É preciso criar incentivos para garantir paridade salarial para mulheres, diz executiva da Amazon


Ao falar sobre propostas do setor privado ao G-20 para acelerar inclusão e diversidade, Paula Bellizia diz que velocidade de inclusão das mulheres nos negócios está aquém das possibilidades

Por Beatriz Bulla
Foto: Leo Souza_Estadao
Entrevista comPaula BelliziaVP da AWS América Latina

Para garantir que o progresso não vire retrocesso, é preciso conseguir mapear e acompanhar o quanto os países têm caminhado para proporcionar um acesso paritário a mulheres no ambiente de negócios. Essa é uma das conclusões de Paula Bellizia, vice-presidente da Amazon Web Services (AWS) na América Latina e líder do conselho de ação Mulheres, Diversidade e Inclusão em Negócios do B-20, o braço empresarial do G-20.

Um dos pontos cruciais neste debate, segundo ela, é fazer esse mapeamento para avaliar constantemente os países. Além disso, segundo a executiva, é necessário criar incentivos para que as empresas garantam a progressão de mulheres nas carreiras.

O relatório do B-20 aponta, por exemplo, que, para cada 100 homens promovidos a cargos gerenciais, só 81 mulheres e 54 mulheres negras conseguem o mesmo avanço. Mulheres e outras minorias, também segundo os dados do documento, têm pouca representatividade em carreiras relacionadas a áreas como ciências, tecnologia, matemática e engenharia.

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Outra recomendação do grupo é sobre o futuro do trabalho, para garantir letramento tecnológico a mulheres, a fim de evitar que o gap de gênero não se perpetue com o avanço da inteligência artificial.

“Precisamos de mulheres chegando às posições de tomada de decisão para que essa construção de não oportunidade seja quebrada. Precisamos de mais mulheres em desenvolvimento de soluções tecnológicas para que tenhamos essas soluções olhando para todos”, afirma Bellizia.

Há outro ponto crucial para as mulheres nos negócios: garantir que o empreendedorismo feminino não sofra com vieses machistas e tenha acesso a crédito. “Existe um viés muito grande quando mulheres vão em busca de investimento para empreender. As perguntas que as mulheres recebem são: Será que essa fundadora vai aguentar? Quais são as hipóteses de insucesso? Enquanto, para os homens as perguntas: Quais são as hipóteses de sucesso?”, diz, em entrevista ao Estadão.

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“E também acesso a crédito é muito mais limitado para mulheres, isso é comprovado. Então a segunda parte dessa recomendação é como fazer para que, no empreendedorismo, as mulheres tenham mais possibilidades de acesso e sucesso”, afirma Bellizia.

O documento do grupo sobre diversidade do B-20 foi elaborado em parceria com a consultoria McKinsey. “Existe uma disparidade significativa na progressão de carreira dessas minorias. Por exemplo, para cada 100 homens promovidos a cargos gerenciais, apenas 81 mulheres e 54 mulheres negras conseguem o mesmo avanço”, afirma Fernanda Mayol, sócia da McKinsey e líder da Prática de Pessoas, Organização e Performance no Brasil. “Temos avançado no tema de diversidade e inclusão no Brasil, mas ainda há um longo caminho a percorrer: no mercado de trabalho, apenas 8% das posições de liderança são ocupadas por mulheres, em comparação com 30% na Austrália, Noruega e Suécia”, afirma Mayol.

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O Estadão publica, desde segunda-feira, 14, uma série de entrevistas com os CEOs e executivos brasileiros que estiveram à frente das oito forças-tarefa do B-20. Eles abordam a situação do Brasil ante os demais países, em cada uma das áreas analisadas, e como enfrentar os principais desafios econômicos contemporâneos. Também falam de como tem sido a recepção do governo Lula às propostas encaminhadas pelo setor privado.

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Paula Bellizia fala em entrevista sobre propostas do setor privado ao G-20 para acelerar inclusão e diversidade

Leia abaixo a entrevista:

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O tema de inclusão das mulheres e diversidade ganhou um novo patamar no G-20 deste ano. Pode explicar?

Sob a liderança do Brasil, do G-20 e, portanto, do B-20, tivemos a formalização dessa força-tarefa especial, que é o Conselho de Ação de Mulheres e Negócios, Diversidade e Inclusão. Foi a primeira vez que houve esse destaque para termos a mesma profundidade, a mesma oportunidade de apresentar propostas que outros temas importantes têm. Tivemos uma diversidade muito grande de culturas e países e crenças, o próprio conselho de ação trabalhou sobre o tema de diversidade, exercitando a diversidade.

E tivemos muitas discussões sobre outros grupos sub-representados. Não fomos específicos nos outros grupos a serem trabalhados, mas mencionamos em várias partes do nosso documento que é necessário entregar estruturas públicas, trabalhar na inclusão de todas as pessoas. Isso também foi uma coisa nova do nosso B20, do nosso Conselho de Ação.

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Eu acho que é um sinal de que, no caso da liderança do Brasil, tomamos a dianteira e formalizamos isso como um dos pilares de crescimento inclusivo e sustentável. Eu fico muito feliz que essa proposta tenha vindo da presidência do G-20 na oportunidade do Brasil. Agora, não dá para deixar de ver que a gente tem dois passos para frente e alguns para trás. Vamos precisar continuar muito vigilantes.

As nossas conquistas, elas são frágeis e mais demoradas do que a gente gostaria. Mesmo assim, eu continuo otimista, porque só o fato de a gente ter tido esse engajamento no mesmo nível, de ter a mesma importância que teve a transição energética, o combate à pobreza, da transformação digital, da questão de integridade, isso foi um grande passo.

Quais as prioridades nesse assunto hoje?

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Buscamos ter poucas e boas propostas, que pudessem ser adotadas pelo maior número de países dentro do G-20. Falamos de oferecer políticas públicas estruturantes para que as mulheres e outros grupos tenham acesso à educação, à nutrição, à educação desde a infância. E falamos da necessidade de mapear onde os países estão.

Precisamos saber qual é o gradiente, vamos dizer assim, de inclusão dos diversos países. Nós propomos que os países tenham os próprios mecanismos e indicadores que acompanham a evolução. Não tivemos isso até esse momento. É um compromisso de que todos os países mapeiem o avanço.

Existem estudos da McKinsey e do Banco Mundial que mostram que, na inclusão de paridade de gênero no mercado de trabalho, poderíamos aumentar o PIB global em até 20%.

Como garantir que países avancem na questão de inclusão das mulheres, no G-20 há países onde a posição da mulher atravessa questões religiosas? E, no caso do Brasil, qual o nosso principal desafio?

O Brasil é um país que se caracteriza pela diversidade do nosso povo, da nossa população, da nossa cultura. Somos mais abertos, vamos dizer assim. E, quando eu menciono que exercemos a diversidade, é porque tivemos também de respeitar as diversidades culturais e, mesmo assim, ter propostas concretas que nos ajudem a avançar. Por isso que a parte de medição, do gradiente de avanço, é tão importante.

