A Caoa e a Hyundai anunciaram, nesta quinta-feira, 29, mudanças importantes na estratégia de parceria no Brasil, iniciada há 25 anos. A partir de agora, a Hyundai fica responsável pela importação e distribuição de seus veículos no País, que era feita pela Caoa até agora. O grupo brasileiro produzirá novos modelos de maior valor agregado da marca sul-coreana. Além disso, a Caoa receberá parte da receita gerada por todos os novos modelos da Hyundai.
A rede de concessionárias será unificada. “Nossa fábrica está totalmente preparada para receber os novos veículos da Hyundai”, afirma o presidente da Caoa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho. De acordo com ele, os investimentos em novos maquinários na planta do grupo em Anápolis (GO), será feito pela Hyundai.
Segundo o CEO da Hyundai para as Américas Central e do Sul, Airton Cousseau, a mudança é positiva não apenas para as empresas, mas também para o consumidor brasileiro. “A partir de agora, todo o portfólio global da Hyundai passa a ter sua comercialização no Brasil simplificada e agilizada a partir da atualização da parceria entre Hyundai e Caoa.
O presidente do grupo brasileiro, que é filho do fundador da empresa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, falecido em 2021, diz que a empresa continuará tendo o maior número de concessionárias da marca no Brasil. Atualmente, a Caoa tem 46 pontos de venda. Também não haverá mudanças nos tipos de produtos da Hyundai feitos no Brasil. Ou seja, a planta da Hyundai Motors, em Piracicaba (SP), manterá a produção das linhas de compactos HB20 (hatch e sedã).
A fábrica da Caoa, em Anápolis, continuará fazendo os modelos mais caros, como o SUV médio Tucson e o caminhão leve HR. Porém, no novo modelo de negócios, a produção de todos os futuros carros dos segmentos superiores será feita pela Caoa.
De acordo com Cusseau, isso resolve um gargalo enfrentado pela Hyundai no Brasil. “Nossa planta de Piracicaba está operando no limite, e não temos como produzir novos modelos. Com a ampliação da parceria com a Caoa, poderemos oferecer mais produtos, alinhados com a linha que já oferecemos fora do País.
Sinergia de R$ 1 bilhão
Segundo Andrade Filho, outra vantagem do acordo, que já foi aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), é que a Hyundai também será beneficiada pelos incentivos fiscais aos quais a Caoa tem direito na planta goiana. Porém, Cusseau desconversa: “Nossa decisão não foi baseada na questão de impostos, mas na capacidade de produção.” Conforme Andrade Filho, o novo acordo permitirá uma sinergia entre as empresas estimada em cerca de R$ 1 bilhão.
De acordo com Cusseau, outra vantagem do negócio é a integração de setores como compras. “Não estamos preocupados apenas com a redução de custos, mas também em reduzir riscos”, diz. Ele se refere à maior oferta de componentes importados, que poderão passar a ser feitos no Brasil.
Inicialmente, não há informações sobre os novos carros que a Caoa fará para a Hyundai em Goiás. Porém, uma das maiores apostas é a nova geração do SUV médio Tucson. “Tucson é um nome muito forte para o consumidor brasileiro e, certamente, vai continuar sendo produzido”. Seja como for, com as mudanças a nova geração, que acaba de receber atualizações no visual, finalmente chegará ao País. Atualmente, a Caoa produz em Goiás o modelo da geração anterior.
Novos Hyundai no Brasil
A Hyundai vai revelar, no dia 6 de março, em São Paulo, alguns veículos que farão parte de seu novo portfólio de produtos no Brasil. Embora a empresa não tenha antecipado detalhes, a expectativa, no caso dos importados, é de foco em carros híbridos e elétricos. É o caso da linha Ionic, feita na Coreia, e do SUV grande Palisade, produzido nos Estados Unidos.
