CSN: alavancagem financeira em alta e dívida bilionária travam compra de cimenteira do grupo Mover


Benjamin Steinbruch, principal acionista e presidente da siderúrgica, disse a investidores que a prioridade da empresa é compromisso com a desalavancagem; empresa fechou segundo trimestre seguido com prejuízo

Por Ivo Ribeiro

Com a alavancagem financeira da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) crescendo trimestre a trimestre nos últimos dois anos, e uma dívida líquida consolidada que superou R$ 37 bilhões ao final de junho, o empresário Benjamin Steinbruch, principal acionista e presidente do grupo, refletiu bastante antes de tomar a decisão de não fechar a compra da cimenteira da InterCement Participações (ICP) na segunda-feira, 12.

Ele vinha negociando a aquisição desde o início de maio, de forma exclusiva. O maior receio que havia na empresa era jogar para dentro do balanço da CSN passivos da cimenteira que poderiam agravar ainda mais a alavancagem consolidada do conglomerado industrial.

Ao pedir proteção judicial contra seus credores em 15 de julho pelo prazo de 60 dias, a InterCement reportou uma dívida total vencida de R$ 11,7 bilhões com três bancos brasileiros (Bradesco, Itaú e Banco do Brasil) e com dezenas de detentores de senior notes. A proteção foi pedida para ganhar tempo, e, assim, poder renegociar seus compromissos com os credores, tentando tornar a ICP atrativa para a venda. Por outro lado, já seria uma preparação do caminho de uma recuperação judicial. A situação da empresa fica mais crítica ao se somar muitos bilhões de reais em contingências diversas que serão, em alguma data futura, alvos de cobrança.

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Em um momento da conferência com analistas de bancos e investidores na manhã de terça-feira, 13, para explicar os resultados financeiros da CSN no segundo trimestre, Steinbruch tomou a palavra e disse que tinha “forte compromisso com a desalavancagem” financeira da companhia. Afirmou que, nesse cenário, a CSN não descarta a possibilidade de venda de uma participação na mineradora de ferro, hoje a vaca leiteira do grupo, e que continua na busca por um sócio para os ativos de energia.

Quem conhece bem a trajetória empresarial de Steinbruch sabe que ele relutará o quanto puder antes de vender qualquer ativo da CSN. Ao contrário, o empresário é um comprador nato, tendo feito várias aquisições desde 2021. Foram duas na área de cimento e algumas no setor de energia. Dentro de sua estratégia, e seguindo seus critérios de adquirir algo no melhor valor possível para sua empresa, pretende ainda consumar a aquisição da InterCement, na busca em se tornar o líder desse negócio no País. Já avançou bastante desde 2009, aproximando-se da líder Votorantim Cimentos.

O segundo acordo de exclusividade de negociações da ICP com a controladora Mover (ex-grupo Camargo Corrêa), envolvendo mais de 20 fábricas no Brasil e Argentina, terminou na noite de segunda-feira, mesmo dia da publicação do balanço da siderúrgica e suas empresas controladas, entre elas a CSN Cimentos. Steinbruch não só não fechou a compra da cimenteira, como não fez questão de outra renovação do acordo. Vai seguir buscando negociações com os vendedores sem esse compromisso.

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Benjamin Steinbruch, CEO da CSN: meta e forte compromisso com a desalavancagem financeira da companhia Foto: Evelson de Freitas/Estadão

A CSN é, no momento, a única compradora interessada pelo todo da InterCement. Isso ela demonstrou desde fevereiro de 2023, quando Steinbruch se propôs a assinar um cheque de R$ 9,5 bilhões pela companhia cimenteira. A família controladora da Mover, dona da ICP, avaliou que poderia obter valor maior em um processo de venda competitivo, o que não se verificou.

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Outros grupos no País mostraram interesse apenas por fábricas específicas da InterCement Brasil (são 15 no todo) que complementem suas próprias operações e de forma que evitasse barreiras do órgão antitruste, o Cade. Eles defendem um fatiamento, mas isso é complexo, devido principalmente às contingências (fiscais, multa por cartel, e ambientais).

Seria mais viável de se executar dentro de um processo de recuperação judicial, explicam executivos do setor. Interessados estrangeiros apareceram apenas dois grupos chineses, que mostraram baixo apetite ao apresentarem propostas bem inferiores às esperadas pelos vendedores.

Na sexta-feira, 9, a expectativa de fechamento de negócio era pouco otimista, conforme pessoas próximas dos vendedores disseram ao Estadão. A CSN ainda discutia com os bancos credores taxas de refinanciamento das debêntures que somavam R$ 5,6 bilhões em julho, incluindo juros por parcelas não quitadas. Um dos entraves, a dívida da Mover de R$ 3,1 bilhões com o Bradesco BBI teria avançado. Outra pedra no meio do caminho é a renegociação de US$ 549 milhões (cerca de R$ 3 bilhões) com os donos de senior notes emitidas em 2014 e vencidas em 17 de julho.

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Marcos Rabelo, diretor financeiro executivo e de RI da CSN, reforçou na conferência com analistas de bancos e investidores da siderúrgica o mantra da desalavancagem, lembrando que o objetivo é atingir a meta ainda neste ano. Afirmou que a CSN foi cuidadosa no processo de absorção da InterCement para não comprometer ainda mais sua alavancagem. “A estrutura de capital (da InterCement) teve importância, de forma a não machucar o balanço da CSN”, destacou o executivo, em resposta à pergunta de um analista.

