‘Não há como reduzir Selic em 2025 com inflação e questão fiscal’, diz ex-diretor do Banco Central


Fabio Kanczuk avalia que, se não houver condições de baixar o juro, a expectativa é de ‘atrito constante’ entre o governo e o BC, mesmo sob o comando de um indicado por Lula

Por Gabriela Jucá
Atualização:
Foto: Leo Martins/Leo Martins
Entrevista comFabio KanczukHead de macroeconomia do ASA

Ex-diretor de Política Econômica do Banco Central e head de macroeconomia do ASA, Fabio Kanczuk avalia que não haverá espaço para a redução da taxa Selic em 2025. Segundo ele, a inflação continuará a subir e a dinâmica fiscal do País ainda demanda cautela. O economista diz que, se não houver condições de baixar os juros no ano que vem, a expectativa é de um “atrito constante” entre o governo e o Banco Central, mesmo sob o comando de Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula. Kanczuk, porém, fez elogios ao futuro presidente da autarquia: “Galípolo é super-habilidoso e foi brilhante ao convencer Lula de que era preciso elevar os juros. Achei que ninguém ia convencê-lo”.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista ao Estadão/Broadcast:

Qual sua avaliação da economia brasileira neste momento?

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Há duas histórias possíveis. A primeira é que o impulso fiscal visto no primeiro semestre vai cair bastante. Com essa queda, o controle da inflação vai ficar bem mais fácil e, com isso, o BC vai levar a Selic até 12%, 12,5%. No segundo cenário, que é o da minha visão, houve um grande gasto fiscal do pagamento de precatórios em dezembro de 2023, concentrado em um mês. Houve um crescimento grande do fiscal entre 2019 e 2022, com Bolsonaro, pandemia e a transição para o governo Lula. Nessa sequência, aumentou o gasto. Isso se tornou um problema permanente, fez o fiscal ficar muito pior e vai continuar. O choque de impulso fiscal já se dissipou e, mesmo com a dissipação, a economia continua forte. Tem alguma coisa acontecendo, que não é o fiscal do precatório. O que tem aí de problema é um juro neutro muito mais alto. Seria preciso elevar muito mais a Selic. Apesar de a Moody’s falar que o rating é bom, teve muita piora fiscal desde 2019. A Selic até 12% não vai fazer o trabalho.

O BC deve ir além de 12%, 12,5% nesse ciclo de aperto monetário?

Acho que não. Não vai elevar até 14%, por exemplo. Vai até 12%, 12,5%, mas não vai trazer a inflação para a meta. Na primeira leitura, é que basta isso de juros que vai fazer o trabalho para depois reduzir. Na segunda leitura, o juro vai até 12,5% e o juro não cai. O BC para em 12,5% muito mais por pressão.

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'A inflação vai continuar subindo', diz Kanczuk Foto: Leonardo Martins/Divulgação

No seu cenário há previsão de redução de juros em 2025?

Na minha leitura, não tem como reduzir os juros. A inflação vai continuar subindo. A questão é o fiscal. Se quiser juros mais baixos, precisa ter uma mudança no fiscal no sentido de a dívida parecer sustentável. No fiscal, há essa discussão meio irrelevante se vai cumprir a meta ou não. Isso desvia a atenção do aumento da dívida. Para a dívida parar de crescer, a meta não é suficiente de jeito nenhum. O problema é muito maior.

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As expectativas de inflação pioraram na última pesquisa Focus. A que atribui essa alta?

O mais estranho, para mim, é a mediana para a inflação de 2025 estar tão baixa. Não vai cair. A inflação não cede, é estranho essa queda. (O mais recente boletim Focus trouxe a variação da mediana para o IPCA de 2024 de 4,39% para 4,50%; de 2025, de 3,96% para 3,99%; e a de 2026 seguiu em 3,60%.)

Além do fiscal, o que vai pressionar a inflação no próximo ano?

