Certificadoras brasileiras de créditos de carbono buscam espaço em mercado dominado por estrangeiras


Metodologias pensadas para solos e biomas tropicais é trunfo, mas reputação precisa ser construída

Por Luis Filipe Santos
Atualização:

Com o desenvolvimento do mercado de créditos de carbono, empresas nacionais tentam conquistar seu espaço na certificação da origem e da qualidade do produto, em um cenário dominado por grandes companhias.

Segundo relatório de 2022 da Câmara de Comércio Internacional (ICC, na sigla em inglês) e da consultoria WayCarbon, projetos no Brasil geraram cerca de 45,28 milhões de toneladas de carbono em créditos no ano de 2021, dos quais 97,2% foram certificadas de acordo com o padrão VCS, utilizado pelas maiores empresas estrangeiras.

O principal problema para as empresas brasileiras é a construção de uma reputação. Enquanto gigantes como Verra, Gold Standard e Indigo já têm suas metodologias conhecidas e cientificamente validadas, as brasileiras ainda têm que provar para o mercado que as formas que usam para calcular o carbono são adequadas e, além disso, precisam buscar clientes enfrentando a concorrência.

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Por outro lado, como possível vantagem para as empresas nacionais, as grandes companhias internacionais de certificação são originárias de países de clima temperado como Estados Unidos e Suíça, o que significa que as metodologias podem ter problemas na hora de avaliar solos, climas e biomas tropicais como os do Brasil. Assim, caso consigam criar uma metodologia reconhecida e conquistar reputação internacional, as brasileiras podem mirar outros mercados tropicais na América Latina, Ásia e África.

Projetos de reflorestamento e conservação de matas são parte dos que buscam gerar créditos de carbono no Brasil Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO

As empresas brasileiras também têm uma proximidade cultural maior com os habitantes de áreas próximas aos projetos. O fator cultural é preponderante para o sucesso de um projeto de geração de créditos de carbono quando se trata do uso do solo em regeneração ou preservação de florestas, ou para os projetos ligados à agropecuária.

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Reputação

O mercado de créditos de carbono se baseia na premissa de que, ao diminuir as emissões de gases de efeito estufa em determinado período, ou compensá-las por meio de outras formas, como a regeneração de matas, uma empresa pode vender esses créditos para outras que emitiram mais do poderiam. Da mesma forma, uma empresa pode comprar créditos como parte de um programa ESG. Assim, se criam incentivos para a redução das emissões e para a preservação de florestas e outros biomas.

Por isso, garantir a procedência e a qualidade dos créditos gerados é fundamental: a certificadora deve não só afirmar que eles de fato foram gerados, como também assegurar que tudo foi feito de acordo com padrões rígidos e que a cultura das comunidades envolvidas foi preservada. Ter os créditos certificados por uma metodologia validada cientificamente, publicada em artigos e periódicos científicos, faz a diferença na hora de atrair compradores para eles.

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A demanda por certificação é alta, mas, para as empresas brasileiras que buscam espaço no mercado, ainda é difícil encontrar o lugar. “Precisa ter competência comprovada. Para conseguir clientes, passa por networking, conseguir acesso por meio de alguma pessoa, para que as partes possam sentar à mesa e possamos apresentar o trabalho”, explica Francisco Higuchi, CEO da Tero Carbon, uma das certificadoras brasileiras.

Antonio Manoel dos Santos Oliveira, diretor-presidente da Caaobi, outra certificadora, defende que a concorrência não precisa ser excludente. “Podemos complementar o espectro de ações, já que as metodologias são necessariamente diferentes. As florestas aqui são outras, solos são outros, não temos neve”, afirma. Ambas as empresas afirmam estar atentas para questões em todos os biomas brasileiros, mas a Tero tem foco na Amazônia.

Ponto de vista parecido é visto do lado de quem busca a certificação para vender os créditos. Natália Rentería, diretora de assuntos regulatórios da Biomas, empresa de restauro de ecossistemas que fará a venda de créditos criadas por seis empresas brasileiras (Suzano, Itaú, Rabobank, Marfrig, Santander e Vale), avalia que é necessário para as brasileiras realizarem um alinhamento para conquistarem a reputação desejada. “Como o mercado nasceu lá fora, tem que tropicalizar o que veio de fora, mas em diálogo, mostrando para o mundo o que faz, em parceria, projetos em comum, sempre um alinhamento com a regra do jogo”, diz.