Prejuízo e fluxo de caixa negativo

Contra a situação financeira da CSN pesam também o câmbio, atualmente próximo de R$ 5,50, a demanda ainda morna por aço no mercado interno que continua agravada pela concorrência de produtos importados da China e os preços em baixa do minério de ferro, ao redor de US$ 100 por tonelada. O resultado consolidado da CSN no segundo trimestre trouxe prejuízo de R$ 223 milhões (segundo trimestre do ano no vermelho), valor que foi amenizado pelo ganho líquido de R$ 1,5 bilhão da CSN Mineração. A mineradora teve lucro expressivo com liquidação de uma operação de hedge de preços de minério.

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Todo esse cenário, conforme informações apuradas pelo Estadão, criou um ambiente de muita cautela entre CSN e seus assessores financeiros e jurídicos. O receio de Steinbruch era ver a ação da CSN derreter na Bolsa, como se viu a de Usiminas duas semanas atrás, que desabou mais de 20% no dia do balanço. Isso poderia ocorrer ao anunciar na noite do dia 12 a compra da cimenteira junto com a divulgação de resultados com alavancagem financeira alta. Ela veio em 3,36 vezes na relação entre dívida líquida e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) anualizado. O balanço da CSN trouxe ainda um fluxo de caixa negativo de quase R$ 1,2 bilhão no trimestre.

No balanço, o grupo destaca um caixa líquido de R$ 16,6 bilhões ao final de junho. Mas quem olhar o detalhamento dos números perceberá também que a dívida bruta atingiu a cifra de R$ 53,7 bilhões. No período de um ano, desde segundo trimestre de 2023, ela subiu R$ 9,8 bilhões, enquanto o cenário internacional só piorou O endividamento líquido cresceu quase R$ 6 bilhões. É verdade que tem uma grande parcela de impacto a alta do câmbio, pois 64% da dívida da empresa está atrelado ao dólar.

A alavancagem, reforçou a CSN na apresentação, reflete o impacto da variação cambial nas dívidas em dólar. A empresa informou que segue firme em seu compromisso de reduzir o nível de endividamento, avançando em projetos que ajudem na reciclagem de capital do grupo. Ao final do segundo trimestre de 2022, o índice que mede o nível de alavancagem financeira (dívida líquida sobre Ebitda anualizado), foi de 1,31 vez. Ou seja, em dois anos houve aumento de 156%.

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A diretoria da CSN, sob a liderança de Steinbruch, tem confiança de que pode estancar o crescimento da alavancagem. Colocou como projeção para o final do ano 2,5 vezes na relação do índice. O empresário destacou melhorias na performance da produção de aço ― que foi afetada por problemas operacionais desde o início de 2023 na usina de Volta Redonda (RJ) ―, os recordes de produção própria de minério de ferro e o forte desempenho do negócio de cimento, que já representa 11,4% da receita do grupo e mais de 13% do Ebitda.

“Vamos apresentar resultados melhores, trimestre a trimestre”, garantiu Steinbruch, buscando acalmar os analistas e investidores preocupados com o nível de alavancagem. “Mais dois ou três trimestres vamos atingir o objetivo”, acrescentou o empresário.

Outra medida que a empresa informou que buscará é o alongamento dos prazos de amortização de seus compromissos financeiros. Da dívida total, quase R$ 30 bilhões estão concentrados de 2024 a 2028. A empresa destaca, porém, que tem em caixa, líquidos, mais da metade desse montante.

Usina de aço da CSN em Volta Redonda (RJ), onde a empresa montou sua primeira fábrica de cimento, em 2009 Foto: Divulgação/CSN

A aquisição da InterCement, de fato, consolida o posicionamento da CSN no mercado de cimenteiro do País, saindo de uma única fábrica de moagem ao lado da usina de aço de Volta Redonda, em 2009, para ser uma gigante com operações do Sul ao Nordeste e do Sudeste ao Centro-Oeste. Encerrou 2023 com 21% de participação no mercado nacional, na vice-liderança, e fechou o primeiro semestre deste ano com 22%. No Sudeste, diz já ter a liderança, com uma política agressiva de vendas e preços.

As operações brasileiras da ICP podem adicionar ao menos 14% (resultado do ano passado) à atual fatia da CSN Cimentos, que passaria a deter mais de um terço do mercado brasileiro. Mas, isso, neste momento, poderia representar um preço, e risco, elevado à saúde financeira de todo o grupo CSN no atual cenário. O negócio, entretanto, terá de passar pelo crivo do Cade, que deverá pedir alguns remédios (vendas de fábricas em alguns Estados) diante da elevada concentração que a CSN passaria a ter.

Na Argentina, onde o governo de Javier Milei ainda tenta debelar a grave crise econômica do país, a controlada Loma Negra da ICP é líder absoluta de vendas, com cerca de 48%. Mas a empresa vem sofrendo expressiva retração de vendas desde meados do ano passado.

Em 2023, após se desfazer dos ativos africanos (Egito, Moçambique e África do Sul) ao longo do ano, a InterCement apresentou receita líquida consolidada de US$ 1,42 bilhão (cerca de R$ 7,2 bilhões), com prejuízo consolidado de US$ 263 milhões (em torno de R$ 1,3 bilhão) atribuído aos seus acionistas controladores. A alavancagem da companhia já estava acima dos limites aceitáveis: 3,9 vezes. Desde então, o perfil financeiro da ICP só se agravou. E toda a dívida foi considerada vencida em julho. Havia debêntures com prazo até 2027. No Brasil e Argentina, em volume, as vendas da cimenteira somaram 15 milhões de toneladas no ano passado.