O Brasil tem despencado. Tem um índice, se eu não me engano, do Banco Mundial que mostra os países, medindo o gradiente de paridade. O Brasil despencou creio que 13 posições, para 70º lugar. Então, o Brasil tem uma cultura aberta, uma oportunidade muito grande, mas quando olhamos os dados, vemos que há oportunidade de continuar avançando.

As maiores dificuldades foram esses gradientes, ser respeitoso culturalmente com todos os países e, ao mesmo tempo, propositivo no sentido de que essa é uma agenda que precisa avançar.

'Recomendamos que os países cada vez mais incentivem as empresas, a iniciativa privada e os órgãos públicos a terem mecanismos de avanço para as mulheres em suas carreiras', diz Paula Bellizia Foto: Leo Souza/Estadão

E quais são as propostas concretas do B-20, para o G-20 avançar nessa questão?

Recomendamos que os países cada vez mais incentivem as empresas, a iniciativa privada e os órgãos públicos a terem mecanismos de avanço para as mulheres em suas carreiras. Tivemos abordagem mais propositiva, e não punitiva, porque esse foi o caminho onde conseguimos a convergência. Recomendamos que os países mapeiem e criem incentivos para que essa igualdade de salários seja alcançada.

A proposta é que existam políticas públicas que ajudem a equilibrar esse investimento de tempo na economia do cuidado; isso vai liberar espaço para as mulheres poderem participar mais do mercado de trabalho

Pode detalhar melhor como são essas recomendações aos governos?

A primeira recomendação é mapear e trabalhar no que é estruturante. Precisamos saber onde nós estamos, precisamos trabalhar no mapeamento dos indicadores que apontem onde cada uma dessas economias estão.

Sobre as questões estruturantes, vou te dar um exemplo. Temos hoje as mulheres muito responsáveis pela economia do cuidado. As mulheres investem quase o dobro de horas — se não me engano, os homens investem 11 horas, as mulheres investem 20 horas semanais no cuidado com a família. A proposta é que existam políticas públicas que ajudem a equilibrar esse investimento de tempo na economia do cuidado; isso vai liberar espaço para as mulheres poderem participar mais do mercado de trabalho. São políticas estruturantes, de nutrição, de educação desde a infância, acesso a tudo que é estruturante para que as oportunidades cheguem às mulheres e às populações não representadas.

A segunda recomendação é sobre o ambiente de trabalho. Como fazemos para que todos os países incentivem um ambiente de trabalho onde as mulheres têm oportunidade de crescer na carreira? Aqui entram as questões dos incentivos, as políticas públicas, políticas privadas, incentivos para as empresas investirem nos seus programas de inclusão.

Nesta segunda proposta, entra o debate sobre o empreendedorismo feminino também?

Existe um viés muito grande quando mulheres vão em busca de investimento para empreender. As perguntas que as mulheres recebem são: ‘Será que essa fundadora vai aguentar? Quais são as hipóteses de insucesso? Enquanto, para os homens as perguntas: Quais são as hipóteses de sucesso?’

E também acesso a crédito é muito mais limitado para mulheres, isso é comprovado. Então a segunda parte dessa recomendação é como fazer para que, no empreendedorismo, as mulheres tenham mais possibilidades de acesso e sucesso.

A terceira recomendação é sobre o futuro do trabalho. Devemos garantir que, olhando para o futuro, todas as pessoas vão ter oportunidade. E aqui falamos de acesso à educação, especialmente letramento tecnológico. E como a gente faz esse letramento para que não hajam vieses no desenvolvimento de soluções, de IA, por exemplo, que perpetuem esses vieses e façam com que menos mulheres tenham acesso.

Precisamos de mulheres chegando às posições de tomada de decisão para que essa construção de não oportunidade seja quebrada. Precisamos de mais mulheres em desenvolvimento de soluções tecnológicas para que tenhamos essas soluções olhando para todos.

O que a sra. espera que seja feito, de concreto, pelo Brasil no G-20?

Estamos (no B-20) muito preocupados em sermos práticos. Nós fomos, junto ao B20, entregar essas propostas ao presidente Lula, como presidente do G20.

O sumário dessas propostas foi apresentado verbalmente também ao presidente. A receptividade foi muito positiva, especialmente com relação à diversidade e inclusão, à transição energética do Brasil, ao combate à pobreza, e à questão da agenda de transformação digital do País. Foram assuntos superdiscutidos ali.

Uma das coisas que a gente discute hoje é como é que a gente vai monitorar o que vai ser adotado ou não e o que for adotado, implementado, como é que a gente vai mapear progresso. Às vezes, se a gente não monitora o progresso, pode virar retrocesso.

Vamos precisar manter a vigilância e manter o engajamento para que essas propostas sejam realizadas.

Para garantir que o progresso não vire retrocesso, é preciso conseguir mapear e acompanhar o quanto os países têm caminhado para proporcionar um acesso paritário a mulheres no ambiente de negócios. Essa é uma das conclusões de Paula Bellizia, vice-presidente da Amazon Web Services (AWS) na América Latina e líder do conselho de ação Mulheres, Diversidade e Inclusão em Negócios do B-20, o braço empresarial do G-20.

Um dos pontos cruciais neste debate, segundo ela, é fazer esse mapeamento para avaliar constantemente os países. Além disso, segundo a executiva, é necessário criar incentivos para que as empresas garantam a progressão de mulheres nas carreiras.

O relatório do B-20 aponta, por exemplo, que, para cada 100 homens promovidos a cargos gerenciais, só 81 mulheres e 54 mulheres negras conseguem o mesmo avanço. Mulheres e outras minorias, também segundo os dados do documento, têm pouca representatividade em carreiras relacionadas a áreas como ciências, tecnologia, matemática e engenharia.

Outra recomendação do grupo é sobre o futuro do trabalho, para garantir letramento tecnológico a mulheres, a fim de evitar que o gap de gênero não se perpetue com o avanço da inteligência artificial.

“Precisamos de mulheres chegando às posições de tomada de decisão para que essa construção de não oportunidade seja quebrada. Precisamos de mais mulheres em desenvolvimento de soluções tecnológicas para que tenhamos essas soluções olhando para todos”, afirma Bellizia.

Há outro ponto crucial para as mulheres nos negócios: garantir que o empreendedorismo feminino não sofra com vieses machistas e tenha acesso a crédito. “Existe um viés muito grande quando mulheres vão em busca de investimento para empreender. As perguntas que as mulheres recebem são: Será que essa fundadora vai aguentar? Quais são as hipóteses de insucesso? Enquanto, para os homens as perguntas: Quais são as hipóteses de sucesso?”, diz, em entrevista ao Estadão.

“E também acesso a crédito é muito mais limitado para mulheres, isso é comprovado. Então a segunda parte dessa recomendação é como fazer para que, no empreendedorismo, as mulheres tenham mais possibilidades de acesso e sucesso”, afirma Bellizia.

O documento do grupo sobre diversidade do B-20 foi elaborado em parceria com a consultoria McKinsey. “Existe uma disparidade significativa na progressão de carreira dessas minorias. Por exemplo, para cada 100 homens promovidos a cargos gerenciais, apenas 81 mulheres e 54 mulheres negras conseguem o mesmo avanço”, afirma Fernanda Mayol, sócia da McKinsey e líder da Prática de Pessoas, Organização e Performance no Brasil. “Temos avançado no tema de diversidade e inclusão no Brasil, mas ainda há um longo caminho a percorrer: no mercado de trabalho, apenas 8% das posições de liderança são ocupadas por mulheres, em comparação com 30% na Austrália, Noruega e Suécia”, afirma Mayol.

