Lista de credores da Americanas tem erros de bilhões e pode mostrar dívida irreal


Desde que informou ao mercado um rombo contábil de R$ 20 bilhões, no último dia 11, a Americanas deu poucas informações oficiais sobre o real estado de suas finanças

Por Matheus Piovesana, Talita Nascimento e Altamiro Silva Junior

A tumultuada lista de credores da Americanas pode não refletir totalmente a dívida da varejista - e já foi questionada por dois bancos, Deutsche Bank e BV. Diante de inconsistências nos dados e da falta de informações ao longo das últimas semanas, bancos credores não descartam que a empresa tenha de fazer ajustes importantes. Nos bastidores, houve espanto com o nível de divergência das informações, que chegam a bilhões de reais.

Desde que informou ao mercado um rombo contábil de R$ 20 bilhões, no último dia 11, a Americanas deu poucas informações oficiais sobre o real estado de suas finanças. Na recuperação judicial, pediu proteção contra R$ 43 bilhões em dívidas, montante que caiu em cerca de R$ 2 bilhões na lista de credores apresentada à Justiça. Há pouca certeza de que o volume continuará igual.

Segundo uma pessoa com conhecimento da situação, mas que preferiu não ser identificada, a empresa ainda trabalha para entender o tamanho das inconsistências em seu balanço. Certo é que se descobriu que o modelo de negócios que a Americanas apresentava ao mercado não era real e que, para parar em pé, a empresa terá de repensar toda a sua estrutura.

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Americanas informou ao mercado um rombo contábil de R$ 20 bilhões Foto: Taba Benedicto/Estadão

O próprio Sérgio Rial, ex-CEO que deixou o cargo ao informar o mercado sobre as inconsistências nove dias após assumir a empresa, disse a investidores do BTG Pactual que não podia afirmar que não haveria mais falhas, ao mesmo tempo que seria “leviano presumir que haja mais problemas”, já que não houve tempo para avaliar todas as linhas do balanço. “A companhia não foi transparente, mas não é tóxica”, afirmou à época. “Não estou na posição para afirmar que é fraude, o comitê independente vai poder dizer”, disse ainda aos investidores.

Nos bastidores, os bancos afirmam que sim, foi fraude. Hoje, ao menos dois - Deutsche Bank e BV - questionaram os valores da lista.

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Duas semanas se passaram e a empresa entrou em recuperação judicial, mas a incerteza permanece. Para o executivo de um banco credor, apesar dos processos, a varejista não trouxe outra informação estruturada, e os números estão mudando bastante.

Nem mesmo as operações de risco sacado, que foram a origem do problema, estão esclarecidas.  O risco sacado é uma linha de crédito que faz uma triangulação entre a empresa, seus fornecedores e bancos. Ao contratar o risco sacado, a companhia pede ao seu banco que ele realize o pagamento de uma compra com o fornecedor. Assim, o banco quita o contrato em nome da companhia, que passa a dever para o banco com a cobrança de juros. Pelo que se sabe até o momento, a Americanas fez contratação de risco sacado, mas as operações não foram registradas devidamente nos balanços contábeis.

Em alguns casos, a Americanas realizava operações em que as condições de pagamento, como o prazo, mudavam, e que portanto deveriam ser consideradas dívidas bancárias. Em outros, não mudava a condição, apenas o credor, que deixava de ser o fornecedor e passava a ser o banco.

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Ao olhar para o balanço da companhia, cada banco via montantes com fornecedores ou credores financeiros grandes o suficiente para acomodar seus saldos com a Americanas. A visão total do quanto a empresa deve ao setor veio agora - com os cinco maiores bancos do País, são R$ 13 bilhões em dívidas.

Divergências

Mesmo esse valor pode mudar. Os números ainda estão confusos e, na CVM, o documento apresentado pela companhia mostra uma dívida menor do que o documento entregue à Justiça. Na CVM o montante é de R$ 35 bilhões. A principal diferença é a ausência do Deutsche Bank, que aparecia como maior credor na lista entregue à Justiça, mas que não tem exposição direta aos débitos da companhia.