Na terça-feira, 13, as ações da CSN fecharam em alta de 4,37% , cotadas a R$ 12,19, e o papel da mineradora subiu 6,3%, a R$ 5,24, refletindo alívio do mercado com os compromissos de estancar o endividamento e o ótimo resultado da área de mineração.

Procurada, a Mover informou que não comenta o assunto por estar em processo de negociações.

Com a alavancagem financeira da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) crescendo trimestre a trimestre nos últimos dois anos, e uma dívida líquida consolidada que superou R$ 37 bilhões ao final de junho, o empresário Benjamin Steinbruch, principal acionista e presidente do grupo, refletiu bastante antes de tomar a decisão de não fechar a compra da cimenteira da InterCement Participações (ICP) na segunda-feira, 12.

Ele vinha negociando a aquisição desde o início de maio, de forma exclusiva. O maior receio que havia na empresa era jogar para dentro do balanço da CSN passivos da cimenteira que poderiam agravar ainda mais a alavancagem consolidada do conglomerado industrial.

Ao pedir proteção judicial contra seus credores em 15 de julho pelo prazo de 60 dias, a InterCement reportou uma dívida total vencida de R$ 11,7 bilhões com três bancos brasileiros (Bradesco, Itaú e Banco do Brasil) e com dezenas de detentores de senior notes. A proteção foi pedida para ganhar tempo, e, assim, poder renegociar seus compromissos com os credores, tentando tornar a ICP atrativa para a venda. Por outro lado, já seria uma preparação do caminho de uma recuperação judicial. A situação da empresa fica mais crítica ao se somar muitos bilhões de reais em contingências diversas que serão, em alguma data futura, alvos de cobrança.

Em um momento da conferência com analistas de bancos e investidores na manhã de terça-feira, 13, para explicar os resultados financeiros da CSN no segundo trimestre, Steinbruch tomou a palavra e disse que tinha “forte compromisso com a desalavancagem” financeira da companhia. Afirmou que, nesse cenário, a CSN não descarta a possibilidade de venda de uma participação na mineradora de ferro, hoje a vaca leiteira do grupo, e que continua na busca por um sócio para os ativos de energia.

Quem conhece bem a trajetória empresarial de Steinbruch sabe que ele relutará o quanto puder antes de vender qualquer ativo da CSN. Ao contrário, o empresário é um comprador nato, tendo feito várias aquisições desde 2021. Foram duas na área de cimento e algumas no setor de energia. Dentro de sua estratégia, e seguindo seus critérios de adquirir algo no melhor valor possível para sua empresa, pretende ainda consumar a aquisição da InterCement, na busca em se tornar o líder desse negócio no País. Já avançou bastante desde 2009, aproximando-se da líder Votorantim Cimentos.

O segundo acordo de exclusividade de negociações da ICP com a controladora Mover (ex-grupo Camargo Corrêa), envolvendo mais de 20 fábricas no Brasil e Argentina, terminou na noite de segunda-feira, mesmo dia da publicação do balanço da siderúrgica e suas empresas controladas, entre elas a CSN Cimentos. Steinbruch não só não fechou a compra da cimenteira, como não fez questão de outra renovação do acordo. Vai seguir buscando negociações com os vendedores sem esse compromisso.

Benjamin Steinbruch, CEO da CSN: meta e forte compromisso com a desalavancagem financeira da companhia Foto: Evelson de Freitas/Estadão

A CSN é, no momento, a única compradora interessada pelo todo da InterCement. Isso ela demonstrou desde fevereiro de 2023, quando Steinbruch se propôs a assinar um cheque de R$ 9,5 bilhões pela companhia cimenteira. A família controladora da Mover, dona da ICP, avaliou que poderia obter valor maior em um processo de venda competitivo, o que não se verificou.

Outros grupos no País mostraram interesse apenas por fábricas específicas da InterCement Brasil (são 15 no todo) que complementem suas próprias operações e de forma que evitasse barreiras do órgão antitruste, o Cade. Eles defendem um fatiamento, mas isso é complexo, devido principalmente às contingências (fiscais, multa por cartel, e ambientais).

Seria mais viável de se executar dentro de um processo de recuperação judicial, explicam executivos do setor. Interessados estrangeiros apareceram apenas dois grupos chineses, que mostraram baixo apetite ao apresentarem propostas bem inferiores às esperadas pelos vendedores.

Na sexta-feira, 9, a expectativa de fechamento de negócio era pouco otimista, conforme pessoas próximas dos vendedores disseram ao Estadão. A CSN ainda discutia com os bancos credores taxas de refinanciamento das debêntures que somavam R$ 5,6 bilhões em julho, incluindo juros por parcelas não quitadas. Um dos entraves, a dívida da Mover de R$ 3,1 bilhões com o Bradesco BBI teria avançado. Outra pedra no meio do caminho é a renegociação de US$ 549 milhões (cerca de R$ 3 bilhões) com os donos de senior notes emitidas em 2014 e vencidas em 17 de julho.

Marcos Rabelo, diretor financeiro executivo e de RI da CSN, reforçou na conferência com analistas de bancos e investidores da siderúrgica o mantra da desalavancagem, lembrando que o objetivo é atingir a meta ainda neste ano. Afirmou que a CSN foi cuidadosa no processo de absorção da InterCement para não comprometer ainda mais sua alavancagem. “A estrutura de capital (da InterCement) teve importância, de forma a não machucar o balanço da CSN”, destacou o executivo, em resposta à pergunta de um analista.