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Para Rentería, um dos possíveis problemas é a falta de experiência: como é um mercado novo, tende a atrair muita gente pela oportunidade, não necessariamente quem já tenha algum conhecimento. “É um mercado em ebulição, que está crescendo e se impondo. É legítimo que se queira criar novas oportunidades para o Brasil, mas é um movimento que deve ser feito com muita cautela”, afirma. Segundo ela, a Biomas tem o conhecimento das novas iniciativas brasileiras e espera que um dia estas metodologias possam ser adotadas em larga escala ― hoje, os créditos são certificados pela Verra.

Oliveira, da Caaobi, também cita a questão do pouco tempo de mercado, mas demonstra mais esperança: para ele, conforme se perceba que as certificadoras brasileiras são íntegras e promovem o desenvolvimento local, elas ganharão força para se expandir. “Podemos ter um intercâmbio com os países do hemisfério sul que tem florestas tropicais para cooperar e avançar. O diálogo sul-sul é muito frutífero”, prevê.

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Diferenças

Se a reputação é difícil e precisa de tempo para ser construída, o principal trunfo para as certificadoras brasileiras é já pensarem as metodologias a partir das condições climáticas do País. No entanto, existem diferenças mesmo entre as próprias empresas brasileiras.

A Caaobi, por exemplo, pede o máximo de informações possíveis, como caracterização geoambiental da área, elementos do meio físico, substrato geológico, solo, fauna, flora, se é campo de várzea ou de floresta mais alta, em montanha. Ainda avalia serviços ecossistêmicos da biosfera, como proteger os cursos d’água, e os valores culturais das comunidades.

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A tecnologia pode ajudar a partir de pontos como a imagem aerotransportada em drones para saber quantas árvores há na região, qual a altura e diâmetro delas e demais informações do território. Também podem ser usados para mapear a biodiversidade, o que ajuda instituições de pesquisa.

Já a Tero afirma buscar métodos simples, para diminuir a subjetividade e evitar afastar clientes pequenos e médios, como imóveis rurais. “Com o tempo, caso haja recursos, começamos a trabalhar com ferramentas de outros níveis tecnológicos, como sensores, geoprocessamento”, comenta Higuchi. Como exemplo da mudança de metodologia para as empresas estrangeiras, o CEO da certificadora menciona que elas costumam medir as áreas de forma circular, enquanto no Brasil o mais adequado é utilizar áreas retangulares, devido à grande quantidade de árvores e a proximidade entre elas.

Certificadoras brasileiras atuam em todos os biomas, respeitando as condições locais Foto: Dida Sampaio / Estadão

Outro exemplo da tentativa de tropicalizar os protocolos vem do CCarbon, centro de estudos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), dirigido por Carlos Eduardo Cerri. Ao Estadão, o professor explica que já avançaram muito nesse protocolo. “Seja na parte de plantas, seja numa floresta, num pasto ou na cultura agrícola, já estamos desenvolvendo protocolos, e também para o solo”, relata Cerri.

Assim como nos outros casos, o CCarbon teve como ponto de partida a percepção de que nem sempre os protocolos criados serviam para países de clima tropical. “Uma das prioridades é atuar no que chamam de tropicalização. Estamos fazendo uma adequação para o caso do Brasil e entendemos que pode ser aplicável para outros países de clima tropical na América Latina, África e Ásia”, diz Cerri.

Questões a serem avaliadas são quantas amostras precisam ser coletadas para quantificar o carbono armazenado no solo ou nas plantas, em quantas camadas, e como a análise deve ser feita. Em parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação Agropecuária (IICA), um guia do CCarbon foi publicado. O próximo passo seria começar o trabalho de campo, com coletas do solo de amostras de solo e planta em vários biomas aplicando esse protocolo

Como o CCarbon é um laboratório acadêmico, a intenção não é lucrar com o trabalho. Uma vez que as descobertas sejam validadas cientificamente, devem ser publicados em forma de artigos, em periódicos científicos, ou de guias, como o que já foi publicado pelo IICA, com linguagem mais simples para serem aplicados por quem desejar.

“Não é desconstruir o que já tem, mas adaptar o que não for bom. O que está atendendo às condições, ótimo, o que não, pode ser melhorado”, afirma Cerri. A busca é por um meio termo entre o rigor científico para cada especificidade e a escalabilidade que o setor privado pede, com foco no armazenamento de carbono no solo, em material orgânico que ajuda as próximas gerações de plantas a crescerem ali.

Por fim, as próprias grandes certificadoras podem aprender e evoluir em seus protocolos. Rentería, da Biomas, conta ter um diálogo com a Verra sobre isso. “Tem espaço para melhoria na metodologia que oferecem, em algumas especificidades brasileiras que não foram dada a atenção que merecem. Podem considerar algumas questões com mais detalhe”. Conforme a diretora, a empresa manteve o espaço aberto para ouvir os desenvolvedoras de projetos de créditos de carbono.