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Tem a inércia. A inércia é grande. No Focus, as expectativas de inflação ficam subindo e o nível de juros não será o suficiente. Então, por que vai cair? Não vejo razão para cair, todos os componentes puxando para cima. Meu cenário é de um juro neutro acima de 6,5%. Se não fosse acima disso, a economia já estaria muito mais fraca.

Se não houver condições para a redução dos juros no ano que vem, há chance de pressão política?

Eu acho. Deve ficar esse atrito constante entre governo e Banco Central.

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Alguma hora a economia vai desacelerar. É estranho ela estar tão forte. Isso é um mistério nos Estados Unidos e no Brasil.

O que espera do BC em 2025 sob nova direção?

Galípolo é super-habilidoso. Foi o cara que conseguiu convencer Lula a subir os juros. Achei que ninguém ia convencê-lo a subir os juros, o que foi brilhante. Ele navega politicamente entre Lula e a Faria Lima superbem. É uma situação sempre difícil, mas não deve ter forças para manter tudo isso no mandato.

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E quanto aos nomes que circulam para demais trocas na diretoria do BC no ano que vem?

Há o Gilneu (Vivan, atual chefe do departamento de Regulação Financeira do BC, cotado para a Diretoria de Regulação), que já era o número dois na área do Otávio (Damaso). É um cara excepcional. O segundo nome, não tenho certeza, mas ouvi sobre a Isabela Damaso, irmã do Otávio. Também ótima, excelente. A dúvida é quem vai assumir a cadeira de Política Monetária. Não sei quem vem.

Nesse contexto de pouca credibilidade fiscal e de juros mais altos, qual a perspectiva para a economia em 2025?

Alguma hora a economia vai desacelerar. É estranho ela estar tão forte. Isso é um mistério nos Estados Unidos e no Brasil. Será que o juro neutro é tão alto? Apesar de desacelerar, não é ruim, é menos crescimento, mas não vejo nada de ruim. A única coisa chata é a inflação não ir para a meta. Fora isso, o Brasil está indo bem.

Ex-diretor de Política Econômica do Banco Central e head de macroeconomia do ASA, Fabio Kanczuk avalia que não haverá espaço para a redução da taxa Selic em 2025. Segundo ele, a inflação continuará a subir e a dinâmica fiscal do País ainda demanda cautela. O economista diz que, se não houver condições de baixar os juros no ano que vem, a expectativa é de um “atrito constante” entre o governo e o Banco Central, mesmo sob o comando de Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula. Kanczuk, porém, fez elogios ao futuro presidente da autarquia: “Galípolo é super-habilidoso e foi brilhante ao convencer Lula de que era preciso elevar os juros. Achei que ninguém ia convencê-lo”.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista ao Estadão/Broadcast:

Qual sua avaliação da economia brasileira neste momento?

Há duas histórias possíveis. A primeira é que o impulso fiscal visto no primeiro semestre vai cair bastante. Com essa queda, o controle da inflação vai ficar bem mais fácil e, com isso, o BC vai levar a Selic até 12%, 12,5%. No segundo cenário, que é o da minha visão, houve um grande gasto fiscal do pagamento de precatórios em dezembro de 2023, concentrado em um mês. Houve um crescimento grande do fiscal entre 2019 e 2022, com Bolsonaro, pandemia e a transição para o governo Lula. Nessa sequência, aumentou o gasto. Isso se tornou um problema permanente, fez o fiscal ficar muito pior e vai continuar. O choque de impulso fiscal já se dissipou e, mesmo com a dissipação, a economia continua forte. Tem alguma coisa acontecendo, que não é o fiscal do precatório. O que tem aí de problema é um juro neutro muito mais alto. Seria preciso elevar muito mais a Selic. Apesar de a Moody’s falar que o rating é bom, teve muita piora fiscal desde 2019. A Selic até 12% não vai fazer o trabalho.

O BC deve ir além de 12%, 12,5% nesse ciclo de aperto monetário?

