Mudanças em marco do saneamento podem adiar expansão de serviços, diz entidade do setor privado


Para a Abcon, alteração pode comprometer novos projetos no setor e meta de universalizar o acesso a água e esgoto tratados no Brasil

Por Amanda Pupo

Entidade que reúne as empresas privadas de água e esgoto, a Abcon se somou à lista de atores insatisfeitos com as mudanças anunciadas na semana passada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o setor. Em declaração antecipada ao Estadão/Broadcast, afirmou que os decretos contêm mecanismos que “muito provavelmente” podem retardar o alcance da universalização dos serviços de saneamento no País.

Apesar de enxergar avanço em parte das normas – como a que retira o limite para Parcerias Público-Privadas (PPPs) –, a associação critica a possibilidade de manutenção de contratos com estatais sem licitação.

continua após a publicidade

As preocupações levantadas pela Abcon não são novidade para o governo. A entidade apresentou sua posição ao Executivo ao longo dos últimos meses, enquanto as novas regras eram discutidas pela Casa Civil e pelo Ministério das Cidades com os operadores. Durante o período, diz ter alertado que diversas demandas das empresas públicas, se atendidas, repercutiriam mal entre os investidores privados.

“A Abcon segue defendendo que a concorrência por meio de processos licitatórios é instrumento crucial para que a população tenha acesso a serviços de qualidade e operadores com capacidade efetiva de investimento”, diz a associação.

Universalizar o acesso a água e esgoto tratados até 2033 é a principal meta do marco legal do saneamento básico; participação do setor privado era considerada importante para atingi-la Foto: Márcio Fernandes/Estadão
continua após a publicidade

Em vigor desde 2020, o novo marco legal do saneamento foi visto no mercado como um instrumento para atrair investimentos privados para o setor. O texto deu um prazo (já encerrado) para as companhias públicas estaduais de saneamento comprovarem condições financeiras para fazer investimentos e vetou o fechamento de novos contratos sem licitação – modelo que sustentou o predomínio das estatais nesse mercado por décadas.

Os decretos assinados por Lula, contudo, abrem algumas frentes de sobrevida para essas empresas e para as atividades sem licitação. Em uma delas, as companhias públicas poderão prestar serviços diretamente, sem concorrência, nos municípios organizados em região metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião. Além disso, operações irregulares, como as sem contrato, terão chance de ser formalizadas pelas companhias estatais.

Numa outra frente, o governo ainda flexibilizou e aumentou prazos para os mecanismos de comprovação da capacidade econômico-financeira das empresas. Esse universo de normas abre caminho para a regularização de cerca de mil operações que, antes, tinham potencial de serem licitadas.

continua após a publicidade

Para a Abcon, o afrouxamento das regras é “crítico”, em especial pela ausência de consequências “concretas” pela não comprovação de capacidade das estatais. “As alterações apresentadas enfraquecem o importante papel da comprovação e possibilitam que a população de algumas regiões seja atendida por operadores com baixa ou sem capacidade de alcançar a universalização.”

Reação

Enquanto o Partido Novo questionou os textos no Supremo Tribunal Federal (STF), parcela do Congresso também reagiu às normas, em especial pelo fato de, na avaliação de parlamentares, elas terem passado por cima de conceitos estabelecidos em lei. Por isso, congressistas já se organizam para tentar sustar os decretos da gestão petista.

continua após a publicidade

“Estamos observando os movimentos legislativos com muita atenção. Nesse momento, pensando para frente, em termos de associação, ainda não existe nenhuma ação concreta definida”, disse ao Estadão/Broadcast o diretor executivo da Abcon, Percy Soares.

Defensora do fim do limite de 25% para formação de PPPs no setor, a Abcon levanta dúvidas sobre o apetite que as empresas privadas terão em formar parcerias a partir de contratos que até então estavam irregulares. “Essas situações em relação a contratos vencidos e em prestação de fato são muito delicadas porque não estamos vendo uma amarração (de regras) que leve para a universalização. A grande questão é qual é a consistência deste contrato? Qual robustez jurídica desse instrumento legal firmado pelo prestador direto para que se sustente uma PPP? A PPP precisa estar ancorada em alguma coisa. Com processo de licitação, o operador assina um contrato com metas, com estrutura estabelecida”, disse Soares.