Biomas tropicais como o Cerrado, Caatinga e Pampa também não são completamente avaliados pelas metodologias generalistas Foto: RUA BARON / ESTADÃO

Ao Estadão a Verra, por meio de um porta-voz, destacou o Brasil como um dos principais países para seu trabalho, e citou como exemplos ter um representante da empresa no País para conversar com stakeholders e que um protocolo novo (a Metodologia para Redução da Intensidade de Emissões da Produção de Gado em Pastagens) está sendo desenvolvido por uma organização brasileira. Sobre protocolos já desenvolvidos, afirmou que o de uso na agricultura é globalmente aplicável, mas que a disponibilidade limitada de dados pode restringir a capacidade, o que afetaria tanto locais de clima temperado quanto tropicais. Também ressaltou que projetos de regeneração e conservação de florestas são uma das maiores fontes de créditos de carbono e que quase todos eles estão em países tropicais e são certificados pela Verra.

A Gold Standard afirmou que a metodologia de plantio de florestas ou reflorestamento é aplicável globalmente e permite que os usuários façam modelos de crescimento específico para as espécies ou modelos mais gerais. Segundo a empresa, a incerteza é levada em consideração pela metodologia, e os créditos só são emitidos com base no desempenho real de um projeto, avaliado por medições no local por meio de um inventário florestal. Também relata estar disposta a aprimorar as metodologias e práticas e que conversa com stakeholders no Brasil.

Já a Indigo informou possuir uma equipe científica no País e que entende as condições diferentes de solos, condições climáticas e culturas tropicais. Para a empresa, será necessário realizar mais pesquisas e contar com revisão por pares para que a metodologia seja suficiente adequada para cada região específica. Também disse ter conhecimento de iniciativas no Brasil que já estão engajadas nesse trabalho e que estão abertos a parcerias com universidades e outros parceiros.

Oportunidades

Se as metodologias são distintas, um ponto é certeza: o mercado de carbono é uma grande oportunidade para ajudar o Brasil a gerar recursos e poder manter as florestas em pé. A regulamentação completa do mercado de créditos de carbono será votada no Senado após ser aprovada na Câmara.

Segundo a ICC, o País pode gerar US$ 120 bilhões até 2030 com créditos de carbono, além de 8,5 milhões de empregos até 2050, no caso de uma regulamentação bem-feita. “Tem muito espaço para gerar crédito de carbono, a oferta hoje é menor que a demanda. Quanto mais certificadoras tiver, gera concorrência, aprimoramento tecnológico e metodológico, impulsiona o mercado e a inovação”, afirma Higuchi, da Tero.

A presença de certificadoras brasileiras pode ser importante para manter parte dos recursos no Brasil. “Os créditos de carbono têm que ser um instrumento social e criar uma bioeconomia local. Pode ser uma alavanca, um instrumento muito importante para o Brasil promover o desenvolvimento com justiça social, climática e ambiental”, garante Oliveira, da Caaobi.

Mas, para chegar lá, precisa acelerar. “Temos condição de liderar como atores centrais, mas não estamos evoluindo na velocidade que poderíamos, com mais intensas ações de implementação”, acredita Cerri, do CCarbon. Regulação e desenvolvimento de metodologias adequadas aos países tropicais são pontos fundamentais para o Brasil poder aproveitar a oportunidade enquanto a demanda por créditos cresce.

Com o desenvolvimento do mercado de créditos de carbono, empresas nacionais tentam conquistar seu espaço na certificação da origem e da qualidade do produto, em um cenário dominado por grandes companhias.

Segundo relatório de 2022 da Câmara de Comércio Internacional (ICC, na sigla em inglês) e da consultoria WayCarbon, projetos no Brasil geraram cerca de 45,28 milhões de toneladas de carbono em créditos no ano de 2021, dos quais 97,2% foram certificadas de acordo com o padrão VCS, utilizado pelas maiores empresas estrangeiras.

O principal problema para as empresas brasileiras é a construção de uma reputação. Enquanto gigantes como Verra, Gold Standard e Indigo já têm suas metodologias conhecidas e cientificamente validadas, as brasileiras ainda têm que provar para o mercado que as formas que usam para calcular o carbono são adequadas e, além disso, precisam buscar clientes enfrentando a concorrência.

Por outro lado, como possível vantagem para as empresas nacionais, as grandes companhias internacionais de certificação são originárias de países de clima temperado como Estados Unidos e Suíça, o que significa que as metodologias podem ter problemas na hora de avaliar solos, climas e biomas tropicais como os do Brasil. Assim, caso consigam criar uma metodologia reconhecida e conquistar reputação internacional, as brasileiras podem mirar outros mercados tropicais na América Latina, Ásia e África.

