O presidente eleito Donald Trump estava no púlpito falando sobre a aproximação do início de seu segundo mandato. No entanto, do outro lado do salão de festas do resort Mar-a-Lago, em Palm Beach, na Flórida, havia uma demonstração da maneira extraordinária como os interesses empresariais de sua família estão agora totalmente misturados aos seus planos de governo dos Estados Unidos.
Trump abriu a incomum coletiva de imprensa na terça-feira apresentando Hussain Sajwani, fundador e presidente da Damac Properties, uma empresa imobiliária com sede em Dubai que fez parceria com a família Trump há uma década para construir o primeiro campo de golfe da marca Trump no Oriente Médio.
Agora, disse Trump, a Damac está planejando investir bilhões de dólares nos Estados Unidos para construir data centers, com a ajuda de Trump e do governo federal, mesmo enquanto continua em seu papel de parceira comercial de Trump.
Também estava presente no salão de Mar-a-Lago Steve Witkoff, que tem negócios com uma nova empresa de criptomoedas chamada World Liberty Financial, que Trump e seus filhos ajudaram a fundar. Witkoff, embora ainda trabalhe com a empresa de criptomoedas, já está atuando como enviado de Trump para o Oriente Médio, e fez no palco uma atualização sobre os esforços para libertar os reféns israelenses mantidos em Gaza.
Trump destacou que um de seus filhos, Eric Trump, que vem promovendo novos negócios com as torres Trump no Oriente Médio, também estava no fundo do salão de baile, no mesmo dia em que a LIV Golf, a liga de golfe financiada pela Arábia Saudita, divulgou que pretende sediar outro torneio este ano no resort Trump National Doral, perto de Miami.
Isso significa que o dinheiro vinculado ao governo saudita continuará a fluir para a família Trump, mesmo quando Donald Trump estiver de volta à Casa Branca, já que a LIV Golf é de propriedade do fundo soberano saudita.
Também na terça-feira, o outro grande parceiro comercial da Trump Organization no Oriente Médio, a Dar Al Arkan, do setor imobiliário, revelou que planejava começar a construir projetos nos Estados Unidos pela primeira vez, de acordo com um relatório da Reuters. A Dar Al Arkan não respondeu a um pedido de comentário.
Tudo isso acontece no momento em que Jared Kushner, genro de Trump, divulgou ter levantado mais US$ 1,5 bilhão de investidores do Oriente Médio para sua empresa de private equity. A empresa que ele abriu depois de deixar seu cargo na Casa Branca, em 2020, agora tem mais de US$ 4,5 bilhões, principalmente de fundos soberanos ricos em petróleo.
“Esta será a era de ouro dos Estados Unidos - esta é a era de ouro dos Estados Unidos”, disse Trump, ao encerrar sua entrevista coletiva de mais de uma hora, não se referindo às operações da empresa de sua família, mas à sua confiança no futuro caminho da nação. “Teremos um grande país novamente.”
Interesses conflituosos
A escala de sobreposição entre os membros da família de Trump (e seus interesses comerciais) e o governo que ele irá liderar, todos apresentados no mesmo dia, ressalta o quão sem precedentes será a segunda presidência de Trump e o potencial para conflitos de interesse.
“Houve pelo menos alguma preocupação por parte do governo Trump, durante o primeiro mandato, sobre a ótica da interação financeira entre as empresas de Trump e o governo”, disse Adav Noti, diretor executivo do Campaign Legal Center, um grupo sem fins lucrativos que estuda questões éticas. “O que estamos vendo com o novo governo não é mais esse tipo de preocupação com essa ótica. Há uma impressão de que as algemas foram retiradas.”
Karoline Leavitt, porta-voz de Trump, porém, rejeita as críticas. “Os membros da família do presidente Trump são indivíduos inteligentes e altamente respeitados que amam nosso país”, disse ela em um comunicado. “Eles sempre desempenharam um papel fundamental nas campanhas do presidente Trump e em seu primeiro governo, e fizeram muitos sacrifícios pessoais para ajudar seu pai a tornar os Estados Unidos grandes novamente.”
Leavitt também destacou Hunter Biden, filho do presidente Joe Biden, que garantiu contratos no valor de milhões de dólares de empresas do exterior enquanto seu pai era vice-presidente.
A família Trump deixou claro, desde a eleição, que não pretende renunciar a novos acordos internacionais, como fez em 2017, o que significa que continuará a anunciar novos empreendimentos em locais ao redor do mundo, disse Eric Trump em uma entrevista ao The New York Times no mês passado.
