Banqueiro de hoje tem mandato mais curto e precisa entregar resultado, diz Trabuco


Presidente do Conselho de Administração do Bradesco diz que “capacidade de entrega e senso de urgência” serão duas qualidades fundamentais para Noronha no novo desafio de comandar o banco

Por Aline Bronzati
Atualização:
Foto: CLAYTON DE SOUZA
Entrevista comLuiz Carlos Trabuco CappiPresidente do Conselho do Bradesco

Nova York - Embora já esperada, a troca de comando no Bradesco, anunciada nesta quinta-feira, 23, foi feita fora dos padrões do banco da Cidade de Deus, antes de o executivo atingir a idade limite para o cargo. A razão não estaria relacionada a desempenho, a despeito da recente crise no varejo e que pesou nos resultados do conglomerado, e sim aos novos desafios trazidos pela era digital, segundo o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi.

Neste cenário, o mandato do banqueiro mudou - e ficou mais curto. Não é mais de representar o dono do banco, mas da capacidade de responder aos desafios atuais, em que os clientes deixam de ser da agência de tijolos e passam a integrar um sistema de atendimento, afirma Trabuco.

Com mais de duas décadas de casa, Marcelo Noronha foi anunciado hoje como novo presidente do Bradesco para início imediato. Ele substitui Octavio de Lazari, que estava há cerca de seis anos na liderança do banco e deve ir para o Conselho de Administração.

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De acordo com Trabuco, o novo banqueiro da Cidade de Deus tem carta branca para agir e fazer os ajustes necessários para conduzir o banco neste cenário e deve apresentar a sua equipe nas próximas semanas. Para ele, “capacidade de entrega e senso de urgência” serão duas qualidades fundamentais para Noronha no novo desafio.

“A mudança não se deve a motivos conjunturais, de avaliação de desempenho pessoal. A escolha do Marcelo (Noronha) não é por aquilo que ele já fez na organização, mas é por aquilo que ele pode realizar”, diz o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, ao Broadcast. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Luiz Carlos Trabuco, presidente do Conselho de Administração do Bradesco Foto: Clayton de Souza/AE
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A mudança no comando do banco era esperada, mas foi vista como abrupta pelo mercado, considerando que as alterações sempre foram bem planejadas. Por quê?

Talvez o pessoal tenha um pouco na memória que o estatuto ou a idade fossem um padrão de processo sucessório. Essa sensação vem de ícones como o Amador Aguiar, o Lázaro Brandão, em que o mandato estava refletindo com o tempo que ele poderia ficar na casa. Agora, o Comitê de Pessoas passou a avaliar os novos cenários, os novos desafios que nós estamos enfrentando.

Quais?

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O Octávio (Lazari) já estava com seis anos de mandato, nos quais tivemos cenários muito diferentes: um cenário pré-pandemia, em que a economia estava rodando muito, outro de paralisação por causa da pandemia e o pós-pandemia. Nesse período, houve ainda um choque de mudanças de paradigmas na intermediação financeira, através do surgimento do PIX, a evolução da inteligência artificial, e uma nova forma de relacionamento dos clientes. Eles estão cada dia mais deixando de ser clientes da agência e passam a ser clientes de um sistema de atendimento, de uma marca que independe do lado físico. Diante de todos esses desafios, o Conselho começou a avaliar o potencial dos executivos internos.

Por que a escolha do nome de Marcelo Noronha?

Porque ele reuniu algumas condições que para nós são importantes. Primeiro, ele tem vivenciado a casa, nesses 21 anos, quando veio do antigo BBVA, que foi um banco incorporado por nós. Então, ele tem conhecimento da casa, da cultura, mas é um bancário que tem uma vida anterior. O mandato de banqueiro, no caso dele, leva em conta os desafios atuais em função das métricas, que mudaram. E o Conselho de Administração tem a tarefa de encontrar profissionais que possam ter essa visão dentro das novas métricas.

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O cenário exige uma nova era de banqueiros?

