecer, relacionamentos envolvem componentes emocionais, cabendo, portanto, a séria consideração dos conceitos de racionalidade limitada.

Emissão de gases de efeito estufa, que antes era tratado como passivo moral, se transformou em passivo legal Foto: Mônica Zarattini/AE
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Instrumentos como análises de risco, mapas de externalidades e de materialidades são bastante úteis e, no campo climático, estratégias de adaptação são crescentemente utilizadas, com abordagem de diferentes cenários de aumentos das temperaturas médias do planeta. Empresas com grande dependência do uso do solo, como por exemplo agronegócios, mineração e energia, contemplam cadeias de suprimentos e de mercados extensas, com visualização dos impactos nos seus diversos elos. Cresce a importância de estratégias de localização regionais.

Grande parte desses elementos estão sendo incorporados nos sistemas de contabilidade, notadamente IFRS e agentes dos mercados de capitais. Além de informações sobre impacto climático, a contabilização do capital natural (ativos e passivos) é fronteira em desbravamento, tratando de elementos como identificação, exposição (listagem, digitalização), mensuração, monitoramento, propriedade intelectual, monetização, compartilhamento de valores (especialmente na relação com comunidades e populações indígenas) e mecanismos de comércio (créditos de carbono são alternativas, mas não as únicas). O capital natural e seus derivativos (carbono, água, biodiversidade, solo, etc.) passam a afetar valores econômicos e reputacionais, com consequente demanda de envolvimento das mais altas instâncias de governança.

No campo financeiro, sobram opções nas chamadas finanças climáticas, com oportunidades interessantes, mas desafios relevantes nos custos de transações e demandas de novos esquemas de garantias e seguros.

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Passivos morais – como a emissão de gases de efeito estufa era tratada há menos de uma década – se transformam em passivos legais, com sistemas de tributação e comércio específicos. Casos de litigância climática crescem em volume e qualidade, com a proliferação de fundos de investimentos dedicados a essa nova modalidade jurídica, que afeta diretamente pessoas físicas envolvidas nas administrações das empresas.

Os sinais estão acima dos ruídos no campo climático, ainda que os ruídos se sobreponham midiaticamente a eles neste momento. Sistemas de certificação são questionados, rankings e ratings proliferam com qualidades variadas e metodologias imprecisas. Sistemas de mensuração e indicadores são incompletos, desafiando o tradicional dueto medição-gestão. A governança necessariamente está exposta a esses desafios. Poderá optar pela negação, indiferença, simplificação ilusória, alucinação ou acolher e navegar com devida atenção e flexibilidade na complexidade do campo climático, combinado com as demais inovações e crises vigentes.

ESG e mudanças climáticas têm ocupado boa parte dos debates empresariais. Há um bom espectro de opiniões sobre relevância, mas seja qual for a crença sobre o impacto dessa onda nos negócios, ele não deve ser negligenciado pelas instâncias de governança. É papel dos conselhos de administração definir o posicionamento das organizações nesses campos.

As empresas têm girado em torno de seis tipologias: as negacionistas, que ignoram ou negam que as mudanças climáticas estejam ocorrendo, mantendo suas estratégias desconectadas do tema; as enrustidas (em inglês, denominadas green hushing), empresas que reconhecem impactos e responsabilidades, mas se mantém em silêncio, num estágio de observação distante e em alguns casos propositadamente escondidas; as empresas que fazem uso da disseminação de informações falsas ou sabidamente incorretas (green washing) para construção ou manipulação de uma imagem associada a temas sociais ou climático-ambientais; as empresas aspirantes climáticas (green whishing), que demonstram desejo de participação ativa no campo, considerando mudanças estratégicas, mas com ações tímidas, hesitantes, ainda sem conteúdo e impacto tangível; as empresas que adotam instrumentos associados à lista de elementos que a onda da sustentabilidade/ESG aportou nos últimos 20 anos (ESG adopters), contemplando essas práticas como compliance, algumas incorporando cardápios completos (rastreabilidade, diversidade, inclusão, reporting, etc.) e outras com maior ênfase em um ou outro componente desse variado menu de externalidades; e finalmente as empresas que estão alterando substancialmente seus modelos de negócio (green business models), com inovações relevantes em processos, produtos e mercados.

