Os negócios de impacto social no Brasil aumentaram em quantidade e estão mais diversificados, aponta um mapeamento da Quintessa, consultoria especializada em soluções de impacto, e da consultoria Pipe. Segundo a pesquisa, grandes empresas têm demonstrado interesse em incorporar iniciativas de impacto em suas decisões relacionadas à responsabilidade social e à agenda ESG (pauta ambiental, social e de governança, na sigla em inglês).
Conforme a pesquisa, o número de empresas do tipo aumentou de 44 para 70 entre 2019 e 2022, representando um crescimento de 63%. Por outro lado, houve uma maior especialização das organizações, com focos bem definidos, ao mesmo tempo em que diversos temas passaram a receber atenção no mundo corporativo. Também foi percebida uma maior diversificação nos tipos de apoio oferecidos, nos estágios de negócios contemplados e na expansão geográfica das iniciativas pelo Brasil, mas também no exterior.
Apesar de visar o lucro, essas organizações buscam promover uma mudança positiva no mundo em prol de uma causa específica, posicionando-se em um espaço intermediário entre o segundo setor (empresas) e o terceiro (ONGs e demais entidades e instituições que não visam o lucro).
Foi em referência ao modelo de ação das empresas sociais e negócios de impacto que o documento publicado pela Quintessa recebeu o nome de Guia 2.5. O mapeamento tem a intenção de simplificar o cenário para as organizações ainda não familiarizadas com a agenda e orientar a criação de iniciativas. O estímulo principal está na promoção da inovação aberta, permitindo que identifiquem caminhos possíveis para se destacar no mercado sustentável.
“A agenda ESG no Brasil ainda é muito incipiente. Muitas companhias ainda estão formulando estratégias ou não sabem nem por onde começar. Nessa última edição do guia, quem quiser consegue entender o que já existe no mercado e, a partir disso, criar um diferencial competitivo”, explica Anna Aranha, sócia da Quintessa.
O capital filantrópico está entre as principais fontes de financiamento utilizadas e desempenha um papel essencial na decisão dos investimentos, segundo a pesquisa. Apesar de não ser a única fonte de diversificação de recursos para garantir a sustentabilidade das iniciativas, de acordo com Aranha, pode ser um movimento fundamental na aceleração do desenvolvimento sustentável.
“Quando a gente olha para o ecossistema de negócios de impacto, a maior parte dos empreendedores está ainda enfrentando os desafios de modelo de negócio, sem ter sustentabilidade financeira, sem passar ali da barreira, por exemplo, de um milhão de faturamento por ano. Dado o seu momento de alto risco, por não ter encontrado seu modelo de negócio, o capital filantrópico é muito bem-vindo para os empreendedores, por ser um capital que é mais aderente ao risco”, diz.
“Um exemplo prático que vemos muito é que empreendedores que saem da academia precisam de recursos para testar o mercado, mas correm o risco de viver de edital, e nunca chegam numa estrutura que os tornem sustentáveis. O capital filantrópico é bem-vindo para destravar soluções, mas não pode ser o único, precisa ter outras”, alerta Mariana Fonseca, CEO da Pipe.
Uma das discussões atuais no cenário gira em torno de quem deve financiar o desenvolvimento de negócios de impacto maduros, de acordo com o guia 2.5. Enquanto em outros mercados, o governo desempenha um papel significativo no financiamento desse setor, no Brasil, institutos, fundações e famílias empresárias têm assumido essa função.
Aranha relembra que é importante reconhecer que o setor ainda é relativamente pequeno em comparação com seu potencial e demanda existente. “O setor cresceu, mas a porcentagem dentro do venture capital é muito pequena. Estamos num momento de início da ampliação do ESG, impacto da tentativa de causar impacto positivo nas empresas, e temos visto uma demanda muito grande por impacto, por transparência. Então, muita gente tem olhado para esse mercado como oportunidade”.
Apesar dessa visão de oportunidade, o Brasil ainda precisaria que o setor estivesse mais desenvolvido, dadas as suas características ambientais e amplas necessidades sociais. Segundo analisou a Quintessa, o Brasil, com sua forte conexão com a agricultura e as florestas, têm potencial para liderar um movimento de mudança em direção a um futuro mais sustentável no mundo, mas ainda não o aproveita.
Diversidade e equidade
A diversidade é o destaque crítico nesse contexto. Atualmente, 29% das iniciativas de impacto social não consideram a diversidade em seus processos seletivos sobre apoios, número relevante já que perfis de maiorias minorizadas apresentam maior dificuldade e enfrentam maiores barreiras na aceleração de seus empreendimentos.
“Em vários dos programas que a gente faz, depende do setor que a gente está selecionando. Por exemplo, soluções em empregabilidade e educação, a gente percebe muito mais diversidade de raça e gênero do que em setores como as Deep Techs, ou demandas em carbono, tendem a ser turmas típicas, homens, brancos, alta renda”, menciona Aranha.
No que se refere a presença de mulheres no time, a maioria das organizações (65,5%) são predominantemente femininas, possuindo mais de 50% de mulheres no time. Por outro lado, a maioria delas (48%) possui menos de 25% da equipe formada por pessoas negras. Assim, as organizações possuem proporções baixas de representatividade em relação à população do Brasil, no que se refere à proporção de pessoas negras.
“Essa discussão de que quem está concebendo essas iniciativas para os empreendedores também não tem essa diversidade racial. Então, a gente também quis levantar o olhar para isso, de ter uma maior diversidade entre quem está atuando mesmo no campo, de negócios de impacto”, cita Aranha.
Conforme destacado pela Quintessa, a aceleração não representa o único caminho a ser considerado; é fundamental que sejam implementadas iniciativas que ofereçam suporte às empresas em todas as regiões do país. Embora todas as regiões tenham iniciativas, todas necessitam de mais para atender as populações com os serviços prestados.