Juro alto leva os jovens a ‘abandonar’ a Bolsa de Valores


Idade média do investidor na Bolsa de valores vinha em trajetória de queda, recuando quase 11 anos desde 2016 até 2021, mas voltou a subir em 2022 e 2023

Por Lucas Agrela e Wesley Gonsalves
Atualização:

Para realizar alguns sonhos - como viagens, ou comprar um imóvel próprio - a produtora audiovisual Lívia Silva, 28 anos, prefere manter seu dinheiro em um ambiente “mais seguro”. A jovem utiliza apenas investimentos de alta liquidez e lastreados pela Selic. Assim, ela mantém todas as suas economias no modelo de CDB de um grande banco digital. Para a jovem, mesmo guardando dinheiro para realizar projetos de longo prazo, no futuro, investir na Bolsa de Valores é um plano fora de cogitação. “Eu gosto de saber que posso usar meus investimentos a qualquer momento. Além de não ter medo de que o preço caia e eu vá ‘perder’ dinheiro do dia para a noite”, diz.

A visão de Lívia é compartilhada por milhares de jovens no País, que no último ano têm deixado de diversificar seus investimentos na Bolsa diante de um cenário não muito “convidativo” para a chegada no mercado de capitais. Os números mostram essa tendência desde o ano passado, marcado por uma trajetória de alta na taxa de juros, a Selic, que levou os ganhos garantidos oferecidos em produtos de renda fixa.

O produtor musical Pedro Angulo, 21, já teve investimentos em fundos de ações, mas optou por resgatar todas as suas ações nos últimos meses, porque não via mais relevância em deixar o dinheiro parado na aplicação. “Não tenho interesse em investir meu dinheiro nos próximos meses e até anos. Considero muito arriscado. Acho que é um lance geracional. Não ter consciência ou ignorar a possibilidade de que ter dinheiro no futuro investindo para o longo prazo”, diz.

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Um levantamento feito pela B3, a pedido do Estadão, mostra que a idade média do investidor na Bolsa de valores vinha em trajetória de queda, recuando quase 11 anos desde 2016 até 2021, passando de 49,66 anos, para 37,93 anos, escancarando um movimento de rejuvenescimento do mercado brasileiro de capitais.

No ano passado, no entanto, esse indicador voltou a subir. Ao analisar o número total de investidores pessoa física, em 2022, a B3 percebeu que a idade média das contas chegou a 39,68 anos de idade, superando o resultado registrado em 2020, quando a idade média do público era de 39,33 anos de idade.

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Na comparação entre os anos, em 2021, a B3 tinha pouco mais de 5 milhões de brasileiros com contas cadastradas na B3, dos quais 62% dos investidores tinham menos de 40 anos de idade. Já em 2023, conforme os últimos dados da B3, o percentual de contas de pessoa física cadastradas para a mesma faixa etária caiu 3% e chegou a 59% do total de investidores.

Apesar do curto espaço de tempo, esse “envelhecimento” do perfil de investidores da B3 também se mantém quando analisados os dados preliminares para 2023. Nos dois primeiros meses deste ano, a idade média do público subiu para 40,48.

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A idade média do investidor na Bolsa subiu em 2022 Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 03/09

‘Pior ano desde 1971′

Cauê Mançanares, CEO da gestora de investimentos Investo, diz que 2022 foi um ano atípico que afastou investidores. “O ano passado foi o pior ano desde 1971 para rendimentos em renda variável e renda fixa. Para muita gente, é difícil de ‘engolir’ uma performance muito ruim depois de 14 anos de alta nos mercados globais. Todos os investidores têm se afastado da Bolsa por medo, não só os jovens. Eles tendem a segurar o capital mais do que investi-lo. O jovem não passou por crises. O mais experiente sabe que isso faz parte do movimento cíclico do mercado”, diz.

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Para Jayme Carvalho, planejador financeiro pela Planejar, não só o jovem, mas o público em geral têm olhado mais para a renda fixa em 2023. “Temos visto uma maior concorrência da renda fixa, dado que os juros estão altos e a inflação também está alta. Isso traz uma demanda por produtos de renda fixa, sejam produtos que paguem o CDI ou um percentual do CDI, ou mesmo um produto que pague um valor indexado à inflação”, diz. O planejador afirma ainda que, independentemente da idade, o investidor precisa ter clareza em relação aos motivos que o levam a investir para obter os melhores resultados no prazo desejado.