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O Deustche havia sido classificado como o maior credor da companhia na lista apresentada mais cedo, com R$ 5,2 bilhões, mas depois esclareceu que não concedeu crédito à Americanas, apenas é agente fiduciário de títulos de dívida estrangeiros. No BV, a conta foi inflada em mais de R$ 3 bilhões com a contabilização indevida de debêntures da companhia distribuídas pelo banco, segundo fontes. O banco, na verdade, teria crédito a receber bem menor, de R$ 206 milhões.

Na Faria Lima, nesta quarta-feira de feriado em São Paulo, mas com mercado financeiro funcionando, a lista virou o assunto do dia. Os erros no documento fizeram aumentar a preocupação de gestores e banqueiros com o nível de cuidado com que a varejista está tratando o caso e a visão de que o problema pode ser muito maior. Para outro gestor, o nível de inconsistência da lista “assusta”.

A tumultuada lista de credores da Americanas pode não refletir totalmente a dívida da varejista - e já foi questionada por dois bancos, Deutsche Bank e BV. Diante de inconsistências nos dados e da falta de informações ao longo das últimas semanas, bancos credores não descartam que a empresa tenha de fazer ajustes importantes. Nos bastidores, houve espanto com o nível de divergência das informações, que chegam a bilhões de reais.

Desde que informou ao mercado um rombo contábil de R$ 20 bilhões, no último dia 11, a Americanas deu poucas informações oficiais sobre o real estado de suas finanças. Na recuperação judicial, pediu proteção contra R$ 43 bilhões em dívidas, montante que caiu em cerca de R$ 2 bilhões na lista de credores apresentada à Justiça. Há pouca certeza de que o volume continuará igual.

Segundo uma pessoa com conhecimento da situação, mas que preferiu não ser identificada, a empresa ainda trabalha para entender o tamanho das inconsistências em seu balanço. Certo é que se descobriu que o modelo de negócios que a Americanas apresentava ao mercado não era real e que, para parar em pé, a empresa terá de repensar toda a sua estrutura.

Americanas informou ao mercado um rombo contábil de R$ 20 bilhões Foto: Taba Benedicto/Estadão

O próprio Sérgio Rial, ex-CEO que deixou o cargo ao informar o mercado sobre as inconsistências nove dias após assumir a empresa, disse a investidores do BTG Pactual que não podia afirmar que não haveria mais falhas, ao mesmo tempo que seria “leviano presumir que haja mais problemas”, já que não houve tempo para avaliar todas as linhas do balanço. “A companhia não foi transparente, mas não é tóxica”, afirmou à época. “Não estou na posição para afirmar que é fraude, o comitê independente vai poder dizer”, disse ainda aos investidores.

Nos bastidores, os bancos afirmam que sim, foi fraude. Hoje, ao menos dois - Deutsche Bank e BV - questionaram os valores da lista.

Duas semanas se passaram e a empresa entrou em recuperação judicial, mas a incerteza permanece. Para o executivo de um banco credor, apesar dos processos, a varejista não trouxe outra informação estruturada, e os números estão mudando bastante.

Nem mesmo as operações de risco sacado, que foram a origem do problema, estão esclarecidas.  O risco sacado é uma linha de crédito que faz uma triangulação entre a empresa, seus fornecedores e bancos. Ao contratar o risco sacado, a companhia pede ao seu banco que ele realize o pagamento de uma compra com o fornecedor. Assim, o banco quita o contrato em nome da companhia, que passa a dever para o banco com a cobrança de juros. Pelo que se sabe até o momento, a Americanas fez contratação de risco sacado, mas as operações não foram registradas devidamente nos balanços contábeis.

