Conheça a primeira empresa a produzir terras raras em larga escala no Brasil


Mineração Serra Verde, de investidores estrangeiros, montou unidade de mineração em Minaçu (GO) que extrai quatro elementos pesados em jazida de argilas iônicas; produtos têm aplicações na transição energética

Por Ivo Ribeiro
Atualização:

O Brasil estreia num mercado de poucos players no mundo ao iniciar a mineração em alta escala de terras raras, mineral que contém 17 metais utilizados em centenas de aplicações industriais e tecnológicas. O domínio global é da China, que detém o know-how de separação e purificação dos elementos químicos presentes no minério. É nessa fase que está o segredo estratégico do negócio. A Mineração Serra Verde, montada por investidores estrangeiros, começou a operar neste ano uma planta industrial em Goiás, no município de Minaçu.

A empresa tem, no depósito que leva o nome de Pela Ema, quase na divisa com Tocantins, aproximadamente 200 milhões de toneladas (medidas) de minério. Considerando reservas indicadas e inferidas, o depósito supera 1,3 bilhão de toneladas, de acordo com informação da ANM (agência do setor). Nesse depósito se destaca a presença de terras raras leves e pesadas de alto valor, considerados, por especialistas, essenciais para a transição energética.

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Os ETR, como são chamados os elementos de terras raras, recebem esse nome exatamente pela dificuldade de extração, separação e purificação, apesar do minério ser encontrado em grande quantidade na crosta terrestre. Nas reservas de Serra Verde, há quatro ETR - principalmente neodímio (Nd), praseodímio (Pr), térbio (Tb) e disprósio (Dy) -, predominantes na jazida Pela Ema (em torno de 30%) e, atualmente, são os que têm alto valor no mercado. O minério está a uma profundidade de 10 a 13 metros, praticamente aflorado.

O Brasil é o terceiro país em quantidade conhecida e medida de terras raras - 21 milhões de toneladas de metal contido -, segundo dados oficiais do governo brasileiro e da agência americana de serviços geológicos(USGS), espalhadas em diversos Estados. As reservas chinesas são o dobro: 44 milhões de toneladas. O Vietnã está logo acima do Brasil, com 22 milhões de toneladas.

Instalações de beneficiamento de óxidos de terras raras em Minaçu (GO), extraídos de jazida de argilas iônicas pela mineradora Serra Verde Foto: Divulgação/Mineração Serra Verde
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A Serra Verde faz a extração e beneficiamento dos elementos químicos de terras raras com argilas iônicas, um dos tipos de minério onde se encontra o grupo de metais. A argila iônica é uma fonte importante de metais leves e pesados dentro das terras raras. Do total,15 elementos são da família dos lantanídeos (lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio e lutécio), que na tabela periódica têm números atômicos de 51 a 71. Os outros dois, de propriedades similares, são o escândio e o ítrio.

Os ETR estão presentes tanto em rochas duras como nas argilas iônicas mineradas pela Serra Verde. Após o beneficiamento do minério, os metais de terras raras são obtidos num concentrado que contém os óxidos.

A tonelada de óxido de terras raras (OTR) desses elementos atinge US$ 42 mil, mas em alguns momentos já alcançou US$ 65 mil. É que são ingredientes essenciais na fabricação, por exemplo, de motores elétricos eficientes, turbinas de geração de energia eólica, telas de TV, imãs de discos rígidos de computadores e de sistemas de áudio e circuitos eletrônicos de celulares, entre outras.

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“Estamos lidando com materiais altamente estratégicos por suas aplicações”, afirma o presidente da Serra Verde, Ricardo Grossi, formado engenheiro de minas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Somos a primeira operação a produzir esses quatro elementos fora da Ásia em argila iônica”, ressalta.

A empresa concluiu sua unidade de produção no final de 2023 e iniciou produção comercial em janeiro deste ano. Continua ainda na fase de homologação de seus óxidos com potenciais clientes e ganhando dia a dia escala de produção. O executivo informou que já há cartas de intenção de compra assinadas com várias empresas de refino da China.

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A Serra Verde tem capacidade instalada de 5 mil toneladas equivalente de OTR contido em concentrado de carbonato (produto final). A previsão é operar a unidade a pleno volume em 2026. “É um longo processo de aprendizado”, afirma o executivo. “É inevitável vender o concentrado para a China, pois é lá que está a tecnologia de separação e purificação dos elementos”, diz o executivo. Essa tecnologia é a grande barreira nesse negócio, acrescenta Grossi.

O executivo informa que o cenário de mercado para os quatro principais produtos da Serra Verde sinaliza crescimento a um ritmo de 8,5% ao ano na demanda até 2035. Será sustentado principalmente pela transição energética, com expansão da frota de veículos elétricos e geração de energia limpa (turbinas de geração eólica) e super imãs.

Controlada desde 2011 pelo fundo americano Denham Capital, quando adquiriu o projeto, a Serra Verde recebeu em outubro aporte de US$ 150 milhões (R$ 864 milhões pelo câmbio atual) para otimizar a produção da unidade fabril em Goiás, fortalecendo a empresa para um salto maior futuramente. Os recursos vieram dos fundos Energy & Minerals Group (EMG) e Vision Blue Resources (VBR).

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O Estadão apurou que em janeiro de 2023, EMG e VBR já haviam investido quantia igual na mineradora, conforme informação no site do Serra Verde Group. “O investimento da EMG e da VBR fornecerá financiamento adicional para a concluir a construção e comissionamento da Fase I, além de permitir que estudos adicionais sejam realizados sobre uma potencial expansão da Fase II do depósito Pela Ema”, disse o grupo na nota. Os três fundos, de presença global, têm foco de investimento em transição energética, descarbonização, minerais e metais críticos e em energia limpa.

A companhia almeja atingir a plena capacidade de produção em menos de dois anos e se firmar como um produtor alternativo de OTR fora da Ásia. Após isso, diz Grossi, é que a Serra Verde vai avaliar condições para um novo ciclo de crescimento. As reservas atuais medidas de minério são suficientes para 25 anos, mas com volumes indicados e inferidos a vida útil do Pela Ema pode alcançar 50 anos.

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A empresa e seus acionistas, após completar a fase I, de otimização da planta e desgargalamento das suas operações de mina e de beneficiamento, estudam duplicação do projeto (Fase II), dobrando a produção de minério bruto antes de 2030. Para a produção atual, são extraídas da mina entre 12 milhões e 13 milhões de toneladas de minério por ano, que passam por processo de beneficiamento desde a mina.