Acho que não. Não vai elevar até 14%, por exemplo. Vai até 12%, 12,5%, mas não vai trazer a inflação para a meta. Na primeira leitura, é que basta isso de juros que vai fazer o trabalho para depois reduzir. Na segunda leitura, o juro vai até 12,5% e o juro não cai. O BC para em 12,5% muito mais por pressão.

'A inflação vai continuar subindo', diz Kanczuk Foto: Leonardo Martins/Divulgação

No seu cenário há previsão de redução de juros em 2025?

Na minha leitura, não tem como reduzir os juros. A inflação vai continuar subindo. A questão é o fiscal. Se quiser juros mais baixos, precisa ter uma mudança no fiscal no sentido de a dívida parecer sustentável. No fiscal, há essa discussão meio irrelevante se vai cumprir a meta ou não. Isso desvia a atenção do aumento da dívida. Para a dívida parar de crescer, a meta não é suficiente de jeito nenhum. O problema é muito maior.

As expectativas de inflação pioraram na última pesquisa Focus. A que atribui essa alta?

O mais estranho, para mim, é a mediana para a inflação de 2025 estar tão baixa. Não vai cair. A inflação não cede, é estranho essa queda. (O mais recente boletim Focus trouxe a variação da mediana para o IPCA de 2024 de 4,39% para 4,50%; de 2025, de 3,96% para 3,99%; e a de 2026 seguiu em 3,60%.)

Além do fiscal, o que vai pressionar a inflação no próximo ano?

Tem a inércia. A inércia é grande. No Focus, as expectativas de inflação ficam subindo e o nível de juros não será o suficiente. Então, por que vai cair? Não vejo razão para cair, todos os componentes puxando para cima. Meu cenário é de um juro neutro acima de 6,5%. Se não fosse acima disso, a economia já estaria muito mais fraca.

Se não houver condições para a redução dos juros no ano que vem, há chance de pressão política?

Eu acho. Deve ficar esse atrito constante entre governo e Banco Central.

Alguma hora a economia vai desacelerar. É estranho ela estar tão forte. Isso é um mistério nos Estados Unidos e no Brasil.

O que espera do BC em 2025 sob nova direção?

Galípolo é super-habilidoso. Foi o cara que conseguiu convencer Lula a subir os juros. Achei que ninguém ia convencê-lo a subir os juros, o que foi brilhante. Ele navega politicamente entre Lula e a Faria Lima superbem. É uma situação sempre difícil, mas não deve ter forças para manter tudo isso no mandato.

E quanto aos nomes que circulam para demais trocas na diretoria do BC no ano que vem?

Há o Gilneu (Vivan, atual chefe do departamento de Regulação Financeira do BC, cotado para a Diretoria de Regulação), que já era o número dois na área do Otávio (Damaso). É um cara excepcional. O segundo nome, não tenho certeza, mas ouvi sobre a Isabela Damaso, irmã do Otávio. Também ótima, excelente. A dúvida é quem vai assumir a cadeira de Política Monetária. Não sei quem vem.

Nesse contexto de pouca credibilidade fiscal e de juros mais altos, qual a perspectiva para a economia em 2025?

Alguma hora a economia vai desacelerar. É estranho ela estar tão forte. Isso é um mistério nos Estados Unidos e no Brasil. Será que o juro neutro é tão alto? Apesar de desacelerar, não é ruim, é menos crescimento, mas não vejo nada de ruim. A única coisa chata é a inflação não ir para a meta. Fora isso, o Brasil está indo bem.

Ex-diretor de Política Econômica do Banco Central e head de macroeconomia do ASA, Fabio Kanczuk avalia que não haverá espaço para a redução da taxa Selic em 2025. Segundo ele, a inflação continuará a subir e a dinâmica fiscal do País ainda demanda cautela. O economista diz que, se não houver condições de baixar os juros no ano que vem, a expectativa é de um “atrito constante” entre o governo e o Banco Central, mesmo sob o comando de Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula. Kanczuk, porém, fez elogios ao futuro presidente da autarquia: “Galípolo é super-habilidoso e foi brilhante ao convencer Lula de que era preciso elevar os juros. Achei que ninguém ia convencê-lo”.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista ao Estadão/Broadcast:

Qual sua avaliação da economia brasileira neste momento?