Em alguns casos, a Americanas realizava operações em que as condições de pagamento, como o prazo, mudavam, e que portanto deveriam ser consideradas dívidas bancárias. Em outros, não mudava a condição, apenas o credor, que deixava de ser o fornecedor e passava a ser o banco.

Ao olhar para o balanço da companhia, cada banco via montantes com fornecedores ou credores financeiros grandes o suficiente para acomodar seus saldos com a Americanas. A visão total do quanto a empresa deve ao setor veio agora - com os cinco maiores bancos do País, são R$ 13 bilhões em dívidas.

Divergências

Mesmo esse valor pode mudar. Os números ainda estão confusos e, na CVM, o documento apresentado pela companhia mostra uma dívida menor do que o documento entregue à Justiça. Na CVM o montante é de R$ 35 bilhões. A principal diferença é a ausência do Deutsche Bank, que aparecia como maior credor na lista entregue à Justiça, mas que não tem exposição direta aos débitos da companhia.

O Deustche havia sido classificado como o maior credor da companhia na lista apresentada mais cedo, com R$ 5,2 bilhões, mas depois esclareceu que não concedeu crédito à Americanas, apenas é agente fiduciário de títulos de dívida estrangeiros. No BV, a conta foi inflada em mais de R$ 3 bilhões com a contabilização indevida de debêntures da companhia distribuídas pelo banco, segundo fontes. O banco, na verdade, teria crédito a receber bem menor, de R$ 206 milhões.

Na Faria Lima, nesta quarta-feira de feriado em São Paulo, mas com mercado financeiro funcionando, a lista virou o assunto do dia. Os erros no documento fizeram aumentar a preocupação de gestores e banqueiros com o nível de cuidado com que a varejista está tratando o caso e a visão de que o problema pode ser muito maior. Para outro gestor, o nível de inconsistência da lista “assusta”.

A tumultuada lista de credores da Americanas pode não refletir totalmente a dívida da varejista - e já foi questionada por dois bancos, Deutsche Bank e BV. Diante de inconsistências nos dados e da falta de informações ao longo das últimas semanas, bancos credores não descartam que a empresa tenha de fazer ajustes importantes. Nos bastidores, houve espanto com o nível de divergência das informações, que chegam a bilhões de reais.

Desde que informou ao mercado um rombo contábil de R$ 20 bilhões, no último dia 11, a Americanas deu poucas informações oficiais sobre o real estado de suas finanças. Na recuperação judicial, pediu proteção contra R$ 43 bilhões em dívidas, montante que caiu em cerca de R$ 2 bilhões na lista de credores apresentada à Justiça. Há pouca certeza de que o volume continuará igual.

Segundo uma pessoa com conhecimento da situação, mas que preferiu não ser identificada, a empresa ainda trabalha para entender o tamanho das inconsistências em seu balanço. Certo é que se descobriu que o modelo de negócios que a Americanas apresentava ao mercado não era real e que, para parar em pé, a empresa terá de repensar toda a sua estrutura.

Americanas informou ao mercado um rombo contábil de R$ 20 bilhões Foto: Taba Benedicto/Estadão

O próprio Sérgio Rial, ex-CEO que deixou o cargo ao informar o mercado sobre as inconsistências nove dias após assumir a empresa, disse a investidores do BTG Pactual que não podia afirmar que não haveria mais falhas, ao mesmo tempo que seria “leviano presumir que haja mais problemas”, já que não houve tempo para avaliar todas as linhas do balanço. “A companhia não foi transparente, mas não é tóxica”, afirmou à época. “Não estou na posição para afirmar que é fraude, o comitê independente vai poder dizer”, disse ainda aos investidores.

Nos bastidores, os bancos afirmam que sim, foi fraude. Hoje, ao menos dois - Deutsche Bank e BV - questionaram os valores da lista.

Duas semanas se passaram e a empresa entrou em recuperação judicial, mas a incerteza permanece. Para o executivo de um banco credor, apesar dos processos, a varejista não trouxe outra informação estruturada, e os números estão mudando bastante.