O executivo da Serra Verde prefere não indicar geração de receita da empresa. Pelos preços atuais, no entanto, um cálculo aponta que, no caso de produção à plena capacidade, a companhia teria faturamento anual na casa de US$ 200 milhões (R$ 1,2 bilhão). A mineradora conta com 1,3 mil funcionários, entre próprios e de terceiros. Grossi destaca que 72% são moradores da cidade de Minaçu e 80% são do Estado de Goiás.

Operação sustentável

Um diferencial da Serra Verde para outras mineradoras de ETR, segundo seu presidente, é o modelo de produção. Ele menciona que a extração do minério é feita a céu aberto, até 13 metros abaixo da superfície do solo, com baixo risco, por escavadeiras e caminhões. “Não usamos explosivos para liberar o minério”. Além disso, a tecnologia de processamento é simples, com reagentes químicos que não agridem o meio ambiente, afirma. O rejeito de minério após o beneficiamento é filtrado e empilhado a seco e a energia utilizada nas operações é de fonte renovável.

“A Serra Verde almeja ser reconhecida como o fornecedor de OTR mais sustentável do mundo”, destaca o executivo. Ele afirma que em países da Ásia, principalmente Mianmar (ou Burma), as credenciais do ESG (sigla em inglês para ações ambientais, sociais e de governança) não são tão rígidas como no Brasil. “Mianmar (segundo maior produtor mundial) está ao lado da China. Extrai, beneficia e entrega o produto via caminhões a clientes chineses. Nós transportamos o concentrado, em bags de 1 tonelada, dentro de contêineres, por navio que leva 45 dias até a China”.

Ricardo Grossi, presidente da Mineração Serra Verde: "nossa meta é ser reconhecido como o fornecedor de OTR mais sustentável do mundo”  Foto: Divulgação/Mineração Serra Verde

As pesquisas geológicas da reserva Pela Ema para confirmar a existência de ETR começaram em 2008 e ganharam velocidade a partir de 2010, segundo informações da empresa. Somente no final de 2023, após todos os estudos de viabilidade econômica e técnica e os licenciamentos, ficou pronta a unidade industrial para processar OTR. O investimento total da Deham Capital, desde 2011, e no próprio empreendimento, não é revelado. O Serra Verde Group, que controla a empresa, está sediado em Zug, num dos cantões da Suíça.

A Serra Verde informa ter um dos maiores depósitos de argila iônica no mundo contendo os quatro principais elementos químicos de terras raras. Segundo informa, as argilas se formaram com a lixiviação do granito Serra Dourada, maior intrusão da província estanífera de Goiás. Tem aproximadamente 64 km de extensão na direção Norte-Sul e varia entre 3,5 km e 12 km de largura na direção Leste-Oeste.

No momento, informa Grossi, a companhia conversa com representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para ser inserida no fundo Ore Minerals, criado este ano para apoiar projetos de minerais e metais estratégicos e críticos. “Seria um suporte para duplicação futura, com taxas de financiamento mais competitivas”, diz. Por exemplo, a duplicação da Sigma Lithium, que extrai e processa lítio no Vale do Jequitinhonha (MG), teve financiamento de quase R$ 500 milhões do banco de fomento neste ano, com longo prazo de amortização do empréstimo.

O executivo destaca ainda a indicação da empresa pelo governo americano como investimento estratégico no programa Minerals Security Partnership (MSP), grupo de países e entidades que busca fomentar o desenvolvimento de cadeias de fornecimento de minerais críticos e sustentáveis, com apoio de governos e indústrias, dando suporte financeiro. Envolve energia limpa, mineração (extração e processamento), refino e reciclagem.

Os minerais e metais que se destacam são lítio, cobalto, níquel, manganês, grafite, elementos de terras raras e cobre. Os países-membros do MSP são Coreia do Sul (que preside o grupo), Austrália, Canadá, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, Noruega, Suécia, Reino Unido, Estados Unidos, além da União Europeia.

Na avaliação de Grossi estar no MSP é uma credencial importante para atração de investimentos e acesso a capital a custos mais competitivos. “Foi um grande desafio de exploração de uma província mineral, com etapas de pesquisa, licenciamento e de operação que levou 15 anos para começar a produzir”. Hoje, em escala e custo competitivo no mundo quem domina é a China, observa o executivo.

O Brasil estreia num mercado de poucos players no mundo ao iniciar a mineração em alta escala de terras raras, mineral que contém 17 metais utilizados em centenas de aplicações industriais e tecnológicas. O domínio global é da China, que detém o know-how de separação e purificação dos elementos químicos presentes no minério. É nessa fase que está o segredo estratégico do negócio. A Mineração Serra Verde, montada por investidores estrangeiros, começou a operar neste ano uma planta industrial em Goiás, no município de Minaçu.

A empresa tem, no depósito que leva o nome de Pela Ema, quase na divisa com Tocantins, aproximadamente 200 milhões de toneladas (medidas) de minério. Considerando reservas indicadas e inferidas, o depósito supera 1,3 bilhão de toneladas, de acordo com informação da ANM (agência do setor). Nesse depósito se destaca a presença de terras raras leves e pesadas de alto valor, considerados, por especialistas, essenciais para a transição energética.

Os ETR, como são chamados os elementos de terras raras, recebem esse nome exatamente pela dificuldade de extração, separação e purificação, apesar do minério ser encontrado em grande quantidade na crosta terrestre. Nas reservas de Serra Verde, há quatro ETR - principalmente neodímio (Nd), praseodímio (Pr), térbio (Tb) e disprósio (Dy) -, predominantes na jazida Pela Ema (em torno de 30%) e, atualmente, são os que têm alto valor no mercado. O minério está a uma profundidade de 10 a 13 metros, praticamente aflorado.

O Brasil é o terceiro país em quantidade conhecida e medida de terras raras - 21 milhões de toneladas de metal contido -, segundo dados oficiais do governo brasileiro e da agência americana de serviços geológicos(USGS), espalhadas em diversos Estados. As reservas chinesas são o dobro: 44 milhões de toneladas. O Vietnã está logo acima do Brasil, com 22 milhões de toneladas.

Instalações de beneficiamento de óxidos de terras raras em Minaçu (GO), extraídos de jazida de argilas iônicas pela mineradora Serra Verde Foto: Divulgação/Mineração Serra Verde

A Serra Verde faz a extração e beneficiamento dos elementos químicos de terras raras com argilas iônicas, um dos tipos de minério onde se encontra o grupo de metais. A argila iônica é uma fonte importante de metais leves e pesados dentro das terras raras. Do total,15 elementos são da família dos lantanídeos (lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio e lutécio), que na tabela periódica têm números atômicos de 51 a 71. Os outros dois, de propriedades similares, são o escândio e o ítrio.

