Italiana Buzzi compra fatia de sócia por R$ 1,7 bilhão e se torna quarta maior cimenteira do País


Aquisição dos 50% restantes da Cimento Nacional, que era de Ricardo Brennand, amplia consolidação do setor, que enfrentou profunda crise de 2015 a 2018; dois grupos estrangeiros deixaram o País

Por Ivo Ribeiro

O movimento de consolidação de ativos na indústria brasileira de cimento segue em marcha firme. Mais um negócio foi fechado neste mês: a italiana Buzzi, que figura entre as 20 maiores do mundo, comprou os 50% de sua sócia brasileira, a Brennand Cimentos, na Companhia Nacional de Cimento (CNC), em uma transação de até R$ 1,7 bilhão.

De 2020 para cá, são cinco operações de vendas de ativos no setor. Duas delas foram motivadas pela saída do País das gigantes globais CRH, da Irlanda, e LafargeHolcim (França e Suíça), ambas alegando que sua estratégia global não incluía a permanência no mercado brasileiro. Devido a problemas financeiros, a Cimento Elizabeth foi colocada à venda em 2021 e, no ano passado, foi a vez da InterCement buscar um comprador. Agora, se deu o arranjo final da Brennand Cimentos.

Segundo avaliações de especialistas e executivos da indústria de cimento brasileira, o ciclo de fusões e aquisições não deve parar por aí. Ainda sem se recuperar plenamente da crise de 2015-2018, o setor viveu mais dois anos negativos de vendas - 2022 e 2023 - e não vê sinais promissores para este ano. Hoje, a indústria vende 15% a menos que no auge, de 72 milhões de toneladas, em 2014.

continua após a publicidade

Em decorrência da crise que enfrentou de 2015 em diante, com queda de 30% nas vendas até 2018, provocada pela situação econômica do País no período, cerca de 20 fábricas foram paralisadas e várias fechadas. Algumas empresas tiveram socorro de capital estrangeiro, que aproveitou o momento para entrar no Brasil a um custo mais atrativo - a grega Titan, a francesa Vicat e a Buzzi. Duas fabricantes pediram recuperação judicial (Cimento Nassau e Tupi). Outras buscaram sobreviver.

Fábrica da Companhia Nacional de Cimento em Pitimbu, na Paraíba Foto: CNC/Divulgação

Atualmente, a ociosidade atinge 35% na capacidade total de produção - 94 milhões de toneladas, segundo dados do SNIC, entidade do setor. Essa baixa ocupação gerou uma acirrada competição que pressiona para baixo os preços praticados no portão da fábrica. A média, no Brasil, é hoje de US$ 56 a tonelada (R$ 290), informam executivos da indústria. A disputa de mercado se dá entre 12 grandes e médias fabricantes, além de 11 pequenas empresas de atuação microrregional.

continua após a publicidade

“Em dólar por tonelada, o Brasil tem um dos preços mais baixos da América Latina”, afirma Daniel Sasson, do Itaú BBA, que coordena um grupo de analistas de setores industriais e de commodities. No México e na Colômbia, o valor passa de US$ 80 a tonelada; na Argentina, Equador e EUA, o produto é vendido acima de US$ 100, de acordo com executivos de cimenteiras.

Dois grupos cimenteiros estão aproveitando esse cenário de consolidação para reforçar sua posição estratégica. A CSN Cimentos, do empresário Benjamin Steinbruch, e a italiana Buzzi, que passa a ser dona de 100% da CNC. Em novembro de 2020 já havia, com o sócio brasileiro, adquirido a CRH por US$ 218 milhões (na época R$ 1,22 bilhão).

Após comprar a Elizabeth, em 2021, e a Lafarge Holcim, em 2022, desembolsando mais de R$ 6 bilhões, a CSN negocia no momento a aquisição da InterCement, que opera 15 fábricas no Brasil, além de nove na Argentina pela controlada Loma Negra. A CSN entrou nesse mercado em 2009, do zero, e hoje já é líder no Sudeste e vice-líder nacional. No País, a liderança é da Votorantim Cimentos.

continua após a publicidade

Movimentos trazem racionalidade ao setor

Esses movimentos, com a saída de CRH e LafargeHolcim e aquisições feitas pela CSN, trazem um pouco de racionalidade ao mercado brasileiro, que é muito fragmentado, observa Sasson. “São muitas empresas que atuam localmente em relação a outros países da região - no México são seis produtores, na Argentina e Peru são três em cada país, na Colômbia, oito ou nove”, diz.

Sasson ressalva, no entanto, que o Brasil é um país de dimensão continental e o cimento não é feito para viajar longas distâncias. “O custo do transporte sobre o preço final do produto é muito relevante”, comenta. Por essa razão, a indústria tem um mercado com perfil regional, para estar próximo do cliente, o que explica, em parte, a existência de muitas empresas e fábricas. São 93 unidades industriais no País.

continua após a publicidade

A venda dos 50% da Brennand Cimentos na CNC para a Buzzi ocorreu sem alarde em maio e deve ser concluída até o final do ano, quando se espera receber o aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), segundo comunicado da Buzzi SpA, novo nome da Buzzi Unicem. A CNC, conhecida popularmente como Cimento Nacional, gerou receita líquida de 90,3 milhões de euros (R$ 505 milhões) no primeiro trimestre de 2024, segundo informação do grupo italiano. Anualizado, o valor passa de R$ 2 bilhões.

A aquisição consolida a gigante italiana no País entre as maiores fabricantes, como quarta no ranking, com possibilidade de se tornar a terceira cimenteira caso a venda da InterCement se efetive com a CSN. A venda da empresa do ex-grupo Camargo Corrêa (atual Mover) é o maior negócio do setor - em torno de R$ 9 bilhões -, envolvendo dívidas da empresa e da sua controladora.

continua após a publicidade

A Cimento Nacional era controlada pela holding BCPar, atual NCPar, da qual a Buzzi passou a deter 50% em 2018. Na época, a italiana fez um socorro financeiro de R$ 700 milhões ao grupo comandado pelo empresário Ricardo Coimbra de Almeida Brennand Filho, herdeiro da tradicional família pernambucana Brennand, que também tem negócios na geração de energia, investimentos (como logística e imobiliário) e área financeira.

