Busca por ‘delivery para notívagos’ cresce, e serviços entregam até chinelo e joia de madrugada


Aplicativos de entrega planejam crescimento da 0h às 6h com mais opções de empresas e maior número de entregadores; comidas, bebidas e remédios são produtos mais comprados nesses horários

Por Wesley Gonsalves

Há pouco mais de um ano, Felipe Santiago Calestini, de 30 anos, deixou o serviço de borracheiro para trabalhar na área de tecnologia do C6 Bank. Como analista de sistemas, ele teve de adaptar sua rotina ao turno da madrugada, algo que introduziu um novo hábito no seu dia a dia.

Com menos tempo para cozinhar ou se deslocar até os estabelecimentos físicos, acabou virando um cliente assíduo dos aplicativos de entrega. “Antes da pandemia, dificilmente eu pedia comida em delivery. Estava acostumado a sair do trabalho e passar para pegar um lanche ou uma pizza. Agora, seja por ‘preguiça’ ou por comodidade, acabo comprando tudo pelo celular”, conta.

Felipe Calestine é analista de sistemas no C6 e trabalha durante a madrugada. Com a maioria dos estabelecimentos fechados durante seu turno, ele precisou aderir ao consumo via aplicativos no tardar da noite. Foto: Thiago Queiroz/Estadão
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Foi durante a pandemia de covid-19 que os serviços de delivery usados atualmente por Calestini se consolidaram no dia a dia de milhares de brasileiros. O período de distanciamento social fez com que pessoas que nunca tinham usado a internet para fazer compras se rendessem aos pedidos virtuais.

Depois de facilitarem o consumo ao longo do dia, os aplicativos agora estão se tornando uma opção para os clientes mais notívagos que preferem comprar na madrugada sem que tenham que se deslocar até lojas de conveniência, mercados ou adegas que funcionam 24 horas e que vivem uma certa decadência.

Na esteira do consumo da madrugada, aplicativos de entrega como Rappi, Ifood e Zé Delivery começaram a receber novos estabelecimentos que atendem até tarde da noite. Eles se transformaram numa opção que concorre diretamente com as lojas físicas, a exemplo dos mercadinhos da rede mexicana Oxxo.

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Se na pré-pandemia o consumo por meio de entregas estava restrito a lanches e pizzas, ele agora abarca de bebidas alcoólicas a itens de farmácia, tudo ao alcance da palma da mão. “Por causa do meu trabalho, o delivery se tornou uma realidade na minha vida. Às vezes, no fim de semana a noite, até a cervejinha da minha esposa eu compro pelo aplicativo de entrega”, conta o analista de sistemas do C6.

Na avaliação de Ulysses Reis, especialista em varejo virtual da Strong Business School (SBS), a adesão de novos negócios aos aplicativos, principalmente os que atendem fora dos horários convencionais, ocorre por causa de uma mudança no comportamento dos consumidores no País, evidenciado durante a pandemia.

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Reis afirma que o avanço do trabalho remoto ajuda a introduzir uma nova massa de consumidores ao delivery fora do horário comercial. “Nós tínhamos um modelo de trabalho totalmente diferente há dez anos, quando a maior parte das pessoas trabalhava durante o dia, o que já não é mais uma realidade”, diz. “Agora, as pessoas podem trabalhar onde quiserem e a qualquer momento, o que impulsiona o consumo em horários alternativos, como a madrugada.”

O especialista em varejo e fundador da Varese Retail, Alberto Serrentino, também vê uma consolidação desses novos perfis de consumos via aplicativos durante as madrugadas. Ele destaca que os pedidos noturnos, majoritariamente, têm como base a ideia de consumo imediato ou de urgência. “É claro que sair da pandemia devolve várias missões de compras para as lojas físicas, mas os hábitos enraizados neste período ficam por causa da praticidade, rapidez para itens emergenciais, ou o consumo via Whatsapp”, avalia.

Falta de segurança

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Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, outro fator social que tem ajudado a alavancar o aumento nos pedidos noturnos é o crescimento da violência e criminalidade nas grandes cidades, o que deixa tanto consumidores quanto lojistas receosos de se deslocar até as unidades físicas tarde da noite, ainda mais se o motivo da visita for uma compra de indulgência, como um fardo de latas de cerveja ou um medicamento para uma dor de cabeça. “A pandemia ensinou às pessoas a consumir em casa, que é mais prático e mais seguro,” diz o professor da SBS.

Um reflexo dessa onda de criminalidade é uma mudança recente na estratégia da rede de mercadinhos Oxxo. Depois de virar alvo de arrastões em São Paulo, a companhia alterou seu slogan “Aberto 24h/dia” para “tá sempre próximo”.

