Aço Verde do Brasil emite debênture de R$ 200 milhões, primeiro título verde no setor siderúrgico


Companhia diz que operação foi estruturada pelo UBS-BB, com taxa de CDI+1,25% e prazo de pagamento em cinco anos; recursos serão aplicados em dez projetos vinculados ao meio ambiente

Por Ivo Ribeiro
Atualização:

A siderúrgica Aço Verde do Brasil, especializada na produção de aços longos usados em obras civis e itens industriais, estreia no mercado de títulos verdes (green bonds) com a emissão de uma debênture no valor de R$ 200 milhões. Os recursos da captação tem destinação definida: projetos vinculados a ações ambientais e climáticas nas operações da companhia, dentro do tripé ESG (meio ambiente, econômico-social e de governança corporativa).

”Somos a primeira produtora de aço do País a emitir um título verde”, disse ao Estadão o diretor financeiro e de relações com investidores da AVB, Gustavo Bcheche. A companhia, controlada pelo grupo Ferroeste, de Minas Gerais, atua no mercado nacional de aços para os setores de construção civil e imobiliária e industrial. Iniciou suas atividades em 2015, com unidade industrial em Açailândia (MA).

continua após a publicidade

“Nossa primeira emissão será marcante e simbólica, pois coincide com a história da empresa, ligada à sustentabilidade”, acrescenta o diretor. A emissão da debênture verde, destaca Bcheche, abrange vários projetos com viés ambiental listados pela empresa. Eles vão desde a geração térmica de energia de gases recuperados dos processos industriais até investimentos nas áreas florestais nos ativos de biocarbono (carvão vegetal processado da madeira de eucaliptos). Ao todo, serão contemplados dez projetos em quatro categorias.

Gustavo Bcheche, diretor financeiro e de relações com investidores da siderúrgica Aço Verde do Brasil Foto: AVB/Divulgação

Segundo o diretor, a operação financeira, maturada ao longo de um ano, tem a certificação da ICMA, sigla em inglês da Associação Internacional do Mercado de Capitais, baseada na Suíça, que regula empréstimos ligados a sustentabilidade (títulos verdes) e outros temas do ESG. O banco estruturador da emissão é o UBS-BB, que apresentou a menor taxa — CDI mais 1,25% ao ano. “Em relação a captações de debêntures simples, o ganho na taxa foi de no mínimo 0,25%”, informou.

continua após a publicidade

A debênture tem um prazo de pagamento de cinco anos, com 18 meses de carência, a partir da liquidação da operação nesta segunda-feira, 24. Os pagamentos serão semestrais. Bcheche ressalta que uma vantagem relevante do green bond emitido pela AVB é poder incluir projetos iniciados até 24 meses antes — ou seja, desde junho de 2022. Os demais projetos elencados terão de ser executados nos próximos três anos.

”Por ter uma política de caixa mínimo confortável, a empresa não necessitava desses recursos agora, mas como a operação de captação do green bond evoluiu e o mercado está favorável, com taxas abaixo dos patamares de emissões, fez sentido fazer uma captação moderada”, afirma o diretor.

Um fator relevante na captação é o selo que a AVB detém, há seis anos, de primeira fabricante de aço carbono neutro do mundo, reconhecido pela Associação Internacional do Aço (WSA, na sigla em inglês), que atesta sua atuação sustentável na produção de aço.

continua após a publicidade

Na última medição certificada pela consultoria francesa SGS, o resultado de emissão de dióxido de carbono (CO₂) pela usina foi 0,229 toneladas de CO₂ equivalente por tonelada de aço produzida. A média mundial encontra-se no patamar de 2 toneladas de carbono por uma de aço.

A AVB é uma siderúrgica de médio porte, com atuação nacional, voltada à produção e venda de vergalhões e fio-máquina, além de tarugos (aço bruto), ferro-gusa e gases do ar de produção própria excedente, como oxigênio. Tem capacidade anual de fazer até 860 mil toneladas de aço bruto em sua usina siderúrgica.

A maior parte desse aço é transformada nos dois produtos, carros-chefes da AVB. Na unidade de laminação, a empresa está apta a produzir 720 mil toneladas por ano, com volumes crescentes de capacidade de produção ao longo dos últimos anos.

continua após a publicidade

Energia renovável e mudança climática

Todos os projetos, explica o diretor da AVB, estão alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, aprovada pela Conferência das Nações Unidas para Desenvolvimento Sustentável. Por exemplo, energia limpa e acessível (de número 7), trabalho decente e crescimento econômico (8), indústria, inovação e infraestrutura (9), consumo e produção responsáveis (12), ação contra mudança global do clima (13) e conservação da vida terrestre (15).

Segundo o executivo, parte dos recursos será contabilizada do investimento na termelétrica com capacidade de 11 MW instalada na usina para gerar energia a partir de gases da usina recuperados, dos dois altos-fornos e da aciaria, com zero emissão de carbono. Foi inaugurada no ano passado, mas a maior parcela do aporte, de R$ 70 milhões, foi executada a partir de meados de 2022.

continua após a publicidade

Em energia renovável foram elegíveis também investimentos na área florestal nos atuais e novos plantios de eucaliptos, além de manutenção das reservas nativas. Inclui eventuais aquisições de ativos florestais de terceiros não oriundos de supressão de vegetação nativa após dezembro de 2010 ou em sobreposição com áreas protegidas ou terras indígenas. O foco é a autossuficiência na produção de biocarbono, redutor energético que alimenta os dois altos-fornos da empresa.