É a segunda vez que a Brennand sai do negócio cimenteiro. Em 1999, no processo de separação em dois ramos familiares, vendeu suas fábricas em Goiás, Alagoas e Paraíba para a portuguesa Cimpor (que em 2010 foi absorvida pelo grupo Camargo Corrêa) por US$ 590 milhões (R$ 3,1 bilhões ao câmbio de sexta-feira). A família de Ricardo Brennand Filho voltou ao cimento em 2011. A pergunta que se faz é se esse negócio vai atraí-la de novo.

A operação, quase seis anos atrás, envolveu a compra de ações de Brennand, dos minoritários BNDESPar e FIP MPlus e um aumento de capital na BCPAR. No acordo firmado com a Buzzi, o empresário poderia exercer a opção de venda de sua participação à sócia a partir de 2023 (o que fez agora). A sócia italiana tinha opção de compra a partir de janeiro de 2025.

continua após a publicidade

Conforme comunicado da Buzzi, o investimento na aquisição varia de 290 milhões de euros (R$ 1,62 bilhão) a 310 milhões de euros (R$ 1,73 bilhão). O preço será determinado com base nos acordos existentes e também poderá variar dependendo da taxa de câmbio do real, e o pagamento com recursos próprios, informou o grupo italiano.

Atualmente, a Cimento Nacional tem cinco fábricas de cimento integradas (desde a mina de calcário até o ensacamento do produto) e duas unidades de moagem, com capacidade total de produzir 7,2 milhões de toneladas ao ano. As fábricas estão localizadas em Minas Gerais (as três unidades e as duas moagens), Rio de Janeiro e Paraíba. Em 2018 só existiam duas fábricas: a de Sete Lagoas (MG) e a de Pitimbu (PB). Dois anos depois veio a compra da CRH.

Em busca das margens de rentabilidade perdidas

O analista do Itaú BBA observa que a crise a partir de 2015 deixou muitas fabricantes de cimento em situação financeira fragilizada. Principalmente as que fizeram investimentos em novas fábricas, de olho no crescimento da demanda por cimento que se viu a partir de 2010. Havia uma enorme euforia no País. Lembra que em 2013 o Brasil estava às vésperas de sediar a Copa do Mundo de futebol e a Olimpíada de 2016. Existiam muitas obras de construção.

“O consumo de cimento estava alto, acima de 70 milhões de toneladas. O problema é que o setor inteiro estava investindo muito em novas capacidades, tanto que o volume total do País, em algum momento, atingiu 100 milhões de toneladas, equivalente ou próximo ao dos EUA”, comenta. Entre os projetos de entrantes, nessa época, estavam fábricas da Brennand, da Apodi, da Elizabeth, da própria CSN e de outros grupos do setor, como Votorantim e Mizu.

“Naqueles anos que se seguiram, de crescimento econômico mais complicado, em que o PIB do país caiu 3% anual, durante dois anos, o consumo de cimento despencou, para pouco acima de 50 milhões de toneladas (2018), menos 30%. A consequência foi a elevação da ociosidade da capacidade instalada, puxando os preços a patamares bem baixos”, diz Sasson.

Nos últimos quatro anos, diz, começa a mudança desse cenário, com as empresas, após a pandemia, conseguindo aumentar preço e fechar uma parte do “gap” da inflação que tinha sido construído desde a década passada. “A consolidação deveria trazer mais melhoria na rentabilidade do setor. Vemos esses movimentos recentes e outros como positivos para as margens da indústria, que sofreu muito durante boa parte da última década.”

Cimenteira centenária de Monferrato

Fundada em 1907, e até hoje sob gestão familiar, a Buzzi opera em 14 países e tem uma capacidade instalada apta a fazer 40 milhões de toneladas de cimento por ano. Com a CNC, passa a 47 milhões de toneladas. Tem ainda uma joint venture no México, que faz mais de 8 milhões de toneladas. Atualmente, emprega cerca de 10 mil pessoas.

Fundada e sediada na cidade de Monferrato, região do Piemonte, e listada na Bolsa italiana, com valor de mercado de 7,7 bilhões de euros, a cimenteira criada por Antonio Buzzi e Pietro Buzzi registrou receita líquida de 4,3 bilhões de euros em 2023, segundo apresentação recente feita a seus investidores. As vendas somaram 26,3 milhões de toneladas. Além da Europa, a empresa tem uma grande base de produção nos EUA. Na América Latina tem presença no México e Brasil.

O movimento de consolidação de ativos na indústria brasileira de cimento segue em marcha firme. Mais um negócio foi fechado neste mês: a italiana Buzzi, que figura entre as 20 maiores do mundo, comprou os 50% de sua sócia brasileira, a Brennand Cimentos, na Companhia Nacional de Cimento (CNC), em uma transação de até R$ 1,7 bilhão.

De 2020 para cá, são cinco operações de vendas de ativos no setor. Duas delas foram motivadas pela saída do País das gigantes globais CRH, da Irlanda, e LafargeHolcim (França e Suíça), ambas alegando que sua estratégia global não incluía a permanência no mercado brasileiro. Devido a problemas financeiros, a Cimento Elizabeth foi colocada à venda em 2021 e, no ano passado, foi a vez da InterCement buscar um comprador. Agora, se deu o arranjo final da Brennand Cimentos.

Segundo avaliações de especialistas e executivos da indústria de cimento brasileira, o ciclo de fusões e aquisições não deve parar por aí. Ainda sem se recuperar plenamente da crise de 2015-2018, o setor viveu mais dois anos negativos de vendas - 2022 e 2023 - e não vê sinais promissores para este ano. Hoje, a indústria vende 15% a menos que no auge, de 72 milhões de toneladas, em 2014.

Em decorrência da crise que enfrentou de 2015 em diante, com queda de 30% nas vendas até 2018, provocada pela situação econômica do País no período, cerca de 20 fábricas foram paralisadas e várias fechadas. Algumas empresas tiveram socorro de capital estrangeiro, que aproveitou o momento para entrar no Brasil a um custo mais atrativo - a grega Titan, a francesa Vicat e a Buzzi. Duas fabricantes pediram recuperação judicial (Cimento Nassau e Tupi). Outras buscaram sobreviver.

Fábrica da Companhia Nacional de Cimento em Pitimbu, na Paraíba Foto: CNC/Divulgação

Atualmente, a ociosidade atinge 35% na capacidade total de produção - 94 milhões de toneladas, segundo dados do SNIC, entidade do setor. Essa baixa ocupação gerou uma acirrada competição que pressiona para baixo os preços praticados no portão da fábrica. A média, no Brasil, é hoje de US$ 56 a tonelada (R$ 290), informam executivos da indústria. A disputa de mercado se dá entre 12 grandes e médias fabricantes, além de 11 pequenas empresas de atuação microrregional.

