CTG Brasil, Aegea e BRK Ambiental: o que fazem as empresas que podem abrir capital em 2023


Mercado pode quebrar jejum de IPOs registrado no ano passado, mas incertezas sobre política fiscal e taxa de juros são entraves que geram dúvidas entre analistas

Por Lucas Agrela e Wesley Gonsalves

O mercado brasileiro de capitais teve em 2022 o primeiro jejum de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) desde 2003. Neste ano, o mercado segue pautado pela perspectiva de alta dos juros, mas está mais otimista.

Com isso, empresas ligadas ao setor de infraestrutura, mais resilientes às oscilações do consumo, estão de olho na abertura de uma nova janela de oportunidade para lançar seu capital na B3. CTG Brasil, Aegea Saneamento e BRK Ambiental são as companhias que estão mais avançadas no processo de IPO neste ano e seguem como as principais apostas do setor para encerrar a seca de ofertas na Bolsa.

Parte de um nicho conhecido como defensivo no mercado de renda variável, a China Three Gorges Brasil (CTG) atua no setor de geração de energia, sendo a segunda maior do segmento com capital privado.

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A companhia chinesa foi fundada em 1993 e é responsável pela operação da maior hidrelétrica do mundo, a Três Gargantas, no Rio Yantze.

Ela chegou ao País em 2013 e, em 2016, comprou os ativos da Duke Energy e de usinas da Cesp. No ano passado, a CTG Brasil concluiu a aquisição de projetos para a construção de dois parques eólicos e um parque solar. A expectativa do mercado é que a companhia levante até R$ 5 bilhões na estreia na Bolsa.

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Vista por interlocutores do mercado como um dos nomes mais fortes para debutar na B3 este ano, a CTG não comentou sobre a possibilidade de abertura de capital.

Outra aposta do mercado é a empresa de saneamento BRK Ambiental, apesar de haver incertezas crescentes no setor em razão da transição de governo e da nova composição do Congresso Nacional.

No início de dezembro de 2022, a companhia, que opera em cerca de 100 municípios, fez uma assembleia com acionistas para discutir o processo de abertura de capital, mas 20 dias depois divulgou que estava desistindo de novo da ideia.

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Também na lista de empresas de saneamento básico e gestão de efluentes e resíduos, a Aegea estuda oportunidades para romper neste ano a falta de ofertas iniciais de ações na Bolsa brasileira.

Responsável pela gestão hídrica em 178 municípios em 13 Estados, a companhia venceu em setembro de 2022 o leilão de serviços de esgotamento sanitário do Ceará por R$ 7,65 bilhões. A concorrente Iguá Saneamento também participou do certame.

Ao Estadão, a Aegea informou que a abertura de capital é uma possibilidade sempre avaliada pela gestão, mas que depende de “alguns fatores”, como condições de mercado e decisão em conjunto com seus acionistas – entre os quais a Itaúsa, holding controladora do banco Itaú, que detém 10% de participação societária na gigante de saneamento.

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“A companhia sempre busca alternativas para aprimorar sua estrutura de capital”, informou, em nota. Atualmente, a Aegea possui registro de capital aberto na CVM para emissão de títulos e debêntures.

Incertezas sobre política fiscal e juro podem dificultar abertura de capital

A incerteza sobre a condução da política fiscal no novo governo e sobre a redução da taxa básica de juros, a Selic, têm deixado empresários inseguros sobre o melhor momento para fazer a oferta inicial de ações (IPO) de suas companhias.

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No mercado financeiro, há quem aposte que este será um ano melhor para aberturas de capital e emissão de novas ações (follow-on), mas há quem adote um tom mais conservador e ache mais prudente adiar os planos para 2024.

Na visão de Marcelo Millen, líder de equity no mercado de capitais para a América Latina no Citi, o mercado brasileiro tem menos incertezas em 2023 do que tinha no ano passado e a janela para IPOs deve ocorrer entre março e abril.