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A família ainda planeja anunciar um plano de ética que incluirá a contratação de um consultor jurídico externo que analisará esses negócios, em uma tentativa de evitar tratamento especial por parte de empresas que possam estar buscando favores do governo dos Estados Unidos. A empresa também afirmou que não fará novos acordos diretamente com governos estrangeiros enquanto Trump for presidente.
Mas a lista de novos acordos se acelerou nos últimos meses, já que Trump está prestes a assumir o cargo.
A Dar Al Arkan divulgou desde meados do ano passado que construirá novas torres com o nome de Trump em Jeddah, na Arábia Saudita, e em Dubai, além de um projeto planejado anteriormente em Omã. A Dar Al Arkan e sua subsidiária Dar Global são empresas privadas, mas têm laços estreitos com o governo saudita.
Jared Kushner, em um podcast no mês passado, revelou pela primeira vez que havia recebido US$ 1,5 bilhão em novos financiamentos dos fundos soberanos do Catar e de Abu Dhabi. Ele disse que também tinha um compromisso da Arábia Saudita, que havia concordado anteriormente em entregar US$ 2 bilhões à sua empresa, para estender o acordo até 2029, dois anos depois da data original.
Kushner disse, na entrevista, que essa medida significa que ele evitou conflitos de interesse, já que teria negociado esses novos compromissos antes de seu sogro ser reeleito.
“Deixei bem claro para eles que, caso Trump fosse eleito, não deveriam esperar nada de mim para isso”, disse Kushner durante a entrevista com o podcaster Patrick O’Shaughnessy.
Kushner e sua empresa se recusaram na terça-feira a fazer comentários oficiais sobre o assunto. Até o momento, a Affinity Partners, sua empresa, investiu cerca de US$ 2 bilhões de seus fundos em empresas, incluindo cerca de US$ 129 milhões na Phoenix Holdings, uma empresa israelense de serviços financeiros que viu o valor de suas ações aumentar desde o investimento da Affinity.
Data centers
O plano que Trump anunciou na terça-feira, em Mar-a-Lago, girava em torno da Damac, que, segundo ele, pretendia investir US$ 20 bilhões nos Estados Unidos “em um período muito curto de tempo”. O investimento aparentemente se concentrou em data centers que são necessários para lidar com as demandas de rápido crescimento provenientes dos setores de computação em nuvem e inteligência artificial.
“Estamos muito, muito animados, agora com sua liderança e sua estratégia e política abertas para incentivar as empresas a virem para os EUA”, disse Sajwani, depois que Trump o convidou para subir ao palco no início de sua coletiva de imprensa. “Nos últimos quatro anos, estivemos esperando por este momento.”
A Damac e a Trump Organization já estão trabalhando juntas em Dubai com um primeiro campo de golfe e têm planos de construir um segundo, embora esse projeto tenha sido adiado há muito tempo. Mas, nos Estados Unidos, disse Trump, ele pretende usar os poderes do governo federal para ajudar seu parceiro de negócios familiar, oferecendo à Damac “revisões aceleradas” de quaisquer questões ambientais federais que possam surgir relacionadas aos planos da empresa.
“Vamos conduzi-los rapidamente pelo processo ambiental”, disse Trump, acrescentando que um benefício semelhante seria oferecido a qualquer empresa que planejasse investir US$ 1 bilhão nos Estados Unidos, embora a Damac seja a primeira a receber essa promessa.
Como Trump é muito próximo de seus filhos, os movimentos que eles fazem atraem a atenção, independentemente de haver um componente relacionado à Organização Trump. Por exemplo, três dos novos funcionários do governo de Trump publicaram fotos nas mídias sociais de si mesmos viajando com Donald Trump Jr. para a Groenlândia, que o presidente eleito disse querer que o governo dos EUA adquira para fins estratégicos. Donald Trump Jr. não está se juntando ao governo de seu pai, e não parece ter tido nenhuma reunião relacionada a qualquer tipo de desenvolvimento nesse sentido.
Mas o anúncio do LIV Golf na terça-feira significa que o torneio financiado pela Arábia Saudita estará de volta ao resort Doral de Trump em abril, com gastos de centenas de milhares de dólares no local.
O evento também atrai milhares de fãs que compram ingressos para o resort, lotando os restaurantes e os quartos do hotel durante o evento de vários dias. Os eventos LIV também impulsionam o perfil internacional dos mais de uma dúzia de resorts de golfe da família Trump em todo o mundo.
“O que eles estão fazendo com o LIV é muito importante”, disse Trump ao The Times na competição de 2022 em Doral. “Eles estão se esforçando muito e investindo muito dinheiro nisso, como você pode ver.”
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