“Em dólar por tonelada, o Brasil tem um dos preços mais baixos da América Latina”, afirma Daniel Sasson, do Itaú BBA, que coordena um grupo de analistas de setores industriais e de commodities. No México e na Colômbia, o valor passa de US$ 80 a tonelada; na Argentina, Equador e EUA, o produto é vendido acima de US$ 100, de acordo com executivos de cimenteiras.

Dois grupos cimenteiros estão aproveitando esse cenário de consolidação para reforçar sua posição estratégica. A CSN Cimentos, do empresário Benjamin Steinbruch, e a italiana Buzzi, que passa a ser dona de 100% da CNC. Em novembro de 2020 já havia, com o sócio brasileiro, adquirido a CRH por US$ 218 milhões (na época R$ 1,22 bilhão).

Após comprar a Elizabeth, em 2021, e a Lafarge Holcim, em 2022, desembolsando mais de R$ 6 bilhões, a CSN negocia no momento a aquisição da InterCement, que opera 15 fábricas no Brasil, além de nove na Argentina pela controlada Loma Negra. A CSN entrou nesse mercado em 2009, do zero, e hoje já é líder no Sudeste e vice-líder nacional. No País, a liderança é da Votorantim Cimentos.

Movimentos trazem racionalidade ao setor

Esses movimentos, com a saída de CRH e LafargeHolcim e aquisições feitas pela CSN, trazem um pouco de racionalidade ao mercado brasileiro, que é muito fragmentado, observa Sasson. “São muitas empresas que atuam localmente em relação a outros países da região - no México são seis produtores, na Argentina e Peru são três em cada país, na Colômbia, oito ou nove”, diz.

Sasson ressalva, no entanto, que o Brasil é um país de dimensão continental e o cimento não é feito para viajar longas distâncias. “O custo do transporte sobre o preço final do produto é muito relevante”, comenta. Por essa razão, a indústria tem um mercado com perfil regional, para estar próximo do cliente, o que explica, em parte, a existência de muitas empresas e fábricas. São 93 unidades industriais no País.

A venda dos 50% da Brennand Cimentos na CNC para a Buzzi ocorreu sem alarde em maio e deve ser concluída até o final do ano, quando se espera receber o aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), segundo comunicado da Buzzi SpA, novo nome da Buzzi Unicem. A CNC, conhecida popularmente como Cimento Nacional, gerou receita líquida de 90,3 milhões de euros (R$ 505 milhões) no primeiro trimestre de 2024, segundo informação do grupo italiano. Anualizado, o valor passa de R$ 2 bilhões.

A aquisição consolida a gigante italiana no País entre as maiores fabricantes, como quarta no ranking, com possibilidade de se tornar a terceira cimenteira caso a venda da InterCement se efetive com a CSN. A venda da empresa do ex-grupo Camargo Corrêa (atual Mover) é o maior negócio do setor - em torno de R$ 9 bilhões -, envolvendo dívidas da empresa e da sua controladora.

A Cimento Nacional era controlada pela holding BCPar, atual NCPar, da qual a Buzzi passou a deter 50% em 2018. Na época, a italiana fez um socorro financeiro de R$ 700 milhões ao grupo comandado pelo empresário Ricardo Coimbra de Almeida Brennand Filho, herdeiro da tradicional família pernambucana Brennand, que também tem negócios na geração de energia, investimentos (como logística e imobiliário) e área financeira.

É a segunda vez que a Brennand sai do negócio cimenteiro. Em 1999, no processo de separação em dois ramos familiares, vendeu suas fábricas em Goiás, Alagoas e Paraíba para a portuguesa Cimpor (que em 2010 foi absorvida pelo grupo Camargo Corrêa) por US$ 590 milhões (R$ 3,1 bilhões ao câmbio de sexta-feira). A família de Ricardo Brennand Filho voltou ao cimento em 2011. A pergunta que se faz é se esse negócio vai atraí-la de novo.

A operação, quase seis anos atrás, envolveu a compra de ações de Brennand, dos minoritários BNDESPar e FIP MPlus e um aumento de capital na BCPAR. No acordo firmado com a Buzzi, o empresário poderia exercer a opção de venda de sua participação à sócia a partir de 2023 (o que fez agora). A sócia italiana tinha opção de compra a partir de janeiro de 2025.

Conforme comunicado da Buzzi, o investimento na aquisição varia de 290 milhões de euros (R$ 1,62 bilhão) a 310 milhões de euros (R$ 1,73 bilhão). O preço será determinado com base nos acordos existentes e também poderá variar dependendo da taxa de câmbio do real, e o pagamento com recursos próprios, informou o grupo italiano.

Atualmente, a Cimento Nacional tem cinco fábricas de cimento integradas (desde a mina de calcário até o ensacamento do produto) e duas unidades de moagem, com capacidade total de produzir 7,2 milhões de toneladas ao ano. As fábricas estão localizadas em Minas Gerais (as três unidades e as duas moagens), Rio de Janeiro e Paraíba. Em 2018 só existiam duas fábricas: a de Sete Lagoas (MG) e a de Pitimbu (PB). Dois anos depois veio a compra da CRH.

Em busca das margens de rentabilidade perdidas

O analista do Itaú BBA observa que a crise a partir de 2015 deixou muitas fabricantes de cimento em situação financeira fragilizada. Principalmente as que fizeram investimentos em novas fábricas, de olho no crescimento da demanda por cimento que se viu a partir de 2010. Havia uma enorme euforia no País. Lembra que em 2013 o Brasil estava às vésperas de sediar a Copa do Mundo de futebol e a Olimpíada de 2016. Existiam muitas obras de construção.

“O consumo de cimento estava alto, acima de 70 milhões de toneladas. O problema é que o setor inteiro estava investindo muito em novas capacidades, tanto que o volume total do País, em algum momento, atingiu 100 milhões de toneladas, equivalente ou próximo ao dos EUA”, comenta. Entre os projetos de entrantes, nessa época, estavam fábricas da Brennand, da Apodi, da Elizabeth, da própria CSN e de outros grupos do setor, como Votorantim e Mizu.