No carrinho de compras

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Apesar do consumo via serviços de entrega não se limitar a uma classe ou outra de produtos, alguns artigos têm se repetido com maior frequência na lista de compras dos usuários das principais plataformas.

Dados do aplicativo Rappi mostram que, da 0h às 6h, lanches, pizzas, bebidas e produtos de farmácia são os itens mais pedidos. Nesse período do dia, a taxa de cancelamento de pedidos feitos no aplicativo chega a ser até 50% menor do que durante os horários comercial e noturno. “Em dias de semana, nós temos muitos pedidos de farmácia, mas de quinta em diante, a maioria dos pedidos são de lanches e bebidas alcoólicas”, diz Luiz Tavares, diretor da vertical Mercado do Rappi Brasil.

De olho no crescimento dos pedidos na madrugada, a empresa decidiu criar uma estratégia de operação focada nessa fatia do mercado, como explica Tavares. Ele conta que, para conseguir expandir as entregas no período em que boa parte dos estabelecimentos está fechado, a companhia organizou um plano para buscar mais lojas, além de ampliar o número de entregadores nesses horários.

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“Nós não cobramos mais dos usuários pelo serviço na madrugada, mas pagamos mais aos motociclistas no período. É uma tarifa dinâmica, para atrair os colaboradores”, diz.

Os especialistas da Verase Retail e da SBS são unânimes em apontar para a falta de entregadores disponíveis na madrugada como ou dos principais gargalos para a expansão das vendas e entregas na madrugada.

“Essas empresas terão o desafio de ampliar o número de trabalhadores no mercado, nem que para isso eles tenham que repensar o negócio, aumentando os custos e repassando para os consumidores. O que pode ser extremamente perigoso para o negócio”, avalia Ulysses Reis, da SBS.

Ainda segundo a startup, mesmo com o crescimento dos pedidos na madrugada, por enquanto, o maior número de operações está concentrado em São Paulo, uma vez que a capital corresponde a 70% dos pedidos dentro do aplicativo para o período. “São Paulo é sempre um termômetro. Nós imaginamos que, em breve, outras capitais podem ampliar a demanda pelo serviço”, afirma o executivo da Rappi.

Se, por um lado, a conveniência de poder acessar os pedidos via telefone impulsiona o consumo nos aplicativos, os mercadinho em condomínios residenciais que também surgiram no período de isolamento social podem ser um entrave para a consolidação desse modelo de negócio na madrugada.

Para Alberto Serrentino, da Verase Retail, a concorrência com outros modelos de negócios dependerão de uma análise dos custos para garantir uma entrega rápida mesmo em períodos de menor oferta de entregadores, sem que isso seja integralmente repassado aos consumidores. “Nós vamos ter que acompanhar o nível de sustentabilidade deste tipo de negócio,” avalia.

Opção no interior

Se as grandes empresas estão de olho, por ora, no consumo vindo das grandes cidades, alguns novatos começam a olhar para regiões de menor densidade populacional, mas com grande potencial de consumo. É o caso da startup Box Delivery, que, assim como a concorrente Rappi, organizou sua estratégia de serviço para atender também as demandas na madrugada em cidades do interior do País.

O negócio é responsável apenas pelo “last mile” - jargão do setor de logística usado para denominar as empresas que realizam apenas as entregas para terceiros. Com parceiros como Zé Delivery, Burger King, Droga Raia, Drogaria São Paulo, McDonald’s, entre outros, a startup também atende pequenos negócios, como adegas e restaurantes que funcionam na madrugada.

FR12 SAO PAULO - SP - 18/01/2023 - ECONOMIA - BOX DELIVERY - Foto do executivo da Box Delivery, Ronaldo Slav para uma matéria sobre o crescimento dos pedidos nos aplicativos de entrega em períodos fora do horário comercial e noturno. FOTO: FELIPE RAU/ESTADAO  Foto: ESTADÃO CONTEÚDO / ESTADÃO CONTEÚDO

“A madrugada para nós é muito importante. Um exemplo são os pedidos via Zé Delivery. Nós temos o maior número de pedidos na madrugada, até às 4h da manhã”, destaca o gerente comercial da empresa, Ronaldo Slav.

Ele conta que, antes da pandemia, a Box Delivery tentava ganhar espaço nas entregas durante o período comercial, mas, com a chegada da pandemia, o negócio viu uma oportunidade de expandir a operação com as suas entregas para estabelecimentos depois das 22h. “Neste período do dia, entregamos de tudo, de chinelo a joias”, relata.