Projetos de reflorestamento e conservação de matas são parte dos que buscam gerar créditos de carbono no Brasil Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO

As empresas brasileiras também têm uma proximidade cultural maior com os habitantes de áreas próximas aos projetos. O fator cultural é preponderante para o sucesso de um projeto de geração de créditos de carbono quando se trata do uso do solo em regeneração ou preservação de florestas, ou para os projetos ligados à agropecuária.

Reputação

O mercado de créditos de carbono se baseia na premissa de que, ao diminuir as emissões de gases de efeito estufa em determinado período, ou compensá-las por meio de outras formas, como a regeneração de matas, uma empresa pode vender esses créditos para outras que emitiram mais do poderiam. Da mesma forma, uma empresa pode comprar créditos como parte de um programa ESG. Assim, se criam incentivos para a redução das emissões e para a preservação de florestas e outros biomas.

Por isso, garantir a procedência e a qualidade dos créditos gerados é fundamental: a certificadora deve não só afirmar que eles de fato foram gerados, como também assegurar que tudo foi feito de acordo com padrões rígidos e que a cultura das comunidades envolvidas foi preservada. Ter os créditos certificados por uma metodologia validada cientificamente, publicada em artigos e periódicos científicos, faz a diferença na hora de atrair compradores para eles.

A demanda por certificação é alta, mas, para as empresas brasileiras que buscam espaço no mercado, ainda é difícil encontrar o lugar. “Precisa ter competência comprovada. Para conseguir clientes, passa por networking, conseguir acesso por meio de alguma pessoa, para que as partes possam sentar à mesa e possamos apresentar o trabalho”, explica Francisco Higuchi, CEO da Tero Carbon, uma das certificadoras brasileiras.

Antonio Manoel dos Santos Oliveira, diretor-presidente da Caaobi, outra certificadora, defende que a concorrência não precisa ser excludente. “Podemos complementar o espectro de ações, já que as metodologias são necessariamente diferentes. As florestas aqui são outras, solos são outros, não temos neve”, afirma. Ambas as empresas afirmam estar atentas para questões em todos os biomas brasileiros, mas a Tero tem foco na Amazônia.

Ponto de vista parecido é visto do lado de quem busca a certificação para vender os créditos. Natália Rentería, diretora de assuntos regulatórios da Biomas, empresa de restauro de ecossistemas que fará a venda de créditos criadas por seis empresas brasileiras (Suzano, Itaú, Rabobank, Marfrig, Santander e Vale), avalia que é necessário para as brasileiras realizarem um alinhamento para conquistarem a reputação desejada. “Como o mercado nasceu lá fora, tem que tropicalizar o que veio de fora, mas em diálogo, mostrando para o mundo o que faz, em parceria, projetos em comum, sempre um alinhamento com a regra do jogo”, diz.

Para Rentería, um dos possíveis problemas é a falta de experiência: como é um mercado novo, tende a atrair muita gente pela oportunidade, não necessariamente quem já tenha algum conhecimento. “É um mercado em ebulição, que está crescendo e se impondo. É legítimo que se queira criar novas oportunidades para o Brasil, mas é um movimento que deve ser feito com muita cautela”, afirma. Segundo ela, a Biomas tem o conhecimento das novas iniciativas brasileiras e espera que um dia estas metodologias possam ser adotadas em larga escala ― hoje, os créditos são certificados pela Verra.

Oliveira, da Caaobi, também cita a questão do pouco tempo de mercado, mas demonstra mais esperança: para ele, conforme se perceba que as certificadoras brasileiras são íntegras e promovem o desenvolvimento local, elas ganharão força para se expandir. “Podemos ter um intercâmbio com os países do hemisfério sul que tem florestas tropicais para cooperar e avançar. O diálogo sul-sul é muito frutífero”, prevê.

Diferenças

Se a reputação é difícil e precisa de tempo para ser construída, o principal trunfo para as certificadoras brasileiras é já pensarem as metodologias a partir das condições climáticas do País. No entanto, existem diferenças mesmo entre as próprias empresas brasileiras.

A Caaobi, por exemplo, pede o máximo de informações possíveis, como caracterização geoambiental da área, elementos do meio físico, substrato geológico, solo, fauna, flora, se é campo de várzea ou de floresta mais alta, em montanha. Ainda avalia serviços ecossistêmicos da biosfera, como proteger os cursos d’água, e os valores culturais das comunidades.

A tecnologia pode ajudar a partir de pontos como a imagem aerotransportada em drones para saber quantas árvores há na região, qual a altura e diâmetro delas e demais informações do território. Também podem ser usados para mapear a biodiversidade, o que ajuda instituições de pesquisa.