Esse mandato do banqueiro agora é do executivo. Ele se torna um pouco mais curto. O mandato do banqueiro, dono do banco e que representava o banco era um mandato maior. Então, o mandato do CEO, essa figura, cada vez mais, está ligado a todas as métricas que são a capacidade de entrega. E o Marcelo reúne essa capacidade de entrega nesses novos desafios.

Quais serão os focos da gestão de Noronha?

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Ele deve apresentar o plano de ação ainda na virada de dezembro para janeiro. Nós estamos no meio de um processo em que temos dois bancos digitais que estão praticamente se integrando ao Bradesco, o Next e o Digio. Precisamos acelerar o processo de digitalização do cliente, que não precisa mais da agência física e toda a experiência do Marcelo indica que ele endereçará bem isso. Ele negociou o contrato de exclusividade do Bradesco com o Amex, um diferencial importante na época, e ainda na minha gestão, quando fizemos uma joint venture com o Banco do Brasil e a Caixa, o Marcelo liderou os processos que era a Cielo, a Alelo, a Livelo e a Elo Bandeira. Então, ele tem uma experiência e uma proximidade grande com os chamados meios de pagamentos e existe uma revolução neste setor.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse recentemente que não haverá mais app do Bradesco, Itaú e Santander em até dois anos por conta do open finance. A mudança de CEO casa com essa revolução no varejo bancário?

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A revolução do varejo bancário está dentro dessa revolução que o digital trouxe nas formas de fazer transação financeira. Outro detalhe é que o Marcelo é uma pessoa mão na massa, é 7 por 24, extremamente antenado e tem uma energia bastante reconhecida. A avaliação que fizemos é que é uma pessoa que tem esse olhar para o futuro, mas tem pé no chão e tem nossa inteira confiança.

O banco acaba de lidar com desafios na área de varejo, com aumento de inadimplência e o próprio Marcelo Noronha conduziu essa reestruturação. O quanto isso pesou na decisão do banco de trocar o comando?

Pesou no sentido de enxergarmos que o Marcelo tem todas as condições, aptidão e dedicação para fazer esse desafio que é criar uma nova forma do varejo bancário, do crédito. A fotografia que tem de momento de inadimplência é típica do ciclo econômico. Agora, essa modificação do relacionamento é uma coisa mais estratégica, mais estrutural, e que ele teria capacidade de fazer. A mudança não se deve a motivos conjunturais, de avaliação de desempenho pessoal. A escolha do Marcelo não é por aquilo que ele já fez na organização, mas é por aquilo que ele pode realizar. Então, a gente tem uma confiança muito grande nesse próximo momento.

E qual a expectativa do banco para esse próximo momento? Há grande expectativa do mercado para quem será o nome de varejo do banco. São possíveis mudanças na diretoria executiva?

Na verdade, acho que essa é uma reflexão que o Marcelo está tendo e vai dar a resposta na hora adequada. Nas próximas semanas, ele vai apresentar a equipe dele, principalmente nisso que você está colocando, quem é o diretor de determinadas áreas que são muito relevantes e são sensíveis para uma organização bancária.

Noronha tem carta branca para mudar a estrutura de como é hoje a diretoria executiva? O senhor vê essa necessidade?

O Noronha tem total confiança para fazer as estruturações que achar (melhor). O Conselho fez uma orientação para ele valorizar o sentido colegiado. Uma organização colegiada de relacionamento, de decisões, sempre ajuda a reduzir resistência, firulas, opiniões divergentes, já que nós somos administradores de riscos, que tem riscos conjunturais e tem riscos estruturais, dessa mudança do paradigma. Por isso que ele tem toda a confiança e o Marcelo tem um sentido de trabalho em equipe que pesou muito. É uma pessoa que valoriza a equipe, que dá espaço. O colegiado é para reduzir risco e volatilidade.

Com tamanha experiência no setor bancário e conhecendo cada canto do Bradesco, qual o conselho que o senhor daria para o próximo presidente? O que o Noronha precisa focar para virar a página que o banco precisa considerando os desafios atuais do setor e do Brasil?