Nem mesmo as operações de risco sacado, que foram a origem do problema, estão esclarecidas.  O risco sacado é uma linha de crédito que faz uma triangulação entre a empresa, seus fornecedores e bancos. Ao contratar o risco sacado, a companhia pede ao seu banco que ele realize o pagamento de uma compra com o fornecedor. Assim, o banco quita o contrato em nome da companhia, que passa a dever para o banco com a cobrança de juros. Pelo que se sabe até o momento, a Americanas fez contratação de risco sacado, mas as operações não foram registradas devidamente nos balanços contábeis.

Em alguns casos, a Americanas realizava operações em que as condições de pagamento, como o prazo, mudavam, e que portanto deveriam ser consideradas dívidas bancárias. Em outros, não mudava a condição, apenas o credor, que deixava de ser o fornecedor e passava a ser o banco.

Ao olhar para o balanço da companhia, cada banco via montantes com fornecedores ou credores financeiros grandes o suficiente para acomodar seus saldos com a Americanas. A visão total do quanto a empresa deve ao setor veio agora - com os cinco maiores bancos do País, são R$ 13 bilhões em dívidas.

Divergências

Mesmo esse valor pode mudar. Os números ainda estão confusos e, na CVM, o documento apresentado pela companhia mostra uma dívida menor do que o documento entregue à Justiça. Na CVM o montante é de R$ 35 bilhões. A principal diferença é a ausência do Deutsche Bank, que aparecia como maior credor na lista entregue à Justiça, mas que não tem exposição direta aos débitos da companhia.

O Deustche havia sido classificado como o maior credor da companhia na lista apresentada mais cedo, com R$ 5,2 bilhões, mas depois esclareceu que não concedeu crédito à Americanas, apenas é agente fiduciário de títulos de dívida estrangeiros. No BV, a conta foi inflada em mais de R$ 3 bilhões com a contabilização indevida de debêntures da companhia distribuídas pelo banco, segundo fontes. O banco, na verdade, teria crédito a receber bem menor, de R$ 206 milhões.

Na Faria Lima, nesta quarta-feira de feriado em São Paulo, mas com mercado financeiro funcionando, a lista virou o assunto do dia. Os erros no documento fizeram aumentar a preocupação de gestores e banqueiros com o nível de cuidado com que a varejista está tratando o caso e a visão de que o problema pode ser muito maior. Para outro gestor, o nível de inconsistência da lista “assusta”.

A tumultuada lista de credores da Americanas pode não refletir totalmente a dívida da varejista - e já foi questionada por dois bancos, Deutsche Bank e BV. Diante de inconsistências nos dados e da falta de informações ao longo das últimas semanas, bancos credores não descartam que a empresa tenha de fazer ajustes importantes. Nos bastidores, houve espanto com o nível de divergência das informações, que chegam a bilhões de reais.

Desde que informou ao mercado um rombo contábil de R$ 20 bilhões, no último dia 11, a Americanas deu poucas informações oficiais sobre o real estado de suas finanças. Na recuperação judicial, pediu proteção contra R$ 43 bilhões em dívidas, montante que caiu em cerca de R$ 2 bilhões na lista de credores apresentada à Justiça. Há pouca certeza de que o volume continuará igual.

Segundo uma pessoa com conhecimento da situação, mas que preferiu não ser identificada, a empresa ainda trabalha para entender o tamanho das inconsistências em seu balanço. Certo é que se descobriu que o modelo de negócios que a Americanas apresentava ao mercado não era real e que, para parar em pé, a empresa terá de repensar toda a sua estrutura.