Já a Tero afirma buscar métodos simples, para diminuir a subjetividade e evitar afastar clientes pequenos e médios, como imóveis rurais. “Com o tempo, caso haja recursos, começamos a trabalhar com ferramentas de outros níveis tecnológicos, como sensores, geoprocessamento”, comenta Higuchi. Como exemplo da mudança de metodologia para as empresas estrangeiras, o CEO da certificadora menciona que elas costumam medir as áreas de forma circular, enquanto no Brasil o mais adequado é utilizar áreas retangulares, devido à grande quantidade de árvores e a proximidade entre elas.

Certificadoras brasileiras atuam em todos os biomas, respeitando as condições locais Foto: Dida Sampaio / Estadão

Outro exemplo da tentativa de tropicalizar os protocolos vem do CCarbon, centro de estudos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), dirigido por Carlos Eduardo Cerri. Ao Estadão, o professor explica que já avançaram muito nesse protocolo. “Seja na parte de plantas, seja numa floresta, num pasto ou na cultura agrícola, já estamos desenvolvendo protocolos, e também para o solo”, relata Cerri.

Assim como nos outros casos, o CCarbon teve como ponto de partida a percepção de que nem sempre os protocolos criados serviam para países de clima tropical. “Uma das prioridades é atuar no que chamam de tropicalização. Estamos fazendo uma adequação para o caso do Brasil e entendemos que pode ser aplicável para outros países de clima tropical na América Latina, África e Ásia”, diz Cerri.

Questões a serem avaliadas são quantas amostras precisam ser coletadas para quantificar o carbono armazenado no solo ou nas plantas, em quantas camadas, e como a análise deve ser feita. Em parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação Agropecuária (IICA), um guia do CCarbon foi publicado. O próximo passo seria começar o trabalho de campo, com coletas do solo de amostras de solo e planta em vários biomas aplicando esse protocolo

Como o CCarbon é um laboratório acadêmico, a intenção não é lucrar com o trabalho. Uma vez que as descobertas sejam validadas cientificamente, devem ser publicados em forma de artigos, em periódicos científicos, ou de guias, como o que já foi publicado pelo IICA, com linguagem mais simples para serem aplicados por quem desejar.

“Não é desconstruir o que já tem, mas adaptar o que não for bom. O que está atendendo às condições, ótimo, o que não, pode ser melhorado”, afirma Cerri. A busca é por um meio termo entre o rigor científico para cada especificidade e a escalabilidade que o setor privado pede, com foco no armazenamento de carbono no solo, em material orgânico que ajuda as próximas gerações de plantas a crescerem ali.

Por fim, as próprias grandes certificadoras podem aprender e evoluir em seus protocolos. Rentería, da Biomas, conta ter um diálogo com a Verra sobre isso. “Tem espaço para melhoria na metodologia que oferecem, em algumas especificidades brasileiras que não foram dada a atenção que merecem. Podem considerar algumas questões com mais detalhe”. Conforme a diretora, a empresa manteve o espaço aberto para ouvir os desenvolvedoras de projetos de créditos de carbono.

Biomas tropicais como o Cerrado, Caatinga e Pampa também não são completamente avaliados pelas metodologias generalistas Foto: RUA BARON / ESTADÃO

Ao Estadão a Verra, por meio de um porta-voz, destacou o Brasil como um dos principais países para seu trabalho, e citou como exemplos ter um representante da empresa no País para conversar com stakeholders e que um protocolo novo (a Metodologia para Redução da Intensidade de Emissões da Produção de Gado em Pastagens) está sendo desenvolvido por uma organização brasileira. Sobre protocolos já desenvolvidos, afirmou que o de uso na agricultura é globalmente aplicável, mas que a disponibilidade limitada de dados pode restringir a capacidade, o que afetaria tanto locais de clima temperado quanto tropicais. Também ressaltou que projetos de regeneração e conservação de florestas são uma das maiores fontes de créditos de carbono e que quase todos eles estão em países tropicais e são certificados pela Verra.

A Gold Standard afirmou que a metodologia de plantio de florestas ou reflorestamento é aplicável globalmente e permite que os usuários façam modelos de crescimento específico para as espécies ou modelos mais gerais. Segundo a empresa, a incerteza é levada em consideração pela metodologia, e os créditos só são emitidos com base no desempenho real de um projeto, avaliado por medições no local por meio de um inventário florestal. Também relata estar disposta a aprimorar as metodologias e práticas e que conversa com stakeholders no Brasil.

Já a Indigo informou possuir uma equipe científica no País e que entende as condições diferentes de solos, condições climáticas e culturas tropicais. Para a empresa, será necessário realizar mais pesquisas e contar com revisão por pares para que a metodologia seja suficiente adequada para cada região específica. Também disse ter conhecimento de iniciativas no Brasil que já estão engajadas nesse trabalho e que estão abertos a parcerias com universidades e outros parceiros.