O Estadão publica, desde segunda-feira, 14, uma série de entrevistas com os CEOs e executivos brasileiros que estiveram à frente das oito forças-tarefa do B-20. Eles abordam a situação do Brasil ante os demais países, em cada uma das áreas analisadas, e como enfrentar os principais desafios econômicos contemporâneos. Também falam de como tem sido a recepção do governo Lula às propostas encaminhadas pelo setor privado.

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Paula Bellizia fala em entrevista sobre propostas do setor privado ao G-20 para acelerar inclusão e diversidade

Leia abaixo a entrevista:

O tema de inclusão das mulheres e diversidade ganhou um novo patamar no G-20 deste ano. Pode explicar?

Sob a liderança do Brasil, do G-20 e, portanto, do B-20, tivemos a formalização dessa força-tarefa especial, que é o Conselho de Ação de Mulheres e Negócios, Diversidade e Inclusão. Foi a primeira vez que houve esse destaque para termos a mesma profundidade, a mesma oportunidade de apresentar propostas que outros temas importantes têm. Tivemos uma diversidade muito grande de culturas e países e crenças, o próprio conselho de ação trabalhou sobre o tema de diversidade, exercitando a diversidade.

E tivemos muitas discussões sobre outros grupos sub-representados. Não fomos específicos nos outros grupos a serem trabalhados, mas mencionamos em várias partes do nosso documento que é necessário entregar estruturas públicas, trabalhar na inclusão de todas as pessoas. Isso também foi uma coisa nova do nosso B20, do nosso Conselho de Ação.

Eu acho que é um sinal de que, no caso da liderança do Brasil, tomamos a dianteira e formalizamos isso como um dos pilares de crescimento inclusivo e sustentável. Eu fico muito feliz que essa proposta tenha vindo da presidência do G-20 na oportunidade do Brasil. Agora, não dá para deixar de ver que a gente tem dois passos para frente e alguns para trás. Vamos precisar continuar muito vigilantes.

As nossas conquistas, elas são frágeis e mais demoradas do que a gente gostaria. Mesmo assim, eu continuo otimista, porque só o fato de a gente ter tido esse engajamento no mesmo nível, de ter a mesma importância que teve a transição energética, o combate à pobreza, da transformação digital, da questão de integridade, isso foi um grande passo.

Quais as prioridades nesse assunto hoje?

Buscamos ter poucas e boas propostas, que pudessem ser adotadas pelo maior número de países dentro do G-20. Falamos de oferecer políticas públicas estruturantes para que as mulheres e outros grupos tenham acesso à educação, à nutrição, à educação desde a infância. E falamos da necessidade de mapear onde os países estão.

Precisamos saber qual é o gradiente, vamos dizer assim, de inclusão dos diversos países. Nós propomos que os países tenham os próprios mecanismos e indicadores que acompanham a evolução. Não tivemos isso até esse momento. É um compromisso de que todos os países mapeiem o avanço.

Existem estudos da McKinsey e do Banco Mundial que mostram que, na inclusão de paridade de gênero no mercado de trabalho, poderíamos aumentar o PIB global em até 20%.

Como garantir que países avancem na questão de inclusão das mulheres, no G-20 há países onde a posição da mulher atravessa questões religiosas? E, no caso do Brasil, qual o nosso principal desafio?

O Brasil é um país que se caracteriza pela diversidade do nosso povo, da nossa população, da nossa cultura. Somos mais abertos, vamos dizer assim. E, quando eu menciono que exercemos a diversidade, é porque tivemos também de respeitar as diversidades culturais e, mesmo assim, ter propostas concretas que nos ajudem a avançar. Por isso que a parte de medição, do gradiente de avanço, é tão importante.

O Brasil tem despencado. Tem um índice, se eu não me engano, do Banco Mundial que mostra os países, medindo o gradiente de paridade. O Brasil despencou creio que 13 posições, para 70º lugar. Então, o Brasil tem uma cultura aberta, uma oportunidade muito grande, mas quando olhamos os dados, vemos que há oportunidade de continuar avançando.

As maiores dificuldades foram esses gradientes, ser respeitoso culturalmente com todos os países e, ao mesmo tempo, propositivo no sentido de que essa é uma agenda que precisa avançar.

'Recomendamos que os países cada vez mais incentivem as empresas, a iniciativa privada e os órgãos públicos a terem mecanismos de avanço para as mulheres em suas carreiras', diz Paula Bellizia Foto: Leo Souza/Estadão

E quais são as propostas concretas do B-20, para o G-20 avançar nessa questão?

Recomendamos que os países cada vez mais incentivem as empresas, a iniciativa privada e os órgãos públicos a terem mecanismos de avanço para as mulheres em suas carreiras. Tivemos abordagem mais propositiva, e não punitiva, porque esse foi o caminho onde conseguimos a convergência. Recomendamos que os países mapeiem e criem incentivos para que essa igualdade de salários seja alcançada.

A proposta é que existam políticas públicas que ajudem a equilibrar esse investimento de tempo na economia do cuidado; isso vai liberar espaço para as mulheres poderem participar mais do mercado de trabalho

Pode detalhar melhor como são essas recomendações aos governos?

A primeira recomendação é mapear e trabalhar no que é estruturante. Precisamos saber onde nós estamos, precisamos trabalhar no mapeamento dos indicadores que apontem onde cada uma dessas economias estão.

Sobre as questões estruturantes, vou te dar um exemplo. Temos hoje as mulheres muito responsáveis pela economia do cuidado. As mulheres investem quase o dobro de horas — se não me engano, os homens investem 11 horas, as mulheres investem 20 horas semanais no cuidado com a família. A proposta é que existam políticas públicas que ajudem a equilibrar esse investimento de tempo na economia do cuidado; isso vai liberar espaço para as mulheres poderem participar mais do mercado de trabalho. São políticas estruturantes, de nutrição, de educação desde a infância, acesso a tudo que é estruturante para que as oportunidades cheguem às mulheres e às populações não representadas.

A segunda recomendação é sobre o ambiente de trabalho. Como fazemos para que todos os países incentivem um ambiente de trabalho onde as mulheres têm oportunidade de crescer na carreira? Aqui entram as questões dos incentivos, as políticas públicas, políticas privadas, incentivos para as empresas investirem nos seus programas de inclusão.

Nesta segunda proposta, entra o debate sobre o empreendedorismo feminino também?

Existe um viés muito grande quando mulheres vão em busca de investimento para empreender. As perguntas que as mulheres recebem são: ‘Será que essa fundadora vai aguentar? Quais são as hipóteses de insucesso? Enquanto, para os homens as perguntas: Quais são as hipóteses de sucesso?’

E também acesso a crédito é muito mais limitado para mulheres, isso é comprovado. Então a segunda parte dessa recomendação é como fazer para que, no empreendedorismo, as mulheres tenham mais possibilidades de acesso e sucesso.