Prejuízo e fluxo de caixa negativo

Contra a situação financeira da CSN pesam também o câmbio, atualmente próximo de R$ 5,50, a demanda ainda morna por aço no mercado interno que continua agravada pela concorrência de produtos importados da China e os preços em baixa do minério de ferro, ao redor de US$ 100 por tonelada. O resultado consolidado da CSN no segundo trimestre trouxe prejuízo de R$ 223 milhões (segundo trimestre do ano no vermelho), valor que foi amenizado pelo ganho líquido de R$ 1,5 bilhão da CSN Mineração. A mineradora teve lucro expressivo com liquidação de uma operação de hedge de preços de minério.

Todo esse cenário, conforme informações apuradas pelo Estadão, criou um ambiente de muita cautela entre CSN e seus assessores financeiros e jurídicos. O receio de Steinbruch era ver a ação da CSN derreter na Bolsa, como se viu a de Usiminas duas semanas atrás, que desabou mais de 20% no dia do balanço. Isso poderia ocorrer ao anunciar na noite do dia 12 a compra da cimenteira junto com a divulgação de resultados com alavancagem financeira alta. Ela veio em 3,36 vezes na relação entre dívida líquida e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) anualizado. O balanço da CSN trouxe ainda um fluxo de caixa negativo de quase R$ 1,2 bilhão no trimestre.

No balanço, o grupo destaca um caixa líquido de R$ 16,6 bilhões ao final de junho. Mas quem olhar o detalhamento dos números perceberá também que a dívida bruta atingiu a cifra de R$ 53,7 bilhões. No período de um ano, desde segundo trimestre de 2023, ela subiu R$ 9,8 bilhões, enquanto o cenário internacional só piorou O endividamento líquido cresceu quase R$ 6 bilhões. É verdade que tem uma grande parcela de impacto a alta do câmbio, pois 64% da dívida da empresa está atrelado ao dólar.

A alavancagem, reforçou a CSN na apresentação, reflete o impacto da variação cambial nas dívidas em dólar. A empresa informou que segue firme em seu compromisso de reduzir o nível de endividamento, avançando em projetos que ajudem na reciclagem de capital do grupo. Ao final do segundo trimestre de 2022, o índice que mede o nível de alavancagem financeira (dívida líquida sobre Ebitda anualizado), foi de 1,31 vez. Ou seja, em dois anos houve aumento de 156%.

A diretoria da CSN, sob a liderança de Steinbruch, tem confiança de que pode estancar o crescimento da alavancagem. Colocou como projeção para o final do ano 2,5 vezes na relação do índice. O empresário destacou melhorias na performance da produção de aço ― que foi afetada por problemas operacionais desde o início de 2023 na usina de Volta Redonda (RJ) ―, os recordes de produção própria de minério de ferro e o forte desempenho do negócio de cimento, que já representa 11,4% da receita do grupo e mais de 13% do Ebitda.

“Vamos apresentar resultados melhores, trimestre a trimestre”, garantiu Steinbruch, buscando acalmar os analistas e investidores preocupados com o nível de alavancagem. “Mais dois ou três trimestres vamos atingir o objetivo”, acrescentou o empresário.

Outra medida que a empresa informou que buscará é o alongamento dos prazos de amortização de seus compromissos financeiros. Da dívida total, quase R$ 30 bilhões estão concentrados de 2024 a 2028. A empresa destaca, porém, que tem em caixa, líquidos, mais da metade desse montante.

Usina de aço da CSN em Volta Redonda (RJ), onde a empresa montou sua primeira fábrica de cimento, em 2009 Foto: Divulgação/CSN

A aquisição da InterCement, de fato, consolida o posicionamento da CSN no mercado de cimenteiro do País, saindo de uma única fábrica de moagem ao lado da usina de aço de Volta Redonda, em 2009, para ser uma gigante com operações do Sul ao Nordeste e do Sudeste ao Centro-Oeste. Encerrou 2023 com 21% de participação no mercado nacional, na vice-liderança, e fechou o primeiro semestre deste ano com 22%. No Sudeste, diz já ter a liderança, com uma política agressiva de vendas e preços.

As operações brasileiras da ICP podem adicionar ao menos 14% (resultado do ano passado) à atual fatia da CSN Cimentos, que passaria a deter mais de um terço do mercado brasileiro. Mas, isso, neste momento, poderia representar um preço, e risco, elevado à saúde financeira de todo o grupo CSN no atual cenário. O negócio, entretanto, terá de passar pelo crivo do Cade, que deverá pedir alguns remédios (vendas de fábricas em alguns Estados) diante da elevada concentração que a CSN passaria a ter.

Na Argentina, onde o governo de Javier Milei ainda tenta debelar a grave crise econômica do país, a controlada Loma Negra da ICP é líder absoluta de vendas, com cerca de 48%. Mas a empresa vem sofrendo expressiva retração de vendas desde meados do ano passado.

Em 2023, após se desfazer dos ativos africanos (Egito, Moçambique e África do Sul) ao longo do ano, a InterCement apresentou receita líquida consolidada de US$ 1,42 bilhão (cerca de R$ 7,2 bilhões), com prejuízo consolidado de US$ 263 milhões (em torno de R$ 1,3 bilhão) atribuído aos seus acionistas controladores. A alavancagem da companhia já estava acima dos limites aceitáveis: 3,9 vezes. Desde então, o perfil financeiro da ICP só se agravou. E toda a dívida foi considerada vencida em julho. Havia debêntures com prazo até 2027. No Brasil e Argentina, em volume, as vendas da cimenteira somaram 15 milhões de toneladas no ano passado.

Na terça-feira, 13, as ações da CSN fecharam em alta de 4,37% , cotadas a R$ 12,19, e o papel da mineradora subiu 6,3%, a R$ 5,24, refletindo alívio do mercado com os compromissos de estancar o endividamento e o ótimo resultado da área de mineração.