Há duas histórias possíveis. A primeira é que o impulso fiscal visto no primeiro semestre vai cair bastante. Com essa queda, o controle da inflação vai ficar bem mais fácil e, com isso, o BC vai levar a Selic até 12%, 12,5%. No segundo cenário, que é o da minha visão, houve um grande gasto fiscal do pagamento de precatórios em dezembro de 2023, concentrado em um mês. Houve um crescimento grande do fiscal entre 2019 e 2022, com Bolsonaro, pandemia e a transição para o governo Lula. Nessa sequência, aumentou o gasto. Isso se tornou um problema permanente, fez o fiscal ficar muito pior e vai continuar. O choque de impulso fiscal já se dissipou e, mesmo com a dissipação, a economia continua forte. Tem alguma coisa acontecendo, que não é o fiscal do precatório. O que tem aí de problema é um juro neutro muito mais alto. Seria preciso elevar muito mais a Selic. Apesar de a Moody’s falar que o rating é bom, teve muita piora fiscal desde 2019. A Selic até 12% não vai fazer o trabalho.

O BC deve ir além de 12%, 12,5% nesse ciclo de aperto monetário?

Acho que não. Não vai elevar até 14%, por exemplo. Vai até 12%, 12,5%, mas não vai trazer a inflação para a meta. Na primeira leitura, é que basta isso de juros que vai fazer o trabalho para depois reduzir. Na segunda leitura, o juro vai até 12,5% e o juro não cai. O BC para em 12,5% muito mais por pressão.

'A inflação vai continuar subindo', diz Kanczuk Foto: Leonardo Martins/Divulgação

No seu cenário há previsão de redução de juros em 2025?

Na minha leitura, não tem como reduzir os juros. A inflação vai continuar subindo. A questão é o fiscal. Se quiser juros mais baixos, precisa ter uma mudança no fiscal no sentido de a dívida parecer sustentável. No fiscal, há essa discussão meio irrelevante se vai cumprir a meta ou não. Isso desvia a atenção do aumento da dívida. Para a dívida parar de crescer, a meta não é suficiente de jeito nenhum. O problema é muito maior.

As expectativas de inflação pioraram na última pesquisa Focus. A que atribui essa alta?

O mais estranho, para mim, é a mediana para a inflação de 2025 estar tão baixa. Não vai cair. A inflação não cede, é estranho essa queda. (O mais recente boletim Focus trouxe a variação da mediana para o IPCA de 2024 de 4,39% para 4,50%; de 2025, de 3,96% para 3,99%; e a de 2026 seguiu em 3,60%.)

Além do fiscal, o que vai pressionar a inflação no próximo ano?

Tem a inércia. A inércia é grande. No Focus, as expectativas de inflação ficam subindo e o nível de juros não será o suficiente. Então, por que vai cair? Não vejo razão para cair, todos os componentes puxando para cima. Meu cenário é de um juro neutro acima de 6,5%. Se não fosse acima disso, a economia já estaria muito mais fraca.

Se não houver condições para a redução dos juros no ano que vem, há chance de pressão política?

Eu acho. Deve ficar esse atrito constante entre governo e Banco Central.

Alguma hora a economia vai desacelerar. É estranho ela estar tão forte. Isso é um mistério nos Estados Unidos e no Brasil.

O que espera do BC em 2025 sob nova direção?

Galípolo é super-habilidoso. Foi o cara que conseguiu convencer Lula a subir os juros. Achei que ninguém ia convencê-lo a subir os juros, o que foi brilhante. Ele navega politicamente entre Lula e a Faria Lima superbem. É uma situação sempre difícil, mas não deve ter forças para manter tudo isso no mandato.