Marília Fontes, analista de renda fixa co-fundadora da casa de análise de investimentos Nord Research, ressalta que a fuga de jovens da Bolsa tem ligação com o aumento do desemprego entre as pessoas com menos de 40 anos. “O que mais percebo é gente querendo complementar a renda na aposentadoria. A bolsa não ficou tão bem e muitas pessoas foram para títulos de longo prazo e de aposentadoria”, diz, citando a boa aceitação do mercado em relação ao título do Tesouro Direto Renda+, lançado neste ano para complementar a aposentadoria.

Na visão de Fontes, ainda não é o melhor momento para o investidor montar uma posição de renda variável compatível com o seu perfil de risco. “Há muito medo de recessão no mundo, mas é preciso desaquecer a economia. Talvez tenhamos que conviver muito mais tempo com inflação e juro alto”, afirma.

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Já Marco Noernberg, líder de renda variável da Manchester, diz que os cenários nacional e internacional não têm colaborado muito para atrair os jovens investidores para o mercado de capitais. O analista pontua que como a Bolsa opera com ciclos de alta e baixa, quem chega hoje ao mercado pode ficar “assustado” com o ciclo de queda. “Neste momento, nada favorece a bolsa de valores,” afirma. “As pessoas entram na alta da Bolsa e saem quando ela está em baixa. Tinha que ser justamente o contrário.”

Para o analista da Manchester, a falta de educação financeira e sobre o mecanismo do mercado de capitais em relação aos mais novos também atrapalha a expansão do número de investidores no País. Contudo, ele acredita que os novatos precisam ter cuidado com alguns influenciadores digitais que prometem rendimentos estratosféricos e acabam iludindo e vendendo uma falsa impressão de ganhos rápidos para quem tem pouca, ou pouquíssima familiaridade com a Bolsa. “Não quero generalizar, porque tem muitos criadores de conteúdo sérios, que fazem bons trabalhos. Mas também temos pessoas que prometem lucros de x% e esse tipo de promessa de lucratividade em Bolsa é furado”, destaca.

Para realizar alguns sonhos - como viagens, ou comprar um imóvel próprio - a produtora audiovisual Lívia Silva, 28 anos, prefere manter seu dinheiro em um ambiente “mais seguro”. A jovem utiliza apenas investimentos de alta liquidez e lastreados pela Selic. Assim, ela mantém todas as suas economias no modelo de CDB de um grande banco digital. Para a jovem, mesmo guardando dinheiro para realizar projetos de longo prazo, no futuro, investir na Bolsa de Valores é um plano fora de cogitação. “Eu gosto de saber que posso usar meus investimentos a qualquer momento. Além de não ter medo de que o preço caia e eu vá ‘perder’ dinheiro do dia para a noite”, diz.

A visão de Lívia é compartilhada por milhares de jovens no País, que no último ano têm deixado de diversificar seus investimentos na Bolsa diante de um cenário não muito “convidativo” para a chegada no mercado de capitais. Os números mostram essa tendência desde o ano passado, marcado por uma trajetória de alta na taxa de juros, a Selic, que levou os ganhos garantidos oferecidos em produtos de renda fixa.

O produtor musical Pedro Angulo, 21, já teve investimentos em fundos de ações, mas optou por resgatar todas as suas ações nos últimos meses, porque não via mais relevância em deixar o dinheiro parado na aplicação. “Não tenho interesse em investir meu dinheiro nos próximos meses e até anos. Considero muito arriscado. Acho que é um lance geracional. Não ter consciência ou ignorar a possibilidade de que ter dinheiro no futuro investindo para o longo prazo”, diz.

Um levantamento feito pela B3, a pedido do Estadão, mostra que a idade média do investidor na Bolsa de valores vinha em trajetória de queda, recuando quase 11 anos desde 2016 até 2021, passando de 49,66 anos, para 37,93 anos, escancarando um movimento de rejuvenescimento do mercado brasileiro de capitais.

No ano passado, no entanto, esse indicador voltou a subir. Ao analisar o número total de investidores pessoa física, em 2022, a B3 percebeu que a idade média das contas chegou a 39,68 anos de idade, superando o resultado registrado em 2020, quando a idade média do público era de 39,33 anos de idade.

Na comparação entre os anos, em 2021, a B3 tinha pouco mais de 5 milhões de brasileiros com contas cadastradas na B3, dos quais 62% dos investidores tinham menos de 40 anos de idade. Já em 2023, conforme os últimos dados da B3, o percentual de contas de pessoa física cadastradas para a mesma faixa etária caiu 3% e chegou a 59% do total de investidores.