A grande orientação que passamos é que ele exercite a capacidade de entrega na plenitude em cima dos parâmetros de investidores e acionistas. Mas é uma capacidade com foco muito forte no trabalho de equipe alinhado com essa entrega de resultados. É que, em última instância, é o que decide. m, que acho que todos nós, Conselho de Administração, formadores de opinião, vão medir isso.

Nova York - Embora já esperada, a troca de comando no Bradesco, anunciada nesta quinta-feira, 23, foi feita fora dos padrões do banco da Cidade de Deus, antes de o executivo atingir a idade limite para o cargo. A razão não estaria relacionada a desempenho, a despeito da recente crise no varejo e que pesou nos resultados do conglomerado, e sim aos novos desafios trazidos pela era digital, segundo o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi.

Neste cenário, o mandato do banqueiro mudou - e ficou mais curto. Não é mais de representar o dono do banco, mas da capacidade de responder aos desafios atuais, em que os clientes deixam de ser da agência de tijolos e passam a integrar um sistema de atendimento, afirma Trabuco.

Com mais de duas décadas de casa, Marcelo Noronha foi anunciado hoje como novo presidente do Bradesco para início imediato. Ele substitui Octavio de Lazari, que estava há cerca de seis anos na liderança do banco e deve ir para o Conselho de Administração.

De acordo com Trabuco, o novo banqueiro da Cidade de Deus tem carta branca para agir e fazer os ajustes necessários para conduzir o banco neste cenário e deve apresentar a sua equipe nas próximas semanas. Para ele, “capacidade de entrega e senso de urgência” serão duas qualidades fundamentais para Noronha no novo desafio.

“A mudança não se deve a motivos conjunturais, de avaliação de desempenho pessoal. A escolha do Marcelo (Noronha) não é por aquilo que ele já fez na organização, mas é por aquilo que ele pode realizar”, diz o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, ao Broadcast. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Luiz Carlos Trabuco, presidente do Conselho de Administração do Bradesco Foto: Clayton de Souza/AE

A mudança no comando do banco era esperada, mas foi vista como abrupta pelo mercado, considerando que as alterações sempre foram bem planejadas. Por quê?

Talvez o pessoal tenha um pouco na memória que o estatuto ou a idade fossem um padrão de processo sucessório. Essa sensação vem de ícones como o Amador Aguiar, o Lázaro Brandão, em que o mandato estava refletindo com o tempo que ele poderia ficar na casa. Agora, o Comitê de Pessoas passou a avaliar os novos cenários, os novos desafios que nós estamos enfrentando.

Quais?

O Octávio (Lazari) já estava com seis anos de mandato, nos quais tivemos cenários muito diferentes: um cenário pré-pandemia, em que a economia estava rodando muito, outro de paralisação por causa da pandemia e o pós-pandemia. Nesse período, houve ainda um choque de mudanças de paradigmas na intermediação financeira, através do surgimento do PIX, a evolução da inteligência artificial, e uma nova forma de relacionamento dos clientes. Eles estão cada dia mais deixando de ser clientes da agência e passam a ser clientes de um sistema de atendimento, de uma marca que independe do lado físico. Diante de todos esses desafios, o Conselho começou a avaliar o potencial dos executivos internos.

Por que a escolha do nome de Marcelo Noronha?

Porque ele reuniu algumas condições que para nós são importantes. Primeiro, ele tem vivenciado a casa, nesses 21 anos, quando veio do antigo BBVA, que foi um banco incorporado por nós. Então, ele tem conhecimento da casa, da cultura, mas é um bancário que tem uma vida anterior. O mandato de banqueiro, no caso dele, leva em conta os desafios atuais em função das métricas, que mudaram. E o Conselho de Administração tem a tarefa de encontrar profissionais que possam ter essa visão dentro das novas métricas.

O cenário exige uma nova era de banqueiros?

Esse mandato do banqueiro agora é do executivo. Ele se torna um pouco mais curto. O mandato do banqueiro, dono do banco e que representava o banco era um mandato maior. Então, o mandato do CEO, essa figura, cada vez mais, está ligado a todas as métricas que são a capacidade de entrega. E o Marcelo reúne essa capacidade de entrega nesses novos desafios.