Procurada, a Mover informou que não comenta o assunto por estar em processo de negociações.

Com a alavancagem financeira da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) crescendo trimestre a trimestre nos últimos dois anos, e uma dívida líquida consolidada que superou R$ 37 bilhões ao final de junho, o empresário Benjamin Steinbruch, principal acionista e presidente do grupo, refletiu bastante antes de tomar a decisão de não fechar a compra da cimenteira da InterCement Participações (ICP) na segunda-feira, 12.

Ele vinha negociando a aquisição desde o início de maio, de forma exclusiva. O maior receio que havia na empresa era jogar para dentro do balanço da CSN passivos da cimenteira que poderiam agravar ainda mais a alavancagem consolidada do conglomerado industrial.

Ao pedir proteção judicial contra seus credores em 15 de julho pelo prazo de 60 dias, a InterCement reportou uma dívida total vencida de R$ 11,7 bilhões com três bancos brasileiros (Bradesco, Itaú e Banco do Brasil) e com dezenas de detentores de senior notes. A proteção foi pedida para ganhar tempo, e, assim, poder renegociar seus compromissos com os credores, tentando tornar a ICP atrativa para a venda. Por outro lado, já seria uma preparação do caminho de uma recuperação judicial. A situação da empresa fica mais crítica ao se somar muitos bilhões de reais em contingências diversas que serão, em alguma data futura, alvos de cobrança.

Em um momento da conferência com analistas de bancos e investidores na manhã de terça-feira, 13, para explicar os resultados financeiros da CSN no segundo trimestre, Steinbruch tomou a palavra e disse que tinha “forte compromisso com a desalavancagem” financeira da companhia. Afirmou que, nesse cenário, a CSN não descarta a possibilidade de venda de uma participação na mineradora de ferro, hoje a vaca leiteira do grupo, e que continua na busca por um sócio para os ativos de energia.

Quem conhece bem a trajetória empresarial de Steinbruch sabe que ele relutará o quanto puder antes de vender qualquer ativo da CSN. Ao contrário, o empresário é um comprador nato, tendo feito várias aquisições desde 2021. Foram duas na área de cimento e algumas no setor de energia. Dentro de sua estratégia, e seguindo seus critérios de adquirir algo no melhor valor possível para sua empresa, pretende ainda consumar a aquisição da InterCement, na busca em se tornar o líder desse negócio no País. Já avançou bastante desde 2009, aproximando-se da líder Votorantim Cimentos.

O segundo acordo de exclusividade de negociações da ICP com a controladora Mover (ex-grupo Camargo Corrêa), envolvendo mais de 20 fábricas no Brasil e Argentina, terminou na noite de segunda-feira, mesmo dia da publicação do balanço da siderúrgica e suas empresas controladas, entre elas a CSN Cimentos. Steinbruch não só não fechou a compra da cimenteira, como não fez questão de outra renovação do acordo. Vai seguir buscando negociações com os vendedores sem esse compromisso.

Benjamin Steinbruch, CEO da CSN: meta e forte compromisso com a desalavancagem financeira da companhia Foto: Evelson de Freitas/Estadão

A CSN é, no momento, a única compradora interessada pelo todo da InterCement. Isso ela demonstrou desde fevereiro de 2023, quando Steinbruch se propôs a assinar um cheque de R$ 9,5 bilhões pela companhia cimenteira. A família controladora da Mover, dona da ICP, avaliou que poderia obter valor maior em um processo de venda competitivo, o que não se verificou.

Outros grupos no País mostraram interesse apenas por fábricas específicas da InterCement Brasil (são 15 no todo) que complementem suas próprias operações e de forma que evitasse barreiras do órgão antitruste, o Cade. Eles defendem um fatiamento, mas isso é complexo, devido principalmente às contingências (fiscais, multa por cartel, e ambientais).

Seria mais viável de se executar dentro de um processo de recuperação judicial, explicam executivos do setor. Interessados estrangeiros apareceram apenas dois grupos chineses, que mostraram baixo apetite ao apresentarem propostas bem inferiores às esperadas pelos vendedores.

Na sexta-feira, 9, a expectativa de fechamento de negócio era pouco otimista, conforme pessoas próximas dos vendedores disseram ao Estadão. A CSN ainda discutia com os bancos credores taxas de refinanciamento das debêntures que somavam R$ 5,6 bilhões em julho, incluindo juros por parcelas não quitadas. Um dos entraves, a dívida da Mover de R$ 3,1 bilhões com o Bradesco BBI teria avançado. Outra pedra no meio do caminho é a renegociação de US$ 549 milhões (cerca de R$ 3 bilhões) com os donos de senior notes emitidas em 2014 e vencidas em 17 de julho.

Marcos Rabelo, diretor financeiro executivo e de RI da CSN, reforçou na conferência com analistas de bancos e investidores da siderúrgica o mantra da desalavancagem, lembrando que o objetivo é atingir a meta ainda neste ano. Afirmou que a CSN foi cuidadosa no processo de absorção da InterCement para não comprometer ainda mais sua alavancagem. “A estrutura de capital (da InterCement) teve importância, de forma a não machucar o balanço da CSN”, destacou o executivo, em resposta à pergunta de um analista.

