São Paulo - As cooperativas de crédito estão na Avenida Paulista e na Faria Lima, em São Paulo, com agências físicas. Também estão entre os participantes do piloto do Drex, a futura versão digital do Real. Em números, uma delas, a Sicredi, está entre as dez maiores instituições do País em volume de ativos, à frente de bancos tradicionais. E, de acordo com especialistas, o avanço do volume de depósitos que estão nessas instituições mostra que elas começam a concorrer mais diretamente com os bancos.
Dados do Banco Central mostram que, em março, as cooperativas reuniam 6,9% dos R$ 4,8 trilhões em depósitos que estavam em instituições financeiras. Ainda estavam distantes dos bancos, mas o crescimento nos últimos dez anos tem sido constante. O número era maior que a soma dos depósitos mantidos em outros tipos de participante do sistema financeiro, como as instituições de pagamento, categoria em que se enquadram muitas das fintechs mais conhecidas pelo público.
Alguns fatores explicam esse crescimento. O primeiro é a presença física: desde 2019, o segmento abriu 2,3 mil agências no País (passando de 6.054 para 8.343), enquanto os bancos fecharam 2,7 mil (de 19.964 para 17.215), para ampliar esforços no atendimento digital. Um segundo fator, derivado do primeiro, é a migração de profissionais do segmento bancário para o de cooperativas.
“Vimos as pessoas saindo de banco e indo para as cooperativas, e esse movimento leva a um aumento do apetite de crédito”, afirma o diretor sênior de instituições financeiras da agência de classificação de risco Fitch, Claudio Gallina. “O apetite mudou, e o cliente começa a ver os benefícios, como o crédito relativamente mais barato que no banco.”
Modelo diferente
Nas cooperativas de crédito, o cliente é, na verdade, um cooperado, que faz uma contribuição financeira ao entrar, geralmente de valor simbólico. Ao final de cada exercício financeiro, o resultado é dividido entre todos eles - que pode ser lucro, mas também prejuízo. “As cooperativas, diferentemente de fintechs e bancos, não visam ao lucro, porque o cliente é também o dono”, diz o diretor da Coordenação Sistêmica e Relações Institucionais do Sicoob (Sistema de Cooperativas de Crédito no Brasil), Ênio Meinen, que destaca que os recursos recolhidos por uma cooperativa devem ser aplicados na mesma região.
As centrais - ou seja, sistemas de cooperativas de crédito como o Sicoob e o Sicredi (Sistema de Crédito Cooperativo) - reúnem uma série de cooperativas locais. No Sicoob, há 339, enquanto no Sicredi, que em ativos é o maior sistema do País, são 105. “Cada cooperativa pode estar em vários municípios, embora no nosso caso, uma não concorra com a outra. Elas têm regiões de atuação bem delimitadas”, afirma o diretor de Administração do Sicredi, Alexandre Englert Barbosa.
O diretor de bancos e instituições financeiras não bancárias da Fitch, Jean Lopes, afirma que, embora o sistema ainda seja concentrado, a expansão das cooperativas de crédito é chamativa justamente pelo modelo de negócio. “Quando dois players com um modelo de negócio diferente começam a aparecer entre os maiores, isso tem um efeito”, afirma. “Os bancos estão olhando para as cooperativas como um concorrente bem forte.”
Como não têm o lucro como finalidade, as cooperativas são isentas de tributos sobre os resultados, diferentemente dos bancos, o que também ajuda na expansão das operações. “Elas pagam menos impostos comparadas aos bancos, e isso permite que tenham um capital mais robusto”, diz Gallina, da Fitch.
Disputa
Outro fator que explica o crescimento das instituições cooperativas é a captura de clientes de todos os segmentos da economia, após décadas em que essas instituições se voltavam aos produtores rurais. Em resumo, qualquer pessoa pode abrir uma conta, o que também levou a um crescimento da prateleira de produtos.
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“Cooperativa tem depósito a prazo, letras de crédito do agronegócio, imobiliárias. Como operam com crédito imobiliário e empréstimos rurais, geram lastro para esse tipo de ativo”, diz Meinen, do Sicoob. “O associado pode concentrar todas as suas atividades financeiras em uma cooperativa.”
Barbosa, do Sicredi, afirma que um dos segmentos em que os sistemas têm a atuação mais forte é o de micro e pequenas empresas (MPEs). Em julho, o Sicredi chegou a 1 milhão de associados pessoas jurídicas, sendo que 73% deles eram MPEs, e 22%, microempreendedores individuais. “A grande diferença é o fomento, a oportunidade que damos para que empresas menores passem a ter crédito e alavancar os municípios.”
Ranking das instituições
Em março deste ano, segundo dados do BC, o Sicredi tinha um volume de R$ 167,2 bilhões em ativos, o que o coloca na nona posição no ranking das maiores instituições financeiras. O Sicoob ocupava a 16ª posição, com R$ 110,9 bilhões. Confira abaixo o ranking dos dez primeiros do setor:
1) Itaú Unibanco - R$ 2,3 trilhões
2) Banco do Brasil - R$ 2,1 trilhões
3) Caixa - R$ 1,6 trilhão
4) Bradesco - R$ 1,5 trilhão
5) Santander - R$ 1,1 trilhão
6) BNDES - R$ 685 bilhões
7) BTG Pactual - R$ 456 bilhões
8) Banco Safra - R$ 244 bilhões
9) Sicredi - R$ 167 bilhões
10) XP Investimentos - R$ 141 bilhões