Quais serão os focos da gestão de Noronha?

Ele deve apresentar o plano de ação ainda na virada de dezembro para janeiro. Nós estamos no meio de um processo em que temos dois bancos digitais que estão praticamente se integrando ao Bradesco, o Next e o Digio. Precisamos acelerar o processo de digitalização do cliente, que não precisa mais da agência física e toda a experiência do Marcelo indica que ele endereçará bem isso. Ele negociou o contrato de exclusividade do Bradesco com o Amex, um diferencial importante na época, e ainda na minha gestão, quando fizemos uma joint venture com o Banco do Brasil e a Caixa, o Marcelo liderou os processos que era a Cielo, a Alelo, a Livelo e a Elo Bandeira. Então, ele tem uma experiência e uma proximidade grande com os chamados meios de pagamentos e existe uma revolução neste setor.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse recentemente que não haverá mais app do Bradesco, Itaú e Santander em até dois anos por conta do open finance. A mudança de CEO casa com essa revolução no varejo bancário?

A revolução do varejo bancário está dentro dessa revolução que o digital trouxe nas formas de fazer transação financeira. Outro detalhe é que o Marcelo é uma pessoa mão na massa, é 7 por 24, extremamente antenado e tem uma energia bastante reconhecida. A avaliação que fizemos é que é uma pessoa que tem esse olhar para o futuro, mas tem pé no chão e tem nossa inteira confiança.

O banco acaba de lidar com desafios na área de varejo, com aumento de inadimplência e o próprio Marcelo Noronha conduziu essa reestruturação. O quanto isso pesou na decisão do banco de trocar o comando?

Pesou no sentido de enxergarmos que o Marcelo tem todas as condições, aptidão e dedicação para fazer esse desafio que é criar uma nova forma do varejo bancário, do crédito. A fotografia que tem de momento de inadimplência é típica do ciclo econômico. Agora, essa modificação do relacionamento é uma coisa mais estratégica, mais estrutural, e que ele teria capacidade de fazer. A mudança não se deve a motivos conjunturais, de avaliação de desempenho pessoal. A escolha do Marcelo não é por aquilo que ele já fez na organização, mas é por aquilo que ele pode realizar. Então, a gente tem uma confiança muito grande nesse próximo momento.

E qual a expectativa do banco para esse próximo momento? Há grande expectativa do mercado para quem será o nome de varejo do banco. São possíveis mudanças na diretoria executiva?

Na verdade, acho que essa é uma reflexão que o Marcelo está tendo e vai dar a resposta na hora adequada. Nas próximas semanas, ele vai apresentar a equipe dele, principalmente nisso que você está colocando, quem é o diretor de determinadas áreas que são muito relevantes e são sensíveis para uma organização bancária.

Noronha tem carta branca para mudar a estrutura de como é hoje a diretoria executiva? O senhor vê essa necessidade?

O Noronha tem total confiança para fazer as estruturações que achar (melhor). O Conselho fez uma orientação para ele valorizar o sentido colegiado. Uma organização colegiada de relacionamento, de decisões, sempre ajuda a reduzir resistência, firulas, opiniões divergentes, já que nós somos administradores de riscos, que tem riscos conjunturais e tem riscos estruturais, dessa mudança do paradigma. Por isso que ele tem toda a confiança e o Marcelo tem um sentido de trabalho em equipe que pesou muito. É uma pessoa que valoriza a equipe, que dá espaço. O colegiado é para reduzir risco e volatilidade.

Com tamanha experiência no setor bancário e conhecendo cada canto do Bradesco, qual o conselho que o senhor daria para o próximo presidente? O que o Noronha precisa focar para virar a página que o banco precisa considerando os desafios atuais do setor e do Brasil?

A grande orientação que passamos é que ele exercite a capacidade de entrega na plenitude em cima dos parâmetros de investidores e acionistas. Mas é uma capacidade com foco muito forte no trabalho de equipe alinhado com essa entrega de resultados. É que, em última instância, é o que decide. m, que acho que todos nós, Conselho de Administração, formadores de opinião, vão medir isso.