E quanto aos nomes que circulam para demais trocas na diretoria do BC no ano que vem?

Há o Gilneu (Vivan, atual chefe do departamento de Regulação Financeira do BC, cotado para a Diretoria de Regulação), que já era o número dois na área do Otávio (Damaso). É um cara excepcional. O segundo nome, não tenho certeza, mas ouvi sobre a Isabela Damaso, irmã do Otávio. Também ótima, excelente. A dúvida é quem vai assumir a cadeira de Política Monetária. Não sei quem vem.

Nesse contexto de pouca credibilidade fiscal e de juros mais altos, qual a perspectiva para a economia em 2025?

Alguma hora a economia vai desacelerar. É estranho ela estar tão forte. Isso é um mistério nos Estados Unidos e no Brasil. Será que o juro neutro é tão alto? Apesar de desacelerar, não é ruim, é menos crescimento, mas não vejo nada de ruim. A única coisa chata é a inflação não ir para a meta. Fora isso, o Brasil está indo bem.

Ex-diretor de Política Econômica do Banco Central e head de macroeconomia do ASA, Fabio Kanczuk avalia que não haverá espaço para a redução da taxa Selic em 2025. Segundo ele, a inflação continuará a subir e a dinâmica fiscal do País ainda demanda cautela. O economista diz que, se não houver condições de baixar os juros no ano que vem, a expectativa é de um “atrito constante” entre o governo e o Banco Central, mesmo sob o comando de Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula. Kanczuk, porém, fez elogios ao futuro presidente da autarquia: “Galípolo é super-habilidoso e foi brilhante ao convencer Lula de que era preciso elevar os juros. Achei que ninguém ia convencê-lo”.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista ao Estadão/Broadcast:

Qual sua avaliação da economia brasileira neste momento?

Há duas histórias possíveis. A primeira é que o impulso fiscal visto no primeiro semestre vai cair bastante. Com essa queda, o controle da inflação vai ficar bem mais fácil e, com isso, o BC vai levar a Selic até 12%, 12,5%. No segundo cenário, que é o da minha visão, houve um grande gasto fiscal do pagamento de precatórios em dezembro de 2023, concentrado em um mês. Houve um crescimento grande do fiscal entre 2019 e 2022, com Bolsonaro, pandemia e a transição para o governo Lula. Nessa sequência, aumentou o gasto. Isso se tornou um problema permanente, fez o fiscal ficar muito pior e vai continuar. O choque de impulso fiscal já se dissipou e, mesmo com a dissipação, a economia continua forte. Tem alguma coisa acontecendo, que não é o fiscal do precatório. O que tem aí de problema é um juro neutro muito mais alto. Seria preciso elevar muito mais a Selic. Apesar de a Moody’s falar que o rating é bom, teve muita piora fiscal desde 2019. A Selic até 12% não vai fazer o trabalho.

O BC deve ir além de 12%, 12,5% nesse ciclo de aperto monetário?

Acho que não. Não vai elevar até 14%, por exemplo. Vai até 12%, 12,5%, mas não vai trazer a inflação para a meta. Na primeira leitura, é que basta isso de juros que vai fazer o trabalho para depois reduzir. Na segunda leitura, o juro vai até 12,5% e o juro não cai. O BC para em 12,5% muito mais por pressão.

'A inflação vai continuar subindo', diz Kanczuk Foto: Leonardo Martins/Divulgação

No seu cenário há previsão de redução de juros em 2025?

Na minha leitura, não tem como reduzir os juros. A inflação vai continuar subindo. A questão é o fiscal. Se quiser juros mais baixos, precisa ter uma mudança no fiscal no sentido de a dívida parecer sustentável. No fiscal, há essa discussão meio irrelevante se vai cumprir a meta ou não. Isso desvia a atenção do aumento da dívida. Para a dívida parar de crescer, a meta não é suficiente de jeito nenhum. O problema é muito maior.

As expectativas de inflação pioraram na última pesquisa Focus. A que atribui essa alta?