Os ETR estão presentes tanto em rochas duras como nas argilas iônicas mineradas pela Serra Verde. Após o beneficiamento do minério, os metais de terras raras são obtidos num concentrado que contém os óxidos.

A tonelada de óxido de terras raras (OTR) desses elementos atinge US$ 42 mil, mas em alguns momentos já alcançou US$ 65 mil. É que são ingredientes essenciais na fabricação, por exemplo, de motores elétricos eficientes, turbinas de geração de energia eólica, telas de TV, imãs de discos rígidos de computadores e de sistemas de áudio e circuitos eletrônicos de celulares, entre outras.

“Estamos lidando com materiais altamente estratégicos por suas aplicações”, afirma o presidente da Serra Verde, Ricardo Grossi, formado engenheiro de minas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Somos a primeira operação a produzir esses quatro elementos fora da Ásia em argila iônica”, ressalta.

A empresa concluiu sua unidade de produção no final de 2023 e iniciou produção comercial em janeiro deste ano. Continua ainda na fase de homologação de seus óxidos com potenciais clientes e ganhando dia a dia escala de produção. O executivo informou que já há cartas de intenção de compra assinadas com várias empresas de refino da China.

A Serra Verde tem capacidade instalada de 5 mil toneladas equivalente de OTR contido em concentrado de carbonato (produto final). A previsão é operar a unidade a pleno volume em 2026. “É um longo processo de aprendizado”, afirma o executivo. “É inevitável vender o concentrado para a China, pois é lá que está a tecnologia de separação e purificação dos elementos”, diz o executivo. Essa tecnologia é a grande barreira nesse negócio, acrescenta Grossi.

O executivo informa que o cenário de mercado para os quatro principais produtos da Serra Verde sinaliza crescimento a um ritmo de 8,5% ao ano na demanda até 2035. Será sustentado principalmente pela transição energética, com expansão da frota de veículos elétricos e geração de energia limpa (turbinas de geração eólica) e super imãs.

Controlada desde 2011 pelo fundo americano Denham Capital, quando adquiriu o projeto, a Serra Verde recebeu em outubro aporte de US$ 150 milhões (R$ 864 milhões pelo câmbio atual) para otimizar a produção da unidade fabril em Goiás, fortalecendo a empresa para um salto maior futuramente. Os recursos vieram dos fundos Energy & Minerals Group (EMG) e Vision Blue Resources (VBR).

O Estadão apurou que em janeiro de 2023, EMG e VBR já haviam investido quantia igual na mineradora, conforme informação no site do Serra Verde Group. “O investimento da EMG e da VBR fornecerá financiamento adicional para a concluir a construção e comissionamento da Fase I, além de permitir que estudos adicionais sejam realizados sobre uma potencial expansão da Fase II do depósito Pela Ema”, disse o grupo na nota. Os três fundos, de presença global, têm foco de investimento em transição energética, descarbonização, minerais e metais críticos e em energia limpa.

A companhia almeja atingir a plena capacidade de produção em menos de dois anos e se firmar como um produtor alternativo de OTR fora da Ásia. Após isso, diz Grossi, é que a Serra Verde vai avaliar condições para um novo ciclo de crescimento. As reservas atuais medidas de minério são suficientes para 25 anos, mas com volumes indicados e inferidos a vida útil do Pela Ema pode alcançar 50 anos.

A empresa e seus acionistas, após completar a fase I, de otimização da planta e desgargalamento das suas operações de mina e de beneficiamento, estudam duplicação do projeto (Fase II), dobrando a produção de minério bruto antes de 2030. Para a produção atual, são extraídas da mina entre 12 milhões e 13 milhões de toneladas de minério por ano, que passam por processo de beneficiamento desde a mina.

O executivo da Serra Verde prefere não indicar geração de receita da empresa. Pelos preços atuais, no entanto, um cálculo aponta que, no caso de produção à plena capacidade, a companhia teria faturamento anual na casa de US$ 200 milhões (R$ 1,2 bilhão). A mineradora conta com 1,3 mil funcionários, entre próprios e de terceiros. Grossi destaca que 72% são moradores da cidade de Minaçu e 80% são do Estado de Goiás.

Operação sustentável

Um diferencial da Serra Verde para outras mineradoras de ETR, segundo seu presidente, é o modelo de produção. Ele menciona que a extração do minério é feita a céu aberto, até 13 metros abaixo da superfície do solo, com baixo risco, por escavadeiras e caminhões. “Não usamos explosivos para liberar o minério”. Além disso, a tecnologia de processamento é simples, com reagentes químicos que não agridem o meio ambiente, afirma. O rejeito de minério após o beneficiamento é filtrado e empilhado a seco e a energia utilizada nas operações é de fonte renovável.

“A Serra Verde almeja ser reconhecida como o fornecedor de OTR mais sustentável do mundo”, destaca o executivo. Ele afirma que em países da Ásia, principalmente Mianmar (ou Burma), as credenciais do ESG (sigla em inglês para ações ambientais, sociais e de governança) não são tão rígidas como no Brasil. “Mianmar (segundo maior produtor mundial) está ao lado da China. Extrai, beneficia e entrega o produto via caminhões a clientes chineses. Nós transportamos o concentrado, em bags de 1 tonelada, dentro de contêineres, por navio que leva 45 dias até a China”.

Ricardo Grossi, presidente da Mineração Serra Verde: "nossa meta é ser reconhecido como o fornecedor de OTR mais sustentável do mundo”  Foto: Divulgação/Mineração Serra Verde

As pesquisas geológicas da reserva Pela Ema para confirmar a existência de ETR começaram em 2008 e ganharam velocidade a partir de 2010, segundo informações da empresa. Somente no final de 2023, após todos os estudos de viabilidade econômica e técnica e os licenciamentos, ficou pronta a unidade industrial para processar OTR. O investimento total da Deham Capital, desde 2011, e no próprio empreendimento, não é revelado. O Serra Verde Group, que controla a empresa, está sediado em Zug, num dos cantões da Suíça.

A Serra Verde informa ter um dos maiores depósitos de argila iônica no mundo contendo os quatro principais elementos químicos de terras raras. Segundo informa, as argilas se formaram com a lixiviação do granito Serra Dourada, maior intrusão da província estanífera de Goiás. Tem aproximadamente 64 km de extensão na direção Norte-Sul e varia entre 3,5 km e 12 km de largura na direção Leste-Oeste.