“Naqueles anos que se seguiram, de crescimento econômico mais complicado, em que o PIB do país caiu 3% anual, durante dois anos, o consumo de cimento despencou, para pouco acima de 50 milhões de toneladas (2018), menos 30%. A consequência foi a elevação da ociosidade da capacidade instalada, puxando os preços a patamares bem baixos”, diz Sasson.

Nos últimos quatro anos, diz, começa a mudança desse cenário, com as empresas, após a pandemia, conseguindo aumentar preço e fechar uma parte do “gap” da inflação que tinha sido construído desde a década passada. “A consolidação deveria trazer mais melhoria na rentabilidade do setor. Vemos esses movimentos recentes e outros como positivos para as margens da indústria, que sofreu muito durante boa parte da última década.”

Cimenteira centenária de Monferrato

Fundada em 1907, e até hoje sob gestão familiar, a Buzzi opera em 14 países e tem uma capacidade instalada apta a fazer 40 milhões de toneladas de cimento por ano. Com a CNC, passa a 47 milhões de toneladas. Tem ainda uma joint venture no México, que faz mais de 8 milhões de toneladas. Atualmente, emprega cerca de 10 mil pessoas.

Fundada e sediada na cidade de Monferrato, região do Piemonte, e listada na Bolsa italiana, com valor de mercado de 7,7 bilhões de euros, a cimenteira criada por Antonio Buzzi e Pietro Buzzi registrou receita líquida de 4,3 bilhões de euros em 2023, segundo apresentação recente feita a seus investidores. As vendas somaram 26,3 milhões de toneladas. Além da Europa, a empresa tem uma grande base de produção nos EUA. Na América Latina tem presença no México e Brasil.

O movimento de consolidação de ativos na indústria brasileira de cimento segue em marcha firme. Mais um negócio foi fechado neste mês: a italiana Buzzi, que figura entre as 20 maiores do mundo, comprou os 50% de sua sócia brasileira, a Brennand Cimentos, na Companhia Nacional de Cimento (CNC), em uma transação de até R$ 1,7 bilhão.

De 2020 para cá, são cinco operações de vendas de ativos no setor. Duas delas foram motivadas pela saída do País das gigantes globais CRH, da Irlanda, e LafargeHolcim (França e Suíça), ambas alegando que sua estratégia global não incluía a permanência no mercado brasileiro. Devido a problemas financeiros, a Cimento Elizabeth foi colocada à venda em 2021 e, no ano passado, foi a vez da InterCement buscar um comprador. Agora, se deu o arranjo final da Brennand Cimentos.

Segundo avaliações de especialistas e executivos da indústria de cimento brasileira, o ciclo de fusões e aquisições não deve parar por aí. Ainda sem se recuperar plenamente da crise de 2015-2018, o setor viveu mais dois anos negativos de vendas - 2022 e 2023 - e não vê sinais promissores para este ano. Hoje, a indústria vende 15% a menos que no auge, de 72 milhões de toneladas, em 2014.

Em decorrência da crise que enfrentou de 2015 em diante, com queda de 30% nas vendas até 2018, provocada pela situação econômica do País no período, cerca de 20 fábricas foram paralisadas e várias fechadas. Algumas empresas tiveram socorro de capital estrangeiro, que aproveitou o momento para entrar no Brasil a um custo mais atrativo - a grega Titan, a francesa Vicat e a Buzzi. Duas fabricantes pediram recuperação judicial (Cimento Nassau e Tupi). Outras buscaram sobreviver.

Fábrica da Companhia Nacional de Cimento em Pitimbu, na Paraíba Foto: CNC/Divulgação

Atualmente, a ociosidade atinge 35% na capacidade total de produção - 94 milhões de toneladas, segundo dados do SNIC, entidade do setor. Essa baixa ocupação gerou uma acirrada competição que pressiona para baixo os preços praticados no portão da fábrica. A média, no Brasil, é hoje de US$ 56 a tonelada (R$ 290), informam executivos da indústria. A disputa de mercado se dá entre 12 grandes e médias fabricantes, além de 11 pequenas empresas de atuação microrregional.

“Em dólar por tonelada, o Brasil tem um dos preços mais baixos da América Latina”, afirma Daniel Sasson, do Itaú BBA, que coordena um grupo de analistas de setores industriais e de commodities. No México e na Colômbia, o valor passa de US$ 80 a tonelada; na Argentina, Equador e EUA, o produto é vendido acima de US$ 100, de acordo com executivos de cimenteiras.

Dois grupos cimenteiros estão aproveitando esse cenário de consolidação para reforçar sua posição estratégica. A CSN Cimentos, do empresário Benjamin Steinbruch, e a italiana Buzzi, que passa a ser dona de 100% da CNC. Em novembro de 2020 já havia, com o sócio brasileiro, adquirido a CRH por US$ 218 milhões (na época R$ 1,22 bilhão).

Após comprar a Elizabeth, em 2021, e a Lafarge Holcim, em 2022, desembolsando mais de R$ 6 bilhões, a CSN negocia no momento a aquisição da InterCement, que opera 15 fábricas no Brasil, além de nove na Argentina pela controlada Loma Negra. A CSN entrou nesse mercado em 2009, do zero, e hoje já é líder no Sudeste e vice-líder nacional. No País, a liderança é da Votorantim Cimentos.

Movimentos trazem racionalidade ao setor

Esses movimentos, com a saída de CRH e LafargeHolcim e aquisições feitas pela CSN, trazem um pouco de racionalidade ao mercado brasileiro, que é muito fragmentado, observa Sasson. “São muitas empresas que atuam localmente em relação a outros países da região - no México são seis produtores, na Argentina e Peru são três em cada país, na Colômbia, oito ou nove”, diz.

Sasson ressalva, no entanto, que o Brasil é um país de dimensão continental e o cimento não é feito para viajar longas distâncias. “O custo do transporte sobre o preço final do produto é muito relevante”, comenta. Por essa razão, a indústria tem um mercado com perfil regional, para estar próximo do cliente, o que explica, em parte, a existência de muitas empresas e fábricas. São 93 unidades industriais no País.

A venda dos 50% da Brennand Cimentos na CNC para a Buzzi ocorreu sem alarde em maio e deve ser concluída até o final do ano, quando se espera receber o aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), segundo comunicado da Buzzi SpA, novo nome da Buzzi Unicem. A CNC, conhecida popularmente como Cimento Nacional, gerou receita líquida de 90,3 milhões de euros (R$ 505 milhões) no primeiro trimestre de 2024, segundo informação do grupo italiano. Anualizado, o valor passa de R$ 2 bilhões.