Segundo a empresa, atualmente são realizadas cerca de 1 milhão de entregas por mês nas cidades em que a startup possui operações. No período após as 22h, os itens mais entregues são bebida (50%), comida (40%) e itens de farmácias (10%).

Há pouco mais de um ano, Felipe Santiago Calestini, de 30 anos, deixou o serviço de borracheiro para trabalhar na área de tecnologia do C6 Bank. Como analista de sistemas, ele teve de adaptar sua rotina ao turno da madrugada, algo que introduziu um novo hábito no seu dia a dia.

Com menos tempo para cozinhar ou se deslocar até os estabelecimentos físicos, acabou virando um cliente assíduo dos aplicativos de entrega. “Antes da pandemia, dificilmente eu pedia comida em delivery. Estava acostumado a sair do trabalho e passar para pegar um lanche ou uma pizza. Agora, seja por ‘preguiça’ ou por comodidade, acabo comprando tudo pelo celular”, conta.

Felipe Calestine é analista de sistemas no C6 e trabalha durante a madrugada. Com a maioria dos estabelecimentos fechados durante seu turno, ele precisou aderir ao consumo via aplicativos no tardar da noite. Foto: Thiago Queiroz/Estadão

Foi durante a pandemia de covid-19 que os serviços de delivery usados atualmente por Calestini se consolidaram no dia a dia de milhares de brasileiros. O período de distanciamento social fez com que pessoas que nunca tinham usado a internet para fazer compras se rendessem aos pedidos virtuais.

Depois de facilitarem o consumo ao longo do dia, os aplicativos agora estão se tornando uma opção para os clientes mais notívagos que preferem comprar na madrugada sem que tenham que se deslocar até lojas de conveniência, mercados ou adegas que funcionam 24 horas e que vivem uma certa decadência.

Na esteira do consumo da madrugada, aplicativos de entrega como Rappi, Ifood e Zé Delivery começaram a receber novos estabelecimentos que atendem até tarde da noite. Eles se transformaram numa opção que concorre diretamente com as lojas físicas, a exemplo dos mercadinhos da rede mexicana Oxxo.

Se na pré-pandemia o consumo por meio de entregas estava restrito a lanches e pizzas, ele agora abarca de bebidas alcoólicas a itens de farmácia, tudo ao alcance da palma da mão. “Por causa do meu trabalho, o delivery se tornou uma realidade na minha vida. Às vezes, no fim de semana a noite, até a cervejinha da minha esposa eu compro pelo aplicativo de entrega”, conta o analista de sistemas do C6.

Na avaliação de Ulysses Reis, especialista em varejo virtual da Strong Business School (SBS), a adesão de novos negócios aos aplicativos, principalmente os que atendem fora dos horários convencionais, ocorre por causa de uma mudança no comportamento dos consumidores no País, evidenciado durante a pandemia.

Reis afirma que o avanço do trabalho remoto ajuda a introduzir uma nova massa de consumidores ao delivery fora do horário comercial. “Nós tínhamos um modelo de trabalho totalmente diferente há dez anos, quando a maior parte das pessoas trabalhava durante o dia, o que já não é mais uma realidade”, diz. “Agora, as pessoas podem trabalhar onde quiserem e a qualquer momento, o que impulsiona o consumo em horários alternativos, como a madrugada.”

O especialista em varejo e fundador da Varese Retail, Alberto Serrentino, também vê uma consolidação desses novos perfis de consumos via aplicativos durante as madrugadas. Ele destaca que os pedidos noturnos, majoritariamente, têm como base a ideia de consumo imediato ou de urgência. “É claro que sair da pandemia devolve várias missões de compras para as lojas físicas, mas os hábitos enraizados neste período ficam por causa da praticidade, rapidez para itens emergenciais, ou o consumo via Whatsapp”, avalia.

Falta de segurança

Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, outro fator social que tem ajudado a alavancar o aumento nos pedidos noturnos é o crescimento da violência e criminalidade nas grandes cidades, o que deixa tanto consumidores quanto lojistas receosos de se deslocar até as unidades físicas tarde da noite, ainda mais se o motivo da visita for uma compra de indulgência, como um fardo de latas de cerveja ou um medicamento para uma dor de cabeça. “A pandemia ensinou às pessoas a consumir em casa, que é mais prático e mais seguro,” diz o professor da SBS.

Um reflexo dessa onda de criminalidade é uma mudança recente na estratégia da rede de mercadinhos Oxxo. Depois de virar alvo de arrastões em São Paulo, a companhia alterou seu slogan “Aberto 24h/dia” para “tá sempre próximo”.