No momento, informa Grossi, a companhia conversa com representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para ser inserida no fundo Ore Minerals, criado este ano para apoiar projetos de minerais e metais estratégicos e críticos. “Seria um suporte para duplicação futura, com taxas de financiamento mais competitivas”, diz. Por exemplo, a duplicação da Sigma Lithium, que extrai e processa lítio no Vale do Jequitinhonha (MG), teve financiamento de quase R$ 500 milhões do banco de fomento neste ano, com longo prazo de amortização do empréstimo.

O executivo destaca ainda a indicação da empresa pelo governo americano como investimento estratégico no programa Minerals Security Partnership (MSP), grupo de países e entidades que busca fomentar o desenvolvimento de cadeias de fornecimento de minerais críticos e sustentáveis, com apoio de governos e indústrias, dando suporte financeiro. Envolve energia limpa, mineração (extração e processamento), refino e reciclagem.

Os minerais e metais que se destacam são lítio, cobalto, níquel, manganês, grafite, elementos de terras raras e cobre. Os países-membros do MSP são Coreia do Sul (que preside o grupo), Austrália, Canadá, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, Noruega, Suécia, Reino Unido, Estados Unidos, além da União Europeia.

Na avaliação de Grossi estar no MSP é uma credencial importante para atração de investimentos e acesso a capital a custos mais competitivos. “Foi um grande desafio de exploração de uma província mineral, com etapas de pesquisa, licenciamento e de operação que levou 15 anos para começar a produzir”. Hoje, em escala e custo competitivo no mundo quem domina é a China, observa o executivo.

O Brasil estreia num mercado de poucos players no mundo ao iniciar a mineração em alta escala de terras raras, mineral que contém 17 metais utilizados em centenas de aplicações industriais e tecnológicas. O domínio global é da China, que detém o know-how de separação e purificação dos elementos químicos presentes no minério. É nessa fase que está o segredo estratégico do negócio. A Mineração Serra Verde, montada por investidores estrangeiros, começou a operar neste ano uma planta industrial em Goiás, no município de Minaçu.

A empresa tem, no depósito que leva o nome de Pela Ema, quase na divisa com Tocantins, aproximadamente 200 milhões de toneladas (medidas) de minério. Considerando reservas indicadas e inferidas, o depósito supera 1,3 bilhão de toneladas, de acordo com informação da ANM (agência do setor). Nesse depósito se destaca a presença de terras raras leves e pesadas de alto valor, considerados, por especialistas, essenciais para a transição energética.

Os ETR, como são chamados os elementos de terras raras, recebem esse nome exatamente pela dificuldade de extração, separação e purificação, apesar do minério ser encontrado em grande quantidade na crosta terrestre. Nas reservas de Serra Verde, há quatro ETR - principalmente neodímio (Nd), praseodímio (Pr), térbio (Tb) e disprósio (Dy) -, predominantes na jazida Pela Ema (em torno de 30%) e, atualmente, são os que têm alto valor no mercado. O minério está a uma profundidade de 10 a 13 metros, praticamente aflorado.

O Brasil é o terceiro país em quantidade conhecida e medida de terras raras - 21 milhões de toneladas de metal contido -, segundo dados oficiais do governo brasileiro e da agência americana de serviços geológicos(USGS), espalhadas em diversos Estados. As reservas chinesas são o dobro: 44 milhões de toneladas. O Vietnã está logo acima do Brasil, com 22 milhões de toneladas.

Instalações de beneficiamento de óxidos de terras raras em Minaçu (GO), extraídos de jazida de argilas iônicas pela mineradora Serra Verde Foto: Divulgação/Mineração Serra Verde

A Serra Verde faz a extração e beneficiamento dos elementos químicos de terras raras com argilas iônicas, um dos tipos de minério onde se encontra o grupo de metais. A argila iônica é uma fonte importante de metais leves e pesados dentro das terras raras. Do total,15 elementos são da família dos lantanídeos (lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio e lutécio), que na tabela periódica têm números atômicos de 51 a 71. Os outros dois, de propriedades similares, são o escândio e o ítrio.

Os ETR estão presentes tanto em rochas duras como nas argilas iônicas mineradas pela Serra Verde. Após o beneficiamento do minério, os metais de terras raras são obtidos num concentrado que contém os óxidos.

A tonelada de óxido de terras raras (OTR) desses elementos atinge US$ 42 mil, mas em alguns momentos já alcançou US$ 65 mil. É que são ingredientes essenciais na fabricação, por exemplo, de motores elétricos eficientes, turbinas de geração de energia eólica, telas de TV, imãs de discos rígidos de computadores e de sistemas de áudio e circuitos eletrônicos de celulares, entre outras.

“Estamos lidando com materiais altamente estratégicos por suas aplicações”, afirma o presidente da Serra Verde, Ricardo Grossi, formado engenheiro de minas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Somos a primeira operação a produzir esses quatro elementos fora da Ásia em argila iônica”, ressalta.

A empresa concluiu sua unidade de produção no final de 2023 e iniciou produção comercial em janeiro deste ano. Continua ainda na fase de homologação de seus óxidos com potenciais clientes e ganhando dia a dia escala de produção. O executivo informou que já há cartas de intenção de compra assinadas com várias empresas de refino da China.

A Serra Verde tem capacidade instalada de 5 mil toneladas equivalente de OTR contido em concentrado de carbonato (produto final). A previsão é operar a unidade a pleno volume em 2026. “É um longo processo de aprendizado”, afirma o executivo. “É inevitável vender o concentrado para a China, pois é lá que está a tecnologia de separação e purificação dos elementos”, diz o executivo. Essa tecnologia é a grande barreira nesse negócio, acrescenta Grossi.

O executivo informa que o cenário de mercado para os quatro principais produtos da Serra Verde sinaliza crescimento a um ritmo de 8,5% ao ano na demanda até 2035. Será sustentado principalmente pela transição energética, com expansão da frota de veículos elétricos e geração de energia limpa (turbinas de geração eólica) e super imãs.

Controlada desde 2011 pelo fundo americano Denham Capital, quando adquiriu o projeto, a Serra Verde recebeu em outubro aporte de US$ 150 milhões (R$ 864 milhões pelo câmbio atual) para otimizar a produção da unidade fabril em Goiás, fortalecendo a empresa para um salto maior futuramente. Os recursos vieram dos fundos Energy & Minerals Group (EMG) e Vision Blue Resources (VBR).