Nova York - Embora já esperada, a troca de comando no Bradesco, anunciada nesta quinta-feira, 23, foi feita fora dos padrões do banco da Cidade de Deus, antes de o executivo atingir a idade limite para o cargo. A razão não estaria relacionada a desempenho, a despeito da recente crise no varejo e que pesou nos resultados do conglomerado, e sim aos novos desafios trazidos pela era digital, segundo o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi.

Neste cenário, o mandato do banqueiro mudou - e ficou mais curto. Não é mais de representar o dono do banco, mas da capacidade de responder aos desafios atuais, em que os clientes deixam de ser da agência de tijolos e passam a integrar um sistema de atendimento, afirma Trabuco.

Com mais de duas décadas de casa, Marcelo Noronha foi anunciado hoje como novo presidente do Bradesco para início imediato. Ele substitui Octavio de Lazari, que estava há cerca de seis anos na liderança do banco e deve ir para o Conselho de Administração.

De acordo com Trabuco, o novo banqueiro da Cidade de Deus tem carta branca para agir e fazer os ajustes necessários para conduzir o banco neste cenário e deve apresentar a sua equipe nas próximas semanas. Para ele, “capacidade de entrega e senso de urgência” serão duas qualidades fundamentais para Noronha no novo desafio.

“A mudança não se deve a motivos conjunturais, de avaliação de desempenho pessoal. A escolha do Marcelo (Noronha) não é por aquilo que ele já fez na organização, mas é por aquilo que ele pode realizar”, diz o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, ao Broadcast. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Luiz Carlos Trabuco, presidente do Conselho de Administração do Bradesco Foto: Clayton de Souza/AE

A mudança no comando do banco era esperada, mas foi vista como abrupta pelo mercado, considerando que as alterações sempre foram bem planejadas. Por quê?

Talvez o pessoal tenha um pouco na memória que o estatuto ou a idade fossem um padrão de processo sucessório. Essa sensação vem de ícones como o Amador Aguiar, o Lázaro Brandão, em que o mandato estava refletindo com o tempo que ele poderia ficar na casa. Agora, o Comitê de Pessoas passou a avaliar os novos cenários, os novos desafios que nós estamos enfrentando.

Quais?

O Octávio (Lazari) já estava com seis anos de mandato, nos quais tivemos cenários muito diferentes: um cenário pré-pandemia, em que a economia estava rodando muito, outro de paralisação por causa da pandemia e o pós-pandemia. Nesse período, houve ainda um choque de mudanças de paradigmas na intermediação financeira, através do surgimento do PIX, a evolução da inteligência artificial, e uma nova forma de relacionamento dos clientes. Eles estão cada dia mais deixando de ser clientes da agência e passam a ser clientes de um sistema de atendimento, de uma marca que independe do lado físico. Diante de todos esses desafios, o Conselho começou a avaliar o potencial dos executivos internos.

Por que a escolha do nome de Marcelo Noronha?

Porque ele reuniu algumas condições que para nós são importantes. Primeiro, ele tem vivenciado a casa, nesses 21 anos, quando veio do antigo BBVA, que foi um banco incorporado por nós. Então, ele tem conhecimento da casa, da cultura, mas é um bancário que tem uma vida anterior. O mandato de banqueiro, no caso dele, leva em conta os desafios atuais em função das métricas, que mudaram. E o Conselho de Administração tem a tarefa de encontrar profissionais que possam ter essa visão dentro das novas métricas.

O cenário exige uma nova era de banqueiros?

Esse mandato do banqueiro agora é do executivo. Ele se torna um pouco mais curto. O mandato do banqueiro, dono do banco e que representava o banco era um mandato maior. Então, o mandato do CEO, essa figura, cada vez mais, está ligado a todas as métricas que são a capacidade de entrega. E o Marcelo reúne essa capacidade de entrega nesses novos desafios.

Quais serão os focos da gestão de Noronha?