O especialista afirma que a agenda de follow-ons (emissões subsequentes de ações de empresas de capital aberto) deve continuar ativa, como já ocorreu no ano passado, e as empresas devem buscar uma diminuição do endividamento para evitar redução do lucro em razão do juro alto.

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No varejo, a rede de produtos para animais de estimação Cobasi, principal concorrente da Petz, segue firme nos planos de expansão, com IPO e aquisições no radar. No fim de 2022, a empresa fechou negócio com a rede nordestina Mundo Pet e se tornou dona das 14 lojas da marca na região.

Paulo Nassar, seu presidente, afirmou, também no fim do ano passado, esperar uma melhora no mercado para dar o próximo passo da Cobasi. Procurada, a empresa diz não ter informações concretas sobre o IPO.

Espera

Com a perspectiva de manutenção dos juros em patamar elevado no fim do ano e o maior apetite do investidor pela renda fixa, as estreias na Bolsa das empresas chamadas de crescimento (como as de tecnologia) podem ser adiadas, enquanto as pagadoras de dividendos podem ter um cenário menos desafiador.

“Fazer a oferta agora não seria atrativo, porque o desconto (nas ações) teria de ser muito grande para atrair o investidor”, diz Danielle Lopes, analista da Nord Research.

Algumas empresas sondaram o mercado para fazer IPO, mas resolveram esperar. É o caso da Caramuru Alimentos, fundada em 1964, especializada em processar soja, milho, girassol e canola. A empresa, que fica em Goiás, diz que apesar de ter sondado a possibilidade de IPO em 2021, ano marcado pela taxa de juros abaixo da média histórica, não definiu uma estratégia para a abertura.

Outro nome que aguarda um cenário mais promissor é a Lupo. Em 2021, a fabricante de roupa íntima e artigos esportivos deu entrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com o pedido de registro do seu IPO. Na ocasião, a expectativa era captar cerca de R$ 1,5 bilhão, usar o dinheiro em caixa para financiar os planos de fusões e aquisições e bancar investimentos para crescer. Os planos não saíram do papel.

Confira as empresas que estão preparando IPO

CTG Brasil

A China Three Gorges Brasil (CTG) é a segunda maior do segmento de energia entre as empresas de capital privado. Com base no Paraná, a empresa é parte do grupo chinês CTG, fundado em 1993. A companhia opera a maior hidrelétrica do mundo, a Três Gargantas, no Rio Yantze, na China.

Usina de Jupiá, na junção dos rios Paraná e Sucuriú. Foto: CTG Brasil

Desde que chegou ao Brasil, em 2013, a companhia foi às compras e assumiu as usinas da Cesp em Ilha Solteira e Jupiá, ambas localizadas no Rio Paraná. Também assumiu ativos da Duke Energy. A aposta no IPO vem em um ano em que o mercado tem apetite por ativos de energia, após o sucesso da privatização da Eletrobras. Com a estreia na Bolsa, a empresa pode ser avaliada entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões.

BRK Ambiental

Inicialmente parte da Organização Odebrecht e hoje controlada pelo fundo de investimentos canadense Brookfield Asset Management, a BRK Ambiental já tentou duas vezes fazer uma oferta pública inicial na B3. Não deu certo por não ter conseguido atingir uma avaliação entre R$ 9 bilhões e R$ 9,5 bilhões. A BRK Ambiental tem operações de água e esgoto em todas as regiões do País e conta com mais de 16 milhões de clientes.

Obra da BRK, ex-Odebrecht Ambiental, em região do Recife Foto: Danilo Santos

Agora, com o mercado interessado por ativos ligados a setores menos voláteis do que o varejo, a empresa aguarda a janela de IPO para fazer sua oferta pública em 2023. Entretanto, a intenção do governo Lula de rever o marco do saneamento é um potencial entrave. Além da Brookfield, dona de 70% do negócio de saneamento, o Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, administrado pela Caixa Econômica Federal, detém os outros 30% da companhia.