Apesar do curto espaço de tempo, esse “envelhecimento” do perfil de investidores da B3 também se mantém quando analisados os dados preliminares para 2023. Nos dois primeiros meses deste ano, a idade média do público subiu para 40,48.

A idade média do investidor na Bolsa subiu em 2022 Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 03/09

‘Pior ano desde 1971′

Cauê Mançanares, CEO da gestora de investimentos Investo, diz que 2022 foi um ano atípico que afastou investidores. “O ano passado foi o pior ano desde 1971 para rendimentos em renda variável e renda fixa. Para muita gente, é difícil de ‘engolir’ uma performance muito ruim depois de 14 anos de alta nos mercados globais. Todos os investidores têm se afastado da Bolsa por medo, não só os jovens. Eles tendem a segurar o capital mais do que investi-lo. O jovem não passou por crises. O mais experiente sabe que isso faz parte do movimento cíclico do mercado”, diz.

Para Jayme Carvalho, planejador financeiro pela Planejar, não só o jovem, mas o público em geral têm olhado mais para a renda fixa em 2023. “Temos visto uma maior concorrência da renda fixa, dado que os juros estão altos e a inflação também está alta. Isso traz uma demanda por produtos de renda fixa, sejam produtos que paguem o CDI ou um percentual do CDI, ou mesmo um produto que pague um valor indexado à inflação”, diz. O planejador afirma ainda que, independentemente da idade, o investidor precisa ter clareza em relação aos motivos que o levam a investir para obter os melhores resultados no prazo desejado.

Marília Fontes, analista de renda fixa co-fundadora da casa de análise de investimentos Nord Research, ressalta que a fuga de jovens da Bolsa tem ligação com o aumento do desemprego entre as pessoas com menos de 40 anos. “O que mais percebo é gente querendo complementar a renda na aposentadoria. A bolsa não ficou tão bem e muitas pessoas foram para títulos de longo prazo e de aposentadoria”, diz, citando a boa aceitação do mercado em relação ao título do Tesouro Direto Renda+, lançado neste ano para complementar a aposentadoria.

Na visão de Fontes, ainda não é o melhor momento para o investidor montar uma posição de renda variável compatível com o seu perfil de risco. “Há muito medo de recessão no mundo, mas é preciso desaquecer a economia. Talvez tenhamos que conviver muito mais tempo com inflação e juro alto”, afirma.

Já Marco Noernberg, líder de renda variável da Manchester, diz que os cenários nacional e internacional não têm colaborado muito para atrair os jovens investidores para o mercado de capitais. O analista pontua que como a Bolsa opera com ciclos de alta e baixa, quem chega hoje ao mercado pode ficar “assustado” com o ciclo de queda. “Neste momento, nada favorece a bolsa de valores,” afirma. “As pessoas entram na alta da Bolsa e saem quando ela está em baixa. Tinha que ser justamente o contrário.”

Para o analista da Manchester, a falta de educação financeira e sobre o mecanismo do mercado de capitais em relação aos mais novos também atrapalha a expansão do número de investidores no País. Contudo, ele acredita que os novatos precisam ter cuidado com alguns influenciadores digitais que prometem rendimentos estratosféricos e acabam iludindo e vendendo uma falsa impressão de ganhos rápidos para quem tem pouca, ou pouquíssima familiaridade com a Bolsa. “Não quero generalizar, porque tem muitos criadores de conteúdo sérios, que fazem bons trabalhos. Mas também temos pessoas que prometem lucros de x% e esse tipo de promessa de lucratividade em Bolsa é furado”, destaca.

Para realizar alguns sonhos - como viagens, ou comprar um imóvel próprio - a produtora audiovisual Lívia Silva, 28 anos, prefere manter seu dinheiro em um ambiente “mais seguro”. A jovem utiliza apenas investimentos de alta liquidez e lastreados pela Selic. Assim, ela mantém todas as suas economias no modelo de CDB de um grande banco digital. Para a jovem, mesmo guardando dinheiro para realizar projetos de longo prazo, no futuro, investir na Bolsa de Valores é um plano fora de cogitação. “Eu gosto de saber que posso usar meus investimentos a qualquer momento. Além de não ter medo de que o preço caia e eu vá ‘perder’ dinheiro do dia para a noite”, diz.