O Estadão apurou que em janeiro de 2023, EMG e VBR já haviam investido quantia igual na mineradora, conforme informação no site do Serra Verde Group. “O investimento da EMG e da VBR fornecerá financiamento adicional para a concluir a construção e comissionamento da Fase I, além de permitir que estudos adicionais sejam realizados sobre uma potencial expansão da Fase II do depósito Pela Ema”, disse o grupo na nota. Os três fundos, de presença global, têm foco de investimento em transição energética, descarbonização, minerais e metais críticos e em energia limpa.

A companhia almeja atingir a plena capacidade de produção em menos de dois anos e se firmar como um produtor alternativo de OTR fora da Ásia. Após isso, diz Grossi, é que a Serra Verde vai avaliar condições para um novo ciclo de crescimento. As reservas atuais medidas de minério são suficientes para 25 anos, mas com volumes indicados e inferidos a vida útil do Pela Ema pode alcançar 50 anos.

A empresa e seus acionistas, após completar a fase I, de otimização da planta e desgargalamento das suas operações de mina e de beneficiamento, estudam duplicação do projeto (Fase II), dobrando a produção de minério bruto antes de 2030. Para a produção atual, são extraídas da mina entre 12 milhões e 13 milhões de toneladas de minério por ano, que passam por processo de beneficiamento desde a mina.

O executivo da Serra Verde prefere não indicar geração de receita da empresa. Pelos preços atuais, no entanto, um cálculo aponta que, no caso de produção à plena capacidade, a companhia teria faturamento anual na casa de US$ 200 milhões (R$ 1,2 bilhão). A mineradora conta com 1,3 mil funcionários, entre próprios e de terceiros. Grossi destaca que 72% são moradores da cidade de Minaçu e 80% são do Estado de Goiás.

Operação sustentável

Um diferencial da Serra Verde para outras mineradoras de ETR, segundo seu presidente, é o modelo de produção. Ele menciona que a extração do minério é feita a céu aberto, até 13 metros abaixo da superfície do solo, com baixo risco, por escavadeiras e caminhões. “Não usamos explosivos para liberar o minério”. Além disso, a tecnologia de processamento é simples, com reagentes químicos que não agridem o meio ambiente, afirma. O rejeito de minério após o beneficiamento é filtrado e empilhado a seco e a energia utilizada nas operações é de fonte renovável.

“A Serra Verde almeja ser reconhecida como o fornecedor de OTR mais sustentável do mundo”, destaca o executivo. Ele afirma que em países da Ásia, principalmente Mianmar (ou Burma), as credenciais do ESG (sigla em inglês para ações ambientais, sociais e de governança) não são tão rígidas como no Brasil. “Mianmar (segundo maior produtor mundial) está ao lado da China. Extrai, beneficia e entrega o produto via caminhões a clientes chineses. Nós transportamos o concentrado, em bags de 1 tonelada, dentro de contêineres, por navio que leva 45 dias até a China”.

Ricardo Grossi, presidente da Mineração Serra Verde: "nossa meta é ser reconhecido como o fornecedor de OTR mais sustentável do mundo”  Foto: Divulgação/Mineração Serra Verde

As pesquisas geológicas da reserva Pela Ema para confirmar a existência de ETR começaram em 2008 e ganharam velocidade a partir de 2010, segundo informações da empresa. Somente no final de 2023, após todos os estudos de viabilidade econômica e técnica e os licenciamentos, ficou pronta a unidade industrial para processar OTR. O investimento total da Deham Capital, desde 2011, e no próprio empreendimento, não é revelado. O Serra Verde Group, que controla a empresa, está sediado em Zug, num dos cantões da Suíça.

A Serra Verde informa ter um dos maiores depósitos de argila iônica no mundo contendo os quatro principais elementos químicos de terras raras. Segundo informa, as argilas se formaram com a lixiviação do granito Serra Dourada, maior intrusão da província estanífera de Goiás. Tem aproximadamente 64 km de extensão na direção Norte-Sul e varia entre 3,5 km e 12 km de largura na direção Leste-Oeste.

No momento, informa Grossi, a companhia conversa com representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para ser inserida no fundo Ore Minerals, criado este ano para apoiar projetos de minerais e metais estratégicos e críticos. “Seria um suporte para duplicação futura, com taxas de financiamento mais competitivas”, diz. Por exemplo, a duplicação da Sigma Lithium, que extrai e processa lítio no Vale do Jequitinhonha (MG), teve financiamento de quase R$ 500 milhões do banco de fomento neste ano, com longo prazo de amortização do empréstimo.

O executivo destaca ainda a indicação da empresa pelo governo americano como investimento estratégico no programa Minerals Security Partnership (MSP), grupo de países e entidades que busca fomentar o desenvolvimento de cadeias de fornecimento de minerais críticos e sustentáveis, com apoio de governos e indústrias, dando suporte financeiro. Envolve energia limpa, mineração (extração e processamento), refino e reciclagem.

Os minerais e metais que se destacam são lítio, cobalto, níquel, manganês, grafite, elementos de terras raras e cobre. Os países-membros do MSP são Coreia do Sul (que preside o grupo), Austrália, Canadá, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, Noruega, Suécia, Reino Unido, Estados Unidos, além da União Europeia.

Na avaliação de Grossi estar no MSP é uma credencial importante para atração de investimentos e acesso a capital a custos mais competitivos. “Foi um grande desafio de exploração de uma província mineral, com etapas de pesquisa, licenciamento e de operação que levou 15 anos para começar a produzir”. Hoje, em escala e custo competitivo no mundo quem domina é a China, observa o executivo.

O Brasil estreia num mercado de poucos players no mundo ao iniciar a mineração em alta escala de terras raras, mineral que contém 17 metais utilizados em centenas de aplicações industriais e tecnológicas. O domínio global é da China, que detém o know-how de separação e purificação dos elementos químicos presentes no minério. É nessa fase que está o segredo estratégico do negócio. A Mineração Serra Verde, montada por investidores estrangeiros, começou a operar neste ano uma planta industrial em Goiás, no município de Minaçu.

A empresa tem, no depósito que leva o nome de Pela Ema, quase na divisa com Tocantins, aproximadamente 200 milhões de toneladas (medidas) de minério. Considerando reservas indicadas e inferidas, o depósito supera 1,3 bilhão de toneladas, de acordo com informação da ANM (agência do setor). Nesse depósito se destaca a presença de terras raras leves e pesadas de alto valor, considerados, por especialistas, essenciais para a transição energética.