Outro projeto é o de pré-aquecimento de sucata, com aquisição de equipamento que prepara a matéria-prima que será usada na produção do aço. Além de elevar a produção da aciaria, a energia gasta para fundi-la (a partir de gás oriundo da operação) é menor.

continua após a publicidade

Na usina, a empresa também está instalando uma unidade pioneira para produzir briquetes com uso de resíduos sólidos provenientes das operações — finos de minério de ferro e de carvão vegetal e lama oriunda do alto-forno com material metálico. “E um projeto que promove a economia circular na empresa”, diz o diretor.

A siderúrgica também elegeu a instalação de carbonização de finos de carvão, com foco na produção de créditos de carbono e um forno com patente própria, buscando uma solução para automatizar a carbonização da madeira de eucalipto e queimar a fumaça gerada no processo, eliminando a emissão de metano. Informa que traz também maior produtividade na conversão de madeira em biocarbono e redução de custo.

Gestão ambiental sustentável e economia circular

Como a empresa utiliza sucata em seu processo produtivo, vai adicionar um equipamento chamado pré-shredder, usado para fazer a separação prévia dos resíduos antes de serem lançados na aciaria, de forma mais uniforme, para maximizar o rendimento. Ele separa os metais e sucata de ferro e aço. Com isso, diz Bcheche, a AVB vai poder usar mais sucata de obsolescência. Atualmente, compõe 20% a 25% da carga de matéria-prima que entra na aciaria. “Nossa intenção é chegar a 30% no futuro”, afirma.

Com um novo britador de escória (resíduo do alto-forno), a empresa visa melhorar a eficiência do processo, reduzir custos operacionais e maior qualidade do produto final. A escória, que é descartada nas siderúrgicas, é um insumo muito desejado por cimenteiras, que o compra e utiliza junto com clínquer em fornos de moagem de cimento. A escória da AVB, cerca de 250 quilos por tonelada de gusa produzido desde quando começou a operar, é destinada para a Cimento Açaí, fabricante controlada pelo grupo Ferroeste. Potenciais excedentes futuros serão vendidos no mercado.

A siderúrgica quer ter a gestão e controle de seus próprios plantios de eucaliptos, desenvolvendo clones. Por isso, está instalando um viveiro de mudas em uma de suas fazendas florestais, a Sibéria, em Grajaú (MA), usando material genético desenvolvido internamente no grupo e já registrado pela Cultivar. “Vai servir de reforço na estratégia de melhoramento genético da AVB, facilitando a produção de clones, além de fomentar o plantio de eucalipto de produtores locais”, diz o diretor.

Hoje, a maioria das mudas são adquiridas pela AVB do Sudeste. O projeto já está cerca de 75% pronto e inicia operação no próximo ciclo de plantio da empresa, em agosto/setembro. Atualmente, a companhia conta com 99,66 mil hectares de florestas, sendo 44 mil de áreas de preservação. Estão distribuídas em quatro blocos de fazendas: no Maranhão (três) e no Piauí. A área plantada, hoje, é de 38,2 mil hectares e outros 5,68 mil estão previstos para o próximo ciclo.

Bcheche ressalta que as emissões internacionais de títulos verdes, na siderurgia, ocorrem muito na China, Japão, Coreia do Sul e outros países - “onde há muitos ganhos a serem obtidos”. A China, por exemplo, usa grande parte de combustível fóssil, com 75% da energia gerada no país à base de carvão mineral. O Brasil, que já tem títulos de green bonds em outros setores, como energia e saneamento, inaugura com uma companhia do setor de aço. “No quesito sustentabilidade, queremos nos diferenciar da média do mercado”, afirma.

Com produção de 413 mil toneladas de aços laminados e vendas de 405 mil toneladas no ano passado, a AVB gerou receita líquida de R$ 1,72 bilhão, obtendo resultado operacional (Ebitda ajustado) de R$ 537,9 milhões e lucro líquido ajustado de R$ 377 milhões. A empresa registrou alavancagem financeira, ao final do primeiro trimestre de 2024, de uma vez na relação dívida líquida (R$ 525,5 milhões) sobre o Ebtida anualizado.

A siderúrgica Aço Verde do Brasil, especializada na produção de aços longos usados em obras civis e itens industriais, estreia no mercado de títulos verdes (green bonds) com a emissão de uma debênture no valor de R$ 200 milhões. Os recursos da captação tem destinação definida: projetos vinculados a ações ambientais e climáticas nas operações da companhia, dentro do tripé ESG (meio ambiente, econômico-social e de governança corporativa).

”Somos a primeira produtora de aço do País a emitir um título verde”, disse ao Estadão o diretor financeiro e de relações com investidores da AVB, Gustavo Bcheche. A companhia, controlada pelo grupo Ferroeste, de Minas Gerais, atua no mercado nacional de aços para os setores de construção civil e imobiliária e industrial. Iniciou suas atividades em 2015, com unidade industrial em Açailândia (MA).

“Nossa primeira emissão será marcante e simbólica, pois coincide com a história da empresa, ligada à sustentabilidade”, acrescenta o diretor. A emissão da debênture verde, destaca Bcheche, abrange vários projetos com viés ambiental listados pela empresa. Eles vão desde a geração térmica de energia de gases recuperados dos processos industriais até investimentos nas áreas florestais nos ativos de biocarbono (carvão vegetal processado da madeira de eucaliptos). Ao todo, serão contemplados dez projetos em quatro categorias.

Gustavo Bcheche, diretor financeiro e de relações com investidores da siderúrgica Aço Verde do Brasil Foto: AVB/Divulgação

Segundo o diretor, a operação financeira, maturada ao longo de um ano, tem a certificação da ICMA, sigla em inglês da Associação Internacional do Mercado de Capitais, baseada na Suíça, que regula empréstimos ligados a sustentabilidade (títulos verdes) e outros temas do ESG. O banco estruturador da emissão é o UBS-BB, que apresentou a menor taxa — CDI mais 1,25% ao ano. “Em relação a captações de debêntures simples, o ganho na taxa foi de no mínimo 0,25%”, informou.