Prejuízo e fluxo de caixa negativo

Contra a situação financeira da CSN pesam também o câmbio, atualmente próximo de R$ 5,50, a demanda ainda morna por aço no mercado interno que continua agravada pela concorrência de produtos importados da China e os preços em baixa do minério de ferro, ao redor de US$ 100 por tonelada. O resultado consolidado da CSN no segundo trimestre trouxe prejuízo de R$ 223 milhões (segundo trimestre do ano no vermelho), valor que foi amenizado pelo ganho líquido de R$ 1,5 bilhão da CSN Mineração. A mineradora teve lucro expressivo com liquidação de uma operação de hedge de preços de minério.

Todo esse cenário, conforme informações apuradas pelo Estadão, criou um ambiente de muita cautela entre CSN e seus assessores financeiros e jurídicos. O receio de Steinbruch era ver a ação da CSN derreter na Bolsa, como se viu a de Usiminas duas semanas atrás, que desabou mais de 20% no dia do balanço. Isso poderia ocorrer ao anunciar na noite do dia 12 a compra da cimenteira junto com a divulgação de resultados com alavancagem financeira alta. Ela veio em 3,36 vezes na relação entre dívida líquida e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) anualizado. O balanço da CSN trouxe ainda um fluxo de caixa negativo de quase R$ 1,2 bilhão no trimestre.

No balanço, o grupo destaca um caixa líquido de R$ 16,6 bilhões ao final de junho. Mas quem olhar o detalhamento dos números perceberá também que a dívida bruta atingiu a cifra de R$ 53,7 bilhões. No período de um ano, desde segundo trimestre de 2023, ela subiu R$ 9,8 bilhões, enquanto o cenário internacional só piorou O endividamento líquido cresceu quase R$ 6 bilhões. É verdade que tem uma grande parcela de impacto a alta do câmbio, pois 64% da dívida da empresa está atrelado ao dólar.

A alavancagem, reforçou a CSN na apresentação, reflete o impacto da variação cambial nas dívidas em dólar. A empresa informou que segue firme em seu compromisso de reduzir o nível de endividamento, avançando em projetos que ajudem na reciclagem de capital do grupo. Ao final do segundo trimestre de 2022, o índice que mede o nível de alavancagem financeira (dívida líquida sobre Ebitda anualizado), foi de 1,31 vez. Ou seja, em dois anos houve aumento de 156%.

A diretoria da CSN, sob a liderança de Steinbruch, tem confiança de que pode estancar o crescimento da alavancagem. Colocou como projeção para o final do ano 2,5 vezes na relação do índice. O empresário destacou melhorias na performance da produção de aço ― que foi afetada por problemas operacionais desde o início de 2023 na usina de Volta Redonda (RJ) ―, os recordes de produção própria de minério de ferro e o forte desempenho do negócio de cimento, que já representa 11,4% da receita do grupo e mais de 13% do Ebitda.

“Vamos apresentar resultados melhores, trimestre a trimestre”, garantiu Steinbruch, buscando acalmar os analistas e investidores preocupados com o nível de alavancagem. “Mais dois ou três trimestres vamos atingir o objetivo”, acrescentou o empresário.

Outra medida que a empresa informou que buscará é o alongamento dos prazos de amortização de seus compromissos financeiros. Da dívida total, quase R$ 30 bilhões estão concentrados de 2024 a 2028. A empresa destaca, porém, que tem em caixa, líquidos, mais da metade desse montante.

Usina de aço da CSN em Volta Redonda (RJ), onde a empresa montou sua primeira fábrica de cimento, em 2009 Foto: Divulgação/CSN

A aquisição da InterCement, de fato, consolida o posicionamento da CSN no mercado de cimenteiro do País, saindo de uma única fábrica de moagem ao lado da usina de aço de Volta Redonda, em 2009, para ser uma gigante com operações do Sul ao Nordeste e do Sudeste ao Centro-Oeste. Encerrou 2023 com 21% de participação no mercado nacional, na vice-liderança, e fechou o primeiro semestre deste ano com 22%. No Sudeste, diz já ter a liderança, com uma política agressiva de vendas e preços.

As operações brasileiras da ICP podem adicionar ao menos 14% (resultado do ano passado) à atual fatia da CSN Cimentos, que passaria a deter mais de um terço do mercado brasileiro. Mas, isso, neste momento, poderia representar um preço, e risco, elevado à saúde financeira de todo o grupo CSN no atual cenário. O negócio, entretanto, terá de passar pelo crivo do Cade, que deverá pedir alguns remédios (vendas de fábricas em alguns Estados) diante da elevada concentração que a CSN passaria a ter.

Na Argentina, onde o governo de Javier Milei ainda tenta debelar a grave crise econômica do país, a controlada Loma Negra da ICP é líder absoluta de vendas, com cerca de 48%. Mas a empresa vem sofrendo expressiva retração de vendas desde meados do ano passado.

Em 2023, após se desfazer dos ativos africanos (Egito, Moçambique e África do Sul) ao longo do ano, a InterCement apresentou receita líquida consolidada de US$ 1,42 bilhão (cerca de R$ 7,2 bilhões), com prejuízo consolidado de US$ 263 milhões (em torno de R$ 1,3 bilhão) atribuído aos seus acionistas controladores. A alavancagem da companhia já estava acima dos limites aceitáveis: 3,9 vezes. Desde então, o perfil financeiro da ICP só se agravou. E toda a dívida foi considerada vencida em julho. Havia debêntures com prazo até 2027. No Brasil e Argentina, em volume, as vendas da cimenteira somaram 15 milhões de toneladas no ano passado.

Na terça-feira, 13, as ações da CSN fecharam em alta de 4,37% , cotadas a R$ 12,19, e o papel da mineradora subiu 6,3%, a R$ 5,24, refletindo alívio do mercado com os compromissos de estancar o endividamento e o ótimo resultado da área de mineração.