No carrinho de compras

Apesar do consumo via serviços de entrega não se limitar a uma classe ou outra de produtos, alguns artigos têm se repetido com maior frequência na lista de compras dos usuários das principais plataformas.

Dados do aplicativo Rappi mostram que, da 0h às 6h, lanches, pizzas, bebidas e produtos de farmácia são os itens mais pedidos. Nesse período do dia, a taxa de cancelamento de pedidos feitos no aplicativo chega a ser até 50% menor do que durante os horários comercial e noturno. “Em dias de semana, nós temos muitos pedidos de farmácia, mas de quinta em diante, a maioria dos pedidos são de lanches e bebidas alcoólicas”, diz Luiz Tavares, diretor da vertical Mercado do Rappi Brasil.

De olho no crescimento dos pedidos na madrugada, a empresa decidiu criar uma estratégia de operação focada nessa fatia do mercado, como explica Tavares. Ele conta que, para conseguir expandir as entregas no período em que boa parte dos estabelecimentos está fechado, a companhia organizou um plano para buscar mais lojas, além de ampliar o número de entregadores nesses horários.

“Nós não cobramos mais dos usuários pelo serviço na madrugada, mas pagamos mais aos motociclistas no período. É uma tarifa dinâmica, para atrair os colaboradores”, diz.

Os especialistas da Verase Retail e da SBS são unânimes em apontar para a falta de entregadores disponíveis na madrugada como ou dos principais gargalos para a expansão das vendas e entregas na madrugada.

“Essas empresas terão o desafio de ampliar o número de trabalhadores no mercado, nem que para isso eles tenham que repensar o negócio, aumentando os custos e repassando para os consumidores. O que pode ser extremamente perigoso para o negócio”, avalia Ulysses Reis, da SBS.

Ainda segundo a startup, mesmo com o crescimento dos pedidos na madrugada, por enquanto, o maior número de operações está concentrado em São Paulo, uma vez que a capital corresponde a 70% dos pedidos dentro do aplicativo para o período. “São Paulo é sempre um termômetro. Nós imaginamos que, em breve, outras capitais podem ampliar a demanda pelo serviço”, afirma o executivo da Rappi.

Se, por um lado, a conveniência de poder acessar os pedidos via telefone impulsiona o consumo nos aplicativos, os mercadinho em condomínios residenciais que também surgiram no período de isolamento social podem ser um entrave para a consolidação desse modelo de negócio na madrugada.

Para Alberto Serrentino, da Verase Retail, a concorrência com outros modelos de negócios dependerão de uma análise dos custos para garantir uma entrega rápida mesmo em períodos de menor oferta de entregadores, sem que isso seja integralmente repassado aos consumidores. “Nós vamos ter que acompanhar o nível de sustentabilidade deste tipo de negócio,” avalia.

Opção no interior

Se as grandes empresas estão de olho, por ora, no consumo vindo das grandes cidades, alguns novatos começam a olhar para regiões de menor densidade populacional, mas com grande potencial de consumo. É o caso da startup Box Delivery, que, assim como a concorrente Rappi, organizou sua estratégia de serviço para atender também as demandas na madrugada em cidades do interior do País.

O negócio é responsável apenas pelo “last mile” - jargão do setor de logística usado para denominar as empresas que realizam apenas as entregas para terceiros. Com parceiros como Zé Delivery, Burger King, Droga Raia, Drogaria São Paulo, McDonald’s, entre outros, a startup também atende pequenos negócios, como adegas e restaurantes que funcionam na madrugada.

FR12 SAO PAULO - SP - 18/01/2023 - ECONOMIA - BOX DELIVERY - Foto do executivo da Box Delivery, Ronaldo Slav para uma matéria sobre o crescimento dos pedidos nos aplicativos de entrega em períodos fora do horário comercial e noturno. FOTO: FELIPE RAU/ESTADAO  Foto: ESTADÃO CONTEÚDO / ESTADÃO CONTEÚDO

“A madrugada para nós é muito importante. Um exemplo são os pedidos via Zé Delivery. Nós temos o maior número de pedidos na madrugada, até às 4h da manhã”, destaca o gerente comercial da empresa, Ronaldo Slav.

Ele conta que, antes da pandemia, a Box Delivery tentava ganhar espaço nas entregas durante o período comercial, mas, com a chegada da pandemia, o negócio viu uma oportunidade de expandir a operação com as suas entregas para estabelecimentos depois das 22h. “Neste período do dia, entregamos de tudo, de chinelo a joias”, relata.