A debênture tem um prazo de pagamento de cinco anos, com 18 meses de carência, a partir da liquidação da operação nesta segunda-feira, 24. Os pagamentos serão semestrais. Bcheche ressalta que uma vantagem relevante do green bond emitido pela AVB é poder incluir projetos iniciados até 24 meses antes — ou seja, desde junho de 2022. Os demais projetos elencados terão de ser executados nos próximos três anos.

”Por ter uma política de caixa mínimo confortável, a empresa não necessitava desses recursos agora, mas como a operação de captação do green bond evoluiu e o mercado está favorável, com taxas abaixo dos patamares de emissões, fez sentido fazer uma captação moderada”, afirma o diretor.

Um fator relevante na captação é o selo que a AVB detém, há seis anos, de primeira fabricante de aço carbono neutro do mundo, reconhecido pela Associação Internacional do Aço (WSA, na sigla em inglês), que atesta sua atuação sustentável na produção de aço.

Na última medição certificada pela consultoria francesa SGS, o resultado de emissão de dióxido de carbono (CO₂) pela usina foi 0,229 toneladas de CO₂ equivalente por tonelada de aço produzida. A média mundial encontra-se no patamar de 2 toneladas de carbono por uma de aço.

A AVB é uma siderúrgica de médio porte, com atuação nacional, voltada à produção e venda de vergalhões e fio-máquina, além de tarugos (aço bruto), ferro-gusa e gases do ar de produção própria excedente, como oxigênio. Tem capacidade anual de fazer até 860 mil toneladas de aço bruto em sua usina siderúrgica.

A maior parte desse aço é transformada nos dois produtos, carros-chefes da AVB. Na unidade de laminação, a empresa está apta a produzir 720 mil toneladas por ano, com volumes crescentes de capacidade de produção ao longo dos últimos anos.

Energia renovável e mudança climática

Todos os projetos, explica o diretor da AVB, estão alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, aprovada pela Conferência das Nações Unidas para Desenvolvimento Sustentável. Por exemplo, energia limpa e acessível (de número 7), trabalho decente e crescimento econômico (8), indústria, inovação e infraestrutura (9), consumo e produção responsáveis (12), ação contra mudança global do clima (13) e conservação da vida terrestre (15).

Segundo o executivo, parte dos recursos será contabilizada do investimento na termelétrica com capacidade de 11 MW instalada na usina para gerar energia a partir de gases da usina recuperados, dos dois altos-fornos e da aciaria, com zero emissão de carbono. Foi inaugurada no ano passado, mas a maior parcela do aporte, de R$ 70 milhões, foi executada a partir de meados de 2022.

Em energia renovável foram elegíveis também investimentos na área florestal nos atuais e novos plantios de eucaliptos, além de manutenção das reservas nativas. Inclui eventuais aquisições de ativos florestais de terceiros não oriundos de supressão de vegetação nativa após dezembro de 2010 ou em sobreposição com áreas protegidas ou terras indígenas. O foco é a autossuficiência na produção de biocarbono, redutor energético que alimenta os dois altos-fornos da empresa.

Outro projeto é o de pré-aquecimento de sucata, com aquisição de equipamento que prepara a matéria-prima que será usada na produção do aço. Além de elevar a produção da aciaria, a energia gasta para fundi-la (a partir de gás oriundo da operação) é menor.

Na usina, a empresa também está instalando uma unidade pioneira para produzir briquetes com uso de resíduos sólidos provenientes das operações — finos de minério de ferro e de carvão vegetal e lama oriunda do alto-forno com material metálico. “E um projeto que promove a economia circular na empresa”, diz o diretor.

A siderúrgica também elegeu a instalação de carbonização de finos de carvão, com foco na produção de créditos de carbono e um forno com patente própria, buscando uma solução para automatizar a carbonização da madeira de eucalipto e queimar a fumaça gerada no processo, eliminando a emissão de metano. Informa que traz também maior produtividade na conversão de madeira em biocarbono e redução de custo.

Gestão ambiental sustentável e economia circular

Como a empresa utiliza sucata em seu processo produtivo, vai adicionar um equipamento chamado pré-shredder, usado para fazer a separação prévia dos resíduos antes de serem lançados na aciaria, de forma mais uniforme, para maximizar o rendimento. Ele separa os metais e sucata de ferro e aço. Com isso, diz Bcheche, a AVB vai poder usar mais sucata de obsolescência. Atualmente, compõe 20% a 25% da carga de matéria-prima que entra na aciaria. “Nossa intenção é chegar a 30% no futuro”, afirma.

Com um novo britador de escória (resíduo do alto-forno), a empresa visa melhorar a eficiência do processo, reduzir custos operacionais e maior qualidade do produto final. A escória, que é descartada nas siderúrgicas, é um insumo muito desejado por cimenteiras, que o compra e utiliza junto com clínquer em fornos de moagem de cimento. A escória da AVB, cerca de 250 quilos por tonelada de gusa produzido desde quando começou a operar, é destinada para a Cimento Açaí, fabricante controlada pelo grupo Ferroeste. Potenciais excedentes futuros serão vendidos no mercado.

A siderúrgica quer ter a gestão e controle de seus próprios plantios de eucaliptos, desenvolvendo clones. Por isso, está instalando um viveiro de mudas em uma de suas fazendas florestais, a Sibéria, em Grajaú (MA), usando material genético desenvolvido internamente no grupo e já registrado pela Cultivar. “Vai servir de reforço na estratégia de melhoramento genético da AVB, facilitando a produção de clones, além de fomentar o plantio de eucalipto de produtores locais”, diz o diretor.