Além disso, a marca prepara o lançamento do novo Creta, com produção em Piracicaba. O SUV atualizado deve chegar às lojas brasileiras no segundo trimestre deste ano. Na semana passada, o CEO global da Hyundai, Euisun Chung, esteve em Brasília. Em conversa com o presidente Lula, o executivo sul-coreano anunciou um novo investimento, de US$ 1 bilhão no Brasil. O novo aporte será aplicado principalmente no desenvolvimento de soluções relacionadas a hidrogênio verde.
A Caoa informa que os investimentos feitos pela Hyundai em Anápolis e a participação nas receitas geradas pelos novos produtos, permitirão a produção, inclusive, de veículos eletrificados em sua planta. “Niossa fábrica está pronta para fazer qualquer tipo de veículo hibrido”, afirma Andrade Filho..
O novo acordo põe fim a uma queda de braço que vinha prejudicando as duas empresas. De acordo com Andrade Filho, embora um recente litígio tenha sido decidido a favor da Caoa na Justiça, na prática nenhuma das duas saiu ganhando. Ele se refere à ação que o grupo brasileiro moveu contra a empresa sul-coreana alegando quebra de contrato.
Caoa foi à Justiça contra a Hyundai
Em meados de 2021, a Caoa recebeu parecer favorável à continuidade do contrato que assegura a possibilidade de importação e produção de veículos da Hyundai no Brasil por uma década. A determinação foi emitida por um tribunal em Frankfurt, na Alemanha, designado para arbitrar contratos em situações de disputa. Segundo informações reveladas à época ao Jornal do Carro por um alto executivo da Caoa, o desfecho acabou sendo positivo para as duas empresas.
De acordo com ele, a decisão garantiu a continuidade da importação de novos modelos da Hyundai para o mercado brasileiro. Bem como o desenvolvimento tecnológico e a possibilidade de aumentar a produção no País de veículos da Hyundai. Assim, os desdobramentos desse episódio começam a ocorrer agora.
Contrato tinha renovação automática
Na época, a Hyundai Motors rompeu o contrato que garantia ao grupo brasileiro o direito de importar e fabricar veículos da marca sul-coreana por 20 anos. O desacordo surgiu devido ao término do prazo estipulado pela cláusula 2.02 do contrato. Segundo o documento, haveria uma renovação automática após os primeiros dez anos. Em 12 de abril, porém, a Hyundai enviou carta à Caoa cancelando o acordo unilateralmente.
O advogado Sérgio Bermudes, representante da Caoa, argumentou na época que a Hyundai não apresentou justificativas sólidas para o rompimento. Conforme Bermudes, em uma entrevista concedida ao Jornal do Carro em julho de 2018, a Hyundai ofereceu uma prorrogação do contrato por apenas dois anos.
Caoa e Hyundai estão juntas desde 1999
Desde a união em 1999, Caoa e Hyundai têm sido protagonistas no cenário automotivo brasileiro. A história da Hyundai no Brasil está intrinsecamente ligada à trajetória da Caoa. O nome do grupo brasileiro é formado pelas iniciais do nome de seu fundador, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, morto em 2021. A saga começou em 1979, quando o médico paraibano adquiriu um Landau na concessionária Ford de Campina Grande (PB).
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A revendedora enfrentou dificuldades e acabou falindo antes de entregar o sedã de luxo ao Dr. Carlos, como ele era conhecido. Em uma negociação inusitada, o médico propôs assumir a empresa em compensação. Cerca de seis anos depois, a Caoa alcançou o posto de maior revendedora Ford do Brasil, consolidando sua presença no mercado automotivo nacional.
A virada significativa ocorreu em 1992, com a reabertura dos portos, quando a Caoa se tornou a importadora oficial da Renault. A relação com a empresa francesa, contudo, azedou em 1998, quando a Renault optou por construir uma fábrica no Paraná e encerrou a parceria com o grupo brasileiro. Em meio a esse cenário, a Caoa processou a Renault.
Em nota ao Estadão, a Renault afirmou não poder comentar o caso porque ele se encerrou com cláusula de confidencialidade.