Os ETR, como são chamados os elementos de terras raras, recebem esse nome exatamente pela dificuldade de extração, separação e purificação, apesar do minério ser encontrado em grande quantidade na crosta terrestre. Nas reservas de Serra Verde, há quatro ETR - principalmente neodímio (Nd), praseodímio (Pr), térbio (Tb) e disprósio (Dy) -, predominantes na jazida Pela Ema (em torno de 30%) e, atualmente, são os que têm alto valor no mercado. O minério está a uma profundidade de 10 a 13 metros, praticamente aflorado.

O Brasil é o terceiro país em quantidade conhecida e medida de terras raras - 21 milhões de toneladas de metal contido -, segundo dados oficiais do governo brasileiro e da agência americana de serviços geológicos(USGS), espalhadas em diversos Estados. As reservas chinesas são o dobro: 44 milhões de toneladas. O Vietnã está logo acima do Brasil, com 22 milhões de toneladas.

Instalações de beneficiamento de óxidos de terras raras em Minaçu (GO), extraídos de jazida de argilas iônicas pela mineradora Serra Verde Foto: Divulgação/Mineração Serra Verde

A Serra Verde faz a extração e beneficiamento dos elementos químicos de terras raras com argilas iônicas, um dos tipos de minério onde se encontra o grupo de metais. A argila iônica é uma fonte importante de metais leves e pesados dentro das terras raras. Do total,15 elementos são da família dos lantanídeos (lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio e lutécio), que na tabela periódica têm números atômicos de 51 a 71. Os outros dois, de propriedades similares, são o escândio e o ítrio.

Os ETR estão presentes tanto em rochas duras como nas argilas iônicas mineradas pela Serra Verde. Após o beneficiamento do minério, os metais de terras raras são obtidos num concentrado que contém os óxidos.

A tonelada de óxido de terras raras (OTR) desses elementos atinge US$ 42 mil, mas em alguns momentos já alcançou US$ 65 mil. É que são ingredientes essenciais na fabricação, por exemplo, de motores elétricos eficientes, turbinas de geração de energia eólica, telas de TV, imãs de discos rígidos de computadores e de sistemas de áudio e circuitos eletrônicos de celulares, entre outras.

“Estamos lidando com materiais altamente estratégicos por suas aplicações”, afirma o presidente da Serra Verde, Ricardo Grossi, formado engenheiro de minas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Somos a primeira operação a produzir esses quatro elementos fora da Ásia em argila iônica”, ressalta.

A empresa concluiu sua unidade de produção no final de 2023 e iniciou produção comercial em janeiro deste ano. Continua ainda na fase de homologação de seus óxidos com potenciais clientes e ganhando dia a dia escala de produção. O executivo informou que já há cartas de intenção de compra assinadas com várias empresas de refino da China.

A Serra Verde tem capacidade instalada de 5 mil toneladas equivalente de OTR contido em concentrado de carbonato (produto final). A previsão é operar a unidade a pleno volume em 2026. “É um longo processo de aprendizado”, afirma o executivo. “É inevitável vender o concentrado para a China, pois é lá que está a tecnologia de separação e purificação dos elementos”, diz o executivo. Essa tecnologia é a grande barreira nesse negócio, acrescenta Grossi.

O executivo informa que o cenário de mercado para os quatro principais produtos da Serra Verde sinaliza crescimento a um ritmo de 8,5% ao ano na demanda até 2035. Será sustentado principalmente pela transição energética, com expansão da frota de veículos elétricos e geração de energia limpa (turbinas de geração eólica) e super imãs.

Controlada desde 2011 pelo fundo americano Denham Capital, quando adquiriu o projeto, a Serra Verde recebeu em outubro aporte de US$ 150 milhões (R$ 864 milhões pelo câmbio atual) para otimizar a produção da unidade fabril em Goiás, fortalecendo a empresa para um salto maior futuramente. Os recursos vieram dos fundos Energy & Minerals Group (EMG) e Vision Blue Resources (VBR).

O Estadão apurou que em janeiro de 2023, EMG e VBR já haviam investido quantia igual na mineradora, conforme informação no site do Serra Verde Group. “O investimento da EMG e da VBR fornecerá financiamento adicional para a concluir a construção e comissionamento da Fase I, além de permitir que estudos adicionais sejam realizados sobre uma potencial expansão da Fase II do depósito Pela Ema”, disse o grupo na nota. Os três fundos, de presença global, têm foco de investimento em transição energética, descarbonização, minerais e metais críticos e em energia limpa.

A companhia almeja atingir a plena capacidade de produção em menos de dois anos e se firmar como um produtor alternativo de OTR fora da Ásia. Após isso, diz Grossi, é que a Serra Verde vai avaliar condições para um novo ciclo de crescimento. As reservas atuais medidas de minério são suficientes para 25 anos, mas com volumes indicados e inferidos a vida útil do Pela Ema pode alcançar 50 anos.

A empresa e seus acionistas, após completar a fase I, de otimização da planta e desgargalamento das suas operações de mina e de beneficiamento, estudam duplicação do projeto (Fase II), dobrando a produção de minério bruto antes de 2030. Para a produção atual, são extraídas da mina entre 12 milhões e 13 milhões de toneladas de minério por ano, que passam por processo de beneficiamento desde a mina.

O executivo da Serra Verde prefere não indicar geração de receita da empresa. Pelos preços atuais, no entanto, um cálculo aponta que, no caso de produção à plena capacidade, a companhia teria faturamento anual na casa de US$ 200 milhões (R$ 1,2 bilhão). A mineradora conta com 1,3 mil funcionários, entre próprios e de terceiros. Grossi destaca que 72% são moradores da cidade de Minaçu e 80% são do Estado de Goiás.

Operação sustentável

Um diferencial da Serra Verde para outras mineradoras de ETR, segundo seu presidente, é o modelo de produção. Ele menciona que a extração do minério é feita a céu aberto, até 13 metros abaixo da superfície do solo, com baixo risco, por escavadeiras e caminhões. “Não usamos explosivos para liberar o minério”. Além disso, a tecnologia de processamento é simples, com reagentes químicos que não agridem o meio ambiente, afirma. O rejeito de minério após o beneficiamento é filtrado e empilhado a seco e a energia utilizada nas operações é de fonte renovável.

“A Serra Verde almeja ser reconhecida como o fornecedor de OTR mais sustentável do mundo”, destaca o executivo. Ele afirma que em países da Ásia, principalmente Mianmar (ou Burma), as credenciais do ESG (sigla em inglês para ações ambientais, sociais e de governança) não são tão rígidas como no Brasil. “Mianmar (segundo maior produtor mundial) está ao lado da China. Extrai, beneficia e entrega o produto via caminhões a clientes chineses. Nós transportamos o concentrado, em bags de 1 tonelada, dentro de contêineres, por navio que leva 45 dias até a China”.