Procurada, a Mover informou que não comenta o assunto por estar em processo de negociações.

Com a alavancagem financeira da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) crescendo trimestre a trimestre nos últimos dois anos, e uma dívida líquida consolidada que superou R$ 37 bilhões ao final de junho, o empresário Benjamin Steinbruch, principal acionista e presidente do grupo, refletiu bastante antes de tomar a decisão de não fechar a compra da cimenteira da InterCement Participações (ICP) na segunda-feira, 12.

Ele vinha negociando a aquisição desde o início de maio, de forma exclusiva. O maior receio que havia na empresa era jogar para dentro do balanço da CSN passivos da cimenteira que poderiam agravar ainda mais a alavancagem consolidada do conglomerado industrial.

Ao pedir proteção judicial contra seus credores em 15 de julho pelo prazo de 60 dias, a InterCement reportou uma dívida total vencida de R$ 11,7 bilhões com três bancos brasileiros (Bradesco, Itaú e Banco do Brasil) e com dezenas de detentores de senior notes. A proteção foi pedida para ganhar tempo, e, assim, poder renegociar seus compromissos com os credores, tentando tornar a ICP atrativa para a venda. Por outro lado, já seria uma preparação do caminho de uma recuperação judicial. A situação da empresa fica mais crítica ao se somar muitos bilhões de reais em contingências diversas que serão, em alguma data futura, alvos de cobrança.

Em um momento da conferência com analistas de bancos e investidores na manhã de terça-feira, 13, para explicar os resultados financeiros da CSN no segundo trimestre, Steinbruch tomou a palavra e disse que tinha “forte compromisso com a desalavancagem” financeira da companhia. Afirmou que, nesse cenário, a CSN não descarta a possibilidade de venda de uma participação na mineradora de ferro, hoje a vaca leiteira do grupo, e que continua na busca por um sócio para os ativos de energia.

Quem conhece bem a trajetória empresarial de Steinbruch sabe que ele relutará o quanto puder antes de vender qualquer ativo da CSN. Ao contrário, o empresário é um comprador nato, tendo feito várias aquisições desde 2021. Foram duas na área de cimento e algumas no setor de energia. Dentro de sua estratégia, e seguindo seus critérios de adquirir algo no melhor valor possível para sua empresa, pretende ainda consumar a aquisição da InterCement, na busca em se tornar o líder desse negócio no País. Já avançou bastante desde 2009, aproximando-se da líder Votorantim Cimentos.

O segundo acordo de exclusividade de negociações da ICP com a controladora Mover (ex-grupo Camargo Corrêa), envolvendo mais de 20 fábricas no Brasil e Argentina, terminou na noite de segunda-feira, mesmo dia da publicação do balanço da siderúrgica e suas empresas controladas, entre elas a CSN Cimentos. Steinbruch não só não fechou a compra da cimenteira, como não fez questão de outra renovação do acordo. Vai seguir buscando negociações com os vendedores sem esse compromisso.

Benjamin Steinbruch, CEO da CSN: meta e forte compromisso com a desalavancagem financeira da companhia Foto: Evelson de Freitas/Estadão

A CSN é, no momento, a única compradora interessada pelo todo da InterCement. Isso ela demonstrou desde fevereiro de 2023, quando Steinbruch se propôs a assinar um cheque de R$ 9,5 bilhões pela companhia cimenteira. A família controladora da Mover, dona da ICP, avaliou que poderia obter valor maior em um processo de venda competitivo, o que não se verificou.

Outros grupos no País mostraram interesse apenas por fábricas específicas da InterCement Brasil (são 15 no todo) que complementem suas próprias operações e de forma que evitasse barreiras do órgão antitruste, o Cade. Eles defendem um fatiamento, mas isso é complexo, devido principalmente às contingências (fiscais, multa por cartel, e ambientais).

Seria mais viável de se executar dentro de um processo de recuperação judicial, explicam executivos do setor. Interessados estrangeiros apareceram apenas dois grupos chineses, que mostraram baixo apetite ao apresentarem propostas bem inferiores às esperadas pelos vendedores.

Na sexta-feira, 9, a expectativa de fechamento de negócio era pouco otimista, conforme pessoas próximas dos vendedores disseram ao Estadão. A CSN ainda discutia com os bancos credores taxas de refinanciamento das debêntures que somavam R$ 5,6 bilhões em julho, incluindo juros por parcelas não quitadas. Um dos entraves, a dívida da Mover de R$ 3,1 bilhões com o Bradesco BBI teria avançado. Outra pedra no meio do caminho é a renegociação de US$ 549 milhões (cerca de R$ 3 bilhões) com os donos de senior notes emitidas em 2014 e vencidas em 17 de julho.

Marcos Rabelo, diretor financeiro executivo e de RI da CSN, reforçou na conferência com analistas de bancos e investidores da siderúrgica o mantra da desalavancagem, lembrando que o objetivo é atingir a meta ainda neste ano. Afirmou que a CSN foi cuidadosa no processo de absorção da InterCement para não comprometer ainda mais sua alavancagem. “A estrutura de capital (da InterCement) teve importância, de forma a não machucar o balanço da CSN”, destacou o executivo, em resposta à pergunta de um analista.

Prejuízo e fluxo de caixa negativo

Contra a situação financeira da CSN pesam também o câmbio, atualmente próximo de R$ 5,50, a demanda ainda morna por aço no mercado interno que continua agravada pela concorrência de produtos importados da China e os preços em baixa do minério de ferro, ao redor de US$ 100 por tonelada. O resultado consolidado da CSN no segundo trimestre trouxe prejuízo de R$ 223 milhões (segundo trimestre do ano no vermelho), valor que foi amenizado pelo ganho líquido de R$ 1,5 bilhão da CSN Mineração. A mineradora teve lucro expressivo com liquidação de uma operação de hedge de preços de minério.