Americanas informou ao mercado um rombo contábil de R$ 20 bilhões Foto: Taba Benedicto/Estadão

O próprio Sérgio Rial, ex-CEO que deixou o cargo ao informar o mercado sobre as inconsistências nove dias após assumir a empresa, disse a investidores do BTG Pactual que não podia afirmar que não haveria mais falhas, ao mesmo tempo que seria “leviano presumir que haja mais problemas”, já que não houve tempo para avaliar todas as linhas do balanço. “A companhia não foi transparente, mas não é tóxica”, afirmou à época. “Não estou na posição para afirmar que é fraude, o comitê independente vai poder dizer”, disse ainda aos investidores.

Nos bastidores, os bancos afirmam que sim, foi fraude. Hoje, ao menos dois - Deutsche Bank e BV - questionaram os valores da lista.

Duas semanas se passaram e a empresa entrou em recuperação judicial, mas a incerteza permanece. Para o executivo de um banco credor, apesar dos processos, a varejista não trouxe outra informação estruturada, e os números estão mudando bastante.

Nem mesmo as operações de risco sacado, que foram a origem do problema, estão esclarecidas.  O risco sacado é uma linha de crédito que faz uma triangulação entre a empresa, seus fornecedores e bancos. Ao contratar o risco sacado, a companhia pede ao seu banco que ele realize o pagamento de uma compra com o fornecedor. Assim, o banco quita o contrato em nome da companhia, que passa a dever para o banco com a cobrança de juros. Pelo que se sabe até o momento, a Americanas fez contratação de risco sacado, mas as operações não foram registradas devidamente nos balanços contábeis.

Em alguns casos, a Americanas realizava operações em que as condições de pagamento, como o prazo, mudavam, e que portanto deveriam ser consideradas dívidas bancárias. Em outros, não mudava a condição, apenas o credor, que deixava de ser o fornecedor e passava a ser o banco.

Ao olhar para o balanço da companhia, cada banco via montantes com fornecedores ou credores financeiros grandes o suficiente para acomodar seus saldos com a Americanas. A visão total do quanto a empresa deve ao setor veio agora - com os cinco maiores bancos do País, são R$ 13 bilhões em dívidas.

Divergências

Mesmo esse valor pode mudar. Os números ainda estão confusos e, na CVM, o documento apresentado pela companhia mostra uma dívida menor do que o documento entregue à Justiça. Na CVM o montante é de R$ 35 bilhões. A principal diferença é a ausência do Deutsche Bank, que aparecia como maior credor na lista entregue à Justiça, mas que não tem exposição direta aos débitos da companhia.

O Deustche havia sido classificado como o maior credor da companhia na lista apresentada mais cedo, com R$ 5,2 bilhões, mas depois esclareceu que não concedeu crédito à Americanas, apenas é agente fiduciário de títulos de dívida estrangeiros. No BV, a conta foi inflada em mais de R$ 3 bilhões com a contabilização indevida de debêntures da companhia distribuídas pelo banco, segundo fontes. O banco, na verdade, teria crédito a receber bem menor, de R$ 206 milhões.

Na Faria Lima, nesta quarta-feira de feriado em São Paulo, mas com mercado financeiro funcionando, a lista virou o assunto do dia. Os erros no documento fizeram aumentar a preocupação de gestores e banqueiros com o nível de cuidado com que a varejista está tratando o caso e a visão de que o problema pode ser muito maior. Para outro gestor, o nível de inconsistência da lista “assusta”.

A tumultuada lista de credores da Americanas pode não refletir totalmente a dívida da varejista - e já foi questionada por dois bancos, Deutsche Bank e BV. Diante de inconsistências nos dados e da falta de informações ao longo das últimas semanas, bancos credores não descartam que a empresa tenha de fazer ajustes importantes. Nos bastidores, houve espanto com o nível de divergência das informações, que chegam a bilhões de reais.

Desde que informou ao mercado um rombo contábil de R$ 20 bilhões, no último dia 11, a Americanas deu poucas informações oficiais sobre o real estado de suas finanças. Na recuperação judicial, pediu proteção contra R$ 43 bilhões em dívidas, montante que caiu em cerca de R$ 2 bilhões na lista de credores apresentada à Justiça. Há pouca certeza de que o volume continuará igual.