O mais estranho, para mim, é a mediana para a inflação de 2025 estar tão baixa. Não vai cair. A inflação não cede, é estranho essa queda. (O mais recente boletim Focus trouxe a variação da mediana para o IPCA de 2024 de 4,39% para 4,50%; de 2025, de 3,96% para 3,99%; e a de 2026 seguiu em 3,60%.)

Além do fiscal, o que vai pressionar a inflação no próximo ano?

Tem a inércia. A inércia é grande. No Focus, as expectativas de inflação ficam subindo e o nível de juros não será o suficiente. Então, por que vai cair? Não vejo razão para cair, todos os componentes puxando para cima. Meu cenário é de um juro neutro acima de 6,5%. Se não fosse acima disso, a economia já estaria muito mais fraca.

Se não houver condições para a redução dos juros no ano que vem, há chance de pressão política?

Eu acho. Deve ficar esse atrito constante entre governo e Banco Central.

Alguma hora a economia vai desacelerar. É estranho ela estar tão forte. Isso é um mistério nos Estados Unidos e no Brasil.

O que espera do BC em 2025 sob nova direção?

Galípolo é super-habilidoso. Foi o cara que conseguiu convencer Lula a subir os juros. Achei que ninguém ia convencê-lo a subir os juros, o que foi brilhante. Ele navega politicamente entre Lula e a Faria Lima superbem. É uma situação sempre difícil, mas não deve ter forças para manter tudo isso no mandato.

E quanto aos nomes que circulam para demais trocas na diretoria do BC no ano que vem?

Há o Gilneu (Vivan, atual chefe do departamento de Regulação Financeira do BC, cotado para a Diretoria de Regulação), que já era o número dois na área do Otávio (Damaso). É um cara excepcional. O segundo nome, não tenho certeza, mas ouvi sobre a Isabela Damaso, irmã do Otávio. Também ótima, excelente. A dúvida é quem vai assumir a cadeira de Política Monetária. Não sei quem vem.

Nesse contexto de pouca credibilidade fiscal e de juros mais altos, qual a perspectiva para a economia em 2025?

Alguma hora a economia vai desacelerar. É estranho ela estar tão forte. Isso é um mistério nos Estados Unidos e no Brasil. Será que o juro neutro é tão alto? Apesar de desacelerar, não é ruim, é menos crescimento, mas não vejo nada de ruim. A única coisa chata é a inflação não ir para a meta. Fora isso, o Brasil está indo bem.

Ex-diretor de Política Econômica do Banco Central e head de macroeconomia do ASA, Fabio Kanczuk avalia que não haverá espaço para a redução da taxa Selic em 2025. Segundo ele, a inflação continuará a subir e a dinâmica fiscal do País ainda demanda cautela. O economista diz que, se não houver condições de baixar os juros no ano que vem, a expectativa é de um “atrito constante” entre o governo e o Banco Central, mesmo sob o comando de Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula. Kanczuk, porém, fez elogios ao futuro presidente da autarquia: “Galípolo é super-habilidoso e foi brilhante ao convencer Lula de que era preciso elevar os juros. Achei que ninguém ia convencê-lo”.

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Qual sua avaliação da economia brasileira neste momento?

Há duas histórias possíveis. A primeira é que o impulso fiscal visto no primeiro semestre vai cair bastante. Com essa queda, o controle da inflação vai ficar bem mais fácil e, com isso, o BC vai levar a Selic até 12%, 12,5%. No segundo cenário, que é o da minha visão, houve um grande gasto fiscal do pagamento de precatórios em dezembro de 2023, concentrado em um mês. Houve um crescimento grande do fiscal entre 2019 e 2022, com Bolsonaro, pandemia e a transição para o governo Lula. Nessa sequência, aumentou o gasto. Isso se tornou um problema permanente, fez o fiscal ficar muito pior e vai continuar. O choque de impulso fiscal já se dissipou e, mesmo com a dissipação, a economia continua forte. Tem alguma coisa acontecendo, que não é o fiscal do precatório. O que tem aí de problema é um juro neutro muito mais alto. Seria preciso elevar muito mais a Selic. Apesar de a Moody’s falar que o rating é bom, teve muita piora fiscal desde 2019. A Selic até 12% não vai fazer o trabalho.