A aquisição consolida a gigante italiana no País entre as maiores fabricantes, como quarta no ranking, com possibilidade de se tornar a terceira cimenteira caso a venda da InterCement se efetive com a CSN. A venda da empresa do ex-grupo Camargo Corrêa (atual Mover) é o maior negócio do setor - em torno de R$ 9 bilhões -, envolvendo dívidas da empresa e da sua controladora.

A Cimento Nacional era controlada pela holding BCPar, atual NCPar, da qual a Buzzi passou a deter 50% em 2018. Na época, a italiana fez um socorro financeiro de R$ 700 milhões ao grupo comandado pelo empresário Ricardo Coimbra de Almeida Brennand Filho, herdeiro da tradicional família pernambucana Brennand, que também tem negócios na geração de energia, investimentos (como logística e imobiliário) e área financeira.

É a segunda vez que a Brennand sai do negócio cimenteiro. Em 1999, no processo de separação em dois ramos familiares, vendeu suas fábricas em Goiás, Alagoas e Paraíba para a portuguesa Cimpor (que em 2010 foi absorvida pelo grupo Camargo Corrêa) por US$ 590 milhões (R$ 3,1 bilhões ao câmbio de sexta-feira). A família de Ricardo Brennand Filho voltou ao cimento em 2011. A pergunta que se faz é se esse negócio vai atraí-la de novo.

A operação, quase seis anos atrás, envolveu a compra de ações de Brennand, dos minoritários BNDESPar e FIP MPlus e um aumento de capital na BCPAR. No acordo firmado com a Buzzi, o empresário poderia exercer a opção de venda de sua participação à sócia a partir de 2023 (o que fez agora). A sócia italiana tinha opção de compra a partir de janeiro de 2025.

Conforme comunicado da Buzzi, o investimento na aquisição varia de 290 milhões de euros (R$ 1,62 bilhão) a 310 milhões de euros (R$ 1,73 bilhão). O preço será determinado com base nos acordos existentes e também poderá variar dependendo da taxa de câmbio do real, e o pagamento com recursos próprios, informou o grupo italiano.

Atualmente, a Cimento Nacional tem cinco fábricas de cimento integradas (desde a mina de calcário até o ensacamento do produto) e duas unidades de moagem, com capacidade total de produzir 7,2 milhões de toneladas ao ano. As fábricas estão localizadas em Minas Gerais (as três unidades e as duas moagens), Rio de Janeiro e Paraíba. Em 2018 só existiam duas fábricas: a de Sete Lagoas (MG) e a de Pitimbu (PB). Dois anos depois veio a compra da CRH.

Em busca das margens de rentabilidade perdidas

O analista do Itaú BBA observa que a crise a partir de 2015 deixou muitas fabricantes de cimento em situação financeira fragilizada. Principalmente as que fizeram investimentos em novas fábricas, de olho no crescimento da demanda por cimento que se viu a partir de 2010. Havia uma enorme euforia no País. Lembra que em 2013 o Brasil estava às vésperas de sediar a Copa do Mundo de futebol e a Olimpíada de 2016. Existiam muitas obras de construção.

“O consumo de cimento estava alto, acima de 70 milhões de toneladas. O problema é que o setor inteiro estava investindo muito em novas capacidades, tanto que o volume total do País, em algum momento, atingiu 100 milhões de toneladas, equivalente ou próximo ao dos EUA”, comenta. Entre os projetos de entrantes, nessa época, estavam fábricas da Brennand, da Apodi, da Elizabeth, da própria CSN e de outros grupos do setor, como Votorantim e Mizu.

“Naqueles anos que se seguiram, de crescimento econômico mais complicado, em que o PIB do país caiu 3% anual, durante dois anos, o consumo de cimento despencou, para pouco acima de 50 milhões de toneladas (2018), menos 30%. A consequência foi a elevação da ociosidade da capacidade instalada, puxando os preços a patamares bem baixos”, diz Sasson.

Nos últimos quatro anos, diz, começa a mudança desse cenário, com as empresas, após a pandemia, conseguindo aumentar preço e fechar uma parte do “gap” da inflação que tinha sido construído desde a década passada. “A consolidação deveria trazer mais melhoria na rentabilidade do setor. Vemos esses movimentos recentes e outros como positivos para as margens da indústria, que sofreu muito durante boa parte da última década.”

Cimenteira centenária de Monferrato

Fundada em 1907, e até hoje sob gestão familiar, a Buzzi opera em 14 países e tem uma capacidade instalada apta a fazer 40 milhões de toneladas de cimento por ano. Com a CNC, passa a 47 milhões de toneladas. Tem ainda uma joint venture no México, que faz mais de 8 milhões de toneladas. Atualmente, emprega cerca de 10 mil pessoas.

Fundada e sediada na cidade de Monferrato, região do Piemonte, e listada na Bolsa italiana, com valor de mercado de 7,7 bilhões de euros, a cimenteira criada por Antonio Buzzi e Pietro Buzzi registrou receita líquida de 4,3 bilhões de euros em 2023, segundo apresentação recente feita a seus investidores. As vendas somaram 26,3 milhões de toneladas. Além da Europa, a empresa tem uma grande base de produção nos EUA. Na América Latina tem presença no México e Brasil.

O movimento de consolidação de ativos na indústria brasileira de cimento segue em marcha firme. Mais um negócio foi fechado neste mês: a italiana Buzzi, que figura entre as 20 maiores do mundo, comprou os 50% de sua sócia brasileira, a Brennand Cimentos, na Companhia Nacional de Cimento (CNC), em uma transação de até R$ 1,7 bilhão.

De 2020 para cá, são cinco operações de vendas de ativos no setor. Duas delas foram motivadas pela saída do País das gigantes globais CRH, da Irlanda, e LafargeHolcim (França e Suíça), ambas alegando que sua estratégia global não incluía a permanência no mercado brasileiro. Devido a problemas financeiros, a Cimento Elizabeth foi colocada à venda em 2021 e, no ano passado, foi a vez da InterCement buscar um comprador. Agora, se deu o arranjo final da Brennand Cimentos.

Segundo avaliações de especialistas e executivos da indústria de cimento brasileira, o ciclo de fusões e aquisições não deve parar por aí. Ainda sem se recuperar plenamente da crise de 2015-2018, o setor viveu mais dois anos negativos de vendas - 2022 e 2023 - e não vê sinais promissores para este ano. Hoje, a indústria vende 15% a menos que no auge, de 72 milhões de toneladas, em 2014.