Oportunidades

Se as metodologias são distintas, um ponto é certeza: o mercado de carbono é uma grande oportunidade para ajudar o Brasil a gerar recursos e poder manter as florestas em pé. A regulamentação completa do mercado de créditos de carbono será votada no Senado após ser aprovada na Câmara.

Segundo a ICC, o País pode gerar US$ 120 bilhões até 2030 com créditos de carbono, além de 8,5 milhões de empregos até 2050, no caso de uma regulamentação bem-feita. “Tem muito espaço para gerar crédito de carbono, a oferta hoje é menor que a demanda. Quanto mais certificadoras tiver, gera concorrência, aprimoramento tecnológico e metodológico, impulsiona o mercado e a inovação”, afirma Higuchi, da Tero.

A presença de certificadoras brasileiras pode ser importante para manter parte dos recursos no Brasil. “Os créditos de carbono têm que ser um instrumento social e criar uma bioeconomia local. Pode ser uma alavanca, um instrumento muito importante para o Brasil promover o desenvolvimento com justiça social, climática e ambiental”, garante Oliveira, da Caaobi.

Mas, para chegar lá, precisa acelerar. “Temos condição de liderar como atores centrais, mas não estamos evoluindo na velocidade que poderíamos, com mais intensas ações de implementação”, acredita Cerri, do CCarbon. Regulação e desenvolvimento de metodologias adequadas aos países tropicais são pontos fundamentais para o Brasil poder aproveitar a oportunidade enquanto a demanda por créditos cresce.

Com o desenvolvimento do mercado de créditos de carbono, empresas nacionais tentam conquistar seu espaço na certificação da origem e da qualidade do produto, em um cenário dominado por grandes companhias.

Segundo relatório de 2022 da Câmara de Comércio Internacional (ICC, na sigla em inglês) e da consultoria WayCarbon, projetos no Brasil geraram cerca de 45,28 milhões de toneladas de carbono em créditos no ano de 2021, dos quais 97,2% foram certificadas de acordo com o padrão VCS, utilizado pelas maiores empresas estrangeiras.

O principal problema para as empresas brasileiras é a construção de uma reputação. Enquanto gigantes como Verra, Gold Standard e Indigo já têm suas metodologias conhecidas e cientificamente validadas, as brasileiras ainda têm que provar para o mercado que as formas que usam para calcular o carbono são adequadas e, além disso, precisam buscar clientes enfrentando a concorrência.

Por outro lado, como possível vantagem para as empresas nacionais, as grandes companhias internacionais de certificação são originárias de países de clima temperado como Estados Unidos e Suíça, o que significa que as metodologias podem ter problemas na hora de avaliar solos, climas e biomas tropicais como os do Brasil. Assim, caso consigam criar uma metodologia reconhecida e conquistar reputação internacional, as brasileiras podem mirar outros mercados tropicais na América Latina, Ásia e África.

Projetos de reflorestamento e conservação de matas são parte dos que buscam gerar créditos de carbono no Brasil Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO

As empresas brasileiras também têm uma proximidade cultural maior com os habitantes de áreas próximas aos projetos. O fator cultural é preponderante para o sucesso de um projeto de geração de créditos de carbono quando se trata do uso do solo em regeneração ou preservação de florestas, ou para os projetos ligados à agropecuária.

Reputação

O mercado de créditos de carbono se baseia na premissa de que, ao diminuir as emissões de gases de efeito estufa em determinado período, ou compensá-las por meio de outras formas, como a regeneração de matas, uma empresa pode vender esses créditos para outras que emitiram mais do poderiam. Da mesma forma, uma empresa pode comprar créditos como parte de um programa ESG. Assim, se criam incentivos para a redução das emissões e para a preservação de florestas e outros biomas.

Por isso, garantir a procedência e a qualidade dos créditos gerados é fundamental: a certificadora deve não só afirmar que eles de fato foram gerados, como também assegurar que tudo foi feito de acordo com padrões rígidos e que a cultura das comunidades envolvidas foi preservada. Ter os créditos certificados por uma metodologia validada cientificamente, publicada em artigos e periódicos científicos, faz a diferença na hora de atrair compradores para eles.

A demanda por certificação é alta, mas, para as empresas brasileiras que buscam espaço no mercado, ainda é difícil encontrar o lugar. “Precisa ter competência comprovada. Para conseguir clientes, passa por networking, conseguir acesso por meio de alguma pessoa, para que as partes possam sentar à mesa e possamos apresentar o trabalho”, explica Francisco Higuchi, CEO da Tero Carbon, uma das certificadoras brasileiras.