Na semana passada, a Sabesp, Copasa (MG) e Corsan (RS) anunciaram suas desfiliações da Aesbe, associação que reúne as estatais do setor.

Entidade que reúne as empresas privadas de água e esgoto, a Abcon se somou à lista de atores insatisfeitos com as mudanças anunciadas na semana passada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o setor. Em declaração antecipada ao Estadão/Broadcast, afirmou que os decretos contêm mecanismos que “muito provavelmente” podem retardar o alcance da universalização dos serviços de saneamento no País.

Apesar de enxergar avanço em parte das normas – como a que retira o limite para Parcerias Público-Privadas (PPPs) –, a associação critica a possibilidade de manutenção de contratos com estatais sem licitação.

As preocupações levantadas pela Abcon não são novidade para o governo. A entidade apresentou sua posição ao Executivo ao longo dos últimos meses, enquanto as novas regras eram discutidas pela Casa Civil e pelo Ministério das Cidades com os operadores. Durante o período, diz ter alertado que diversas demandas das empresas públicas, se atendidas, repercutiriam mal entre os investidores privados.

“A Abcon segue defendendo que a concorrência por meio de processos licitatórios é instrumento crucial para que a população tenha acesso a serviços de qualidade e operadores com capacidade efetiva de investimento”, diz a associação.

Universalizar o acesso a água e esgoto tratados até 2033 é a principal meta do marco legal do saneamento básico; participação do setor privado era considerada importante para atingi-la Foto: Márcio Fernandes/Estadão

Em vigor desde 2020, o novo marco legal do saneamento foi visto no mercado como um instrumento para atrair investimentos privados para o setor. O texto deu um prazo (já encerrado) para as companhias públicas estaduais de saneamento comprovarem condições financeiras para fazer investimentos e vetou o fechamento de novos contratos sem licitação – modelo que sustentou o predomínio das estatais nesse mercado por décadas.

Os decretos assinados por Lula, contudo, abrem algumas frentes de sobrevida para essas empresas e para as atividades sem licitação. Em uma delas, as companhias públicas poderão prestar serviços diretamente, sem concorrência, nos municípios organizados em região metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião. Além disso, operações irregulares, como as sem contrato, terão chance de ser formalizadas pelas companhias estatais.

Numa outra frente, o governo ainda flexibilizou e aumentou prazos para os mecanismos de comprovação da capacidade econômico-financeira das empresas. Esse universo de normas abre caminho para a regularização de cerca de mil operações que, antes, tinham potencial de serem licitadas.

Para a Abcon, o afrouxamento das regras é “crítico”, em especial pela ausência de consequências “concretas” pela não comprovação de capacidade das estatais. “As alterações apresentadas enfraquecem o importante papel da comprovação e possibilitam que a população de algumas regiões seja atendida por operadores com baixa ou sem capacidade de alcançar a universalização.”

Reação

Enquanto o Partido Novo questionou os textos no Supremo Tribunal Federal (STF), parcela do Congresso também reagiu às normas, em especial pelo fato de, na avaliação de parlamentares, elas terem passado por cima de conceitos estabelecidos em lei. Por isso, congressistas já se organizam para tentar sustar os decretos da gestão petista.

“Estamos observando os movimentos legislativos com muita atenção. Nesse momento, pensando para frente, em termos de associação, ainda não existe nenhuma ação concreta definida”, disse ao Estadão/Broadcast o diretor executivo da Abcon, Percy Soares.

Defensora do fim do limite de 25% para formação de PPPs no setor, a Abcon levanta dúvidas sobre o apetite que as empresas privadas terão em formar parcerias a partir de contratos que até então estavam irregulares. “Essas situações em relação a contratos vencidos e em prestação de fato são muito delicadas porque não estamos vendo uma amarração (de regras) que leve para a universalização. A grande questão é qual é a consistência deste contrato? Qual robustez jurídica desse instrumento legal firmado pelo prestador direto para que se sustente uma PPP? A PPP precisa estar ancorada em alguma coisa. Com processo de licitação, o operador assina um contrato com metas, com estrutura estabelecida”, disse Soares.