Hoje, a maioria das mudas são adquiridas pela AVB do Sudeste. O projeto já está cerca de 75% pronto e inicia operação no próximo ciclo de plantio da empresa, em agosto/setembro. Atualmente, a companhia conta com 99,66 mil hectares de florestas, sendo 44 mil de áreas de preservação. Estão distribuídas em quatro blocos de fazendas: no Maranhão (três) e no Piauí. A área plantada, hoje, é de 38,2 mil hectares e outros 5,68 mil estão previstos para o próximo ciclo.

Bcheche ressalta que as emissões internacionais de títulos verdes, na siderurgia, ocorrem muito na China, Japão, Coreia do Sul e outros países - “onde há muitos ganhos a serem obtidos”. A China, por exemplo, usa grande parte de combustível fóssil, com 75% da energia gerada no país à base de carvão mineral. O Brasil, que já tem títulos de green bonds em outros setores, como energia e saneamento, inaugura com uma companhia do setor de aço. “No quesito sustentabilidade, queremos nos diferenciar da média do mercado”, afirma.

Com produção de 413 mil toneladas de aços laminados e vendas de 405 mil toneladas no ano passado, a AVB gerou receita líquida de R$ 1,72 bilhão, obtendo resultado operacional (Ebitda ajustado) de R$ 537,9 milhões e lucro líquido ajustado de R$ 377 milhões. A empresa registrou alavancagem financeira, ao final do primeiro trimestre de 2024, de uma vez na relação dívida líquida (R$ 525,5 milhões) sobre o Ebtida anualizado.

A siderúrgica Aço Verde do Brasil, especializada na produção de aços longos usados em obras civis e itens industriais, estreia no mercado de títulos verdes (green bonds) com a emissão de uma debênture no valor de R$ 200 milhões. Os recursos da captação tem destinação definida: projetos vinculados a ações ambientais e climáticas nas operações da companhia, dentro do tripé ESG (meio ambiente, econômico-social e de governança corporativa).

”Somos a primeira produtora de aço do País a emitir um título verde”, disse ao Estadão o diretor financeiro e de relações com investidores da AVB, Gustavo Bcheche. A companhia, controlada pelo grupo Ferroeste, de Minas Gerais, atua no mercado nacional de aços para os setores de construção civil e imobiliária e industrial. Iniciou suas atividades em 2015, com unidade industrial em Açailândia (MA).

“Nossa primeira emissão será marcante e simbólica, pois coincide com a história da empresa, ligada à sustentabilidade”, acrescenta o diretor. A emissão da debênture verde, destaca Bcheche, abrange vários projetos com viés ambiental listados pela empresa. Eles vão desde a geração térmica de energia de gases recuperados dos processos industriais até investimentos nas áreas florestais nos ativos de biocarbono (carvão vegetal processado da madeira de eucaliptos). Ao todo, serão contemplados dez projetos em quatro categorias.

Gustavo Bcheche, diretor financeiro e de relações com investidores da siderúrgica Aço Verde do Brasil Foto: AVB/Divulgação

Segundo o diretor, a operação financeira, maturada ao longo de um ano, tem a certificação da ICMA, sigla em inglês da Associação Internacional do Mercado de Capitais, baseada na Suíça, que regula empréstimos ligados a sustentabilidade (títulos verdes) e outros temas do ESG. O banco estruturador da emissão é o UBS-BB, que apresentou a menor taxa — CDI mais 1,25% ao ano. “Em relação a captações de debêntures simples, o ganho na taxa foi de no mínimo 0,25%”, informou.

A debênture tem um prazo de pagamento de cinco anos, com 18 meses de carência, a partir da liquidação da operação nesta segunda-feira, 24. Os pagamentos serão semestrais. Bcheche ressalta que uma vantagem relevante do green bond emitido pela AVB é poder incluir projetos iniciados até 24 meses antes — ou seja, desde junho de 2022. Os demais projetos elencados terão de ser executados nos próximos três anos.

”Por ter uma política de caixa mínimo confortável, a empresa não necessitava desses recursos agora, mas como a operação de captação do green bond evoluiu e o mercado está favorável, com taxas abaixo dos patamares de emissões, fez sentido fazer uma captação moderada”, afirma o diretor.

Um fator relevante na captação é o selo que a AVB detém, há seis anos, de primeira fabricante de aço carbono neutro do mundo, reconhecido pela Associação Internacional do Aço (WSA, na sigla em inglês), que atesta sua atuação sustentável na produção de aço.

Na última medição certificada pela consultoria francesa SGS, o resultado de emissão de dióxido de carbono (CO₂) pela usina foi 0,229 toneladas de CO₂ equivalente por tonelada de aço produzida. A média mundial encontra-se no patamar de 2 toneladas de carbono por uma de aço.

A AVB é uma siderúrgica de médio porte, com atuação nacional, voltada à produção e venda de vergalhões e fio-máquina, além de tarugos (aço bruto), ferro-gusa e gases do ar de produção própria excedente, como oxigênio. Tem capacidade anual de fazer até 860 mil toneladas de aço bruto em sua usina siderúrgica.

A maior parte desse aço é transformada nos dois produtos, carros-chefes da AVB. Na unidade de laminação, a empresa está apta a produzir 720 mil toneladas por ano, com volumes crescentes de capacidade de produção ao longo dos últimos anos.

Energia renovável e mudança climática

Todos os projetos, explica o diretor da AVB, estão alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, aprovada pela Conferência das Nações Unidas para Desenvolvimento Sustentável. Por exemplo, energia limpa e acessível (de número 7), trabalho decente e crescimento econômico (8), indústria, inovação e infraestrutura (9), consumo e produção responsáveis (12), ação contra mudança global do clima (13) e conservação da vida terrestre (15).