A visão de Lívia é compartilhada por milhares de jovens no País, que no último ano têm deixado de diversificar seus investimentos na Bolsa diante de um cenário não muito “convidativo” para a chegada no mercado de capitais. Os números mostram essa tendência desde o ano passado, marcado por uma trajetória de alta na taxa de juros, a Selic, que levou os ganhos garantidos oferecidos em produtos de renda fixa.

O produtor musical Pedro Angulo, 21, já teve investimentos em fundos de ações, mas optou por resgatar todas as suas ações nos últimos meses, porque não via mais relevância em deixar o dinheiro parado na aplicação. “Não tenho interesse em investir meu dinheiro nos próximos meses e até anos. Considero muito arriscado. Acho que é um lance geracional. Não ter consciência ou ignorar a possibilidade de que ter dinheiro no futuro investindo para o longo prazo”, diz.

Um levantamento feito pela B3, a pedido do Estadão, mostra que a idade média do investidor na Bolsa de valores vinha em trajetória de queda, recuando quase 11 anos desde 2016 até 2021, passando de 49,66 anos, para 37,93 anos, escancarando um movimento de rejuvenescimento do mercado brasileiro de capitais.

No ano passado, no entanto, esse indicador voltou a subir. Ao analisar o número total de investidores pessoa física, em 2022, a B3 percebeu que a idade média das contas chegou a 39,68 anos de idade, superando o resultado registrado em 2020, quando a idade média do público era de 39,33 anos de idade.

Na comparação entre os anos, em 2021, a B3 tinha pouco mais de 5 milhões de brasileiros com contas cadastradas na B3, dos quais 62% dos investidores tinham menos de 40 anos de idade. Já em 2023, conforme os últimos dados da B3, o percentual de contas de pessoa física cadastradas para a mesma faixa etária caiu 3% e chegou a 59% do total de investidores.

Apesar do curto espaço de tempo, esse “envelhecimento” do perfil de investidores da B3 também se mantém quando analisados os dados preliminares para 2023. Nos dois primeiros meses deste ano, a idade média do público subiu para 40,48.

A idade média do investidor na Bolsa subiu em 2022 Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 03/09

‘Pior ano desde 1971′

Cauê Mançanares, CEO da gestora de investimentos Investo, diz que 2022 foi um ano atípico que afastou investidores. “O ano passado foi o pior ano desde 1971 para rendimentos em renda variável e renda fixa. Para muita gente, é difícil de ‘engolir’ uma performance muito ruim depois de 14 anos de alta nos mercados globais. Todos os investidores têm se afastado da Bolsa por medo, não só os jovens. Eles tendem a segurar o capital mais do que investi-lo. O jovem não passou por crises. O mais experiente sabe que isso faz parte do movimento cíclico do mercado”, diz.

Para Jayme Carvalho, planejador financeiro pela Planejar, não só o jovem, mas o público em geral têm olhado mais para a renda fixa em 2023. “Temos visto uma maior concorrência da renda fixa, dado que os juros estão altos e a inflação também está alta. Isso traz uma demanda por produtos de renda fixa, sejam produtos que paguem o CDI ou um percentual do CDI, ou mesmo um produto que pague um valor indexado à inflação”, diz. O planejador afirma ainda que, independentemente da idade, o investidor precisa ter clareza em relação aos motivos que o levam a investir para obter os melhores resultados no prazo desejado.

Marília Fontes, analista de renda fixa co-fundadora da casa de análise de investimentos Nord Research, ressalta que a fuga de jovens da Bolsa tem ligação com o aumento do desemprego entre as pessoas com menos de 40 anos. “O que mais percebo é gente querendo complementar a renda na aposentadoria. A bolsa não ficou tão bem e muitas pessoas foram para títulos de longo prazo e de aposentadoria”, diz, citando a boa aceitação do mercado em relação ao título do Tesouro Direto Renda+, lançado neste ano para complementar a aposentadoria.

Na visão de Fontes, ainda não é o melhor momento para o investidor montar uma posição de renda variável compatível com o seu perfil de risco. “Há muito medo de recessão no mundo, mas é preciso desaquecer a economia. Talvez tenhamos que conviver muito mais tempo com inflação e juro alto”, afirma.