Na semana passada, a Sabesp, Copasa (MG) e Corsan (RS) anunciaram suas desfiliações da Aesbe, associação que reúne as estatais do setor.

Entidade que reúne as empresas privadas de água e esgoto, a Abcon se somou à lista de atores insatisfeitos com as mudanças anunciadas na semana passada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o setor. Em declaração antecipada ao Estadão/Broadcast, afirmou que os decretos contêm mecanismos que “muito provavelmente” podem retardar o alcance da universalização dos serviços de saneamento no País.

Apesar de enxergar avanço em parte das normas – como a que retira o limite para Parcerias Público-Privadas (PPPs) –, a associação critica a possibilidade de manutenção de contratos com estatais sem licitação.

As preocupações levantadas pela Abcon não são novidade para o governo. A entidade apresentou sua posição ao Executivo ao longo dos últimos meses, enquanto as novas regras eram discutidas pela Casa Civil e pelo Ministério das Cidades com os operadores. Durante o período, diz ter alertado que diversas demandas das empresas públicas, se atendidas, repercutiriam mal entre os investidores privados.

“A Abcon segue defendendo que a concorrência por meio de processos licitatórios é instrumento crucial para que a população tenha acesso a serviços de qualidade e operadores com capacidade efetiva de investimento”, diz a associação.

Universalizar o acesso a água e esgoto tratados até 2033 é a principal meta do marco legal do saneamento básico; participação do setor privado era considerada importante para atingi-la Foto: Márcio Fernandes/Estadão

Em vigor desde 2020, o novo marco legal do saneamento foi visto no mercado como um instrumento para atrair investimentos privados para o setor. O texto deu um prazo (já encerrado) para as companhias públicas estaduais de saneamento comprovarem condições financeiras para fazer investimentos e vetou o fechamento de novos contratos sem licitação – modelo que sustentou o predomínio das estatais nesse mercado por décadas.

Os decretos assinados por Lula, contudo, abrem algumas frentes de sobrevida para essas empresas e para as atividades sem licitação. Em uma delas, as companhias públicas poderão prestar serviços diretamente, sem concorrência, nos municípios organizados em região metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião. Além disso, operações irregulares, como as sem contrato, terão chance de ser formalizadas pelas companhias estatais.

Numa outra frente, o governo ainda flexibilizou e aumentou prazos para os mecanismos de comprovação da capacidade econômico-financeira das empresas. Esse universo de normas abre caminho para a regularização de cerca de mil operações que, antes, tinham potencial de serem licitadas.

Para a Abcon, o afrouxamento das regras é “crítico”, em especial pela ausência de consequências “concretas” pela não comprovação de capacidade das estatais. “As alterações apresentadas enfraquecem o importante papel da comprovação e possibilitam que a população de algumas regiões seja atendida por operadores com baixa ou sem capacidade de alcançar a universalização.”

Reação

Enquanto o Partido Novo questionou os textos no Supremo Tribunal Federal (STF), parcela do Congresso também reagiu às normas, em especial pelo fato de, na avaliação de parlamentares, elas terem passado por cima de conceitos estabelecidos em lei. Por isso, congressistas já se organizam para tentar sustar os decretos da gestão petista.

“Estamos observando os movimentos legislativos com muita atenção. Nesse momento, pensando para frente, em termos de associação, ainda não existe nenhuma ação concreta definida”, disse ao Estadão/Broadcast o diretor executivo da Abcon, Percy Soares.

Defensora do fim do limite de 25% para formação de PPPs no setor, a Abcon levanta dúvidas sobre o apetite que as empresas privadas terão em formar parcerias a partir de contratos que até então estavam irregulares. “Essas situações em relação a contratos vencidos e em prestação de fato são muito delicadas porque não estamos vendo uma amarração (de regras) que leve para a universalização. A grande questão é qual é a consistência deste contrato? Qual robustez jurídica desse instrumento legal firmado pelo prestador direto para que se sustente uma PPP? A PPP precisa estar ancorada em alguma coisa. Com processo de licitação, o operador assina um contrato com metas, com estrutura estabelecida”, disse Soares.

Na semana passada, a Sabesp, Copasa (MG) e Corsan (RS) anunciaram suas desfiliações da Aesbe, associação que reúne as estatais do setor.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.