Aegea

Criada em 2010, a Aegea assumiu o posto de maior empresa de saneamento do País, ao vencer o leilão de ativos da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) em 2021. Desde a operação que quase dobrou seu tamanho, a empresa atende mais de 20 milhões de clientes em cerca de 150 cidades.

Estação de tratamento de esgoto da Aegea em Piracicaba, interior de São Paulo Foto: Divulgação/ Aegea

No fim do ano passado, a Aegea venceu o leilão da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), com oferta de R$ 4,15 bilhões, e expandiu sua operação no País. Antes, a Aegea atuava no Sul por meio de uma parceria público privada com a Corsan para a coleta e tratamento de esgoto na região metropolitana de Porto Alegre. O negócio concretizou a primeira operação de privatização pelo âmbito do marco legal do saneamento. A empresa já tem registro na CVM para a emissão de títulos de dívida (debêntures) e não descarta o IPO. Porém, a incerteza é, como no caso da BRK, a revisão do marco legal do saneamento. Além da Itaúsa, a Aegea tem como sócios o grupo Equipav (70,72%) e o fundo soberano de Cingapura GIC (19,08%).

Cobasi

A Cobasi surgiu em 1985 como uma agropecuária, mas mudou suas atividades para o segmento pet em 1996. Seu nome ainda é herança de sua origem, uma vez que a sigla é um acrônimo para Comércio de Produtos Básicos e Industriais. Até 1998, quando começou sua expansão, a empresa tinha apenas uma unidade.

Cobasi, varejista do segmento pet, tem quase 200 lojas no País Foto: Cobasi/Divulgação

Hoje, são 188 lojas e o faturamento em 2022 foi de R$ 2,6 bilhões. Com o crescimento do mercado pet no Brasil e no mundo, o negócio aguarda o contexto de mercado mais adequado para a abertura de capital, ou seja, uma perspectiva de queda na taxa de juros. A empresa tem a Petz como principal rival. A concorrente teve queda de cerca de 60% desde a abertura de capital em 2020, refletindo a preocupação do mercado com ações de empresas ligadas ao consumo – principal entrave para o IPO da Cobasi neste ano.

Eurofarma

Apesar do nome, a Eurofarma é 100% nacional. Foi fundada em 1972 por um casal de imigrantes italianos. No fim de 2021, a farmacêutica fez o pedido de registro junto à CVM, mas acabou abandonando os planos de abrir capital diante da falta de oportunidade no momento. Sem conseguir encher o caixa com a estreia na Bolsa, o negócio levantou US$ 150 milhões com o International Finance Corporation (IFC) - braço de investimento do Banco Mundial.

Eurofarma teve receita líquida superior a R$ 7 bilhões em 2021. Foto: Marcelo Soubhia/Ag. Fotosite Foto: Marcelo Soubhia

O recurso deve viabilizar parte de sua nova fábrica em Montes Claros (MG), uma produção de vacinas contra covid-19 em parceria com a Pfizer/BioNTech e planos de expansão nas vendas internacionais. Recentemente, recebeu o aval da agência americana análoga à Anvisa (FDA, na sigla em inglês) para exportar medicamentos para o mercado americano.

Lupo

A fabricante de roupa íntima e produtos esportivos pediu seu registro de oferta inicial de ação de agosto de 2021. Com sede no interior paulista, em Araraquara, a meta da empresa era captar R$ 1,5 bilhão para financiar a expansão dos negócios e os planos de aquisições.

A presidente da Lupo, Liliana Aufiero, comanda grupo há quase três décadas Foto: Amanda Rocha/Estadão

Depois da primeira desistência, causada por incertezas econômicas envolvendo gastos públicos no governo Bolsonaro, a empresa figurava na “lista de espera” para estreia na Bolsa em 2022, mas acabou novamente não encontrando uma janela de oportunidade para debutar no mercado de capitais.

Iguá

Criada em 2017, a empresa de saneamento é responsável pela operação de 15 concessões e três parcerias público-privadas. Está em 39 cidades de seis Estados do Brasil.