Segundo a empresa, atualmente são realizadas cerca de 1 milhão de entregas por mês nas cidades em que a startup possui operações. No período após as 22h, os itens mais entregues são bebida (50%), comida (40%) e itens de farmácias (10%).

Há pouco mais de um ano, Felipe Santiago Calestini, de 30 anos, deixou o serviço de borracheiro para trabalhar na área de tecnologia do C6 Bank. Como analista de sistemas, ele teve de adaptar sua rotina ao turno da madrugada, algo que introduziu um novo hábito no seu dia a dia.

Com menos tempo para cozinhar ou se deslocar até os estabelecimentos físicos, acabou virando um cliente assíduo dos aplicativos de entrega. “Antes da pandemia, dificilmente eu pedia comida em delivery. Estava acostumado a sair do trabalho e passar para pegar um lanche ou uma pizza. Agora, seja por ‘preguiça’ ou por comodidade, acabo comprando tudo pelo celular”, conta.

Felipe Calestine é analista de sistemas no C6 e trabalha durante a madrugada. Com a maioria dos estabelecimentos fechados durante seu turno, ele precisou aderir ao consumo via aplicativos no tardar da noite. Foto: Thiago Queiroz/Estadão

Foi durante a pandemia de covid-19 que os serviços de delivery usados atualmente por Calestini se consolidaram no dia a dia de milhares de brasileiros. O período de distanciamento social fez com que pessoas que nunca tinham usado a internet para fazer compras se rendessem aos pedidos virtuais.

Depois de facilitarem o consumo ao longo do dia, os aplicativos agora estão se tornando uma opção para os clientes mais notívagos que preferem comprar na madrugada sem que tenham que se deslocar até lojas de conveniência, mercados ou adegas que funcionam 24 horas e que vivem uma certa decadência.

Na esteira do consumo da madrugada, aplicativos de entrega como Rappi, Ifood e Zé Delivery começaram a receber novos estabelecimentos que atendem até tarde da noite. Eles se transformaram numa opção que concorre diretamente com as lojas físicas, a exemplo dos mercadinhos da rede mexicana Oxxo.

Se na pré-pandemia o consumo por meio de entregas estava restrito a lanches e pizzas, ele agora abarca de bebidas alcoólicas a itens de farmácia, tudo ao alcance da palma da mão. “Por causa do meu trabalho, o delivery se tornou uma realidade na minha vida. Às vezes, no fim de semana a noite, até a cervejinha da minha esposa eu compro pelo aplicativo de entrega”, conta o analista de sistemas do C6.

Na avaliação de Ulysses Reis, especialista em varejo virtual da Strong Business School (SBS), a adesão de novos negócios aos aplicativos, principalmente os que atendem fora dos horários convencionais, ocorre por causa de uma mudança no comportamento dos consumidores no País, evidenciado durante a pandemia.

Reis afirma que o avanço do trabalho remoto ajuda a introduzir uma nova massa de consumidores ao delivery fora do horário comercial. “Nós tínhamos um modelo de trabalho totalmente diferente há dez anos, quando a maior parte das pessoas trabalhava durante o dia, o que já não é mais uma realidade”, diz. “Agora, as pessoas podem trabalhar onde quiserem e a qualquer momento, o que impulsiona o consumo em horários alternativos, como a madrugada.”

O especialista em varejo e fundador da Varese Retail, Alberto Serrentino, também vê uma consolidação desses novos perfis de consumos via aplicativos durante as madrugadas. Ele destaca que os pedidos noturnos, majoritariamente, têm como base a ideia de consumo imediato ou de urgência. “É claro que sair da pandemia devolve várias missões de compras para as lojas físicas, mas os hábitos enraizados neste período ficam por causa da praticidade, rapidez para itens emergenciais, ou o consumo via Whatsapp”, avalia.

Falta de segurança

Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, outro fator social que tem ajudado a alavancar o aumento nos pedidos noturnos é o crescimento da violência e criminalidade nas grandes cidades, o que deixa tanto consumidores quanto lojistas receosos de se deslocar até as unidades físicas tarde da noite, ainda mais se o motivo da visita for uma compra de indulgência, como um fardo de latas de cerveja ou um medicamento para uma dor de cabeça. “A pandemia ensinou às pessoas a consumir em casa, que é mais prático e mais seguro,” diz o professor da SBS.

Um reflexo dessa onda de criminalidade é uma mudança recente na estratégia da rede de mercadinhos Oxxo. Depois de virar alvo de arrastões em São Paulo, a companhia alterou seu slogan “Aberto 24h/dia” para “tá sempre próximo”.

