Para Jon Paul Pérez, presidente da empresa imobiliária Related, sediada em Miami, a atual situação da economia, com a taxa de juros nos Estados Unidos em queda (enquanto a do Brasil está num ciclo de alta) pode impulsionar as vendas de imóveis para brasileiros.
O grupo Related é conhecido por seus investimentos imobiliários na Flórida, onde há forte presença tanto de brasileiros quanto de outros imigrantes da América Latina. No total, a companhia já construiu mais de 100 mil apartamentos, a maioria em Miami e em Nova York.
Paul, que é filho do fundador do grupo, o bilionário Jorge Pérez, conta que o perfil de brasileiros que buscam imóveis nos Estados Unidos é variado, com muitos desejando ter uma moradia no país ou proteger o capital com uma propriedade em território americano.
No Brasil, a Related tem sociedade com a construtora Benx no projeto Parque Global. O empreendimento terá uma das torres mais altas da cidade, com mais de 50 andares, e demorou 21 anos para sair do papel devido a problemas com a regularização do terreno de 218 mil metros quadrados, localizado na Vila Andrade, na zona sul de São Paulo.
O empreendimento Parque Global terá cinco torres residenciais, um shopping center, uma unidade para tratamento de câncer do Hospital Israelita Albert Einstein, uma universidade e uma torre de 52 andares. Os preços das unidades são por volta de R$ 5 milhões.
Paul diz que pretende trazer mais projetos da Related ao País nos próximos anos. “Por enquanto nosso foco é São Paulo, onde estamos baseados. Já consideramos outras cidades, como o Rio, mas ainda não encontramos a oportunidade certa”, diz.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
Como a Related atrai os investidores brasileiros a comprar imóveis em Miami?
Brasileiros compram propriedades em Miami há 30 anos. Temos cerca de 15 projetos ativos no sul da Flórida e, todas as semanas, olhamos os relatórios de vendas e vemos que há interesse forte de brasileiros. Eles já estão pensando em Miami, então nossa presença aqui ajuda a facilitar a decisão final. Os brasileiros se sentem confortáveis em Miami. Além disso, Miami tem uma forte influência cultural latino-americana, então, é comum que passem férias ou coloquem seus filhos para estudar em escolas lá. Comprar um imóvel nos EUA também é uma forma de diversificar ativos em dólares, o que oferece segurança aos seus investimentos.
Com a queda das taxas de juros nos EUA, o sr. acredita que mais pessoas vão investir em propriedades lá?
Sim, a inflação caiu e as taxas de juros estão se normalizando, o que favorece o mercado imobiliário.
Há muita competição quando se fala da compra de um imóvel nos Estados Unidos. Como a Related diferencia a Flórida para os investidores internacionais?
Não precisamos convencer o público sobre comprar imóveis nos EUA. Em geral, os EUA são um dos lugares mais seguros para fazer investimentos. A economia é estável e forte. A Flórida, especialmente Miami, é muito atrativa por ser pró-negócios, tem impostos baixos e um clima excelente. Vemos mais investimentos indo para a Flórida em vez de Nova York, Chicago ou Califórnia. O comprador doméstico desses Estados está de mudança para a Flórida e Miami em geral, porque muitas empresas se mudaram para lá, levando empregos com altos salários e diversificando a economia. Isso cria uma economia mais estável e diversificada do que antes, que era baseada em turismo de fim de semana. Agora, é onde as pessoas compram imóveis, levam suas famílias e seus negócios. Acreditamos fortemente que Miami é comparável a Nova York, Londres ou outras grandes cidades no mundo.
O que as pessoas tendem a fazer com essas propriedades? Elas compram para uso próprio ou para alugar?
É uma mistura. Algumas compram como segunda residência, outras para alugar, e algumas como uma segurança para possíveis mudanças de país temporárias.
Qual é o perfil do comprador brasileiro?
O perfil é variado. Temos médicos, advogados, empreendedores, proprietários de negócios... qualquer pessoa que tenha recursos para investir.
Na sua opinião, algo deve mudar com a eleição de Donald Trump em relação à compra de imóveis nos EUA por brasileiros ou pelo público da América Latina como um todo?
Não, eu sou muito otimista. Seja qual fosse o seu lado antes, nós temos agora um presidente para os próximos quatro anos. Uma decisão foi tomada pelos eleitores, e agora todos nós precisamos nos unir ao presidente, e torcer, unidos, para que a economia vá bastante bem no novo mandato.
Como o público brasileiro normalmente paga pelos imóveis?
Na etapa de pré-construção, nós vendemos, e assinamos contratos. Os compradores pagam 20% do preço total, em dinheiro. Então, nós começamos a construção, e eles colocam mais 10%, e geralmente quando terminamos de erguer o prédio, eles pagam mais 10%. No total, geralmente, 40% são pagos até a construção. Os outros 60% são pagos, quando eles recebem o título de propriedade. O que vemos hoje é que 90% dos nossos clientes compram apartamentos sem hipoteca. Às vezes, o comprador doméstico considera a compra com hipoteca, considerando que as taxas estarão menores dentro de três anos.
A Related é sócia do projeto Parque Global, da Benx. O projeto deu o retorno esperado? Há planos para mais projetos no País?
Sim, o Parque Global foi um projeto extremamente bem-sucedido, muito bem recebido pelo mercado local. Trouxemos elementos dos Estados Unidos para o projeto, como design e várias amenidades, talvez seja o projeto mais completo do País. As pessoas gostaram disso e, por isso, os apartamentos venderam tão rapidamente pelos preços que conseguimos atingir. Foi uma longa estrada até agora, porque tivemos alguns obstáculos no início do projeto, incluindo processos judiciais, mas conseguimos relançar e obter sucesso depois de todos os problemas. Gostamos de estar no Brasil e acreditamos que São Paulo oferece uma quantidade tremenda de oportunidades para desenvolver novos projetos que elevem o padrão do que tem sido feito aqui.
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No Brasil, os condomínios de luxo têm áreas de lazer tão completas que quase se parecem com clubes. Como a empresa se adequou a essa demanda?
O Parque Global é o projeto mais parecido com o que fazemos nos EUA. Nós exageramos na oferta de lazer no condomínio. Fazemos amenidades em uma área de 3 mil a 4 mil metros quadrados em um empreendimento. Os projetos têm simulador de golf, sala de jantar privativa, restaurantes, academia completa, spa, salão de beleza, bibliotecas, salas de leitura e espaços de coworking. A ideia é que o morador tenha tudo o que precisa sem precisar sair do prédio, com o adicional da oferta de serviços. É como morar em um hotel.
Pensando no futuro, vocês planejam continuar investindo aqui no Brasil, especificamente em São Paulo?
Sim, por enquanto nosso foco é São Paulo, onde estamos baseados. Já consideramos outras cidades, como o Rio, mas ainda não encontramos a oportunidade certa. Estamos explorando várias possibilidades para expandir aqui em São Paulo. Temos um bom entendimento do mercado paulistano, em parte graças ao nosso parceiro na Related Brasil, Daniel Citron, que é um desenvolvedor imobiliário muito experiente, tendo trabalhado anteriormente com a Tishman Speyer.