Segundo o executivo, parte dos recursos será contabilizada do investimento na termelétrica com capacidade de 11 MW instalada na usina para gerar energia a partir de gases da usina recuperados, dos dois altos-fornos e da aciaria, com zero emissão de carbono. Foi inaugurada no ano passado, mas a maior parcela do aporte, de R$ 70 milhões, foi executada a partir de meados de 2022.

Em energia renovável foram elegíveis também investimentos na área florestal nos atuais e novos plantios de eucaliptos, além de manutenção das reservas nativas. Inclui eventuais aquisições de ativos florestais de terceiros não oriundos de supressão de vegetação nativa após dezembro de 2010 ou em sobreposição com áreas protegidas ou terras indígenas. O foco é a autossuficiência na produção de biocarbono, redutor energético que alimenta os dois altos-fornos da empresa.

Outro projeto é o de pré-aquecimento de sucata, com aquisição de equipamento que prepara a matéria-prima que será usada na produção do aço. Além de elevar a produção da aciaria, a energia gasta para fundi-la (a partir de gás oriundo da operação) é menor.

Na usina, a empresa também está instalando uma unidade pioneira para produzir briquetes com uso de resíduos sólidos provenientes das operações — finos de minério de ferro e de carvão vegetal e lama oriunda do alto-forno com material metálico. “E um projeto que promove a economia circular na empresa”, diz o diretor.

A siderúrgica também elegeu a instalação de carbonização de finos de carvão, com foco na produção de créditos de carbono e um forno com patente própria, buscando uma solução para automatizar a carbonização da madeira de eucalipto e queimar a fumaça gerada no processo, eliminando a emissão de metano. Informa que traz também maior produtividade na conversão de madeira em biocarbono e redução de custo.

Gestão ambiental sustentável e economia circular

Como a empresa utiliza sucata em seu processo produtivo, vai adicionar um equipamento chamado pré-shredder, usado para fazer a separação prévia dos resíduos antes de serem lançados na aciaria, de forma mais uniforme, para maximizar o rendimento. Ele separa os metais e sucata de ferro e aço. Com isso, diz Bcheche, a AVB vai poder usar mais sucata de obsolescência. Atualmente, compõe 20% a 25% da carga de matéria-prima que entra na aciaria. “Nossa intenção é chegar a 30% no futuro”, afirma.

Com um novo britador de escória (resíduo do alto-forno), a empresa visa melhorar a eficiência do processo, reduzir custos operacionais e maior qualidade do produto final. A escória, que é descartada nas siderúrgicas, é um insumo muito desejado por cimenteiras, que o compra e utiliza junto com clínquer em fornos de moagem de cimento. A escória da AVB, cerca de 250 quilos por tonelada de gusa produzido desde quando começou a operar, é destinada para a Cimento Açaí, fabricante controlada pelo grupo Ferroeste. Potenciais excedentes futuros serão vendidos no mercado.

A siderúrgica quer ter a gestão e controle de seus próprios plantios de eucaliptos, desenvolvendo clones. Por isso, está instalando um viveiro de mudas em uma de suas fazendas florestais, a Sibéria, em Grajaú (MA), usando material genético desenvolvido internamente no grupo e já registrado pela Cultivar. “Vai servir de reforço na estratégia de melhoramento genético da AVB, facilitando a produção de clones, além de fomentar o plantio de eucalipto de produtores locais”, diz o diretor.

Hoje, a maioria das mudas são adquiridas pela AVB do Sudeste. O projeto já está cerca de 75% pronto e inicia operação no próximo ciclo de plantio da empresa, em agosto/setembro. Atualmente, a companhia conta com 99,66 mil hectares de florestas, sendo 44 mil de áreas de preservação. Estão distribuídas em quatro blocos de fazendas: no Maranhão (três) e no Piauí. A área plantada, hoje, é de 38,2 mil hectares e outros 5,68 mil estão previstos para o próximo ciclo.

Bcheche ressalta que as emissões internacionais de títulos verdes, na siderurgia, ocorrem muito na China, Japão, Coreia do Sul e outros países - “onde há muitos ganhos a serem obtidos”. A China, por exemplo, usa grande parte de combustível fóssil, com 75% da energia gerada no país à base de carvão mineral. O Brasil, que já tem títulos de green bonds em outros setores, como energia e saneamento, inaugura com uma companhia do setor de aço. “No quesito sustentabilidade, queremos nos diferenciar da média do mercado”, afirma.

Com produção de 413 mil toneladas de aços laminados e vendas de 405 mil toneladas no ano passado, a AVB gerou receita líquida de R$ 1,72 bilhão, obtendo resultado operacional (Ebitda ajustado) de R$ 537,9 milhões e lucro líquido ajustado de R$ 377 milhões. A empresa registrou alavancagem financeira, ao final do primeiro trimestre de 2024, de uma vez na relação dívida líquida (R$ 525,5 milhões) sobre o Ebtida anualizado.

A siderúrgica Aço Verde do Brasil, especializada na produção de aços longos usados em obras civis e itens industriais, estreia no mercado de títulos verdes (green bonds) com a emissão de uma debênture no valor de R$ 200 milhões. Os recursos da captação tem destinação definida: projetos vinculados a ações ambientais e climáticas nas operações da companhia, dentro do tripé ESG (meio ambiente, econômico-social e de governança corporativa).

”Somos a primeira produtora de aço do País a emitir um título verde”, disse ao Estadão o diretor financeiro e de relações com investidores da AVB, Gustavo Bcheche. A companhia, controlada pelo grupo Ferroeste, de Minas Gerais, atua no mercado nacional de aços para os setores de construção civil e imobiliária e industrial. Iniciou suas atividades em 2015, com unidade industrial em Açailândia (MA).