A terceira recomendação é sobre o futuro do trabalho. Devemos garantir que, olhando para o futuro, todas as pessoas vão ter oportunidade. E aqui falamos de acesso à educação, especialmente letramento tecnológico. E como a gente faz esse letramento para que não hajam vieses no desenvolvimento de soluções, de IA, por exemplo, que perpetuem esses vieses e façam com que menos mulheres tenham acesso.

Precisamos de mulheres chegando às posições de tomada de decisão para que essa construção de não oportunidade seja quebrada. Precisamos de mais mulheres em desenvolvimento de soluções tecnológicas para que tenhamos essas soluções olhando para todos.

O que a sra. espera que seja feito, de concreto, pelo Brasil no G-20?

Estamos (no B-20) muito preocupados em sermos práticos. Nós fomos, junto ao B20, entregar essas propostas ao presidente Lula, como presidente do G20.

O sumário dessas propostas foi apresentado verbalmente também ao presidente. A receptividade foi muito positiva, especialmente com relação à diversidade e inclusão, à transição energética do Brasil, ao combate à pobreza, e à questão da agenda de transformação digital do País. Foram assuntos superdiscutidos ali.

Uma das coisas que a gente discute hoje é como é que a gente vai monitorar o que vai ser adotado ou não e o que for adotado, implementado, como é que a gente vai mapear progresso. Às vezes, se a gente não monitora o progresso, pode virar retrocesso.

Vamos precisar manter a vigilância e manter o engajamento para que essas propostas sejam realizadas.

Para garantir que o progresso não vire retrocesso, é preciso conseguir mapear e acompanhar o quanto os países têm caminhado para proporcionar um acesso paritário a mulheres no ambiente de negócios. Essa é uma das conclusões de Paula Bellizia, vice-presidente da Amazon Web Services (AWS) na América Latina e líder do conselho de ação Mulheres, Diversidade e Inclusão em Negócios do B-20, o braço empresarial do G-20.

Um dos pontos cruciais neste debate, segundo ela, é fazer esse mapeamento para avaliar constantemente os países. Além disso, segundo a executiva, é necessário criar incentivos para que as empresas garantam a progressão de mulheres nas carreiras.

O relatório do B-20 aponta, por exemplo, que, para cada 100 homens promovidos a cargos gerenciais, só 81 mulheres e 54 mulheres negras conseguem o mesmo avanço. Mulheres e outras minorias, também segundo os dados do documento, têm pouca representatividade em carreiras relacionadas a áreas como ciências, tecnologia, matemática e engenharia.

Outra recomendação do grupo é sobre o futuro do trabalho, para garantir letramento tecnológico a mulheres, a fim de evitar que o gap de gênero não se perpetue com o avanço da inteligência artificial.

“Precisamos de mulheres chegando às posições de tomada de decisão para que essa construção de não oportunidade seja quebrada. Precisamos de mais mulheres em desenvolvimento de soluções tecnológicas para que tenhamos essas soluções olhando para todos”, afirma Bellizia.

Há outro ponto crucial para as mulheres nos negócios: garantir que o empreendedorismo feminino não sofra com vieses machistas e tenha acesso a crédito. “Existe um viés muito grande quando mulheres vão em busca de investimento para empreender. As perguntas que as mulheres recebem são: Será que essa fundadora vai aguentar? Quais são as hipóteses de insucesso? Enquanto, para os homens as perguntas: Quais são as hipóteses de sucesso?”, diz, em entrevista ao Estadão.

“E também acesso a crédito é muito mais limitado para mulheres, isso é comprovado. Então a segunda parte dessa recomendação é como fazer para que, no empreendedorismo, as mulheres tenham mais possibilidades de acesso e sucesso”, afirma Bellizia.

O documento do grupo sobre diversidade do B-20 foi elaborado em parceria com a consultoria McKinsey. “Existe uma disparidade significativa na progressão de carreira dessas minorias. Por exemplo, para cada 100 homens promovidos a cargos gerenciais, apenas 81 mulheres e 54 mulheres negras conseguem o mesmo avanço”, afirma Fernanda Mayol, sócia da McKinsey e líder da Prática de Pessoas, Organização e Performance no Brasil. “Temos avançado no tema de diversidade e inclusão no Brasil, mas ainda há um longo caminho a percorrer: no mercado de trabalho, apenas 8% das posições de liderança são ocupadas por mulheres, em comparação com 30% na Austrália, Noruega e Suécia”, afirma Mayol.

O Estadão publica, desde segunda-feira, 14, uma série de entrevistas com os CEOs e executivos brasileiros que estiveram à frente das oito forças-tarefa do B-20. Eles abordam a situação do Brasil ante os demais países, em cada uma das áreas analisadas, e como enfrentar os principais desafios econômicos contemporâneos. Também falam de como tem sido a recepção do governo Lula às propostas encaminhadas pelo setor privado.

Seu navegador não suporta esse video.

Paula Bellizia fala em entrevista sobre propostas do setor privado ao G-20 para acelerar inclusão e diversidade

Leia abaixo a entrevista:

O tema de inclusão das mulheres e diversidade ganhou um novo patamar no G-20 deste ano. Pode explicar?

Sob a liderança do Brasil, do G-20 e, portanto, do B-20, tivemos a formalização dessa força-tarefa especial, que é o Conselho de Ação de Mulheres e Negócios, Diversidade e Inclusão. Foi a primeira vez que houve esse destaque para termos a mesma profundidade, a mesma oportunidade de apresentar propostas que outros temas importantes têm. Tivemos uma diversidade muito grande de culturas e países e crenças, o próprio conselho de ação trabalhou sobre o tema de diversidade, exercitando a diversidade.

E tivemos muitas discussões sobre outros grupos sub-representados. Não fomos específicos nos outros grupos a serem trabalhados, mas mencionamos em várias partes do nosso documento que é necessário entregar estruturas públicas, trabalhar na inclusão de todas as pessoas. Isso também foi uma coisa nova do nosso B20, do nosso Conselho de Ação.

Eu acho que é um sinal de que, no caso da liderança do Brasil, tomamos a dianteira e formalizamos isso como um dos pilares de crescimento inclusivo e sustentável. Eu fico muito feliz que essa proposta tenha vindo da presidência do G-20 na oportunidade do Brasil. Agora, não dá para deixar de ver que a gente tem dois passos para frente e alguns para trás. Vamos precisar continuar muito vigilantes.

As nossas conquistas, elas são frágeis e mais demoradas do que a gente gostaria. Mesmo assim, eu continuo otimista, porque só o fato de a gente ter tido esse engajamento no mesmo nível, de ter a mesma importância que teve a transição energética, o combate à pobreza, da transformação digital, da questão de integridade, isso foi um grande passo.

Quais as prioridades nesse assunto hoje?

Buscamos ter poucas e boas propostas, que pudessem ser adotadas pelo maior número de países dentro do G-20. Falamos de oferecer políticas públicas estruturantes para que as mulheres e outros grupos tenham acesso à educação, à nutrição, à educação desde a infância. E falamos da necessidade de mapear onde os países estão.