A questão central sobre governança neste campo é o quanto conselhos e conselheiros estão preparados para contribuírem com orientações e decisões determinantes desses posicionamentos. Não se trata apenas do fluxo de informações, mas do letramento mínimo de conselheiros sobre esses assuntos, sem a necessidade de se tornarem especialistas. Por trás do processo de capacitação de administradores, a escolha das fontes de informação tem se tornado crescentemente relevante. Numa sociedade onde a avalanche de estudos, conceitos, opiniões, algoritmos e desinformações só cresce, a atenção na curadoria das fontes é crítica. Comitês dedicados a inovações e estratégias (não necessariamente ESG ou Sustentabilidade) são instrumentos da maior importância para o assessoramento de conselhos. Especialistas independentes (e nesses fóruns a presença de especialistas é chave) têm impacto direto na qualidade das informações providas.

Mas não só o conteúdo é relevante. A forma como estes conhecimentos são organizados e repassados é igualmente critica. Relatórios densos, longos e complexos devem dar lugar a documentos com boa qualidade editorial, redigidos por quem sabe escrever para leigos, com fluidez e objetividade, assim fazendo a diferença nesse letramento. A rotina, periodicidade, tempestividade e conexão em tempo real com as circunstâncias que cercam o empreendimento, são fundamentais.

A diversidade de fontes é vital na curadoria de informações. Como grande parte dos riscos e oportunidades relacionados ao campo climático e ESG estão conectados a externalidades (positivas e negativas) e, em muitos casos, à internalização de externalidades aos modelos de negócio, a escuta ativa e permanente de stakeholders é da maior importância. Nada trivial! Este processo deve ir além dos já tradicionais mapas e painéis de stakeholders, navegando por campos que envolvem relacionamentos efetivos com a sociedade direta e indiretamente afetada pelas ações das empresas. Como sói acontecer, relacionamentos envolvem componentes emocionais, cabendo, portanto, a séria consideração dos conceitos de racionalidade limitada.

Emissão de gases de efeito estufa, que antes era tratado como passivo moral, se transformou em passivo legal Foto: Mônica Zarattini/AE

Instrumentos como análises de risco, mapas de externalidades e de materialidades são bastante úteis e, no campo climático, estratégias de adaptação são crescentemente utilizadas, com abordagem de diferentes cenários de aumentos das temperaturas médias do planeta. Empresas com grande dependência do uso do solo, como por exemplo agronegócios, mineração e energia, contemplam cadeias de suprimentos e de mercados extensas, com visualização dos impactos nos seus diversos elos. Cresce a importância de estratégias de localização regionais.

Grande parte desses elementos estão sendo incorporados nos sistemas de contabilidade, notadamente IFRS e agentes dos mercados de capitais. Além de informações sobre impacto climático, a contabilização do capital natural (ativos e passivos) é fronteira em desbravamento, tratando de elementos como identificação, exposição (listagem, digitalização), mensuração, monitoramento, propriedade intelectual, monetização, compartilhamento de valores (especialmente na relação com comunidades e populações indígenas) e mecanismos de comércio (créditos de carbono são alternativas, mas não as únicas). O capital natural e seus derivativos (carbono, água, biodiversidade, solo, etc.) passam a afetar valores econômicos e reputacionais, com consequente demanda de envolvimento das mais altas instâncias de governança.

No campo financeiro, sobram opções nas chamadas finanças climáticas, com oportunidades interessantes, mas desafios relevantes nos custos de transações e demandas de novos esquemas de garantias e seguros.

Passivos morais – como a emissão de gases de efeito estufa era tratada há menos de uma década – se transformam em passivos legais, com sistemas de tributação e comércio específicos. Casos de litigância climática crescem em volume e qualidade, com a proliferação de fundos de investimentos dedicados a essa nova modalidade jurídica, que afeta diretamente pessoas físicas envolvidas nas administrações das empresas.