Ele deve apresentar o plano de ação ainda na virada de dezembro para janeiro. Nós estamos no meio de um processo em que temos dois bancos digitais que estão praticamente se integrando ao Bradesco, o Next e o Digio. Precisamos acelerar o processo de digitalização do cliente, que não precisa mais da agência física e toda a experiência do Marcelo indica que ele endereçará bem isso. Ele negociou o contrato de exclusividade do Bradesco com o Amex, um diferencial importante na época, e ainda na minha gestão, quando fizemos uma joint venture com o Banco do Brasil e a Caixa, o Marcelo liderou os processos que era a Cielo, a Alelo, a Livelo e a Elo Bandeira. Então, ele tem uma experiência e uma proximidade grande com os chamados meios de pagamentos e existe uma revolução neste setor.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse recentemente que não haverá mais app do Bradesco, Itaú e Santander em até dois anos por conta do open finance. A mudança de CEO casa com essa revolução no varejo bancário?

A revolução do varejo bancário está dentro dessa revolução que o digital trouxe nas formas de fazer transação financeira. Outro detalhe é que o Marcelo é uma pessoa mão na massa, é 7 por 24, extremamente antenado e tem uma energia bastante reconhecida. A avaliação que fizemos é que é uma pessoa que tem esse olhar para o futuro, mas tem pé no chão e tem nossa inteira confiança.

O banco acaba de lidar com desafios na área de varejo, com aumento de inadimplência e o próprio Marcelo Noronha conduziu essa reestruturação. O quanto isso pesou na decisão do banco de trocar o comando?

Pesou no sentido de enxergarmos que o Marcelo tem todas as condições, aptidão e dedicação para fazer esse desafio que é criar uma nova forma do varejo bancário, do crédito. A fotografia que tem de momento de inadimplência é típica do ciclo econômico. Agora, essa modificação do relacionamento é uma coisa mais estratégica, mais estrutural, e que ele teria capacidade de fazer. A mudança não se deve a motivos conjunturais, de avaliação de desempenho pessoal. A escolha do Marcelo não é por aquilo que ele já fez na organização, mas é por aquilo que ele pode realizar. Então, a gente tem uma confiança muito grande nesse próximo momento.

E qual a expectativa do banco para esse próximo momento? Há grande expectativa do mercado para quem será o nome de varejo do banco. São possíveis mudanças na diretoria executiva?

Na verdade, acho que essa é uma reflexão que o Marcelo está tendo e vai dar a resposta na hora adequada. Nas próximas semanas, ele vai apresentar a equipe dele, principalmente nisso que você está colocando, quem é o diretor de determinadas áreas que são muito relevantes e são sensíveis para uma organização bancária.

Noronha tem carta branca para mudar a estrutura de como é hoje a diretoria executiva? O senhor vê essa necessidade?

O Noronha tem total confiança para fazer as estruturações que achar (melhor). O Conselho fez uma orientação para ele valorizar o sentido colegiado. Uma organização colegiada de relacionamento, de decisões, sempre ajuda a reduzir resistência, firulas, opiniões divergentes, já que nós somos administradores de riscos, que tem riscos conjunturais e tem riscos estruturais, dessa mudança do paradigma. Por isso que ele tem toda a confiança e o Marcelo tem um sentido de trabalho em equipe que pesou muito. É uma pessoa que valoriza a equipe, que dá espaço. O colegiado é para reduzir risco e volatilidade.

Com tamanha experiência no setor bancário e conhecendo cada canto do Bradesco, qual o conselho que o senhor daria para o próximo presidente? O que o Noronha precisa focar para virar a página que o banco precisa considerando os desafios atuais do setor e do Brasil?

A grande orientação que passamos é que ele exercite a capacidade de entrega na plenitude em cima dos parâmetros de investidores e acionistas. Mas é uma capacidade com foco muito forte no trabalho de equipe alinhado com essa entrega de resultados. É que, em última instância, é o que decide. m, que acho que todos nós, Conselho de Administração, formadores de opinião, vão medir isso.

Entrevista por Aline Bronzati

Nova York

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