Precisamos saber qual é o gradiente, vamos dizer assim, de inclusão dos diversos países. Nós propomos que os países tenham os próprios mecanismos e indicadores que acompanham a evolução. Não tivemos isso até esse momento. É um compromisso de que todos os países mapeiem o avanço.

Existem estudos da McKinsey e do Banco Mundial que mostram que, na inclusão de paridade de gênero no mercado de trabalho, poderíamos aumentar o PIB global em até 20%.

Como garantir que países avancem na questão de inclusão das mulheres, no G-20 há países onde a posição da mulher atravessa questões religiosas? E, no caso do Brasil, qual o nosso principal desafio?

O Brasil é um país que se caracteriza pela diversidade do nosso povo, da nossa população, da nossa cultura. Somos mais abertos, vamos dizer assim. E, quando eu menciono que exercemos a diversidade, é porque tivemos também de respeitar as diversidades culturais e, mesmo assim, ter propostas concretas que nos ajudem a avançar. Por isso que a parte de medição, do gradiente de avanço, é tão importante.

O Brasil tem despencado. Tem um índice, se eu não me engano, do Banco Mundial que mostra os países, medindo o gradiente de paridade. O Brasil despencou creio que 13 posições, para 70º lugar. Então, o Brasil tem uma cultura aberta, uma oportunidade muito grande, mas quando olhamos os dados, vemos que há oportunidade de continuar avançando.

As maiores dificuldades foram esses gradientes, ser respeitoso culturalmente com todos os países e, ao mesmo tempo, propositivo no sentido de que essa é uma agenda que precisa avançar.

'Recomendamos que os países cada vez mais incentivem as empresas, a iniciativa privada e os órgãos públicos a terem mecanismos de avanço para as mulheres em suas carreiras', diz Paula Bellizia Foto: Leo Souza/Estadão

E quais são as propostas concretas do B-20, para o G-20 avançar nessa questão?

Recomendamos que os países cada vez mais incentivem as empresas, a iniciativa privada e os órgãos públicos a terem mecanismos de avanço para as mulheres em suas carreiras. Tivemos abordagem mais propositiva, e não punitiva, porque esse foi o caminho onde conseguimos a convergência. Recomendamos que os países mapeiem e criem incentivos para que essa igualdade de salários seja alcançada.

A proposta é que existam políticas públicas que ajudem a equilibrar esse investimento de tempo na economia do cuidado; isso vai liberar espaço para as mulheres poderem participar mais do mercado de trabalho

Pode detalhar melhor como são essas recomendações aos governos?

A primeira recomendação é mapear e trabalhar no que é estruturante. Precisamos saber onde nós estamos, precisamos trabalhar no mapeamento dos indicadores que apontem onde cada uma dessas economias estão.

Sobre as questões estruturantes, vou te dar um exemplo. Temos hoje as mulheres muito responsáveis pela economia do cuidado. As mulheres investem quase o dobro de horas — se não me engano, os homens investem 11 horas, as mulheres investem 20 horas semanais no cuidado com a família. A proposta é que existam políticas públicas que ajudem a equilibrar esse investimento de tempo na economia do cuidado; isso vai liberar espaço para as mulheres poderem participar mais do mercado de trabalho. São políticas estruturantes, de nutrição, de educação desde a infância, acesso a tudo que é estruturante para que as oportunidades cheguem às mulheres e às populações não representadas.

A segunda recomendação é sobre o ambiente de trabalho. Como fazemos para que todos os países incentivem um ambiente de trabalho onde as mulheres têm oportunidade de crescer na carreira? Aqui entram as questões dos incentivos, as políticas públicas, políticas privadas, incentivos para as empresas investirem nos seus programas de inclusão.

Nesta segunda proposta, entra o debate sobre o empreendedorismo feminino também?

Existe um viés muito grande quando mulheres vão em busca de investimento para empreender. As perguntas que as mulheres recebem são: ‘Será que essa fundadora vai aguentar? Quais são as hipóteses de insucesso? Enquanto, para os homens as perguntas: Quais são as hipóteses de sucesso?’

E também acesso a crédito é muito mais limitado para mulheres, isso é comprovado. Então a segunda parte dessa recomendação é como fazer para que, no empreendedorismo, as mulheres tenham mais possibilidades de acesso e sucesso.

A terceira recomendação é sobre o futuro do trabalho. Devemos garantir que, olhando para o futuro, todas as pessoas vão ter oportunidade. E aqui falamos de acesso à educação, especialmente letramento tecnológico. E como a gente faz esse letramento para que não hajam vieses no desenvolvimento de soluções, de IA, por exemplo, que perpetuem esses vieses e façam com que menos mulheres tenham acesso.

Precisamos de mulheres chegando às posições de tomada de decisão para que essa construção de não oportunidade seja quebrada. Precisamos de mais mulheres em desenvolvimento de soluções tecnológicas para que tenhamos essas soluções olhando para todos.

O que a sra. espera que seja feito, de concreto, pelo Brasil no G-20?

Estamos (no B-20) muito preocupados em sermos práticos. Nós fomos, junto ao B20, entregar essas propostas ao presidente Lula, como presidente do G20.

O sumário dessas propostas foi apresentado verbalmente também ao presidente. A receptividade foi muito positiva, especialmente com relação à diversidade e inclusão, à transição energética do Brasil, ao combate à pobreza, e à questão da agenda de transformação digital do País. Foram assuntos superdiscutidos ali.

Uma das coisas que a gente discute hoje é como é que a gente vai monitorar o que vai ser adotado ou não e o que for adotado, implementado, como é que a gente vai mapear progresso. Às vezes, se a gente não monitora o progresso, pode virar retrocesso.

Vamos precisar manter a vigilância e manter o engajamento para que essas propostas sejam realizadas.

Para garantir que o progresso não vire retrocesso, é preciso conseguir mapear e acompanhar o quanto os países têm caminhado para proporcionar um acesso paritário a mulheres no ambiente de negócios. Essa é uma das conclusões de Paula Bellizia, vice-presidente da Amazon Web Services (AWS) na América Latina e líder do conselho de ação Mulheres, Diversidade e Inclusão em Negócios do B-20, o braço empresarial do G-20.

Um dos pontos cruciais neste debate, segundo ela, é fazer esse mapeamento para avaliar constantemente os países. Além disso, segundo a executiva, é necessário criar incentivos para que as empresas garantam a progressão de mulheres nas carreiras.

O relatório do B-20 aponta, por exemplo, que, para cada 100 homens promovidos a cargos gerenciais, só 81 mulheres e 54 mulheres negras conseguem o mesmo avanço. Mulheres e outras minorias, também segundo os dados do documento, têm pouca representatividade em carreiras relacionadas a áreas como ciências, tecnologia, matemática e engenharia.

Outra recomendação do grupo é sobre o futuro do trabalho, para garantir letramento tecnológico a mulheres, a fim de evitar que o gap de gênero não se perpetue com o avanço da inteligência artificial.

“Precisamos de mulheres chegando às posições de tomada de decisão para que essa construção de não oportunidade seja quebrada. Precisamos de mais mulheres em desenvolvimento de soluções tecnológicas para que tenhamos essas soluções olhando para todos”, afirma Bellizia.