No carrinho de compras

Apesar do consumo via serviços de entrega não se limitar a uma classe ou outra de produtos, alguns artigos têm se repetido com maior frequência na lista de compras dos usuários das principais plataformas.

Dados do aplicativo Rappi mostram que, da 0h às 6h, lanches, pizzas, bebidas e produtos de farmácia são os itens mais pedidos. Nesse período do dia, a taxa de cancelamento de pedidos feitos no aplicativo chega a ser até 50% menor do que durante os horários comercial e noturno. “Em dias de semana, nós temos muitos pedidos de farmácia, mas de quinta em diante, a maioria dos pedidos são de lanches e bebidas alcoólicas”, diz Luiz Tavares, diretor da vertical Mercado do Rappi Brasil.

De olho no crescimento dos pedidos na madrugada, a empresa decidiu criar uma estratégia de operação focada nessa fatia do mercado, como explica Tavares. Ele conta que, para conseguir expandir as entregas no período em que boa parte dos estabelecimentos está fechado, a companhia organizou um plano para buscar mais lojas, além de ampliar o número de entregadores nesses horários.

“Nós não cobramos mais dos usuários pelo serviço na madrugada, mas pagamos mais aos motociclistas no período. É uma tarifa dinâmica, para atrair os colaboradores”, diz.

Os especialistas da Verase Retail e da SBS são unânimes em apontar para a falta de entregadores disponíveis na madrugada como ou dos principais gargalos para a expansão das vendas e entregas na madrugada.

“Essas empresas terão o desafio de ampliar o número de trabalhadores no mercado, nem que para isso eles tenham que repensar o negócio, aumentando os custos e repassando para os consumidores. O que pode ser extremamente perigoso para o negócio”, avalia Ulysses Reis, da SBS.

Ainda segundo a startup, mesmo com o crescimento dos pedidos na madrugada, por enquanto, o maior número de operações está concentrado em São Paulo, uma vez que a capital corresponde a 70% dos pedidos dentro do aplicativo para o período. “São Paulo é sempre um termômetro. Nós imaginamos que, em breve, outras capitais podem ampliar a demanda pelo serviço”, afirma o executivo da Rappi.

Se, por um lado, a conveniência de poder acessar os pedidos via telefone impulsiona o consumo nos aplicativos, os mercadinho em condomínios residenciais que também surgiram no período de isolamento social podem ser um entrave para a consolidação desse modelo de negócio na madrugada.

Para Alberto Serrentino, da Verase Retail, a concorrência com outros modelos de negócios dependerão de uma análise dos custos para garantir uma entrega rápida mesmo em períodos de menor oferta de entregadores, sem que isso seja integralmente repassado aos consumidores. “Nós vamos ter que acompanhar o nível de sustentabilidade deste tipo de negócio,” avalia.

Opção no interior

Se as grandes empresas estão de olho, por ora, no consumo vindo das grandes cidades, alguns novatos começam a olhar para regiões de menor densidade populacional, mas com grande potencial de consumo. É o caso da startup Box Delivery, que, assim como a concorrente Rappi, organizou sua estratégia de serviço para atender também as demandas na madrugada em cidades do interior do País.

O negócio é responsável apenas pelo “last mile” - jargão do setor de logística usado para denominar as empresas que realizam apenas as entregas para terceiros. Com parceiros como Zé Delivery, Burger King, Droga Raia, Drogaria São Paulo, McDonald’s, entre outros, a startup também atende pequenos negócios, como adegas e restaurantes que funcionam na madrugada.

FR12 SAO PAULO - SP - 18/01/2023 - ECONOMIA - BOX DELIVERY - Foto do executivo da Box Delivery, Ronaldo Slav para uma matéria sobre o crescimento dos pedidos nos aplicativos de entrega em períodos fora do horário comercial e noturno. FOTO: FELIPE RAU/ESTADAO  Foto: ESTADÃO CONTEÚDO / ESTADÃO CONTEÚDO

“A madrugada para nós é muito importante. Um exemplo são os pedidos via Zé Delivery. Nós temos o maior número de pedidos na madrugada, até às 4h da manhã”, destaca o gerente comercial da empresa, Ronaldo Slav.

Ele conta que, antes da pandemia, a Box Delivery tentava ganhar espaço nas entregas durante o período comercial, mas, com a chegada da pandemia, o negócio viu uma oportunidade de expandir a operação com as suas entregas para estabelecimentos depois das 22h. “Neste período do dia, entregamos de tudo, de chinelo a joias”, relata.

Segundo a empresa, atualmente são realizadas cerca de 1 milhão de entregas por mês nas cidades em que a startup possui operações. No período após as 22h, os itens mais entregues são bebida (50%), comida (40%) e itens de farmácias (10%).