Segundo uma pessoa com conhecimento da situação, mas que preferiu não ser identificada, a empresa ainda trabalha para entender o tamanho das inconsistências em seu balanço. Certo é que se descobriu que o modelo de negócios que a Americanas apresentava ao mercado não era real e que, para parar em pé, a empresa terá de repensar toda a sua estrutura.

Americanas informou ao mercado um rombo contábil de R$ 20 bilhões Foto: Taba Benedicto/Estadão

O próprio Sérgio Rial, ex-CEO que deixou o cargo ao informar o mercado sobre as inconsistências nove dias após assumir a empresa, disse a investidores do BTG Pactual que não podia afirmar que não haveria mais falhas, ao mesmo tempo que seria “leviano presumir que haja mais problemas”, já que não houve tempo para avaliar todas as linhas do balanço. “A companhia não foi transparente, mas não é tóxica”, afirmou à época. “Não estou na posição para afirmar que é fraude, o comitê independente vai poder dizer”, disse ainda aos investidores.

Nos bastidores, os bancos afirmam que sim, foi fraude. Hoje, ao menos dois - Deutsche Bank e BV - questionaram os valores da lista.

Duas semanas se passaram e a empresa entrou em recuperação judicial, mas a incerteza permanece. Para o executivo de um banco credor, apesar dos processos, a varejista não trouxe outra informação estruturada, e os números estão mudando bastante.

Nem mesmo as operações de risco sacado, que foram a origem do problema, estão esclarecidas.  O risco sacado é uma linha de crédito que faz uma triangulação entre a empresa, seus fornecedores e bancos. Ao contratar o risco sacado, a companhia pede ao seu banco que ele realize o pagamento de uma compra com o fornecedor. Assim, o banco quita o contrato em nome da companhia, que passa a dever para o banco com a cobrança de juros. Pelo que se sabe até o momento, a Americanas fez contratação de risco sacado, mas as operações não foram registradas devidamente nos balanços contábeis.

Em alguns casos, a Americanas realizava operações em que as condições de pagamento, como o prazo, mudavam, e que portanto deveriam ser consideradas dívidas bancárias. Em outros, não mudava a condição, apenas o credor, que deixava de ser o fornecedor e passava a ser o banco.

Ao olhar para o balanço da companhia, cada banco via montantes com fornecedores ou credores financeiros grandes o suficiente para acomodar seus saldos com a Americanas. A visão total do quanto a empresa deve ao setor veio agora - com os cinco maiores bancos do País, são R$ 13 bilhões em dívidas.

Divergências

Mesmo esse valor pode mudar. Os números ainda estão confusos e, na CVM, o documento apresentado pela companhia mostra uma dívida menor do que o documento entregue à Justiça. Na CVM o montante é de R$ 35 bilhões. A principal diferença é a ausência do Deutsche Bank, que aparecia como maior credor na lista entregue à Justiça, mas que não tem exposição direta aos débitos da companhia.

O Deustche havia sido classificado como o maior credor da companhia na lista apresentada mais cedo, com R$ 5,2 bilhões, mas depois esclareceu que não concedeu crédito à Americanas, apenas é agente fiduciário de títulos de dívida estrangeiros. No BV, a conta foi inflada em mais de R$ 3 bilhões com a contabilização indevida de debêntures da companhia distribuídas pelo banco, segundo fontes. O banco, na verdade, teria crédito a receber bem menor, de R$ 206 milhões.

Na Faria Lima, nesta quarta-feira de feriado em São Paulo, mas com mercado financeiro funcionando, a lista virou o assunto do dia. Os erros no documento fizeram aumentar a preocupação de gestores e banqueiros com o nível de cuidado com que a varejista está tratando o caso e a visão de que o problema pode ser muito maior. Para outro gestor, o nível de inconsistência da lista “assusta”.

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