Já Marco Noernberg, líder de renda variável da Manchester, diz que os cenários nacional e internacional não têm colaborado muito para atrair os jovens investidores para o mercado de capitais. O analista pontua que como a Bolsa opera com ciclos de alta e baixa, quem chega hoje ao mercado pode ficar “assustado” com o ciclo de queda. “Neste momento, nada favorece a bolsa de valores,” afirma. “As pessoas entram na alta da Bolsa e saem quando ela está em baixa. Tinha que ser justamente o contrário.”

Para o analista da Manchester, a falta de educação financeira e sobre o mecanismo do mercado de capitais em relação aos mais novos também atrapalha a expansão do número de investidores no País. Contudo, ele acredita que os novatos precisam ter cuidado com alguns influenciadores digitais que prometem rendimentos estratosféricos e acabam iludindo e vendendo uma falsa impressão de ganhos rápidos para quem tem pouca, ou pouquíssima familiaridade com a Bolsa. “Não quero generalizar, porque tem muitos criadores de conteúdo sérios, que fazem bons trabalhos. Mas também temos pessoas que prometem lucros de x% e esse tipo de promessa de lucratividade em Bolsa é furado”, destaca.

Para realizar alguns sonhos - como viagens, ou comprar um imóvel próprio - a produtora audiovisual Lívia Silva, 28 anos, prefere manter seu dinheiro em um ambiente “mais seguro”. A jovem utiliza apenas investimentos de alta liquidez e lastreados pela Selic. Assim, ela mantém todas as suas economias no modelo de CDB de um grande banco digital. Para a jovem, mesmo guardando dinheiro para realizar projetos de longo prazo, no futuro, investir na Bolsa de Valores é um plano fora de cogitação. “Eu gosto de saber que posso usar meus investimentos a qualquer momento. Além de não ter medo de que o preço caia e eu vá ‘perder’ dinheiro do dia para a noite”, diz.

A visão de Lívia é compartilhada por milhares de jovens no País, que no último ano têm deixado de diversificar seus investimentos na Bolsa diante de um cenário não muito “convidativo” para a chegada no mercado de capitais. Os números mostram essa tendência desde o ano passado, marcado por uma trajetória de alta na taxa de juros, a Selic, que levou os ganhos garantidos oferecidos em produtos de renda fixa.

O produtor musical Pedro Angulo, 21, já teve investimentos em fundos de ações, mas optou por resgatar todas as suas ações nos últimos meses, porque não via mais relevância em deixar o dinheiro parado na aplicação. “Não tenho interesse em investir meu dinheiro nos próximos meses e até anos. Considero muito arriscado. Acho que é um lance geracional. Não ter consciência ou ignorar a possibilidade de que ter dinheiro no futuro investindo para o longo prazo”, diz.

Um levantamento feito pela B3, a pedido do Estadão, mostra que a idade média do investidor na Bolsa de valores vinha em trajetória de queda, recuando quase 11 anos desde 2016 até 2021, passando de 49,66 anos, para 37,93 anos, escancarando um movimento de rejuvenescimento do mercado brasileiro de capitais.

No ano passado, no entanto, esse indicador voltou a subir. Ao analisar o número total de investidores pessoa física, em 2022, a B3 percebeu que a idade média das contas chegou a 39,68 anos de idade, superando o resultado registrado em 2020, quando a idade média do público era de 39,33 anos de idade.

Na comparação entre os anos, em 2021, a B3 tinha pouco mais de 5 milhões de brasileiros com contas cadastradas na B3, dos quais 62% dos investidores tinham menos de 40 anos de idade. Já em 2023, conforme os últimos dados da B3, o percentual de contas de pessoa física cadastradas para a mesma faixa etária caiu 3% e chegou a 59% do total de investidores.

Apesar do curto espaço de tempo, esse “envelhecimento” do perfil de investidores da B3 também se mantém quando analisados os dados preliminares para 2023. Nos dois primeiros meses deste ano, a idade média do público subiu para 40,48.

A idade média do investidor na Bolsa subiu em 2022 Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 03/09

‘Pior ano desde 1971′

Cauê Mançanares, CEO da gestora de investimentos Investo, diz que 2022 foi um ano atípico que afastou investidores. “O ano passado foi o pior ano desde 1971 para rendimentos em renda variável e renda fixa. Para muita gente, é difícil de ‘engolir’ uma performance muito ruim depois de 14 anos de alta nos mercados globais. Todos os investidores têm se afastado da Bolsa por medo, não só os jovens. Eles tendem a segurar o capital mais do que investi-lo. O jovem não passou por crises. O mais experiente sabe que isso faz parte do movimento cíclico do mercado”, diz.