Há pouco mais de um ano, Felipe Santiago Calestini, de 30 anos, deixou o serviço de borracheiro para trabalhar na área de tecnologia do C6 Bank. Como analista de sistemas, ele teve de adaptar sua rotina ao turno da madrugada, algo que introduziu um novo hábito no seu dia a dia.

Com menos tempo para cozinhar ou se deslocar até os estabelecimentos físicos, acabou virando um cliente assíduo dos aplicativos de entrega. “Antes da pandemia, dificilmente eu pedia comida em delivery. Estava acostumado a sair do trabalho e passar para pegar um lanche ou uma pizza. Agora, seja por ‘preguiça’ ou por comodidade, acabo comprando tudo pelo celular”, conta.

Felipe Calestine é analista de sistemas no C6 e trabalha durante a madrugada. Com a maioria dos estabelecimentos fechados durante seu turno, ele precisou aderir ao consumo via aplicativos no tardar da noite. Foto: Thiago Queiroz/Estadão

Foi durante a pandemia de covid-19 que os serviços de delivery usados atualmente por Calestini se consolidaram no dia a dia de milhares de brasileiros. O período de distanciamento social fez com que pessoas que nunca tinham usado a internet para fazer compras se rendessem aos pedidos virtuais.

Depois de facilitarem o consumo ao longo do dia, os aplicativos agora estão se tornando uma opção para os clientes mais notívagos que preferem comprar na madrugada sem que tenham que se deslocar até lojas de conveniência, mercados ou adegas que funcionam 24 horas e que vivem uma certa decadência.

Na esteira do consumo da madrugada, aplicativos de entrega como Rappi, Ifood e Zé Delivery começaram a receber novos estabelecimentos que atendem até tarde da noite. Eles se transformaram numa opção que concorre diretamente com as lojas físicas, a exemplo dos mercadinhos da rede mexicana Oxxo.

Se na pré-pandemia o consumo por meio de entregas estava restrito a lanches e pizzas, ele agora abarca de bebidas alcoólicas a itens de farmácia, tudo ao alcance da palma da mão. “Por causa do meu trabalho, o delivery se tornou uma realidade na minha vida. Às vezes, no fim de semana a noite, até a cervejinha da minha esposa eu compro pelo aplicativo de entrega”, conta o analista de sistemas do C6.

Na avaliação de Ulysses Reis, especialista em varejo virtual da Strong Business School (SBS), a adesão de novos negócios aos aplicativos, principalmente os que atendem fora dos horários convencionais, ocorre por causa de uma mudança no comportamento dos consumidores no País, evidenciado durante a pandemia.

Reis afirma que o avanço do trabalho remoto ajuda a introduzir uma nova massa de consumidores ao delivery fora do horário comercial. “Nós tínhamos um modelo de trabalho totalmente diferente há dez anos, quando a maior parte das pessoas trabalhava durante o dia, o que já não é mais uma realidade”, diz. “Agora, as pessoas podem trabalhar onde quiserem e a qualquer momento, o que impulsiona o consumo em horários alternativos, como a madrugada.”

O especialista em varejo e fundador da Varese Retail, Alberto Serrentino, também vê uma consolidação desses novos perfis de consumos via aplicativos durante as madrugadas. Ele destaca que os pedidos noturnos, majoritariamente, têm como base a ideia de consumo imediato ou de urgência. “É claro que sair da pandemia devolve várias missões de compras para as lojas físicas, mas os hábitos enraizados neste período ficam por causa da praticidade, rapidez para itens emergenciais, ou o consumo via Whatsapp”, avalia.

Falta de segurança

Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, outro fator social que tem ajudado a alavancar o aumento nos pedidos noturnos é o crescimento da violência e criminalidade nas grandes cidades, o que deixa tanto consumidores quanto lojistas receosos de se deslocar até as unidades físicas tarde da noite, ainda mais se o motivo da visita for uma compra de indulgência, como um fardo de latas de cerveja ou um medicamento para uma dor de cabeça. “A pandemia ensinou às pessoas a consumir em casa, que é mais prático e mais seguro,” diz o professor da SBS.

Um reflexo dessa onda de criminalidade é uma mudança recente na estratégia da rede de mercadinhos Oxxo. Depois de virar alvo de arrastões em São Paulo, a companhia alterou seu slogan “Aberto 24h/dia” para “tá sempre próximo”.

No carrinho de compras

Apesar do consumo via serviços de entrega não se limitar a uma classe ou outra de produtos, alguns artigos têm se repetido com maior frequência na lista de compras dos usuários das principais plataformas.

