O termo bioeconomia foi criado para definir uma forma de produzir que leve em conta a sustentabilidade desde o princípio e ajude a combater as mudanças climáticas, mas também ajude a reduzir a pobreza e os problemas sociais, conforme a pauta ESG (ambiental, social e de governança, em inglês). Esse conceito é a base da origem da AYA Earth Partners.
Fundada em 2022 pela ex-secretária do governo do Estado de São Paulo, Patricia Ellen, e pelo empresário Alexandre Allard, a AYA se define como um “ecossistema” de empresas em busca de construir a bioeconomia. Embora o mercado de créditos de carbono seja muito citado como uma das principais áreas sustentáveis, ter cadeias produtivas que sejam sustentáveis e ajudem a remunerar pequenos produtores e empresas que necessitem, e as duas áreas terão foco.
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O ecossistema conta com seis “pacotes” para os clientes, separados por faturamento, como se fossem planos de assinaturas. São oferecidos quatro serviços diferentes: diagnóstico e mentoria para ajudar na descarbonização das empresas; conteúdo e advocacy, ou seja, relatórios exclusivos e eventos setorizados; backbone, com oferta de soluções “verdes” em finanças, tecnologia, avaliação e certificação, consultoria e jurídico; e acesso o AYA Hub.
O AYA Hub é um espaço de aproximadamente 2,5 mil m² dentro do complexo Cidade Matarazzo, em São Paulo, e conta com espaços de trabalho, convivência, estrutura para eventos e produção de conteúdo. Repleto de plantas e pensado para estimular reuniões e servir para eventos, o local traz a mensagem da sustentabilidade, com cipós do lado das janelas, iluminação e circulação de ar naturais presentes.
O hub tem espaços para escritórios fechados, auditórios e um terraço para realização de eventos, além de áreas coletivas com sofás e cadeiras dispostos em formato circular ou retangular, para as conversas. Os móveis são de madeira de lei, e alguns, de segunda mão. Segundo Ellen, a ideia é fomentar trocas de ideias entre diferentes setores. “A gente precisou criar um espaço que promovesse essa qualidade das interações. Ou seja, que vale a pena vir. O que traz as pessoas para cá é a qualidade do que você aprende aqui, e todo mundo quer aprender”, comenta.
Parte do espaço físico ainda está em obras, para comportar mais salas reservadas para os membros que tiverem essa possibilidade no pacote. Segundo a empresa, a previsão é de mais de mil pessoas em convívio, circulando e acessando os serviços do ecossistema AYA Hub semanalmente “no curto prazo”.
Os planos vão desde R$ 6 mil, que disponibiliza os serviços de mentoria e conteúdo, até R$ 1 milhão, para os que contém todas as funcionalidades. O acesso ao espaço físico é permitido a partir do segundo pacote mais barato (R$ 16 mil) e os serviços de backbone, do terceiro menos custoso (R$ 35 mil). Já no lançamento, a AYA Earth Partners contava com 30 parceiros, dentre os quais o banco Bradesco, a consultoria Deloitte, o iFood e outras ligadas à economia ambiental como SOS Mata Atlântica, Fundação Amazônia Sustentável e a Ramboll, de energia renovável.
Inspiração
De acordo com a fundadora do ecossistema, a AYA surgiu a partir da percepção de que o Brasil estava em boa parte distante do debate sobre a bioeconomia, apesar de contar com ecossistemas classificados entre os mais biodiversos do mundo. Embora a situação tenha avançado após a troca de governos, o papel do setor privado ainda é primordial para atingir o net zero, ou seja, a neutralidade das emissões de carbono, quando se reduz o lançamento de gases de efeito estufa na atmosfera o máximo possível e o restante é compensado de outras maneiras.
Por isso, o AYA Earth Partners busca se destacar como o primeiro ecossistema do tipo com base no Sul Global, ou seja, nos países em desenvolvimento. Mas, para além da corrida para o net-zero, Ellen ainda destaca a corrida por um modelo de desenvolvimento econômico que seja inclusivo e não baseado apenas na extração pura e simples de recursos naturais.
“Queremos colocar o Brasil como protagonista dessa transformação pro novo modelo de desenvolvimento econômico. Temos a urgência da gente mudar o modelo. Somos um dos maiores produtores de commodities e um dos lanterninhas na exportação de produtos voltados à natureza. Não faz sentido”, comenta a fundadora do AYA.
Assim, após ouvir integrantes de empresas sobre as demandas para essa transição, os serviços foram lançados. Muitas informaram não saber nem por onde começar a jornada, por isso a mentoria; outros, a necessidade de conversas com entidades públicas, privadas e do terceiro setor, por isso a parte de conteúdos e eventos.
Já o espaço físico surge como uma necessidade para um contato constante - como se fosse um fórum permanente. Ellen cita como exemplo a busca na economia circular por resolver os problemas do lixo. “Procuramos ajudar na redução do desperdício de alimentos, passando por produtores, vendedores e consumidores, até as startups que contam com tecnologia na gestão de aterros. Vai ter dias de eventos onde a gente vai juntar as startups, as empresas de alimentos, as empresas de resíduos, todas juntos, para trabalhar em soluções”, projeta.
Outro ponto é a intenção é estar em contato com quem pode fazer uma economia da floresta em pé, principalmente povos tradicionais como indígenas, quilombolas e populações ribeirinhas. Escritórios ficarão reservados para representantes dos povos no AYA Hub.
Para o futuro, além de buscar mais parceiros para o ecossistema, o AYA Earth Partners visa reforçar a governança através da criação de alguns comitês, como um focado na indústria e outro nos biomas brasileiros. Uma busca por interlocução maior com entes governamentais e a academia também está prevista, para a realização de projetos em conjunto e resolução de problemas.
Ellen resume a abordagem “ecossistêmica” do AYA na necessidade de realizar duas corridas diferentes: pelo net zero e pelas pessoas. “O carbono é importantíssimo, mas é algo distante da realidade das pessoas que vivem nas florestas. As pessoas precisam de atividade econômica. Precisam ser remuneradas por serviços ambientais. Precisam desenvolver novas cadeias produtivas para que isso seja sustentável”, comenta.
Por isso, os dois temas são intimamente ligados, o que transparece nas conversas. “Eu sempre digo para os parceiros e clientes: a gente vai ajudar no carbono, mas se eu ajudar em carbono você vai ter que me ajudar na fome e na bioeconomia? Nenhuma organização hoje pode pensar que vai resolver o clima, sem resolver desigualdades”, conclui.