Em decorrência da crise que enfrentou de 2015 em diante, com queda de 30% nas vendas até 2018, provocada pela situação econômica do País no período, cerca de 20 fábricas foram paralisadas e várias fechadas. Algumas empresas tiveram socorro de capital estrangeiro, que aproveitou o momento para entrar no Brasil a um custo mais atrativo - a grega Titan, a francesa Vicat e a Buzzi. Duas fabricantes pediram recuperação judicial (Cimento Nassau e Tupi). Outras buscaram sobreviver.

Fábrica da Companhia Nacional de Cimento em Pitimbu, na Paraíba Foto: CNC/Divulgação

Atualmente, a ociosidade atinge 35% na capacidade total de produção - 94 milhões de toneladas, segundo dados do SNIC, entidade do setor. Essa baixa ocupação gerou uma acirrada competição que pressiona para baixo os preços praticados no portão da fábrica. A média, no Brasil, é hoje de US$ 56 a tonelada (R$ 290), informam executivos da indústria. A disputa de mercado se dá entre 12 grandes e médias fabricantes, além de 11 pequenas empresas de atuação microrregional.

“Em dólar por tonelada, o Brasil tem um dos preços mais baixos da América Latina”, afirma Daniel Sasson, do Itaú BBA, que coordena um grupo de analistas de setores industriais e de commodities. No México e na Colômbia, o valor passa de US$ 80 a tonelada; na Argentina, Equador e EUA, o produto é vendido acima de US$ 100, de acordo com executivos de cimenteiras.

Dois grupos cimenteiros estão aproveitando esse cenário de consolidação para reforçar sua posição estratégica. A CSN Cimentos, do empresário Benjamin Steinbruch, e a italiana Buzzi, que passa a ser dona de 100% da CNC. Em novembro de 2020 já havia, com o sócio brasileiro, adquirido a CRH por US$ 218 milhões (na época R$ 1,22 bilhão).

Após comprar a Elizabeth, em 2021, e a Lafarge Holcim, em 2022, desembolsando mais de R$ 6 bilhões, a CSN negocia no momento a aquisição da InterCement, que opera 15 fábricas no Brasil, além de nove na Argentina pela controlada Loma Negra. A CSN entrou nesse mercado em 2009, do zero, e hoje já é líder no Sudeste e vice-líder nacional. No País, a liderança é da Votorantim Cimentos.

Movimentos trazem racionalidade ao setor

Esses movimentos, com a saída de CRH e LafargeHolcim e aquisições feitas pela CSN, trazem um pouco de racionalidade ao mercado brasileiro, que é muito fragmentado, observa Sasson. “São muitas empresas que atuam localmente em relação a outros países da região - no México são seis produtores, na Argentina e Peru são três em cada país, na Colômbia, oito ou nove”, diz.

Sasson ressalva, no entanto, que o Brasil é um país de dimensão continental e o cimento não é feito para viajar longas distâncias. “O custo do transporte sobre o preço final do produto é muito relevante”, comenta. Por essa razão, a indústria tem um mercado com perfil regional, para estar próximo do cliente, o que explica, em parte, a existência de muitas empresas e fábricas. São 93 unidades industriais no País.

A venda dos 50% da Brennand Cimentos na CNC para a Buzzi ocorreu sem alarde em maio e deve ser concluída até o final do ano, quando se espera receber o aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), segundo comunicado da Buzzi SpA, novo nome da Buzzi Unicem. A CNC, conhecida popularmente como Cimento Nacional, gerou receita líquida de 90,3 milhões de euros (R$ 505 milhões) no primeiro trimestre de 2024, segundo informação do grupo italiano. Anualizado, o valor passa de R$ 2 bilhões.

A aquisição consolida a gigante italiana no País entre as maiores fabricantes, como quarta no ranking, com possibilidade de se tornar a terceira cimenteira caso a venda da InterCement se efetive com a CSN. A venda da empresa do ex-grupo Camargo Corrêa (atual Mover) é o maior negócio do setor - em torno de R$ 9 bilhões -, envolvendo dívidas da empresa e da sua controladora.

A Cimento Nacional era controlada pela holding BCPar, atual NCPar, da qual a Buzzi passou a deter 50% em 2018. Na época, a italiana fez um socorro financeiro de R$ 700 milhões ao grupo comandado pelo empresário Ricardo Coimbra de Almeida Brennand Filho, herdeiro da tradicional família pernambucana Brennand, que também tem negócios na geração de energia, investimentos (como logística e imobiliário) e área financeira.

É a segunda vez que a Brennand sai do negócio cimenteiro. Em 1999, no processo de separação em dois ramos familiares, vendeu suas fábricas em Goiás, Alagoas e Paraíba para a portuguesa Cimpor (que em 2010 foi absorvida pelo grupo Camargo Corrêa) por US$ 590 milhões (R$ 3,1 bilhões ao câmbio de sexta-feira). A família de Ricardo Brennand Filho voltou ao cimento em 2011. A pergunta que se faz é se esse negócio vai atraí-la de novo.

A operação, quase seis anos atrás, envolveu a compra de ações de Brennand, dos minoritários BNDESPar e FIP MPlus e um aumento de capital na BCPAR. No acordo firmado com a Buzzi, o empresário poderia exercer a opção de venda de sua participação à sócia a partir de 2023 (o que fez agora). A sócia italiana tinha opção de compra a partir de janeiro de 2025.

Conforme comunicado da Buzzi, o investimento na aquisição varia de 290 milhões de euros (R$ 1,62 bilhão) a 310 milhões de euros (R$ 1,73 bilhão). O preço será determinado com base nos acordos existentes e também poderá variar dependendo da taxa de câmbio do real, e o pagamento com recursos próprios, informou o grupo italiano.

Atualmente, a Cimento Nacional tem cinco fábricas de cimento integradas (desde a mina de calcário até o ensacamento do produto) e duas unidades de moagem, com capacidade total de produzir 7,2 milhões de toneladas ao ano. As fábricas estão localizadas em Minas Gerais (as três unidades e as duas moagens), Rio de Janeiro e Paraíba. Em 2018 só existiam duas fábricas: a de Sete Lagoas (MG) e a de Pitimbu (PB). Dois anos depois veio a compra da CRH.