Os sinais estão acima dos ruídos no campo climático, ainda que os ruídos se sobreponham midiaticamente a eles neste momento. Sistemas de certificação são questionados, rankings e ratings proliferam com qualidades variadas e metodologias imprecisas. Sistemas de mensuração e indicadores são incompletos, desafiando o tradicional dueto medição-gestão. A governança necessariamente está exposta a esses desafios. Poderá optar pela negação, indiferença, simplificação ilusória, alucinação ou acolher e navegar com devida atenção e flexibilidade na complexidade do campo climático, combinado com as demais inovações e crises vigentes.

ESG e mudanças climáticas têm ocupado boa parte dos debates empresariais. Há um bom espectro de opiniões sobre relevância, mas seja qual for a crença sobre o impacto dessa onda nos negócios, ele não deve ser negligenciado pelas instâncias de governança. É papel dos conselhos de administração definir o posicionamento das organizações nesses campos.

As empresas têm girado em torno de seis tipologias: as negacionistas, que ignoram ou negam que as mudanças climáticas estejam ocorrendo, mantendo suas estratégias desconectadas do tema; as enrustidas (em inglês, denominadas green hushing), empresas que reconhecem impactos e responsabilidades, mas se mantém em silêncio, num estágio de observação distante e em alguns casos propositadamente escondidas; as empresas que fazem uso da disseminação de informações falsas ou sabidamente incorretas (green washing) para construção ou manipulação de uma imagem associada a temas sociais ou climático-ambientais; as empresas aspirantes climáticas (green whishing), que demonstram desejo de participação ativa no campo, considerando mudanças estratégicas, mas com ações tímidas, hesitantes, ainda sem conteúdo e impacto tangível; as empresas que adotam instrumentos associados à lista de elementos que a onda da sustentabilidade/ESG aportou nos últimos 20 anos (ESG adopters), contemplando essas práticas como compliance, algumas incorporando cardápios completos (rastreabilidade, diversidade, inclusão, reporting, etc.) e outras com maior ênfase em um ou outro componente desse variado menu de externalidades; e finalmente as empresas que estão alterando substancialmente seus modelos de negócio (green business models), com inovações relevantes em processos, produtos e mercados.

A questão central sobre governança neste campo é o quanto conselhos e conselheiros estão preparados para contribuírem com orientações e decisões determinantes desses posicionamentos. Não se trata apenas do fluxo de informações, mas do letramento mínimo de conselheiros sobre esses assuntos, sem a necessidade de se tornarem especialistas. Por trás do processo de capacitação de administradores, a escolha das fontes de informação tem se tornado crescentemente relevante. Numa sociedade onde a avalanche de estudos, conceitos, opiniões, algoritmos e desinformações só cresce, a atenção na curadoria das fontes é crítica. Comitês dedicados a inovações e estratégias (não necessariamente ESG ou Sustentabilidade) são instrumentos da maior importância para o assessoramento de conselhos. Especialistas independentes (e nesses fóruns a presença de especialistas é chave) têm impacto direto na qualidade das informações providas.

Mas não só o conteúdo é relevante. A forma como estes conhecimentos são organizados e repassados é igualmente critica. Relatórios densos, longos e complexos devem dar lugar a documentos com boa qualidade editorial, redigidos por quem sabe escrever para leigos, com fluidez e objetividade, assim fazendo a diferença nesse letramento. A rotina, periodicidade, tempestividade e conexão em tempo real com as circunstâncias que cercam o empreendimento, são fundamentais.

A diversidade de fontes é vital na curadoria de informações. Como grande parte dos riscos e oportunidades relacionados ao campo climático e ESG estão conectados a externalidades (positivas e negativas) e, em muitos casos, à internalização de externalidades aos modelos de negócio, a escuta ativa e permanente de stakeholders é da maior importância. Nada trivial! Este processo deve ir além dos já tradicionais mapas e painéis de stakeholders, navegando por campos que envolvem relacionamentos efetivos com a sociedade direta e indiretamente afetada pelas ações das empresas. Como sói acontecer, relacionamentos envolvem componentes emocionais, cabendo, portanto, a séria consideração dos conceitos de racionalidade limitada.