Para Jayme Carvalho, planejador financeiro pela Planejar, não só o jovem, mas o público em geral têm olhado mais para a renda fixa em 2023. “Temos visto uma maior concorrência da renda fixa, dado que os juros estão altos e a inflação também está alta. Isso traz uma demanda por produtos de renda fixa, sejam produtos que paguem o CDI ou um percentual do CDI, ou mesmo um produto que pague um valor indexado à inflação”, diz. O planejador afirma ainda que, independentemente da idade, o investidor precisa ter clareza em relação aos motivos que o levam a investir para obter os melhores resultados no prazo desejado.

Marília Fontes, analista de renda fixa co-fundadora da casa de análise de investimentos Nord Research, ressalta que a fuga de jovens da Bolsa tem ligação com o aumento do desemprego entre as pessoas com menos de 40 anos. “O que mais percebo é gente querendo complementar a renda na aposentadoria. A bolsa não ficou tão bem e muitas pessoas foram para títulos de longo prazo e de aposentadoria”, diz, citando a boa aceitação do mercado em relação ao título do Tesouro Direto Renda+, lançado neste ano para complementar a aposentadoria.

Na visão de Fontes, ainda não é o melhor momento para o investidor montar uma posição de renda variável compatível com o seu perfil de risco. “Há muito medo de recessão no mundo, mas é preciso desaquecer a economia. Talvez tenhamos que conviver muito mais tempo com inflação e juro alto”, afirma.

Já Marco Noernberg, líder de renda variável da Manchester, diz que os cenários nacional e internacional não têm colaborado muito para atrair os jovens investidores para o mercado de capitais. O analista pontua que como a Bolsa opera com ciclos de alta e baixa, quem chega hoje ao mercado pode ficar “assustado” com o ciclo de queda. “Neste momento, nada favorece a bolsa de valores,” afirma. “As pessoas entram na alta da Bolsa e saem quando ela está em baixa. Tinha que ser justamente o contrário.”

Para o analista da Manchester, a falta de educação financeira e sobre o mecanismo do mercado de capitais em relação aos mais novos também atrapalha a expansão do número de investidores no País. Contudo, ele acredita que os novatos precisam ter cuidado com alguns influenciadores digitais que prometem rendimentos estratosféricos e acabam iludindo e vendendo uma falsa impressão de ganhos rápidos para quem tem pouca, ou pouquíssima familiaridade com a Bolsa. “Não quero generalizar, porque tem muitos criadores de conteúdo sérios, que fazem bons trabalhos. Mas também temos pessoas que prometem lucros de x% e esse tipo de promessa de lucratividade em Bolsa é furado”, destaca.

Para realizar alguns sonhos - como viagens, ou comprar um imóvel próprio - a produtora audiovisual Lívia Silva, 28 anos, prefere manter seu dinheiro em um ambiente “mais seguro”. A jovem utiliza apenas investimentos de alta liquidez e lastreados pela Selic. Assim, ela mantém todas as suas economias no modelo de CDB de um grande banco digital. Para a jovem, mesmo guardando dinheiro para realizar projetos de longo prazo, no futuro, investir na Bolsa de Valores é um plano fora de cogitação. “Eu gosto de saber que posso usar meus investimentos a qualquer momento. Além de não ter medo de que o preço caia e eu vá ‘perder’ dinheiro do dia para a noite”, diz.

A visão de Lívia é compartilhada por milhares de jovens no País, que no último ano têm deixado de diversificar seus investimentos na Bolsa diante de um cenário não muito “convidativo” para a chegada no mercado de capitais. Os números mostram essa tendência desde o ano passado, marcado por uma trajetória de alta na taxa de juros, a Selic, que levou os ganhos garantidos oferecidos em produtos de renda fixa.

O produtor musical Pedro Angulo, 21, já teve investimentos em fundos de ações, mas optou por resgatar todas as suas ações nos últimos meses, porque não via mais relevância em deixar o dinheiro parado na aplicação. “Não tenho interesse em investir meu dinheiro nos próximos meses e até anos. Considero muito arriscado. Acho que é um lance geracional. Não ter consciência ou ignorar a possibilidade de que ter dinheiro no futuro investindo para o longo prazo”, diz.