Dados do aplicativo Rappi mostram que, da 0h às 6h, lanches, pizzas, bebidas e produtos de farmácia são os itens mais pedidos. Nesse período do dia, a taxa de cancelamento de pedidos feitos no aplicativo chega a ser até 50% menor do que durante os horários comercial e noturno. “Em dias de semana, nós temos muitos pedidos de farmácia, mas de quinta em diante, a maioria dos pedidos são de lanches e bebidas alcoólicas”, diz Luiz Tavares, diretor da vertical Mercado do Rappi Brasil.

De olho no crescimento dos pedidos na madrugada, a empresa decidiu criar uma estratégia de operação focada nessa fatia do mercado, como explica Tavares. Ele conta que, para conseguir expandir as entregas no período em que boa parte dos estabelecimentos está fechado, a companhia organizou um plano para buscar mais lojas, além de ampliar o número de entregadores nesses horários.

“Nós não cobramos mais dos usuários pelo serviço na madrugada, mas pagamos mais aos motociclistas no período. É uma tarifa dinâmica, para atrair os colaboradores”, diz.

Os especialistas da Verase Retail e da SBS são unânimes em apontar para a falta de entregadores disponíveis na madrugada como ou dos principais gargalos para a expansão das vendas e entregas na madrugada.

“Essas empresas terão o desafio de ampliar o número de trabalhadores no mercado, nem que para isso eles tenham que repensar o negócio, aumentando os custos e repassando para os consumidores. O que pode ser extremamente perigoso para o negócio”, avalia Ulysses Reis, da SBS.

Ainda segundo a startup, mesmo com o crescimento dos pedidos na madrugada, por enquanto, o maior número de operações está concentrado em São Paulo, uma vez que a capital corresponde a 70% dos pedidos dentro do aplicativo para o período. “São Paulo é sempre um termômetro. Nós imaginamos que, em breve, outras capitais podem ampliar a demanda pelo serviço”, afirma o executivo da Rappi.

Se, por um lado, a conveniência de poder acessar os pedidos via telefone impulsiona o consumo nos aplicativos, os mercadinho em condomínios residenciais que também surgiram no período de isolamento social podem ser um entrave para a consolidação desse modelo de negócio na madrugada.

Para Alberto Serrentino, da Verase Retail, a concorrência com outros modelos de negócios dependerão de uma análise dos custos para garantir uma entrega rápida mesmo em períodos de menor oferta de entregadores, sem que isso seja integralmente repassado aos consumidores. “Nós vamos ter que acompanhar o nível de sustentabilidade deste tipo de negócio,” avalia.

Opção no interior

Se as grandes empresas estão de olho, por ora, no consumo vindo das grandes cidades, alguns novatos começam a olhar para regiões de menor densidade populacional, mas com grande potencial de consumo. É o caso da startup Box Delivery, que, assim como a concorrente Rappi, organizou sua estratégia de serviço para atender também as demandas na madrugada em cidades do interior do País.

O negócio é responsável apenas pelo “last mile” - jargão do setor de logística usado para denominar as empresas que realizam apenas as entregas para terceiros. Com parceiros como Zé Delivery, Burger King, Droga Raia, Drogaria São Paulo, McDonald’s, entre outros, a startup também atende pequenos negócios, como adegas e restaurantes que funcionam na madrugada.

FR12 SAO PAULO - SP - 18/01/2023 - ECONOMIA - BOX DELIVERY - Foto do executivo da Box Delivery, Ronaldo Slav para uma matéria sobre o crescimento dos pedidos nos aplicativos de entrega em períodos fora do horário comercial e noturno. FOTO: FELIPE RAU/ESTADAO  Foto: ESTADÃO CONTEÚDO / ESTADÃO CONTEÚDO

“A madrugada para nós é muito importante. Um exemplo são os pedidos via Zé Delivery. Nós temos o maior número de pedidos na madrugada, até às 4h da manhã”, destaca o gerente comercial da empresa, Ronaldo Slav.

Ele conta que, antes da pandemia, a Box Delivery tentava ganhar espaço nas entregas durante o período comercial, mas, com a chegada da pandemia, o negócio viu uma oportunidade de expandir a operação com as suas entregas para estabelecimentos depois das 22h. “Neste período do dia, entregamos de tudo, de chinelo a joias”, relata.

Segundo a empresa, atualmente são realizadas cerca de 1 milhão de entregas por mês nas cidades em que a startup possui operações. No período após as 22h, os itens mais entregues são bebida (50%), comida (40%) e itens de farmácias (10%).

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