“Nossa primeira emissão será marcante e simbólica, pois coincide com a história da empresa, ligada à sustentabilidade”, acrescenta o diretor. A emissão da debênture verde, destaca Bcheche, abrange vários projetos com viés ambiental listados pela empresa. Eles vão desde a geração térmica de energia de gases recuperados dos processos industriais até investimentos nas áreas florestais nos ativos de biocarbono (carvão vegetal processado da madeira de eucaliptos). Ao todo, serão contemplados dez projetos em quatro categorias.

Gustavo Bcheche, diretor financeiro e de relações com investidores da siderúrgica Aço Verde do Brasil Foto: AVB/Divulgação

Segundo o diretor, a operação financeira, maturada ao longo de um ano, tem a certificação da ICMA, sigla em inglês da Associação Internacional do Mercado de Capitais, baseada na Suíça, que regula empréstimos ligados a sustentabilidade (títulos verdes) e outros temas do ESG. O banco estruturador da emissão é o UBS-BB, que apresentou a menor taxa — CDI mais 1,25% ao ano. “Em relação a captações de debêntures simples, o ganho na taxa foi de no mínimo 0,25%”, informou.

A debênture tem um prazo de pagamento de cinco anos, com 18 meses de carência, a partir da liquidação da operação nesta segunda-feira, 24. Os pagamentos serão semestrais. Bcheche ressalta que uma vantagem relevante do green bond emitido pela AVB é poder incluir projetos iniciados até 24 meses antes — ou seja, desde junho de 2022. Os demais projetos elencados terão de ser executados nos próximos três anos.

”Por ter uma política de caixa mínimo confortável, a empresa não necessitava desses recursos agora, mas como a operação de captação do green bond evoluiu e o mercado está favorável, com taxas abaixo dos patamares de emissões, fez sentido fazer uma captação moderada”, afirma o diretor.

Um fator relevante na captação é o selo que a AVB detém, há seis anos, de primeira fabricante de aço carbono neutro do mundo, reconhecido pela Associação Internacional do Aço (WSA, na sigla em inglês), que atesta sua atuação sustentável na produção de aço.

Na última medição certificada pela consultoria francesa SGS, o resultado de emissão de dióxido de carbono (CO₂) pela usina foi 0,229 toneladas de CO₂ equivalente por tonelada de aço produzida. A média mundial encontra-se no patamar de 2 toneladas de carbono por uma de aço.

A AVB é uma siderúrgica de médio porte, com atuação nacional, voltada à produção e venda de vergalhões e fio-máquina, além de tarugos (aço bruto), ferro-gusa e gases do ar de produção própria excedente, como oxigênio. Tem capacidade anual de fazer até 860 mil toneladas de aço bruto em sua usina siderúrgica.

A maior parte desse aço é transformada nos dois produtos, carros-chefes da AVB. Na unidade de laminação, a empresa está apta a produzir 720 mil toneladas por ano, com volumes crescentes de capacidade de produção ao longo dos últimos anos.

Energia renovável e mudança climática

Todos os projetos, explica o diretor da AVB, estão alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, aprovada pela Conferência das Nações Unidas para Desenvolvimento Sustentável. Por exemplo, energia limpa e acessível (de número 7), trabalho decente e crescimento econômico (8), indústria, inovação e infraestrutura (9), consumo e produção responsáveis (12), ação contra mudança global do clima (13) e conservação da vida terrestre (15).

Segundo o executivo, parte dos recursos será contabilizada do investimento na termelétrica com capacidade de 11 MW instalada na usina para gerar energia a partir de gases da usina recuperados, dos dois altos-fornos e da aciaria, com zero emissão de carbono. Foi inaugurada no ano passado, mas a maior parcela do aporte, de R$ 70 milhões, foi executada a partir de meados de 2022.

Em energia renovável foram elegíveis também investimentos na área florestal nos atuais e novos plantios de eucaliptos, além de manutenção das reservas nativas. Inclui eventuais aquisições de ativos florestais de terceiros não oriundos de supressão de vegetação nativa após dezembro de 2010 ou em sobreposição com áreas protegidas ou terras indígenas. O foco é a autossuficiência na produção de biocarbono, redutor energético que alimenta os dois altos-fornos da empresa.

Outro projeto é o de pré-aquecimento de sucata, com aquisição de equipamento que prepara a matéria-prima que será usada na produção do aço. Além de elevar a produção da aciaria, a energia gasta para fundi-la (a partir de gás oriundo da operação) é menor.

Na usina, a empresa também está instalando uma unidade pioneira para produzir briquetes com uso de resíduos sólidos provenientes das operações — finos de minério de ferro e de carvão vegetal e lama oriunda do alto-forno com material metálico. “E um projeto que promove a economia circular na empresa”, diz o diretor.

A siderúrgica também elegeu a instalação de carbonização de finos de carvão, com foco na produção de créditos de carbono e um forno com patente própria, buscando uma solução para automatizar a carbonização da madeira de eucalipto e queimar a fumaça gerada no processo, eliminando a emissão de metano. Informa que traz também maior produtividade na conversão de madeira em biocarbono e redução de custo.

Gestão ambiental sustentável e economia circular

Como a empresa utiliza sucata em seu processo produtivo, vai adicionar um equipamento chamado pré-shredder, usado para fazer a separação prévia dos resíduos antes de serem lançados na aciaria, de forma mais uniforme, para maximizar o rendimento. Ele separa os metais e sucata de ferro e aço. Com isso, diz Bcheche, a AVB vai poder usar mais sucata de obsolescência. Atualmente, compõe 20% a 25% da carga de matéria-prima que entra na aciaria. “Nossa intenção é chegar a 30% no futuro”, afirma.