Há outro ponto crucial para as mulheres nos negócios: garantir que o empreendedorismo feminino não sofra com vieses machistas e tenha acesso a crédito. “Existe um viés muito grande quando mulheres vão em busca de investimento para empreender. As perguntas que as mulheres recebem são: Será que essa fundadora vai aguentar? Quais são as hipóteses de insucesso? Enquanto, para os homens as perguntas: Quais são as hipóteses de sucesso?”, diz, em entrevista ao Estadão.

“E também acesso a crédito é muito mais limitado para mulheres, isso é comprovado. Então a segunda parte dessa recomendação é como fazer para que, no empreendedorismo, as mulheres tenham mais possibilidades de acesso e sucesso”, afirma Bellizia.

O documento do grupo sobre diversidade do B-20 foi elaborado em parceria com a consultoria McKinsey. “Existe uma disparidade significativa na progressão de carreira dessas minorias. Por exemplo, para cada 100 homens promovidos a cargos gerenciais, apenas 81 mulheres e 54 mulheres negras conseguem o mesmo avanço”, afirma Fernanda Mayol, sócia da McKinsey e líder da Prática de Pessoas, Organização e Performance no Brasil. “Temos avançado no tema de diversidade e inclusão no Brasil, mas ainda há um longo caminho a percorrer: no mercado de trabalho, apenas 8% das posições de liderança são ocupadas por mulheres, em comparação com 30% na Austrália, Noruega e Suécia”, afirma Mayol.

O Estadão publica, desde segunda-feira, 14, uma série de entrevistas com os CEOs e executivos brasileiros que estiveram à frente das oito forças-tarefa do B-20. Eles abordam a situação do Brasil ante os demais países, em cada uma das áreas analisadas, e como enfrentar os principais desafios econômicos contemporâneos. Também falam de como tem sido a recepção do governo Lula às propostas encaminhadas pelo setor privado.

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Paula Bellizia fala em entrevista sobre propostas do setor privado ao G-20 para acelerar inclusão e diversidade

Leia abaixo a entrevista:

O tema de inclusão das mulheres e diversidade ganhou um novo patamar no G-20 deste ano. Pode explicar?

Sob a liderança do Brasil, do G-20 e, portanto, do B-20, tivemos a formalização dessa força-tarefa especial, que é o Conselho de Ação de Mulheres e Negócios, Diversidade e Inclusão. Foi a primeira vez que houve esse destaque para termos a mesma profundidade, a mesma oportunidade de apresentar propostas que outros temas importantes têm. Tivemos uma diversidade muito grande de culturas e países e crenças, o próprio conselho de ação trabalhou sobre o tema de diversidade, exercitando a diversidade.

E tivemos muitas discussões sobre outros grupos sub-representados. Não fomos específicos nos outros grupos a serem trabalhados, mas mencionamos em várias partes do nosso documento que é necessário entregar estruturas públicas, trabalhar na inclusão de todas as pessoas. Isso também foi uma coisa nova do nosso B20, do nosso Conselho de Ação.

Eu acho que é um sinal de que, no caso da liderança do Brasil, tomamos a dianteira e formalizamos isso como um dos pilares de crescimento inclusivo e sustentável. Eu fico muito feliz que essa proposta tenha vindo da presidência do G-20 na oportunidade do Brasil. Agora, não dá para deixar de ver que a gente tem dois passos para frente e alguns para trás. Vamos precisar continuar muito vigilantes.

As nossas conquistas, elas são frágeis e mais demoradas do que a gente gostaria. Mesmo assim, eu continuo otimista, porque só o fato de a gente ter tido esse engajamento no mesmo nível, de ter a mesma importância que teve a transição energética, o combate à pobreza, da transformação digital, da questão de integridade, isso foi um grande passo.

Quais as prioridades nesse assunto hoje?

Buscamos ter poucas e boas propostas, que pudessem ser adotadas pelo maior número de países dentro do G-20. Falamos de oferecer políticas públicas estruturantes para que as mulheres e outros grupos tenham acesso à educação, à nutrição, à educação desde a infância. E falamos da necessidade de mapear onde os países estão.

Precisamos saber qual é o gradiente, vamos dizer assim, de inclusão dos diversos países. Nós propomos que os países tenham os próprios mecanismos e indicadores que acompanham a evolução. Não tivemos isso até esse momento. É um compromisso de que todos os países mapeiem o avanço.

Existem estudos da McKinsey e do Banco Mundial que mostram que, na inclusão de paridade de gênero no mercado de trabalho, poderíamos aumentar o PIB global em até 20%.

Como garantir que países avancem na questão de inclusão das mulheres, no G-20 há países onde a posição da mulher atravessa questões religiosas? E, no caso do Brasil, qual o nosso principal desafio?

O Brasil é um país que se caracteriza pela diversidade do nosso povo, da nossa população, da nossa cultura. Somos mais abertos, vamos dizer assim. E, quando eu menciono que exercemos a diversidade, é porque tivemos também de respeitar as diversidades culturais e, mesmo assim, ter propostas concretas que nos ajudem a avançar. Por isso que a parte de medição, do gradiente de avanço, é tão importante.

O Brasil tem despencado. Tem um índice, se eu não me engano, do Banco Mundial que mostra os países, medindo o gradiente de paridade. O Brasil despencou creio que 13 posições, para 70º lugar. Então, o Brasil tem uma cultura aberta, uma oportunidade muito grande, mas quando olhamos os dados, vemos que há oportunidade de continuar avançando.

As maiores dificuldades foram esses gradientes, ser respeitoso culturalmente com todos os países e, ao mesmo tempo, propositivo no sentido de que essa é uma agenda que precisa avançar.

'Recomendamos que os países cada vez mais incentivem as empresas, a iniciativa privada e os órgãos públicos a terem mecanismos de avanço para as mulheres em suas carreiras', diz Paula Bellizia Foto: Leo Souza/Estadão

E quais são as propostas concretas do B-20, para o G-20 avançar nessa questão?

Recomendamos que os países cada vez mais incentivem as empresas, a iniciativa privada e os órgãos públicos a terem mecanismos de avanço para as mulheres em suas carreiras. Tivemos abordagem mais propositiva, e não punitiva, porque esse foi o caminho onde conseguimos a convergência. Recomendamos que os países mapeiem e criem incentivos para que essa igualdade de salários seja alcançada.

A proposta é que existam políticas públicas que ajudem a equilibrar esse investimento de tempo na economia do cuidado; isso vai liberar espaço para as mulheres poderem participar mais do mercado de trabalho

Pode detalhar melhor como são essas recomendações aos governos?

A primeira recomendação é mapear e trabalhar no que é estruturante. Precisamos saber onde nós estamos, precisamos trabalhar no mapeamento dos indicadores que apontem onde cada uma dessas economias estão.

Sobre as questões estruturantes, vou te dar um exemplo. Temos hoje as mulheres muito responsáveis pela economia do cuidado. As mulheres investem quase o dobro de horas — se não me engano, os homens investem 11 horas, as mulheres investem 20 horas semanais no cuidado com a família. A proposta é que existam políticas públicas que ajudem a equilibrar esse investimento de tempo na economia do cuidado; isso vai liberar espaço para as mulheres poderem participar mais do mercado de trabalho. São políticas estruturantes, de nutrição, de educação desde a infância, acesso a tudo que é estruturante para que as oportunidades cheguem às mulheres e às populações não representadas.