Antonio Manoel dos Santos Oliveira, diretor-presidente da Caaobi, outra certificadora, defende que a concorrência não precisa ser excludente. “Podemos complementar o espectro de ações, já que as metodologias são necessariamente diferentes. As florestas aqui são outras, solos são outros, não temos neve”, afirma. Ambas as empresas afirmam estar atentas para questões em todos os biomas brasileiros, mas a Tero tem foco na Amazônia.

Ponto de vista parecido é visto do lado de quem busca a certificação para vender os créditos. Natália Rentería, diretora de assuntos regulatórios da Biomas, empresa de restauro de ecossistemas que fará a venda de créditos criadas por seis empresas brasileiras (Suzano, Itaú, Rabobank, Marfrig, Santander e Vale), avalia que é necessário para as brasileiras realizarem um alinhamento para conquistarem a reputação desejada. “Como o mercado nasceu lá fora, tem que tropicalizar o que veio de fora, mas em diálogo, mostrando para o mundo o que faz, em parceria, projetos em comum, sempre um alinhamento com a regra do jogo”, diz.

Para Rentería, um dos possíveis problemas é a falta de experiência: como é um mercado novo, tende a atrair muita gente pela oportunidade, não necessariamente quem já tenha algum conhecimento. “É um mercado em ebulição, que está crescendo e se impondo. É legítimo que se queira criar novas oportunidades para o Brasil, mas é um movimento que deve ser feito com muita cautela”, afirma. Segundo ela, a Biomas tem o conhecimento das novas iniciativas brasileiras e espera que um dia estas metodologias possam ser adotadas em larga escala ― hoje, os créditos são certificados pela Verra.

Oliveira, da Caaobi, também cita a questão do pouco tempo de mercado, mas demonstra mais esperança: para ele, conforme se perceba que as certificadoras brasileiras são íntegras e promovem o desenvolvimento local, elas ganharão força para se expandir. “Podemos ter um intercâmbio com os países do hemisfério sul que tem florestas tropicais para cooperar e avançar. O diálogo sul-sul é muito frutífero”, prevê.

Diferenças

Se a reputação é difícil e precisa de tempo para ser construída, o principal trunfo para as certificadoras brasileiras é já pensarem as metodologias a partir das condições climáticas do País. No entanto, existem diferenças mesmo entre as próprias empresas brasileiras.

A Caaobi, por exemplo, pede o máximo de informações possíveis, como caracterização geoambiental da área, elementos do meio físico, substrato geológico, solo, fauna, flora, se é campo de várzea ou de floresta mais alta, em montanha. Ainda avalia serviços ecossistêmicos da biosfera, como proteger os cursos d’água, e os valores culturais das comunidades.

A tecnologia pode ajudar a partir de pontos como a imagem aerotransportada em drones para saber quantas árvores há na região, qual a altura e diâmetro delas e demais informações do território. Também podem ser usados para mapear a biodiversidade, o que ajuda instituições de pesquisa.

Já a Tero afirma buscar métodos simples, para diminuir a subjetividade e evitar afastar clientes pequenos e médios, como imóveis rurais. “Com o tempo, caso haja recursos, começamos a trabalhar com ferramentas de outros níveis tecnológicos, como sensores, geoprocessamento”, comenta Higuchi. Como exemplo da mudança de metodologia para as empresas estrangeiras, o CEO da certificadora menciona que elas costumam medir as áreas de forma circular, enquanto no Brasil o mais adequado é utilizar áreas retangulares, devido à grande quantidade de árvores e a proximidade entre elas.

Certificadoras brasileiras atuam em todos os biomas, respeitando as condições locais Foto: Dida Sampaio / Estadão

Outro exemplo da tentativa de tropicalizar os protocolos vem do CCarbon, centro de estudos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), dirigido por Carlos Eduardo Cerri. Ao Estadão, o professor explica que já avançaram muito nesse protocolo. “Seja na parte de plantas, seja numa floresta, num pasto ou na cultura agrícola, já estamos desenvolvendo protocolos, e também para o solo”, relata Cerri.

Assim como nos outros casos, o CCarbon teve como ponto de partida a percepção de que nem sempre os protocolos criados serviam para países de clima tropical. “Uma das prioridades é atuar no que chamam de tropicalização. Estamos fazendo uma adequação para o caso do Brasil e entendemos que pode ser aplicável para outros países de clima tropical na América Latina, África e Ásia”, diz Cerri.

