A petroquímica Braskem, maior fabricante de resinas termoplásticas das Américas, está montando um braço no ramo de navegação. A companhia se prepara para iniciar operações de cabotagem de produtos que fabrica em suas unidades no País. Em junho, a empresa obteve a aprovação para se tornar uma EBN (Empresa Brasileira de Navegação) do órgão regulador brasileiro, a Antaq.
O objetivo inicial é transportar produtos líquidos e gases diversos produzidos nas centrais petroquímicas situadas no Nordeste, Sudeste e Sul e também as resinas PVC (policloreto de vinila) e soda cáustica da fábrica de Alagoas. A empresa estima uma economia anual de custos, neste primeiro momento, de ao menos R$ 10 milhões na operação de cabotagem, além de assegurar maior agilidade e controle nas operações, explica Silvia Pires Migueles, diretora de Logística de Olefinas, em entrevista ao Estadão.
No futuro, o plano prevê a oferta de serviços para movimentar produtos de terceiros, principalmente para clientes da companhia. O início das operações marítimas da Braskem no País não inclui, neste momento, o transporte de resinas plásticas, que continua a ser feito, na maior parte, por caminhões de várias transportadoras. Migueles informa que o transporte de resinas via cabotagem é ainda pequeno - 42 mil toneladas por mês, de um total de mais de 300 mil toneladas movimentadas mensalmente.
Atualmente, informa Eduardo Ivo Cavalcanti, gerente de logística, o desembolso anual com cabotagem de produtos líquidos e gases entre os terminais da companhia é da ordem de R$ 400 milhões a R$ 500 milhões. A Braskem opera as centrais petroquímicas de Camaçari (Bahia), de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Triunfo (Rio Grande do Sul), além da fábrica de Alagoas. O transporte é realizado por oito embarcações, incluindo três barcaças na Lagoa dos Patos, no Sul, em contratos de prestação dedicada de serviços.
Com a licença, explicam os executivos, a Braskem poderá alugar ou ter navios com tripulação contratada para realizar o transporte marítimo. A atividade vai começar, em alguns meses, com o transporte de propeno da central de Camaçari para a unidade do Rio de Janeiro (antiga Riopol). É um suprimento adicional da matéria-prima para a fabricação de resina nessa unidade. A previsão é fazer três cargas por mês.
Cavalcanti informa que, até agora, a Braskem utilizava navio com tripulação estrangeira, o que obriga a embarcação, a cada três meses, sair do País para fazer a renovação do visto obrigatório de navios internacionais. “Isso leva a aumento de custos na cabotagem”, diz. “A criação da EBN altera esse fluxo e facilita nossa programação.”
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A diretora de logística informa que toda a operação marítima da Braskem é coordenada pela Braskem Trading & Shipping (BTS), sediada na Holanda, que vai avaliar a estratégia da companhia para movimentação de produtos e matérias-primas por cabotagem. No México, por exemplo, foram encomendados dois navios para fazer o transporte de etano dos EUA para a planta petroquímica da Braskem Idesa, que fica em Nanchital, no estado de Veracruz.
Devido à insuficiência de suprimento da estatal petroquímica mexicana Pemex, a Braskem Idesa está construindo um terminal com investimento de US$ 500 milhões para receber navios com etano americano. A previsão é que seja concluído até fevereiro de 2025.
A ideia é que a operação brasileira tenha também sua própria frota de navios no futuro, mas isso passará por avaliação da BTS e será feito de forma gradual. Segundo Cavalcanti, a Braskem tem contratos com operadores de cabotagem que vão até 2032. Além disso, da encomenda à construção, um navio novo demanda prazo de cinco a dez anos, informa.
O valor de uma embarcação com capacidade de transportar 36 mil metros cúbicos de gás varia de US$ 70 milhões a US$ 80 milhões. “Nosso objetivo, com a EBN, é operar com embarcações modernas, mais eficientes e movidas por combustíveis limpos”, afirma o gerente de logística.
Migueles destaca que a Braskem - controlada pela Novonor (ex-grupo Odebrecht) - está entre as três maiores companhias do País com movimentação de carga geral na cabotagem. “Em 2017 não fazia nem 10 mil toneladas por mês”, diz, lembrando que a greve dos caminhoneiros naquele ano levou a empresa a pensar seriamente sobre a diversificação de modal de transporte.
“Somente de resinas, movimentamos quase 8 milhões de toneladas por ano”, informa. Mas ainda não conseguiu avançar no modal ferroviário. Segundo ele, companhias especializadas em cabotagem como Aliança, Log-in, Mercosul e Norcoast, oferecem soluções porta-a-porta.