A segunda recomendação é sobre o ambiente de trabalho. Como fazemos para que todos os países incentivem um ambiente de trabalho onde as mulheres têm oportunidade de crescer na carreira? Aqui entram as questões dos incentivos, as políticas públicas, políticas privadas, incentivos para as empresas investirem nos seus programas de inclusão.

Nesta segunda proposta, entra o debate sobre o empreendedorismo feminino também?

Existe um viés muito grande quando mulheres vão em busca de investimento para empreender. As perguntas que as mulheres recebem são: ‘Será que essa fundadora vai aguentar? Quais são as hipóteses de insucesso? Enquanto, para os homens as perguntas: Quais são as hipóteses de sucesso?’

E também acesso a crédito é muito mais limitado para mulheres, isso é comprovado. Então a segunda parte dessa recomendação é como fazer para que, no empreendedorismo, as mulheres tenham mais possibilidades de acesso e sucesso.

A terceira recomendação é sobre o futuro do trabalho. Devemos garantir que, olhando para o futuro, todas as pessoas vão ter oportunidade. E aqui falamos de acesso à educação, especialmente letramento tecnológico. E como a gente faz esse letramento para que não hajam vieses no desenvolvimento de soluções, de IA, por exemplo, que perpetuem esses vieses e façam com que menos mulheres tenham acesso.

Precisamos de mulheres chegando às posições de tomada de decisão para que essa construção de não oportunidade seja quebrada. Precisamos de mais mulheres em desenvolvimento de soluções tecnológicas para que tenhamos essas soluções olhando para todos.

O que a sra. espera que seja feito, de concreto, pelo Brasil no G-20?

Estamos (no B-20) muito preocupados em sermos práticos. Nós fomos, junto ao B20, entregar essas propostas ao presidente Lula, como presidente do G20.

O sumário dessas propostas foi apresentado verbalmente também ao presidente. A receptividade foi muito positiva, especialmente com relação à diversidade e inclusão, à transição energética do Brasil, ao combate à pobreza, e à questão da agenda de transformação digital do País. Foram assuntos superdiscutidos ali.

Uma das coisas que a gente discute hoje é como é que a gente vai monitorar o que vai ser adotado ou não e o que for adotado, implementado, como é que a gente vai mapear progresso. Às vezes, se a gente não monitora o progresso, pode virar retrocesso.

Vamos precisar manter a vigilância e manter o engajamento para que essas propostas sejam realizadas.

Para garantir que o progresso não vire retrocesso, é preciso conseguir mapear e acompanhar o quanto os países têm caminhado para proporcionar um acesso paritário a mulheres no ambiente de negócios. Essa é uma das conclusões de Paula Bellizia, vice-presidente da Amazon Web Services (AWS) na América Latina e líder do conselho de ação Mulheres, Diversidade e Inclusão em Negócios do B-20, o braço empresarial do G-20.

Um dos pontos cruciais neste debate, segundo ela, é fazer esse mapeamento para avaliar constantemente os países. Além disso, segundo a executiva, é necessário criar incentivos para que as empresas garantam a progressão de mulheres nas carreiras.

O relatório do B-20 aponta, por exemplo, que, para cada 100 homens promovidos a cargos gerenciais, só 81 mulheres e 54 mulheres negras conseguem o mesmo avanço. Mulheres e outras minorias, também segundo os dados do documento, têm pouca representatividade em carreiras relacionadas a áreas como ciências, tecnologia, matemática e engenharia.

Outra recomendação do grupo é sobre o futuro do trabalho, para garantir letramento tecnológico a mulheres, a fim de evitar que o gap de gênero não se perpetue com o avanço da inteligência artificial.

“Precisamos de mulheres chegando às posições de tomada de decisão para que essa construção de não oportunidade seja quebrada. Precisamos de mais mulheres em desenvolvimento de soluções tecnológicas para que tenhamos essas soluções olhando para todos”, afirma Bellizia.

Há outro ponto crucial para as mulheres nos negócios: garantir que o empreendedorismo feminino não sofra com vieses machistas e tenha acesso a crédito. “Existe um viés muito grande quando mulheres vão em busca de investimento para empreender. As perguntas que as mulheres recebem são: Será que essa fundadora vai aguentar? Quais são as hipóteses de insucesso? Enquanto, para os homens as perguntas: Quais são as hipóteses de sucesso?”, diz, em entrevista ao Estadão.

“E também acesso a crédito é muito mais limitado para mulheres, isso é comprovado. Então a segunda parte dessa recomendação é como fazer para que, no empreendedorismo, as mulheres tenham mais possibilidades de acesso e sucesso”, afirma Bellizia.

O documento do grupo sobre diversidade do B-20 foi elaborado em parceria com a consultoria McKinsey. “Existe uma disparidade significativa na progressão de carreira dessas minorias. Por exemplo, para cada 100 homens promovidos a cargos gerenciais, apenas 81 mulheres e 54 mulheres negras conseguem o mesmo avanço”, afirma Fernanda Mayol, sócia da McKinsey e líder da Prática de Pessoas, Organização e Performance no Brasil. “Temos avançado no tema de diversidade e inclusão no Brasil, mas ainda há um longo caminho a percorrer: no mercado de trabalho, apenas 8% das posições de liderança são ocupadas por mulheres, em comparação com 30% na Austrália, Noruega e Suécia”, afirma Mayol.

O Estadão publica, desde segunda-feira, 14, uma série de entrevistas com os CEOs e executivos brasileiros que estiveram à frente das oito forças-tarefa do B-20. Eles abordam a situação do Brasil ante os demais países, em cada uma das áreas analisadas, e como enfrentar os principais desafios econômicos contemporâneos. Também falam de como tem sido a recepção do governo Lula às propostas encaminhadas pelo setor privado.

Seu navegador não suporta esse video.

Paula Bellizia fala em entrevista sobre propostas do setor privado ao G-20 para acelerar inclusão e diversidade

Leia abaixo a entrevista:

O tema de inclusão das mulheres e diversidade ganhou um novo patamar no G-20 deste ano. Pode explicar?

Sob a liderança do Brasil, do G-20 e, portanto, do B-20, tivemos a formalização dessa força-tarefa especial, que é o Conselho de Ação de Mulheres e Negócios, Diversidade e Inclusão. Foi a primeira vez que houve esse destaque para termos a mesma profundidade, a mesma oportunidade de apresentar propostas que outros temas importantes têm. Tivemos uma diversidade muito grande de culturas e países e crenças, o próprio conselho de ação trabalhou sobre o tema de diversidade, exercitando a diversidade.

E tivemos muitas discussões sobre outros grupos sub-representados. Não fomos específicos nos outros grupos a serem trabalhados, mas mencionamos em várias partes do nosso documento que é necessário entregar estruturas públicas, trabalhar na inclusão de todas as pessoas. Isso também foi uma coisa nova do nosso B20, do nosso Conselho de Ação.