Questões a serem avaliadas são quantas amostras precisam ser coletadas para quantificar o carbono armazenado no solo ou nas plantas, em quantas camadas, e como a análise deve ser feita. Em parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação Agropecuária (IICA), um guia do CCarbon foi publicado. O próximo passo seria começar o trabalho de campo, com coletas do solo de amostras de solo e planta em vários biomas aplicando esse protocolo

Como o CCarbon é um laboratório acadêmico, a intenção não é lucrar com o trabalho. Uma vez que as descobertas sejam validadas cientificamente, devem ser publicados em forma de artigos, em periódicos científicos, ou de guias, como o que já foi publicado pelo IICA, com linguagem mais simples para serem aplicados por quem desejar.

“Não é desconstruir o que já tem, mas adaptar o que não for bom. O que está atendendo às condições, ótimo, o que não, pode ser melhorado”, afirma Cerri. A busca é por um meio termo entre o rigor científico para cada especificidade e a escalabilidade que o setor privado pede, com foco no armazenamento de carbono no solo, em material orgânico que ajuda as próximas gerações de plantas a crescerem ali.

Por fim, as próprias grandes certificadoras podem aprender e evoluir em seus protocolos. Rentería, da Biomas, conta ter um diálogo com a Verra sobre isso. “Tem espaço para melhoria na metodologia que oferecem, em algumas especificidades brasileiras que não foram dada a atenção que merecem. Podem considerar algumas questões com mais detalhe”. Conforme a diretora, a empresa manteve o espaço aberto para ouvir os desenvolvedoras de projetos de créditos de carbono.

Biomas tropicais como o Cerrado, Caatinga e Pampa também não são completamente avaliados pelas metodologias generalistas Foto: RUA BARON / ESTADÃO

Ao Estadão a Verra, por meio de um porta-voz, destacou o Brasil como um dos principais países para seu trabalho, e citou como exemplos ter um representante da empresa no País para conversar com stakeholders e que um protocolo novo (a Metodologia para Redução da Intensidade de Emissões da Produção de Gado em Pastagens) está sendo desenvolvido por uma organização brasileira. Sobre protocolos já desenvolvidos, afirmou que o de uso na agricultura é globalmente aplicável, mas que a disponibilidade limitada de dados pode restringir a capacidade, o que afetaria tanto locais de clima temperado quanto tropicais. Também ressaltou que projetos de regeneração e conservação de florestas são uma das maiores fontes de créditos de carbono e que quase todos eles estão em países tropicais e são certificados pela Verra.

A Gold Standard afirmou que a metodologia de plantio de florestas ou reflorestamento é aplicável globalmente e permite que os usuários façam modelos de crescimento específico para as espécies ou modelos mais gerais. Segundo a empresa, a incerteza é levada em consideração pela metodologia, e os créditos só são emitidos com base no desempenho real de um projeto, avaliado por medições no local por meio de um inventário florestal. Também relata estar disposta a aprimorar as metodologias e práticas e que conversa com stakeholders no Brasil.

Já a Indigo informou possuir uma equipe científica no País e que entende as condições diferentes de solos, condições climáticas e culturas tropicais. Para a empresa, será necessário realizar mais pesquisas e contar com revisão por pares para que a metodologia seja suficiente adequada para cada região específica. Também disse ter conhecimento de iniciativas no Brasil que já estão engajadas nesse trabalho e que estão abertos a parcerias com universidades e outros parceiros.

Oportunidades

Se as metodologias são distintas, um ponto é certeza: o mercado de carbono é uma grande oportunidade para ajudar o Brasil a gerar recursos e poder manter as florestas em pé. A regulamentação completa do mercado de créditos de carbono será votada no Senado após ser aprovada na Câmara.

Segundo a ICC, o País pode gerar US$ 120 bilhões até 2030 com créditos de carbono, além de 8,5 milhões de empregos até 2050, no caso de uma regulamentação bem-feita. “Tem muito espaço para gerar crédito de carbono, a oferta hoje é menor que a demanda. Quanto mais certificadoras tiver, gera concorrência, aprimoramento tecnológico e metodológico, impulsiona o mercado e a inovação”, afirma Higuchi, da Tero.

A presença de certificadoras brasileiras pode ser importante para manter parte dos recursos no Brasil. “Os créditos de carbono têm que ser um instrumento social e criar uma bioeconomia local. Pode ser uma alavanca, um instrumento muito importante para o Brasil promover o desenvolvimento com justiça social, climática e ambiental”, garante Oliveira, da Caaobi.

Mas, para chegar lá, precisa acelerar. “Temos condição de liderar como atores centrais, mas não estamos evoluindo na velocidade que poderíamos, com mais intensas ações de implementação”, acredita Cerri, do CCarbon. Regulação e desenvolvimento de metodologias adequadas aos países tropicais são pontos fundamentais para o Brasil poder aproveitar a oportunidade enquanto a demanda por créditos cresce.

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