As mineradoras sempre foram importantes. Sem o minério de ferro e o cobre que elas desenterram, não haveria aço para a construção nem fios para a eletricidade. Hoje, os mineiros têm uma responsabilidade a mais.
Se o mundo quiser abandonar o carbono como fonte de energia, serão necessárias 6,5 bilhões de toneladas de metais entre agora e 2050, de acordo com o centro de estudos estratégicos Energy Transitions Committee, e não se trata apenas de lítio, cobalto e níquel, os tão falados metais usados nas baterias, mas também aço, cobre e alumínio. Como esse volume está muito acima da capacidade atual de produção, gerá-lo vai exigir das mineradoras que invistam mais e cavem mais rápido.
Infelizmente, as mineradoras estão investindo muito menos do que antes, como confirmam os informes de rendimentos mais recentes divulgados na semana passada. A maior mineradora do mundo, BHP, gastou no ano passado menos da metade do que gastava dez anos atrás. Em parte, há motivos razoáveis para tal: as mineradoras sabem muito bem que seu setor tem um funcionamento cíclico.
Da última vez em que elas gastaram bastante, durante a explosão de crescimento liderada pela China 20 anos atrás, houve uma grande contração na sequência. Os mercados estão voláteis. Se o preço do cobre segue relativamente alto, o valor do cobalto, do níquel e do lítio tem caído dramaticamente, com o aumento da oferta. Mas, recentemente, as decisões de investimento também têm se enredado na burocracia. Os governos insistem em dizer que querem incentivar a transição verde, mas suas atitudes apontam na direção contrária.
A retórica oficial se esforça para destacar o quanto os políticos valorizam os metais essenciais. Os Estados Unidos desejam armazená-los para o caso de o fornecimento estrangeiro ficar sob risco, assim como o país acumulou uma grande reserva emergencial de petróleo. Sua Mineral Security Partnership (Parceria de Segurança Mineral) busca trabalhar com aliados para garantir os recursos e canalizar o investimento para a extração de metais. Outros países desenvolveram suas próprias estratégias para garantir o acesso aos minerais essenciais.
Mas todo esse trabalho é enfraquecido pelo protecionismo nacionalista em relação aos recursos e pelo ambientalismo equivocado. Um problema óbvio é que muitos países desejam controlar seus recursos, mesmo à custa de afastar o investimento privado.
No ano passado, o Chile anunciou planos para a produção de lítio por uma empresa estatal. Outros países, incluindo Quirguistão, Madagascar, México e Namíbia, estão cobrando royalties exorbitantes, implementando proibições à exportação e propondo outras formas de intervenção estatal. Os políticos dizem que querem garantir que uma maior parte da riqueza nacional em matérias-primas permaneça no país.
Mas, com frequência, tais políticas trazem o risco de serem contraproducentes, com as empresas sendo obrigadas a concorrer com o Estado ou a entregar seus lucros, o que as leva a suspender as operações. Em 2022, a SQM, maior produtora mundial de lítio, pagou US$ 5 bilhões ao tesouro chileno. Isso correspondeu a 1,3 vez seu lucro líquido. Medidas desse tipo só inviabilizarão mais projetos no longo prazo.
Acertando no milhar
Outro problema é que o processo de obtenção de licenças é escandalosamente lerdo. O tempo entre a descoberta de uma jazida comercialmente explorável e a sua produção comercial pode chegar a quase 16 anos; a mera obtenção da licença pode levar quase uma década.
Os EUA estão sentados sobre uma pilha de quase 300 projetos de mineração aguardando aprovação, e muitas ideias de grande porte estão encalhadas no limbo do licenciamento há anos, sem nenhuma solução em vista. Enquanto isso, em lugares como o Chile, a obtenção de licenças é cada vez mais lerda.
Os governos poderiam agilizar o processo se reduzissem o número de departamentos e agências que precisam ser consultados. Se o cronograma de aprovação fosse mais previsível, isso também evitaria os atrasos nos projetos e a ociosidade do capital investido neles.
Uma complicação final é a multiplicação de regras em diferentes jurisdições. Os muitos padrões diferentes aumentam o custo de construção de novas minas. Estas às vezes exigem uma infraestrutura periférica, como usinas de dessalinização, que podem custar até US$ 1 bilhão. A mineradora global Anglo American precisa atender a pelo menos nove padrões diferentes de práticas éticas em todo o mundo, por exemplo, sendo que algumas são inconsistentes entre si.
Idealmente, os países poderiam aplicar um padrão unificado de regras de sustentabilidade, e incluí-las como parte dos informes financeiros obrigatórios. O Reino Unido adotou essa abordagem, e outros países deveriam seguir o exemplo. Se as mineradoras não investirem, a transição energética vai demorar mais./Tradução de Augusto Calil