Em busca das margens de rentabilidade perdidas

O analista do Itaú BBA observa que a crise a partir de 2015 deixou muitas fabricantes de cimento em situação financeira fragilizada. Principalmente as que fizeram investimentos em novas fábricas, de olho no crescimento da demanda por cimento que se viu a partir de 2010. Havia uma enorme euforia no País. Lembra que em 2013 o Brasil estava às vésperas de sediar a Copa do Mundo de futebol e a Olimpíada de 2016. Existiam muitas obras de construção.

“O consumo de cimento estava alto, acima de 70 milhões de toneladas. O problema é que o setor inteiro estava investindo muito em novas capacidades, tanto que o volume total do País, em algum momento, atingiu 100 milhões de toneladas, equivalente ou próximo ao dos EUA”, comenta. Entre os projetos de entrantes, nessa época, estavam fábricas da Brennand, da Apodi, da Elizabeth, da própria CSN e de outros grupos do setor, como Votorantim e Mizu.

“Naqueles anos que se seguiram, de crescimento econômico mais complicado, em que o PIB do país caiu 3% anual, durante dois anos, o consumo de cimento despencou, para pouco acima de 50 milhões de toneladas (2018), menos 30%. A consequência foi a elevação da ociosidade da capacidade instalada, puxando os preços a patamares bem baixos”, diz Sasson.

Nos últimos quatro anos, diz, começa a mudança desse cenário, com as empresas, após a pandemia, conseguindo aumentar preço e fechar uma parte do “gap” da inflação que tinha sido construído desde a década passada. “A consolidação deveria trazer mais melhoria na rentabilidade do setor. Vemos esses movimentos recentes e outros como positivos para as margens da indústria, que sofreu muito durante boa parte da última década.”

Cimenteira centenária de Monferrato

Fundada em 1907, e até hoje sob gestão familiar, a Buzzi opera em 14 países e tem uma capacidade instalada apta a fazer 40 milhões de toneladas de cimento por ano. Com a CNC, passa a 47 milhões de toneladas. Tem ainda uma joint venture no México, que faz mais de 8 milhões de toneladas. Atualmente, emprega cerca de 10 mil pessoas.

Fundada e sediada na cidade de Monferrato, região do Piemonte, e listada na Bolsa italiana, com valor de mercado de 7,7 bilhões de euros, a cimenteira criada por Antonio Buzzi e Pietro Buzzi registrou receita líquida de 4,3 bilhões de euros em 2023, segundo apresentação recente feita a seus investidores. As vendas somaram 26,3 milhões de toneladas. Além da Europa, a empresa tem uma grande base de produção nos EUA. Na América Latina tem presença no México e Brasil.

O movimento de consolidação de ativos na indústria brasileira de cimento segue em marcha firme. Mais um negócio foi fechado neste mês: a italiana Buzzi, que figura entre as 20 maiores do mundo, comprou os 50% de sua sócia brasileira, a Brennand Cimentos, na Companhia Nacional de Cimento (CNC), em uma transação de até R$ 1,7 bilhão.

De 2020 para cá, são cinco operações de vendas de ativos no setor. Duas delas foram motivadas pela saída do País das gigantes globais CRH, da Irlanda, e LafargeHolcim (França e Suíça), ambas alegando que sua estratégia global não incluía a permanência no mercado brasileiro. Devido a problemas financeiros, a Cimento Elizabeth foi colocada à venda em 2021 e, no ano passado, foi a vez da InterCement buscar um comprador. Agora, se deu o arranjo final da Brennand Cimentos.

Segundo avaliações de especialistas e executivos da indústria de cimento brasileira, o ciclo de fusões e aquisições não deve parar por aí. Ainda sem se recuperar plenamente da crise de 2015-2018, o setor viveu mais dois anos negativos de vendas - 2022 e 2023 - e não vê sinais promissores para este ano. Hoje, a indústria vende 15% a menos que no auge, de 72 milhões de toneladas, em 2014.

Em decorrência da crise que enfrentou de 2015 em diante, com queda de 30% nas vendas até 2018, provocada pela situação econômica do País no período, cerca de 20 fábricas foram paralisadas e várias fechadas. Algumas empresas tiveram socorro de capital estrangeiro, que aproveitou o momento para entrar no Brasil a um custo mais atrativo - a grega Titan, a francesa Vicat e a Buzzi. Duas fabricantes pediram recuperação judicial (Cimento Nassau e Tupi). Outras buscaram sobreviver.

Fábrica da Companhia Nacional de Cimento em Pitimbu, na Paraíba Foto: CNC/Divulgação

Atualmente, a ociosidade atinge 35% na capacidade total de produção - 94 milhões de toneladas, segundo dados do SNIC, entidade do setor. Essa baixa ocupação gerou uma acirrada competição que pressiona para baixo os preços praticados no portão da fábrica. A média, no Brasil, é hoje de US$ 56 a tonelada (R$ 290), informam executivos da indústria. A disputa de mercado se dá entre 12 grandes e médias fabricantes, além de 11 pequenas empresas de atuação microrregional.

“Em dólar por tonelada, o Brasil tem um dos preços mais baixos da América Latina”, afirma Daniel Sasson, do Itaú BBA, que coordena um grupo de analistas de setores industriais e de commodities. No México e na Colômbia, o valor passa de US$ 80 a tonelada; na Argentina, Equador e EUA, o produto é vendido acima de US$ 100, de acordo com executivos de cimenteiras.

Dois grupos cimenteiros estão aproveitando esse cenário de consolidação para reforçar sua posição estratégica. A CSN Cimentos, do empresário Benjamin Steinbruch, e a italiana Buzzi, que passa a ser dona de 100% da CNC. Em novembro de 2020 já havia, com o sócio brasileiro, adquirido a CRH por US$ 218 milhões (na época R$ 1,22 bilhão).

Após comprar a Elizabeth, em 2021, e a Lafarge Holcim, em 2022, desembolsando mais de R$ 6 bilhões, a CSN negocia no momento a aquisição da InterCement, que opera 15 fábricas no Brasil, além de nove na Argentina pela controlada Loma Negra. A CSN entrou nesse mercado em 2009, do zero, e hoje já é líder no Sudeste e vice-líder nacional. No País, a liderança é da Votorantim Cimentos.