O sucesso do Tucson
No mesmo ano, a Caoa consolidou sua posição como importadora oficial da japonesa Subaru, mantendo uma parceria que dura até hoje.
Após um período turbulento, caracterizado pelo serviço pós-venda deficiente e por veículos de baixo impacto, como o Excel e o Accent, a Caoa tornou-se a partir de 1999 a importadora oficial da Hyundai no Brasil. Em 2004, houve uma reviravolta com o lançamento do Tucson. O SUV apresentava um conteúdo superior ao de concorrentes mais caros e até mesmo de segmentos superiores.
A estratégia da Caoa incluiu a oferta de cinco anos de garantia e um investimento substancial em campanhas publicitárias, com ênfase em anúncios em jornais. O SUV rapidamente se tornou objeto de desejo dos consumidores brasileiros, resultando em um aumento expressivo nas vendas e tornando-se o modelo importado mais vendido do Brasil à época.
Produção em Goiás
Para fortalecer sua presença no mercado brasileiro, a Caoa optou por estabelecer uma fábrica em Anápolis (GO). A inauguração da planta ocorreu em 2007, seguida pela assinatura de um novo contrato no ano seguinte. Esse acordo garantiu à Caoa a exclusividade na importação dos veículos da Hyundai, incluindo modelos como o SUV Veracruz e o sedã Sonata. Em 2010, o Tucson passou a ser produzido no País sob licença da Hyundai.
Na época, executivos da matriz da Hyundai na Coreia manifestaram interesse em investir US$ 1 bilhão em uma fábrica no Brasil. Paralelamente, o grupo estava em negociações com fabricantes de autopeças locais e recebeu propostas de terrenos e incentivos do governo do Rio de Janeiro.
Um obstáculo surgiu com o governo brasileiro: a Hyundai estava envolvida em uma disputa judicial relativa à cobrança de uma dívida de R$ 1,6 bilhão da Asia Motors do Brasil. Como resultado, o projeto de construção da fábrica no País foi impactado pela incerteza decorrente desse imbróglio legal.
Fábrica da Hyundai no Brasil
Essa situação representava a contrapartida pela importação, durante os anos 1990, de veículos beneficiados por isenção fiscal. A Asia Motors, envolvida nesse contexto, foi posteriormente adquirida pela Kia Motors, que mais tarde passou a integrar o Grupo Hyundai.
Em novembro de 2011, o Tribunal Regional Federal decidiu pela exclusão da Kia Motors Corporation do processo de execução fiscal da dívida da Asia Motors do Brasil (AMB). O TRF determinou que o governo não conseguiu comprovar a responsabilidade do grupo sul-coreano na administração da empresa brasileira.
Enquanto isso, a Hyundai avançava com a construção de uma fábrica em Piracicaba (SP). Em 2012, teve início a produção do HB20 (nas versões hatch e sedã), o primeiro modelo da marca projetado exclusivamente para o mercado brasileiro. No início de 2017, a planta também começou a fabricar o utilitário-esportivo Creta.
Criação da Caoa Chery
Em novembro de 2017, a Caoa surpreendeu ao anunciar a aquisição de 50% da operação brasileira da chinesa Chery, incluindo a fábrica localizada em Jacareí (SP). O movimento estratégico representou um investimento significativo, estimado em cerca de US$ 60 milhões.
A transação não apenas diversificou o portfólio da empresa, indo além do SUV compacto Tiggo 2, mas também abriu espaço para a introdução de novos modelos no mercado brasileiro. Com a criação da Caoa-Chery, foram lançados no Brasil modelos como o Tiggo 3X, que já saiu de linha, além dos sedãs Arrizo 5 e Arrizo 6.
Além disso, em Goiás, a Caoa-Chery fabrica os SUVs Tiggo 5, 7 e 8. Além disso, a Caoa anunciou nesta quarta-feira a conclusão do projeto de seu novo centro de distribuição de peças em Franco da Rocha, na grande São Paulo. O complexo é fruto de investimentos de cerca de R$ 50 milhões.