Com um novo britador de escória (resíduo do alto-forno), a empresa visa melhorar a eficiência do processo, reduzir custos operacionais e maior qualidade do produto final. A escória, que é descartada nas siderúrgicas, é um insumo muito desejado por cimenteiras, que o compra e utiliza junto com clínquer em fornos de moagem de cimento. A escória da AVB, cerca de 250 quilos por tonelada de gusa produzido desde quando começou a operar, é destinada para a Cimento Açaí, fabricante controlada pelo grupo Ferroeste. Potenciais excedentes futuros serão vendidos no mercado.

A siderúrgica quer ter a gestão e controle de seus próprios plantios de eucaliptos, desenvolvendo clones. Por isso, está instalando um viveiro de mudas em uma de suas fazendas florestais, a Sibéria, em Grajaú (MA), usando material genético desenvolvido internamente no grupo e já registrado pela Cultivar. “Vai servir de reforço na estratégia de melhoramento genético da AVB, facilitando a produção de clones, além de fomentar o plantio de eucalipto de produtores locais”, diz o diretor.

Hoje, a maioria das mudas são adquiridas pela AVB do Sudeste. O projeto já está cerca de 75% pronto e inicia operação no próximo ciclo de plantio da empresa, em agosto/setembro. Atualmente, a companhia conta com 99,66 mil hectares de florestas, sendo 44 mil de áreas de preservação. Estão distribuídas em quatro blocos de fazendas: no Maranhão (três) e no Piauí. A área plantada, hoje, é de 38,2 mil hectares e outros 5,68 mil estão previstos para o próximo ciclo.

Bcheche ressalta que as emissões internacionais de títulos verdes, na siderurgia, ocorrem muito na China, Japão, Coreia do Sul e outros países - “onde há muitos ganhos a serem obtidos”. A China, por exemplo, usa grande parte de combustível fóssil, com 75% da energia gerada no país à base de carvão mineral. O Brasil, que já tem títulos de green bonds em outros setores, como energia e saneamento, inaugura com uma companhia do setor de aço. “No quesito sustentabilidade, queremos nos diferenciar da média do mercado”, afirma.

Com produção de 413 mil toneladas de aços laminados e vendas de 405 mil toneladas no ano passado, a AVB gerou receita líquida de R$ 1,72 bilhão, obtendo resultado operacional (Ebitda ajustado) de R$ 537,9 milhões e lucro líquido ajustado de R$ 377 milhões. A empresa registrou alavancagem financeira, ao final do primeiro trimestre de 2024, de uma vez na relação dívida líquida (R$ 525,5 milhões) sobre o Ebtida anualizado.

A siderúrgica Aço Verde do Brasil, especializada na produção de aços longos usados em obras civis e itens industriais, estreia no mercado de títulos verdes (green bonds) com a emissão de uma debênture no valor de R$ 200 milhões. Os recursos da captação tem destinação definida: projetos vinculados a ações ambientais e climáticas nas operações da companhia, dentro do tripé ESG (meio ambiente, econômico-social e de governança corporativa).

”Somos a primeira produtora de aço do País a emitir um título verde”, disse ao Estadão o diretor financeiro e de relações com investidores da AVB, Gustavo Bcheche. A companhia, controlada pelo grupo Ferroeste, de Minas Gerais, atua no mercado nacional de aços para os setores de construção civil e imobiliária e industrial. Iniciou suas atividades em 2015, com unidade industrial em Açailândia (MA).

“Nossa primeira emissão será marcante e simbólica, pois coincide com a história da empresa, ligada à sustentabilidade”, acrescenta o diretor. A emissão da debênture verde, destaca Bcheche, abrange vários projetos com viés ambiental listados pela empresa. Eles vão desde a geração térmica de energia de gases recuperados dos processos industriais até investimentos nas áreas florestais nos ativos de biocarbono (carvão vegetal processado da madeira de eucaliptos). Ao todo, serão contemplados dez projetos em quatro categorias.

Gustavo Bcheche, diretor financeiro e de relações com investidores da siderúrgica Aço Verde do Brasil Foto: AVB/Divulgação

Segundo o diretor, a operação financeira, maturada ao longo de um ano, tem a certificação da ICMA, sigla em inglês da Associação Internacional do Mercado de Capitais, baseada na Suíça, que regula empréstimos ligados a sustentabilidade (títulos verdes) e outros temas do ESG. O banco estruturador da emissão é o UBS-BB, que apresentou a menor taxa — CDI mais 1,25% ao ano. “Em relação a captações de debêntures simples, o ganho na taxa foi de no mínimo 0,25%”, informou.

A debênture tem um prazo de pagamento de cinco anos, com 18 meses de carência, a partir da liquidação da operação nesta segunda-feira, 24. Os pagamentos serão semestrais. Bcheche ressalta que uma vantagem relevante do green bond emitido pela AVB é poder incluir projetos iniciados até 24 meses antes — ou seja, desde junho de 2022. Os demais projetos elencados terão de ser executados nos próximos três anos.

”Por ter uma política de caixa mínimo confortável, a empresa não necessitava desses recursos agora, mas como a operação de captação do green bond evoluiu e o mercado está favorável, com taxas abaixo dos patamares de emissões, fez sentido fazer uma captação moderada”, afirma o diretor.

Um fator relevante na captação é o selo que a AVB detém, há seis anos, de primeira fabricante de aço carbono neutro do mundo, reconhecido pela Associação Internacional do Aço (WSA, na sigla em inglês), que atesta sua atuação sustentável na produção de aço.

Na última medição certificada pela consultoria francesa SGS, o resultado de emissão de dióxido de carbono (CO₂) pela usina foi 0,229 toneladas de CO₂ equivalente por tonelada de aço produzida. A média mundial encontra-se no patamar de 2 toneladas de carbono por uma de aço.