Ricardo Grossi, presidente da Mineração Serra Verde: "nossa meta é ser reconhecido como o fornecedor de OTR mais sustentável do mundo”  Foto: Divulgação/Mineração Serra Verde

As pesquisas geológicas da reserva Pela Ema para confirmar a existência de ETR começaram em 2008 e ganharam velocidade a partir de 2010, segundo informações da empresa. Somente no final de 2023, após todos os estudos de viabilidade econômica e técnica e os licenciamentos, ficou pronta a unidade industrial para processar OTR. O investimento total da Deham Capital, desde 2011, e no próprio empreendimento, não é revelado. O Serra Verde Group, que controla a empresa, está sediado em Zug, num dos cantões da Suíça.

A Serra Verde informa ter um dos maiores depósitos de argila iônica no mundo contendo os quatro principais elementos químicos de terras raras. Segundo informa, as argilas se formaram com a lixiviação do granito Serra Dourada, maior intrusão da província estanífera de Goiás. Tem aproximadamente 64 km de extensão na direção Norte-Sul e varia entre 3,5 km e 12 km de largura na direção Leste-Oeste.

No momento, informa Grossi, a companhia conversa com representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para ser inserida no fundo Ore Minerals, criado este ano para apoiar projetos de minerais e metais estratégicos e críticos. “Seria um suporte para duplicação futura, com taxas de financiamento mais competitivas”, diz. Por exemplo, a duplicação da Sigma Lithium, que extrai e processa lítio no Vale do Jequitinhonha (MG), teve financiamento de quase R$ 500 milhões do banco de fomento neste ano, com longo prazo de amortização do empréstimo.

O executivo destaca ainda a indicação da empresa pelo governo americano como investimento estratégico no programa Minerals Security Partnership (MSP), grupo de países e entidades que busca fomentar o desenvolvimento de cadeias de fornecimento de minerais críticos e sustentáveis, com apoio de governos e indústrias, dando suporte financeiro. Envolve energia limpa, mineração (extração e processamento), refino e reciclagem.

Os minerais e metais que se destacam são lítio, cobalto, níquel, manganês, grafite, elementos de terras raras e cobre. Os países-membros do MSP são Coreia do Sul (que preside o grupo), Austrália, Canadá, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, Noruega, Suécia, Reino Unido, Estados Unidos, além da União Europeia.

Na avaliação de Grossi estar no MSP é uma credencial importante para atração de investimentos e acesso a capital a custos mais competitivos. “Foi um grande desafio de exploração de uma província mineral, com etapas de pesquisa, licenciamento e de operação que levou 15 anos para começar a produzir”. Hoje, em escala e custo competitivo no mundo quem domina é a China, observa o executivo.

O Brasil estreia num mercado de poucos players no mundo ao iniciar a mineração em alta escala de terras raras, mineral que contém 17 metais utilizados em centenas de aplicações industriais e tecnológicas. O domínio global é da China, que detém o know-how de separação e purificação dos elementos químicos presentes no minério. É nessa fase que está o segredo estratégico do negócio. A Mineração Serra Verde, montada por investidores estrangeiros, começou a operar neste ano uma planta industrial em Goiás, no município de Minaçu.

A empresa tem, no depósito que leva o nome de Pela Ema, quase na divisa com Tocantins, aproximadamente 200 milhões de toneladas (medidas) de minério. Considerando reservas indicadas e inferidas, o depósito supera 1,3 bilhão de toneladas, de acordo com informação da ANM (agência do setor). Nesse depósito se destaca a presença de terras raras leves e pesadas de alto valor, considerados, por especialistas, essenciais para a transição energética.

Os ETR, como são chamados os elementos de terras raras, recebem esse nome exatamente pela dificuldade de extração, separação e purificação, apesar do minério ser encontrado em grande quantidade na crosta terrestre. Nas reservas de Serra Verde, há quatro ETR - principalmente neodímio (Nd), praseodímio (Pr), térbio (Tb) e disprósio (Dy) -, predominantes na jazida Pela Ema (em torno de 30%) e, atualmente, são os que têm alto valor no mercado. O minério está a uma profundidade de 10 a 13 metros, praticamente aflorado.

O Brasil é o terceiro país em quantidade conhecida e medida de terras raras - 21 milhões de toneladas de metal contido -, segundo dados oficiais do governo brasileiro e da agência americana de serviços geológicos(USGS), espalhadas em diversos Estados. As reservas chinesas são o dobro: 44 milhões de toneladas. O Vietnã está logo acima do Brasil, com 22 milhões de toneladas.

Instalações de beneficiamento de óxidos de terras raras em Minaçu (GO), extraídos de jazida de argilas iônicas pela mineradora Serra Verde Foto: Divulgação/Mineração Serra Verde

A Serra Verde faz a extração e beneficiamento dos elementos químicos de terras raras com argilas iônicas, um dos tipos de minério onde se encontra o grupo de metais. A argila iônica é uma fonte importante de metais leves e pesados dentro das terras raras. Do total,15 elementos são da família dos lantanídeos (lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio e lutécio), que na tabela periódica têm números atômicos de 51 a 71. Os outros dois, de propriedades similares, são o escândio e o ítrio.

Os ETR estão presentes tanto em rochas duras como nas argilas iônicas mineradas pela Serra Verde. Após o beneficiamento do minério, os metais de terras raras são obtidos num concentrado que contém os óxidos.

A tonelada de óxido de terras raras (OTR) desses elementos atinge US$ 42 mil, mas em alguns momentos já alcançou US$ 65 mil. É que são ingredientes essenciais na fabricação, por exemplo, de motores elétricos eficientes, turbinas de geração de energia eólica, telas de TV, imãs de discos rígidos de computadores e de sistemas de áudio e circuitos eletrônicos de celulares, entre outras.

“Estamos lidando com materiais altamente estratégicos por suas aplicações”, afirma o presidente da Serra Verde, Ricardo Grossi, formado engenheiro de minas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Somos a primeira operação a produzir esses quatro elementos fora da Ásia em argila iônica”, ressalta.

A empresa concluiu sua unidade de produção no final de 2023 e iniciou produção comercial em janeiro deste ano. Continua ainda na fase de homologação de seus óxidos com potenciais clientes e ganhando dia a dia escala de produção. O executivo informou que já há cartas de intenção de compra assinadas com várias empresas de refino da China.