Emissão de gases de efeito estufa, que antes era tratado como passivo moral, se transformou em passivo legal Foto: Mônica Zarattini/AE

Instrumentos como análises de risco, mapas de externalidades e de materialidades são bastante úteis e, no campo climático, estratégias de adaptação são crescentemente utilizadas, com abordagem de diferentes cenários de aumentos das temperaturas médias do planeta. Empresas com grande dependência do uso do solo, como por exemplo agronegócios, mineração e energia, contemplam cadeias de suprimentos e de mercados extensas, com visualização dos impactos nos seus diversos elos. Cresce a importância de estratégias de localização regionais.

Grande parte desses elementos estão sendo incorporados nos sistemas de contabilidade, notadamente IFRS e agentes dos mercados de capitais. Além de informações sobre impacto climático, a contabilização do capital natural (ativos e passivos) é fronteira em desbravamento, tratando de elementos como identificação, exposição (listagem, digitalização), mensuração, monitoramento, propriedade intelectual, monetização, compartilhamento de valores (especialmente na relação com comunidades e populações indígenas) e mecanismos de comércio (créditos de carbono são alternativas, mas não as únicas). O capital natural e seus derivativos (carbono, água, biodiversidade, solo, etc.) passam a afetar valores econômicos e reputacionais, com consequente demanda de envolvimento das mais altas instâncias de governança.

No campo financeiro, sobram opções nas chamadas finanças climáticas, com oportunidades interessantes, mas desafios relevantes nos custos de transações e demandas de novos esquemas de garantias e seguros.

Passivos morais – como a emissão de gases de efeito estufa era tratada há menos de uma década – se transformam em passivos legais, com sistemas de tributação e comércio específicos. Casos de litigância climática crescem em volume e qualidade, com a proliferação de fundos de investimentos dedicados a essa nova modalidade jurídica, que afeta diretamente pessoas físicas envolvidas nas administrações das empresas.

Os sinais estão acima dos ruídos no campo climático, ainda que os ruídos se sobreponham midiaticamente a eles neste momento. Sistemas de certificação são questionados, rankings e ratings proliferam com qualidades variadas e metodologias imprecisas. Sistemas de mensuração e indicadores são incompletos, desafiando o tradicional dueto medição-gestão. A governança necessariamente está exposta a esses desafios. Poderá optar pela negação, indiferença, simplificação ilusória, alucinação ou acolher e navegar com devida atenção e flexibilidade na complexidade do campo climático, combinado com as demais inovações e crises vigentes.

ESG e mudanças climáticas têm ocupado boa parte dos debates empresariais. Há um bom espectro de opiniões sobre relevância, mas seja qual for a crença sobre o impacto dessa onda nos negócios, ele não deve ser negligenciado pelas instâncias de governança. É papel dos conselhos de administração definir o posicionamento das organizações nesses campos.

As empresas têm girado em torno de seis tipologias: as negacionistas, que ignoram ou negam que as mudanças climáticas estejam ocorrendo, mantendo suas estratégias desconectadas do tema; as enrustidas (em inglês, denominadas green hushing), empresas que reconhecem impactos e responsabilidades, mas se mantém em silêncio, num estágio de observação distante e em alguns casos propositadamente escondidas; as empresas que fazem uso da disseminação de informações falsas ou sabidamente incorretas (green washing) para construção ou manipulação de uma imagem associada a temas sociais ou climático-ambientais; as empresas aspirantes climáticas (green whishing), que demonstram desejo de participação ativa no campo, considerando mudanças estratégicas, mas com ações tímidas, hesitantes, ainda sem conteúdo e impacto tangível; as empresas que adotam instrumentos associados à lista de elementos que a onda da sustentabilidade/ESG aportou nos últimos 20 anos (ESG adopters), contemplando essas práticas como compliance, algumas incorporando cardápios completos (rastreabilidade, diversidade, inclusão, reporting, etc.) e outras com maior ênfase em um ou outro componente desse variado menu de externalidades; e finalmente as empresas que estão alterando substancialmente seus modelos de negócio (green business models), com inovações relevantes em processos, produtos e mercados.