Um levantamento feito pela B3, a pedido do Estadão, mostra que a idade média do investidor na Bolsa de valores vinha em trajetória de queda, recuando quase 11 anos desde 2016 até 2021, passando de 49,66 anos, para 37,93 anos, escancarando um movimento de rejuvenescimento do mercado brasileiro de capitais.

No ano passado, no entanto, esse indicador voltou a subir. Ao analisar o número total de investidores pessoa física, em 2022, a B3 percebeu que a idade média das contas chegou a 39,68 anos de idade, superando o resultado registrado em 2020, quando a idade média do público era de 39,33 anos de idade.

Na comparação entre os anos, em 2021, a B3 tinha pouco mais de 5 milhões de brasileiros com contas cadastradas na B3, dos quais 62% dos investidores tinham menos de 40 anos de idade. Já em 2023, conforme os últimos dados da B3, o percentual de contas de pessoa física cadastradas para a mesma faixa etária caiu 3% e chegou a 59% do total de investidores.

Apesar do curto espaço de tempo, esse “envelhecimento” do perfil de investidores da B3 também se mantém quando analisados os dados preliminares para 2023. Nos dois primeiros meses deste ano, a idade média do público subiu para 40,48.

A idade média do investidor na Bolsa subiu em 2022 Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 03/09

‘Pior ano desde 1971′

Cauê Mançanares, CEO da gestora de investimentos Investo, diz que 2022 foi um ano atípico que afastou investidores. “O ano passado foi o pior ano desde 1971 para rendimentos em renda variável e renda fixa. Para muita gente, é difícil de ‘engolir’ uma performance muito ruim depois de 14 anos de alta nos mercados globais. Todos os investidores têm se afastado da Bolsa por medo, não só os jovens. Eles tendem a segurar o capital mais do que investi-lo. O jovem não passou por crises. O mais experiente sabe que isso faz parte do movimento cíclico do mercado”, diz.

Para Jayme Carvalho, planejador financeiro pela Planejar, não só o jovem, mas o público em geral têm olhado mais para a renda fixa em 2023. “Temos visto uma maior concorrência da renda fixa, dado que os juros estão altos e a inflação também está alta. Isso traz uma demanda por produtos de renda fixa, sejam produtos que paguem o CDI ou um percentual do CDI, ou mesmo um produto que pague um valor indexado à inflação”, diz. O planejador afirma ainda que, independentemente da idade, o investidor precisa ter clareza em relação aos motivos que o levam a investir para obter os melhores resultados no prazo desejado.

Marília Fontes, analista de renda fixa co-fundadora da casa de análise de investimentos Nord Research, ressalta que a fuga de jovens da Bolsa tem ligação com o aumento do desemprego entre as pessoas com menos de 40 anos. “O que mais percebo é gente querendo complementar a renda na aposentadoria. A bolsa não ficou tão bem e muitas pessoas foram para títulos de longo prazo e de aposentadoria”, diz, citando a boa aceitação do mercado em relação ao título do Tesouro Direto Renda+, lançado neste ano para complementar a aposentadoria.

Na visão de Fontes, ainda não é o melhor momento para o investidor montar uma posição de renda variável compatível com o seu perfil de risco. “Há muito medo de recessão no mundo, mas é preciso desaquecer a economia. Talvez tenhamos que conviver muito mais tempo com inflação e juro alto”, afirma.

Já Marco Noernberg, líder de renda variável da Manchester, diz que os cenários nacional e internacional não têm colaborado muito para atrair os jovens investidores para o mercado de capitais. O analista pontua que como a Bolsa opera com ciclos de alta e baixa, quem chega hoje ao mercado pode ficar “assustado” com o ciclo de queda. “Neste momento, nada favorece a bolsa de valores,” afirma. “As pessoas entram na alta da Bolsa e saem quando ela está em baixa. Tinha que ser justamente o contrário.”

Para o analista da Manchester, a falta de educação financeira e sobre o mecanismo do mercado de capitais em relação aos mais novos também atrapalha a expansão do número de investidores no País. Contudo, ele acredita que os novatos precisam ter cuidado com alguns influenciadores digitais que prometem rendimentos estratosféricos e acabam iludindo e vendendo uma falsa impressão de ganhos rápidos para quem tem pouca, ou pouquíssima familiaridade com a Bolsa. “Não quero generalizar, porque tem muitos criadores de conteúdo sérios, que fazem bons trabalhos. Mas também temos pessoas que prometem lucros de x% e esse tipo de promessa de lucratividade em Bolsa é furado”, destaca.

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