O Bradesco vai se unir ao BV (ex-Banco Votorantim) na área de investimentos para complementar sua oferta com produtos mais complexos (mais expostos ao risco de mercado). Para isso, o segundo maior banco privado do País vai comprar 51% da gestora BV DTVM, que hoje tem R$ 41 bilhões sob gestão. A nova marca do negócio ainda não foi definida, segundo os novos sócios. O negócio ainda está sujeito às aprovações do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Hoje, a BV DTVM é a nona maior gestora de fundos imobiliários, de acordo com ranking da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). No ranking geral, a Bradesco Asset (Bram), gestora do Bradesco, é a terceira maior, atrás das gestoras do Itaú e do Banco do Brasil. A Bram tem R$ 544 bilhões sob gestão, enquanto o BV DTVM concentra R$ 41 bilhões.
“Nossa ideia desde o princípio foi ter uma asset que continuasse com o perfil independente”, disse ao Broadcast Roberto Paris, diretor executivo do Bradesco. “Pensamos em criar um negócio, mas entendemos que fazia mais sentido buscar algum parceiro que já estivesse no mercado.”
O BV foi escolhido por sua experiência na criação de produtos de investimento mais complexos, como fundos imobiliários, de crédito e de participação, afirma o executivo. Estes tipos de fundo complementam, de acordo com ele, a oferta da Bram.
Com a parceria entre Bradesco e BV, uma nova empresa será criada a partir da carteira gerida e da estrutura da atual BV DTVM, após a compra de 51% do capital da companhia pelo banco da Cidade de Deus.
O movimento tem como pano de fundo a busca dos brasileiros por diversificação de investimentos, movimento que se mantém mesmo com a alta de juros, mas ganhou novos vieses. “No passado, havia produtos simples, que remuneravam à taxa de juros básica, e atendiam à necessidade de quase todo mundo. Hoje, o investidor busca alternativas para dar rentabilidade a seus portfólios a médio e longo prazo”, disse Paris.
Crescimento
A nova empresa terá a própria estrutura de atendimento, que parte da atual BV DTVM, com cerca de 100 funcionários. Entretanto, poderá distribuir produtos pelos canais do Bradesco, o que inclui a Ágora, corretora do conglomerado que atende ao público de varejo. Atualmente, a plataforma do Bradesco já é aberta a produtos de terceiros.
A nova empresa nasce com R$ 41 bilhões em ativos sob gestão, e R$ 22 bilhões sob custódia no private banking, unidade destinada a clientes com alguns milhões para investir. Segundo o diretor do Bradesco, a ideia é ganhar mercado nos próximos anos. Não há meta definida, mas o banco afirma que o avanço pode ser rápido.
“Um crescimento de 50% nos próximos três, quatro anos, não nos surpreenderia demais. É factível”, afirmou. Segundo ele, não devem haver mais parcerias da mesma magnitude, mas que outras, por meio da própria gestora, podem ser firmadas no futuro, a depender do mercado.
No mundo de investimentos, o Bradesco vem se movimentando para robustecer a carteira de clientes. Em 2019, o banco trouxe de volta a marca Ágora para atender ao investidor de varejo, um dos principais alvos de plataformas como a XP. Alguns segmentos acima, no private, incorporou as carteiras de clientes do JP Morgan e do BNP Paribas, o que aumentou o portfólio sob gestão.
O que diz o mercado
Na visão dos analistas do Goldman Sachs, a união do Bradesco com o BV é positiva e pode fortalecer a posição do Bradesco na gestão de recursos de clientes de maior renda. “Embora o valor não tenha sido revelado, vemos o anúncio como estrategicamente positivo, dado que pode fortalecer a posição do Bradesco no segmento de private banking, um mercado de R$ 1,7 trilhão em ativos sob custódia no Brasil”, afirma o analista Tito Labarta, em relatório enviado a clientes.
Considerando apenas o segmento private, o Bradesco é o segundo maior do mercado, com R$ 380 bilhões sob custódia.