Eu acho que é um sinal de que, no caso da liderança do Brasil, tomamos a dianteira e formalizamos isso como um dos pilares de crescimento inclusivo e sustentável. Eu fico muito feliz que essa proposta tenha vindo da presidência do G-20 na oportunidade do Brasil. Agora, não dá para deixar de ver que a gente tem dois passos para frente e alguns para trás. Vamos precisar continuar muito vigilantes.

As nossas conquistas, elas são frágeis e mais demoradas do que a gente gostaria. Mesmo assim, eu continuo otimista, porque só o fato de a gente ter tido esse engajamento no mesmo nível, de ter a mesma importância que teve a transição energética, o combate à pobreza, da transformação digital, da questão de integridade, isso foi um grande passo.

Quais as prioridades nesse assunto hoje?

Buscamos ter poucas e boas propostas, que pudessem ser adotadas pelo maior número de países dentro do G-20. Falamos de oferecer políticas públicas estruturantes para que as mulheres e outros grupos tenham acesso à educação, à nutrição, à educação desde a infância. E falamos da necessidade de mapear onde os países estão.

Precisamos saber qual é o gradiente, vamos dizer assim, de inclusão dos diversos países. Nós propomos que os países tenham os próprios mecanismos e indicadores que acompanham a evolução. Não tivemos isso até esse momento. É um compromisso de que todos os países mapeiem o avanço.

Existem estudos da McKinsey e do Banco Mundial que mostram que, na inclusão de paridade de gênero no mercado de trabalho, poderíamos aumentar o PIB global em até 20%.

Como garantir que países avancem na questão de inclusão das mulheres, no G-20 há países onde a posição da mulher atravessa questões religiosas? E, no caso do Brasil, qual o nosso principal desafio?

O Brasil é um país que se caracteriza pela diversidade do nosso povo, da nossa população, da nossa cultura. Somos mais abertos, vamos dizer assim. E, quando eu menciono que exercemos a diversidade, é porque tivemos também de respeitar as diversidades culturais e, mesmo assim, ter propostas concretas que nos ajudem a avançar. Por isso que a parte de medição, do gradiente de avanço, é tão importante.

O Brasil tem despencado. Tem um índice, se eu não me engano, do Banco Mundial que mostra os países, medindo o gradiente de paridade. O Brasil despencou creio que 13 posições, para 70º lugar. Então, o Brasil tem uma cultura aberta, uma oportunidade muito grande, mas quando olhamos os dados, vemos que há oportunidade de continuar avançando.

As maiores dificuldades foram esses gradientes, ser respeitoso culturalmente com todos os países e, ao mesmo tempo, propositivo no sentido de que essa é uma agenda que precisa avançar.

'Recomendamos que os países cada vez mais incentivem as empresas, a iniciativa privada e os órgãos públicos a terem mecanismos de avanço para as mulheres em suas carreiras', diz Paula Bellizia Foto: Leo Souza/Estadão

E quais são as propostas concretas do B-20, para o G-20 avançar nessa questão?

Recomendamos que os países cada vez mais incentivem as empresas, a iniciativa privada e os órgãos públicos a terem mecanismos de avanço para as mulheres em suas carreiras. Tivemos abordagem mais propositiva, e não punitiva, porque esse foi o caminho onde conseguimos a convergência. Recomendamos que os países mapeiem e criem incentivos para que essa igualdade de salários seja alcançada.

A proposta é que existam políticas públicas que ajudem a equilibrar esse investimento de tempo na economia do cuidado; isso vai liberar espaço para as mulheres poderem participar mais do mercado de trabalho

Pode detalhar melhor como são essas recomendações aos governos?

A primeira recomendação é mapear e trabalhar no que é estruturante. Precisamos saber onde nós estamos, precisamos trabalhar no mapeamento dos indicadores que apontem onde cada uma dessas economias estão.

Sobre as questões estruturantes, vou te dar um exemplo. Temos hoje as mulheres muito responsáveis pela economia do cuidado. As mulheres investem quase o dobro de horas — se não me engano, os homens investem 11 horas, as mulheres investem 20 horas semanais no cuidado com a família. A proposta é que existam políticas públicas que ajudem a equilibrar esse investimento de tempo na economia do cuidado; isso vai liberar espaço para as mulheres poderem participar mais do mercado de trabalho. São políticas estruturantes, de nutrição, de educação desde a infância, acesso a tudo que é estruturante para que as oportunidades cheguem às mulheres e às populações não representadas.

A segunda recomendação é sobre o ambiente de trabalho. Como fazemos para que todos os países incentivem um ambiente de trabalho onde as mulheres têm oportunidade de crescer na carreira? Aqui entram as questões dos incentivos, as políticas públicas, políticas privadas, incentivos para as empresas investirem nos seus programas de inclusão.

Nesta segunda proposta, entra o debate sobre o empreendedorismo feminino também?

Existe um viés muito grande quando mulheres vão em busca de investimento para empreender. As perguntas que as mulheres recebem são: ‘Será que essa fundadora vai aguentar? Quais são as hipóteses de insucesso? Enquanto, para os homens as perguntas: Quais são as hipóteses de sucesso?’

E também acesso a crédito é muito mais limitado para mulheres, isso é comprovado. Então a segunda parte dessa recomendação é como fazer para que, no empreendedorismo, as mulheres tenham mais possibilidades de acesso e sucesso.

A terceira recomendação é sobre o futuro do trabalho. Devemos garantir que, olhando para o futuro, todas as pessoas vão ter oportunidade. E aqui falamos de acesso à educação, especialmente letramento tecnológico. E como a gente faz esse letramento para que não hajam vieses no desenvolvimento de soluções, de IA, por exemplo, que perpetuem esses vieses e façam com que menos mulheres tenham acesso.

Precisamos de mulheres chegando às posições de tomada de decisão para que essa construção de não oportunidade seja quebrada. Precisamos de mais mulheres em desenvolvimento de soluções tecnológicas para que tenhamos essas soluções olhando para todos.

O que a sra. espera que seja feito, de concreto, pelo Brasil no G-20?

Estamos (no B-20) muito preocupados em sermos práticos. Nós fomos, junto ao B20, entregar essas propostas ao presidente Lula, como presidente do G20.

O sumário dessas propostas foi apresentado verbalmente também ao presidente. A receptividade foi muito positiva, especialmente com relação à diversidade e inclusão, à transição energética do Brasil, ao combate à pobreza, e à questão da agenda de transformação digital do País. Foram assuntos superdiscutidos ali.

Uma das coisas que a gente discute hoje é como é que a gente vai monitorar o que vai ser adotado ou não e o que for adotado, implementado, como é que a gente vai mapear progresso. Às vezes, se a gente não monitora o progresso, pode virar retrocesso.

Vamos precisar manter a vigilância e manter o engajamento para que essas propostas sejam realizadas.

Entrevista por Beatriz Bulla

Repórter que cobre o poder -- economia, política e internacional. Trabalha hoje em São Paulo. Já passou por Brasília e foi correspondente em Washington (EUA). Formada em jornalismo e em direito, foi também pesquisadora visitante na Universidade Columbia, em Nova York.

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