A AVB é uma siderúrgica de médio porte, com atuação nacional, voltada à produção e venda de vergalhões e fio-máquina, além de tarugos (aço bruto), ferro-gusa e gases do ar de produção própria excedente, como oxigênio. Tem capacidade anual de fazer até 860 mil toneladas de aço bruto em sua usina siderúrgica.

A maior parte desse aço é transformada nos dois produtos, carros-chefes da AVB. Na unidade de laminação, a empresa está apta a produzir 720 mil toneladas por ano, com volumes crescentes de capacidade de produção ao longo dos últimos anos.

Energia renovável e mudança climática

Todos os projetos, explica o diretor da AVB, estão alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, aprovada pela Conferência das Nações Unidas para Desenvolvimento Sustentável. Por exemplo, energia limpa e acessível (de número 7), trabalho decente e crescimento econômico (8), indústria, inovação e infraestrutura (9), consumo e produção responsáveis (12), ação contra mudança global do clima (13) e conservação da vida terrestre (15).

Segundo o executivo, parte dos recursos será contabilizada do investimento na termelétrica com capacidade de 11 MW instalada na usina para gerar energia a partir de gases da usina recuperados, dos dois altos-fornos e da aciaria, com zero emissão de carbono. Foi inaugurada no ano passado, mas a maior parcela do aporte, de R$ 70 milhões, foi executada a partir de meados de 2022.

Em energia renovável foram elegíveis também investimentos na área florestal nos atuais e novos plantios de eucaliptos, além de manutenção das reservas nativas. Inclui eventuais aquisições de ativos florestais de terceiros não oriundos de supressão de vegetação nativa após dezembro de 2010 ou em sobreposição com áreas protegidas ou terras indígenas. O foco é a autossuficiência na produção de biocarbono, redutor energético que alimenta os dois altos-fornos da empresa.

Outro projeto é o de pré-aquecimento de sucata, com aquisição de equipamento que prepara a matéria-prima que será usada na produção do aço. Além de elevar a produção da aciaria, a energia gasta para fundi-la (a partir de gás oriundo da operação) é menor.

Na usina, a empresa também está instalando uma unidade pioneira para produzir briquetes com uso de resíduos sólidos provenientes das operações — finos de minério de ferro e de carvão vegetal e lama oriunda do alto-forno com material metálico. “E um projeto que promove a economia circular na empresa”, diz o diretor.

A siderúrgica também elegeu a instalação de carbonização de finos de carvão, com foco na produção de créditos de carbono e um forno com patente própria, buscando uma solução para automatizar a carbonização da madeira de eucalipto e queimar a fumaça gerada no processo, eliminando a emissão de metano. Informa que traz também maior produtividade na conversão de madeira em biocarbono e redução de custo.

Gestão ambiental sustentável e economia circular

Como a empresa utiliza sucata em seu processo produtivo, vai adicionar um equipamento chamado pré-shredder, usado para fazer a separação prévia dos resíduos antes de serem lançados na aciaria, de forma mais uniforme, para maximizar o rendimento. Ele separa os metais e sucata de ferro e aço. Com isso, diz Bcheche, a AVB vai poder usar mais sucata de obsolescência. Atualmente, compõe 20% a 25% da carga de matéria-prima que entra na aciaria. “Nossa intenção é chegar a 30% no futuro”, afirma.

Com um novo britador de escória (resíduo do alto-forno), a empresa visa melhorar a eficiência do processo, reduzir custos operacionais e maior qualidade do produto final. A escória, que é descartada nas siderúrgicas, é um insumo muito desejado por cimenteiras, que o compra e utiliza junto com clínquer em fornos de moagem de cimento. A escória da AVB, cerca de 250 quilos por tonelada de gusa produzido desde quando começou a operar, é destinada para a Cimento Açaí, fabricante controlada pelo grupo Ferroeste. Potenciais excedentes futuros serão vendidos no mercado.

A siderúrgica quer ter a gestão e controle de seus próprios plantios de eucaliptos, desenvolvendo clones. Por isso, está instalando um viveiro de mudas em uma de suas fazendas florestais, a Sibéria, em Grajaú (MA), usando material genético desenvolvido internamente no grupo e já registrado pela Cultivar. “Vai servir de reforço na estratégia de melhoramento genético da AVB, facilitando a produção de clones, além de fomentar o plantio de eucalipto de produtores locais”, diz o diretor.

Hoje, a maioria das mudas são adquiridas pela AVB do Sudeste. O projeto já está cerca de 75% pronto e inicia operação no próximo ciclo de plantio da empresa, em agosto/setembro. Atualmente, a companhia conta com 99,66 mil hectares de florestas, sendo 44 mil de áreas de preservação. Estão distribuídas em quatro blocos de fazendas: no Maranhão (três) e no Piauí. A área plantada, hoje, é de 38,2 mil hectares e outros 5,68 mil estão previstos para o próximo ciclo.

Bcheche ressalta que as emissões internacionais de títulos verdes, na siderurgia, ocorrem muito na China, Japão, Coreia do Sul e outros países - “onde há muitos ganhos a serem obtidos”. A China, por exemplo, usa grande parte de combustível fóssil, com 75% da energia gerada no país à base de carvão mineral. O Brasil, que já tem títulos de green bonds em outros setores, como energia e saneamento, inaugura com uma companhia do setor de aço. “No quesito sustentabilidade, queremos nos diferenciar da média do mercado”, afirma.

Com produção de 413 mil toneladas de aços laminados e vendas de 405 mil toneladas no ano passado, a AVB gerou receita líquida de R$ 1,72 bilhão, obtendo resultado operacional (Ebitda ajustado) de R$ 537,9 milhões e lucro líquido ajustado de R$ 377 milhões. A empresa registrou alavancagem financeira, ao final do primeiro trimestre de 2024, de uma vez na relação dívida líquida (R$ 525,5 milhões) sobre o Ebtida anualizado.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.