A questão central sobre governança neste campo é o quanto conselhos e conselheiros estão preparados para contribuírem com orientações e decisões determinantes desses posicionamentos. Não se trata apenas do fluxo de informações, mas do letramento mínimo de conselheiros sobre esses assuntos, sem a necessidade de se tornarem especialistas. Por trás do processo de capacitação de administradores, a escolha das fontes de informação tem se tornado crescentemente relevante. Numa sociedade onde a avalanche de estudos, conceitos, opiniões, algoritmos e desinformações só cresce, a atenção na curadoria das fontes é crítica. Comitês dedicados a inovações e estratégias (não necessariamente ESG ou Sustentabilidade) são instrumentos da maior importância para o assessoramento de conselhos. Especialistas independentes (e nesses fóruns a presença de especialistas é chave) têm impacto direto na qualidade das informações providas.

Mas não só o conteúdo é relevante. A forma como estes conhecimentos são organizados e repassados é igualmente critica. Relatórios densos, longos e complexos devem dar lugar a documentos com boa qualidade editorial, redigidos por quem sabe escrever para leigos, com fluidez e objetividade, assim fazendo a diferença nesse letramento. A rotina, periodicidade, tempestividade e conexão em tempo real com as circunstâncias que cercam o empreendimento, são fundamentais.

A diversidade de fontes é vital na curadoria de informações. Como grande parte dos riscos e oportunidades relacionados ao campo climático e ESG estão conectados a externalidades (positivas e negativas) e, em muitos casos, à internalização de externalidades aos modelos de negócio, a escuta ativa e permanente de stakeholders é da maior importância. Nada trivial! Este processo deve ir além dos já tradicionais mapas e painéis de stakeholders, navegando por campos que envolvem relacionamentos efetivos com a sociedade direta e indiretamente afetada pelas ações das empresas. Como sói acontecer, relacionamentos envolvem componentes emocionais, cabendo, portanto, a séria consideração dos conceitos de racionalidade limitada.

Emissão de gases de efeito estufa, que antes era tratado como passivo moral, se transformou em passivo legal Foto: Mônica Zarattini/AE

Instrumentos como análises de risco, mapas de externalidades e de materialidades são bastante úteis e, no campo climático, estratégias de adaptação são crescentemente utilizadas, com abordagem de diferentes cenários de aumentos das temperaturas médias do planeta. Empresas com grande dependência do uso do solo, como por exemplo agronegócios, mineração e energia, contemplam cadeias de suprimentos e de mercados extensas, com visualização dos impactos nos seus diversos elos. Cresce a importância de estratégias de localização regionais.

Grande parte desses elementos estão sendo incorporados nos sistemas de contabilidade, notadamente IFRS e agentes dos mercados de capitais. Além de informações sobre impacto climático, a contabilização do capital natural (ativos e passivos) é fronteira em desbravamento, tratando de elementos como identificação, exposição (listagem, digitalização), mensuração, monitoramento, propriedade intelectual, monetização, compartilhamento de valores (especialmente na relação com comunidades e populações indígenas) e mecanismos de comércio (créditos de carbono são alternativas, mas não as únicas). O capital natural e seus derivativos (carbono, água, biodiversidade, solo, etc.) passam a afetar valores econômicos e reputacionais, com consequente demanda de envolvimento das mais altas instâncias de governança.

No campo financeiro, sobram opções nas chamadas finanças climáticas, com oportunidades interessantes, mas desafios relevantes nos custos de transações e demandas de novos esquemas de garantias e seguros.

Passivos morais – como a emissão de gases de efeito estufa era tratada há menos de uma década – se transformam em passivos legais, com sistemas de tributação e comércio específicos. Casos de litigância climática crescem em volume e qualidade, com a proliferação de fundos de investimentos dedicados a essa nova modalidade jurídica, que afeta diretamente pessoas físicas envolvidas nas administrações das empresas.

Os sinais estão acima dos ruídos no campo climático, ainda que os ruídos se sobreponham midiaticamente a eles neste momento. Sistemas de certificação são questionados, rankings e ratings proliferam com qualidades variadas e metodologias imprecisas. Sistemas de mensuração e indicadores são incompletos, desafiando o tradicional dueto medição-gestão. A governança necessariamente está exposta a esses desafios. Poderá optar pela negação, indiferença, simplificação ilusória, alucinação ou acolher e navegar com devida atenção e flexibilidade na complexidade do campo climático, combinado com as demais inovações e crises vigentes.

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