O BC deve ir além de 12%, 12,5% nesse ciclo de aperto monetário?

Acho que não. Não vai elevar até 14%, por exemplo. Vai até 12%, 12,5%, mas não vai trazer a inflação para a meta. Na primeira leitura, é que basta isso de juros que vai fazer o trabalho para depois reduzir. Na segunda leitura, o juro vai até 12,5% e o juro não cai. O BC para em 12,5% muito mais por pressão.

'A inflação vai continuar subindo', diz Kanczuk Foto: Leonardo Martins/Divulgação

No seu cenário há previsão de redução de juros em 2025?

Na minha leitura, não tem como reduzir os juros. A inflação vai continuar subindo. A questão é o fiscal. Se quiser juros mais baixos, precisa ter uma mudança no fiscal no sentido de a dívida parecer sustentável. No fiscal, há essa discussão meio irrelevante se vai cumprir a meta ou não. Isso desvia a atenção do aumento da dívida. Para a dívida parar de crescer, a meta não é suficiente de jeito nenhum. O problema é muito maior.

As expectativas de inflação pioraram na última pesquisa Focus. A que atribui essa alta?

O mais estranho, para mim, é a mediana para a inflação de 2025 estar tão baixa. Não vai cair. A inflação não cede, é estranho essa queda. (O mais recente boletim Focus trouxe a variação da mediana para o IPCA de 2024 de 4,39% para 4,50%; de 2025, de 3,96% para 3,99%; e a de 2026 seguiu em 3,60%.)

Além do fiscal, o que vai pressionar a inflação no próximo ano?

Tem a inércia. A inércia é grande. No Focus, as expectativas de inflação ficam subindo e o nível de juros não será o suficiente. Então, por que vai cair? Não vejo razão para cair, todos os componentes puxando para cima. Meu cenário é de um juro neutro acima de 6,5%. Se não fosse acima disso, a economia já estaria muito mais fraca.

Se não houver condições para a redução dos juros no ano que vem, há chance de pressão política?

Eu acho. Deve ficar esse atrito constante entre governo e Banco Central.

Alguma hora a economia vai desacelerar. É estranho ela estar tão forte. Isso é um mistério nos Estados Unidos e no Brasil.

O que espera do BC em 2025 sob nova direção?

Galípolo é super-habilidoso. Foi o cara que conseguiu convencer Lula a subir os juros. Achei que ninguém ia convencê-lo a subir os juros, o que foi brilhante. Ele navega politicamente entre Lula e a Faria Lima superbem. É uma situação sempre difícil, mas não deve ter forças para manter tudo isso no mandato.

E quanto aos nomes que circulam para demais trocas na diretoria do BC no ano que vem?

Há o Gilneu (Vivan, atual chefe do departamento de Regulação Financeira do BC, cotado para a Diretoria de Regulação), que já era o número dois na área do Otávio (Damaso). É um cara excepcional. O segundo nome, não tenho certeza, mas ouvi sobre a Isabela Damaso, irmã do Otávio. Também ótima, excelente. A dúvida é quem vai assumir a cadeira de Política Monetária. Não sei quem vem.

Nesse contexto de pouca credibilidade fiscal e de juros mais altos, qual a perspectiva para a economia em 2025?

Alguma hora a economia vai desacelerar. É estranho ela estar tão forte. Isso é um mistério nos Estados Unidos e no Brasil. Será que o juro neutro é tão alto? Apesar de desacelerar, não é ruim, é menos crescimento, mas não vejo nada de ruim. A única coisa chata é a inflação não ir para a meta. Fora isso, o Brasil está indo bem.

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