A Serra Verde tem capacidade instalada de 5 mil toneladas equivalente de OTR contido em concentrado de carbonato (produto final). A previsão é operar a unidade a pleno volume em 2026. “É um longo processo de aprendizado”, afirma o executivo. “É inevitável vender o concentrado para a China, pois é lá que está a tecnologia de separação e purificação dos elementos”, diz o executivo. Essa tecnologia é a grande barreira nesse negócio, acrescenta Grossi.

O executivo informa que o cenário de mercado para os quatro principais produtos da Serra Verde sinaliza crescimento a um ritmo de 8,5% ao ano na demanda até 2035. Será sustentado principalmente pela transição energética, com expansão da frota de veículos elétricos e geração de energia limpa (turbinas de geração eólica) e super imãs.

Controlada desde 2011 pelo fundo americano Denham Capital, quando adquiriu o projeto, a Serra Verde recebeu em outubro aporte de US$ 150 milhões (R$ 864 milhões pelo câmbio atual) para otimizar a produção da unidade fabril em Goiás, fortalecendo a empresa para um salto maior futuramente. Os recursos vieram dos fundos Energy & Minerals Group (EMG) e Vision Blue Resources (VBR).

O Estadão apurou que em janeiro de 2023, EMG e VBR já haviam investido quantia igual na mineradora, conforme informação no site do Serra Verde Group. “O investimento da EMG e da VBR fornecerá financiamento adicional para a concluir a construção e comissionamento da Fase I, além de permitir que estudos adicionais sejam realizados sobre uma potencial expansão da Fase II do depósito Pela Ema”, disse o grupo na nota. Os três fundos, de presença global, têm foco de investimento em transição energética, descarbonização, minerais e metais críticos e em energia limpa.

A companhia almeja atingir a plena capacidade de produção em menos de dois anos e se firmar como um produtor alternativo de OTR fora da Ásia. Após isso, diz Grossi, é que a Serra Verde vai avaliar condições para um novo ciclo de crescimento. As reservas atuais medidas de minério são suficientes para 25 anos, mas com volumes indicados e inferidos a vida útil do Pela Ema pode alcançar 50 anos.

A empresa e seus acionistas, após completar a fase I, de otimização da planta e desgargalamento das suas operações de mina e de beneficiamento, estudam duplicação do projeto (Fase II), dobrando a produção de minério bruto antes de 2030. Para a produção atual, são extraídas da mina entre 12 milhões e 13 milhões de toneladas de minério por ano, que passam por processo de beneficiamento desde a mina.

O executivo da Serra Verde prefere não indicar geração de receita da empresa. Pelos preços atuais, no entanto, um cálculo aponta que, no caso de produção à plena capacidade, a companhia teria faturamento anual na casa de US$ 200 milhões (R$ 1,2 bilhão). A mineradora conta com 1,3 mil funcionários, entre próprios e de terceiros. Grossi destaca que 72% são moradores da cidade de Minaçu e 80% são do Estado de Goiás.

Operação sustentável

Um diferencial da Serra Verde para outras mineradoras de ETR, segundo seu presidente, é o modelo de produção. Ele menciona que a extração do minério é feita a céu aberto, até 13 metros abaixo da superfície do solo, com baixo risco, por escavadeiras e caminhões. “Não usamos explosivos para liberar o minério”. Além disso, a tecnologia de processamento é simples, com reagentes químicos que não agridem o meio ambiente, afirma. O rejeito de minério após o beneficiamento é filtrado e empilhado a seco e a energia utilizada nas operações é de fonte renovável.

“A Serra Verde almeja ser reconhecida como o fornecedor de OTR mais sustentável do mundo”, destaca o executivo. Ele afirma que em países da Ásia, principalmente Mianmar (ou Burma), as credenciais do ESG (sigla em inglês para ações ambientais, sociais e de governança) não são tão rígidas como no Brasil. “Mianmar (segundo maior produtor mundial) está ao lado da China. Extrai, beneficia e entrega o produto via caminhões a clientes chineses. Nós transportamos o concentrado, em bags de 1 tonelada, dentro de contêineres, por navio que leva 45 dias até a China”.

Ricardo Grossi, presidente da Mineração Serra Verde: "nossa meta é ser reconhecido como o fornecedor de OTR mais sustentável do mundo”  Foto: Divulgação/Mineração Serra Verde

As pesquisas geológicas da reserva Pela Ema para confirmar a existência de ETR começaram em 2008 e ganharam velocidade a partir de 2010, segundo informações da empresa. Somente no final de 2023, após todos os estudos de viabilidade econômica e técnica e os licenciamentos, ficou pronta a unidade industrial para processar OTR. O investimento total da Deham Capital, desde 2011, e no próprio empreendimento, não é revelado. O Serra Verde Group, que controla a empresa, está sediado em Zug, num dos cantões da Suíça.

A Serra Verde informa ter um dos maiores depósitos de argila iônica no mundo contendo os quatro principais elementos químicos de terras raras. Segundo informa, as argilas se formaram com a lixiviação do granito Serra Dourada, maior intrusão da província estanífera de Goiás. Tem aproximadamente 64 km de extensão na direção Norte-Sul e varia entre 3,5 km e 12 km de largura na direção Leste-Oeste.

No momento, informa Grossi, a companhia conversa com representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para ser inserida no fundo Ore Minerals, criado este ano para apoiar projetos de minerais e metais estratégicos e críticos. “Seria um suporte para duplicação futura, com taxas de financiamento mais competitivas”, diz. Por exemplo, a duplicação da Sigma Lithium, que extrai e processa lítio no Vale do Jequitinhonha (MG), teve financiamento de quase R$ 500 milhões do banco de fomento neste ano, com longo prazo de amortização do empréstimo.

O executivo destaca ainda a indicação da empresa pelo governo americano como investimento estratégico no programa Minerals Security Partnership (MSP), grupo de países e entidades que busca fomentar o desenvolvimento de cadeias de fornecimento de minerais críticos e sustentáveis, com apoio de governos e indústrias, dando suporte financeiro. Envolve energia limpa, mineração (extração e processamento), refino e reciclagem.

Os minerais e metais que se destacam são lítio, cobalto, níquel, manganês, grafite, elementos de terras raras e cobre. Os países-membros do MSP são Coreia do Sul (que preside o grupo), Austrália, Canadá, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, Noruega, Suécia, Reino Unido, Estados Unidos, além da União Europeia.

Na avaliação de Grossi estar no MSP é uma credencial importante para atração de investimentos e acesso a capital a custos mais competitivos. “Foi um grande desafio de exploração de uma província mineral, com etapas de pesquisa, licenciamento e de operação que levou 15 anos para começar a produzir”. Hoje, em escala e custo competitivo no mundo quem domina é a China, observa o executivo.

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