Todo esse cenário, conforme informações apuradas pelo Estadão, criou um ambiente de muita cautela entre CSN e seus assessores financeiros e jurídicos. O receio de Steinbruch era ver a ação da CSN derreter na Bolsa, como se viu a de Usiminas duas semanas atrás, que desabou mais de 20% no dia do balanço. Isso poderia ocorrer ao anunciar na noite do dia 12 a compra da cimenteira junto com a divulgação de resultados com alavancagem financeira alta. Ela veio em 3,36 vezes na relação entre dívida líquida e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) anualizado. O balanço da CSN trouxe ainda um fluxo de caixa negativo de quase R$ 1,2 bilhão no trimestre.

No balanço, o grupo destaca um caixa líquido de R$ 16,6 bilhões ao final de junho. Mas quem olhar o detalhamento dos números perceberá também que a dívida bruta atingiu a cifra de R$ 53,7 bilhões. No período de um ano, desde segundo trimestre de 2023, ela subiu R$ 9,8 bilhões, enquanto o cenário internacional só piorou O endividamento líquido cresceu quase R$ 6 bilhões. É verdade que tem uma grande parcela de impacto a alta do câmbio, pois 64% da dívida da empresa está atrelado ao dólar.

A alavancagem, reforçou a CSN na apresentação, reflete o impacto da variação cambial nas dívidas em dólar. A empresa informou que segue firme em seu compromisso de reduzir o nível de endividamento, avançando em projetos que ajudem na reciclagem de capital do grupo. Ao final do segundo trimestre de 2022, o índice que mede o nível de alavancagem financeira (dívida líquida sobre Ebitda anualizado), foi de 1,31 vez. Ou seja, em dois anos houve aumento de 156%.

A diretoria da CSN, sob a liderança de Steinbruch, tem confiança de que pode estancar o crescimento da alavancagem. Colocou como projeção para o final do ano 2,5 vezes na relação do índice. O empresário destacou melhorias na performance da produção de aço ― que foi afetada por problemas operacionais desde o início de 2023 na usina de Volta Redonda (RJ) ―, os recordes de produção própria de minério de ferro e o forte desempenho do negócio de cimento, que já representa 11,4% da receita do grupo e mais de 13% do Ebitda.

“Vamos apresentar resultados melhores, trimestre a trimestre”, garantiu Steinbruch, buscando acalmar os analistas e investidores preocupados com o nível de alavancagem. “Mais dois ou três trimestres vamos atingir o objetivo”, acrescentou o empresário.

Outra medida que a empresa informou que buscará é o alongamento dos prazos de amortização de seus compromissos financeiros. Da dívida total, quase R$ 30 bilhões estão concentrados de 2024 a 2028. A empresa destaca, porém, que tem em caixa, líquidos, mais da metade desse montante.

Usina de aço da CSN em Volta Redonda (RJ), onde a empresa montou sua primeira fábrica de cimento, em 2009 Foto: Divulgação/CSN

A aquisição da InterCement, de fato, consolida o posicionamento da CSN no mercado de cimenteiro do País, saindo de uma única fábrica de moagem ao lado da usina de aço de Volta Redonda, em 2009, para ser uma gigante com operações do Sul ao Nordeste e do Sudeste ao Centro-Oeste. Encerrou 2023 com 21% de participação no mercado nacional, na vice-liderança, e fechou o primeiro semestre deste ano com 22%. No Sudeste, diz já ter a liderança, com uma política agressiva de vendas e preços.

As operações brasileiras da ICP podem adicionar ao menos 14% (resultado do ano passado) à atual fatia da CSN Cimentos, que passaria a deter mais de um terço do mercado brasileiro. Mas, isso, neste momento, poderia representar um preço, e risco, elevado à saúde financeira de todo o grupo CSN no atual cenário. O negócio, entretanto, terá de passar pelo crivo do Cade, que deverá pedir alguns remédios (vendas de fábricas em alguns Estados) diante da elevada concentração que a CSN passaria a ter.

Na Argentina, onde o governo de Javier Milei ainda tenta debelar a grave crise econômica do país, a controlada Loma Negra da ICP é líder absoluta de vendas, com cerca de 48%. Mas a empresa vem sofrendo expressiva retração de vendas desde meados do ano passado.

Em 2023, após se desfazer dos ativos africanos (Egito, Moçambique e África do Sul) ao longo do ano, a InterCement apresentou receita líquida consolidada de US$ 1,42 bilhão (cerca de R$ 7,2 bilhões), com prejuízo consolidado de US$ 263 milhões (em torno de R$ 1,3 bilhão) atribuído aos seus acionistas controladores. A alavancagem da companhia já estava acima dos limites aceitáveis: 3,9 vezes. Desde então, o perfil financeiro da ICP só se agravou. E toda a dívida foi considerada vencida em julho. Havia debêntures com prazo até 2027. No Brasil e Argentina, em volume, as vendas da cimenteira somaram 15 milhões de toneladas no ano passado.

Na terça-feira, 13, as ações da CSN fecharam em alta de 4,37% , cotadas a R$ 12,19, e o papel da mineradora subiu 6,3%, a R$ 5,24, refletindo alívio do mercado com os compromissos de estancar o endividamento e o ótimo resultado da área de mineração.

Procurada, a Mover informou que não comenta o assunto por estar em processo de negociações.

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