Movimentos trazem racionalidade ao setor

Esses movimentos, com a saída de CRH e LafargeHolcim e aquisições feitas pela CSN, trazem um pouco de racionalidade ao mercado brasileiro, que é muito fragmentado, observa Sasson. “São muitas empresas que atuam localmente em relação a outros países da região - no México são seis produtores, na Argentina e Peru são três em cada país, na Colômbia, oito ou nove”, diz.

Sasson ressalva, no entanto, que o Brasil é um país de dimensão continental e o cimento não é feito para viajar longas distâncias. “O custo do transporte sobre o preço final do produto é muito relevante”, comenta. Por essa razão, a indústria tem um mercado com perfil regional, para estar próximo do cliente, o que explica, em parte, a existência de muitas empresas e fábricas. São 93 unidades industriais no País.

A venda dos 50% da Brennand Cimentos na CNC para a Buzzi ocorreu sem alarde em maio e deve ser concluída até o final do ano, quando se espera receber o aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), segundo comunicado da Buzzi SpA, novo nome da Buzzi Unicem. A CNC, conhecida popularmente como Cimento Nacional, gerou receita líquida de 90,3 milhões de euros (R$ 505 milhões) no primeiro trimestre de 2024, segundo informação do grupo italiano. Anualizado, o valor passa de R$ 2 bilhões.

A aquisição consolida a gigante italiana no País entre as maiores fabricantes, como quarta no ranking, com possibilidade de se tornar a terceira cimenteira caso a venda da InterCement se efetive com a CSN. A venda da empresa do ex-grupo Camargo Corrêa (atual Mover) é o maior negócio do setor - em torno de R$ 9 bilhões -, envolvendo dívidas da empresa e da sua controladora.

A Cimento Nacional era controlada pela holding BCPar, atual NCPar, da qual a Buzzi passou a deter 50% em 2018. Na época, a italiana fez um socorro financeiro de R$ 700 milhões ao grupo comandado pelo empresário Ricardo Coimbra de Almeida Brennand Filho, herdeiro da tradicional família pernambucana Brennand, que também tem negócios na geração de energia, investimentos (como logística e imobiliário) e área financeira.

É a segunda vez que a Brennand sai do negócio cimenteiro. Em 1999, no processo de separação em dois ramos familiares, vendeu suas fábricas em Goiás, Alagoas e Paraíba para a portuguesa Cimpor (que em 2010 foi absorvida pelo grupo Camargo Corrêa) por US$ 590 milhões (R$ 3,1 bilhões ao câmbio de sexta-feira). A família de Ricardo Brennand Filho voltou ao cimento em 2011. A pergunta que se faz é se esse negócio vai atraí-la de novo.

A operação, quase seis anos atrás, envolveu a compra de ações de Brennand, dos minoritários BNDESPar e FIP MPlus e um aumento de capital na BCPAR. No acordo firmado com a Buzzi, o empresário poderia exercer a opção de venda de sua participação à sócia a partir de 2023 (o que fez agora). A sócia italiana tinha opção de compra a partir de janeiro de 2025.

Conforme comunicado da Buzzi, o investimento na aquisição varia de 290 milhões de euros (R$ 1,62 bilhão) a 310 milhões de euros (R$ 1,73 bilhão). O preço será determinado com base nos acordos existentes e também poderá variar dependendo da taxa de câmbio do real, e o pagamento com recursos próprios, informou o grupo italiano.

Atualmente, a Cimento Nacional tem cinco fábricas de cimento integradas (desde a mina de calcário até o ensacamento do produto) e duas unidades de moagem, com capacidade total de produzir 7,2 milhões de toneladas ao ano. As fábricas estão localizadas em Minas Gerais (as três unidades e as duas moagens), Rio de Janeiro e Paraíba. Em 2018 só existiam duas fábricas: a de Sete Lagoas (MG) e a de Pitimbu (PB). Dois anos depois veio a compra da CRH.

Em busca das margens de rentabilidade perdidas

O analista do Itaú BBA observa que a crise a partir de 2015 deixou muitas fabricantes de cimento em situação financeira fragilizada. Principalmente as que fizeram investimentos em novas fábricas, de olho no crescimento da demanda por cimento que se viu a partir de 2010. Havia uma enorme euforia no País. Lembra que em 2013 o Brasil estava às vésperas de sediar a Copa do Mundo de futebol e a Olimpíada de 2016. Existiam muitas obras de construção.

“O consumo de cimento estava alto, acima de 70 milhões de toneladas. O problema é que o setor inteiro estava investindo muito em novas capacidades, tanto que o volume total do País, em algum momento, atingiu 100 milhões de toneladas, equivalente ou próximo ao dos EUA”, comenta. Entre os projetos de entrantes, nessa época, estavam fábricas da Brennand, da Apodi, da Elizabeth, da própria CSN e de outros grupos do setor, como Votorantim e Mizu.

“Naqueles anos que se seguiram, de crescimento econômico mais complicado, em que o PIB do país caiu 3% anual, durante dois anos, o consumo de cimento despencou, para pouco acima de 50 milhões de toneladas (2018), menos 30%. A consequência foi a elevação da ociosidade da capacidade instalada, puxando os preços a patamares bem baixos”, diz Sasson.

Nos últimos quatro anos, diz, começa a mudança desse cenário, com as empresas, após a pandemia, conseguindo aumentar preço e fechar uma parte do “gap” da inflação que tinha sido construído desde a década passada. “A consolidação deveria trazer mais melhoria na rentabilidade do setor. Vemos esses movimentos recentes e outros como positivos para as margens da indústria, que sofreu muito durante boa parte da última década.”

Cimenteira centenária de Monferrato

Fundada em 1907, e até hoje sob gestão familiar, a Buzzi opera em 14 países e tem uma capacidade instalada apta a fazer 40 milhões de toneladas de cimento por ano. Com a CNC, passa a 47 milhões de toneladas. Tem ainda uma joint venture no México, que faz mais de 8 milhões de toneladas. Atualmente, emprega cerca de 10 mil pessoas.

Fundada e sediada na cidade de Monferrato, região do Piemonte, e listada na Bolsa italiana, com valor de mercado de 7,7 bilhões de euros, a cimenteira criada por Antonio Buzzi e Pietro Buzzi registrou receita líquida de 4,3 bilhões de euros em 2023, segundo apresentação recente feita a seus investidores. As vendas somaram 26,3 milhões de toneladas. Além da Europa, a empresa tem uma grande base de produção nos EUA. Na América Latina tem presença no México e Brasil.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.