Concessionária Águas Cuiabá, controlada pela Iguá Saneamento. Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Dom Aquino  Foto: Keydson Barcellos/QAQ Filmes/Divulgação

Atualmente, 45% da empresa pertence à gestora de investimentos IG4 Capital. Em 2021 a companhia se preparava para o IPO na Bolsa com a expectativa de levantar R$ 1,6 bilhão, mas acabou desistindo do plano.

O mercado brasileiro de capitais teve em 2022 o primeiro jejum de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) desde 2003. Neste ano, o mercado segue pautado pela perspectiva de alta dos juros, mas está mais otimista.

Com isso, empresas ligadas ao setor de infraestrutura, mais resilientes às oscilações do consumo, estão de olho na abertura de uma nova janela de oportunidade para lançar seu capital na B3. CTG Brasil, Aegea Saneamento e BRK Ambiental são as companhias que estão mais avançadas no processo de IPO neste ano e seguem como as principais apostas do setor para encerrar a seca de ofertas na Bolsa.

Parte de um nicho conhecido como defensivo no mercado de renda variável, a China Three Gorges Brasil (CTG) atua no setor de geração de energia, sendo a segunda maior do segmento com capital privado.

A companhia chinesa foi fundada em 1993 e é responsável pela operação da maior hidrelétrica do mundo, a Três Gargantas, no Rio Yantze.

Ela chegou ao País em 2013 e, em 2016, comprou os ativos da Duke Energy e de usinas da Cesp. No ano passado, a CTG Brasil concluiu a aquisição de projetos para a construção de dois parques eólicos e um parque solar. A expectativa do mercado é que a companhia levante até R$ 5 bilhões na estreia na Bolsa.

Vista por interlocutores do mercado como um dos nomes mais fortes para debutar na B3 este ano, a CTG não comentou sobre a possibilidade de abertura de capital.

Outra aposta do mercado é a empresa de saneamento BRK Ambiental, apesar de haver incertezas crescentes no setor em razão da transição de governo e da nova composição do Congresso Nacional.

No início de dezembro de 2022, a companhia, que opera em cerca de 100 municípios, fez uma assembleia com acionistas para discutir o processo de abertura de capital, mas 20 dias depois divulgou que estava desistindo de novo da ideia.

Também na lista de empresas de saneamento básico e gestão de efluentes e resíduos, a Aegea estuda oportunidades para romper neste ano a falta de ofertas iniciais de ações na Bolsa brasileira.

Responsável pela gestão hídrica em 178 municípios em 13 Estados, a companhia venceu em setembro de 2022 o leilão de serviços de esgotamento sanitário do Ceará por R$ 7,65 bilhões. A concorrente Iguá Saneamento também participou do certame.

Ao Estadão, a Aegea informou que a abertura de capital é uma possibilidade sempre avaliada pela gestão, mas que depende de “alguns fatores”, como condições de mercado e decisão em conjunto com seus acionistas – entre os quais a Itaúsa, holding controladora do banco Itaú, que detém 10% de participação societária na gigante de saneamento.

“A companhia sempre busca alternativas para aprimorar sua estrutura de capital”, informou, em nota. Atualmente, a Aegea possui registro de capital aberto na CVM para emissão de títulos e debêntures.

Incertezas sobre política fiscal e juro podem dificultar abertura de capital

A incerteza sobre a condução da política fiscal no novo governo e sobre a redução da taxa básica de juros, a Selic, têm deixado empresários inseguros sobre o melhor momento para fazer a oferta inicial de ações (IPO) de suas companhias.

No mercado financeiro, há quem aposte que este será um ano melhor para aberturas de capital e emissão de novas ações (follow-on), mas há quem adote um tom mais conservador e ache mais prudente adiar os planos para 2024.

Na visão de Marcelo Millen, líder de equity no mercado de capitais para a América Latina no Citi, o mercado brasileiro tem menos incertezas em 2023 do que tinha no ano passado e a janela para IPOs deve ocorrer entre março e abril.

O especialista afirma que a agenda de follow-ons (emissões subsequentes de ações de empresas de capital aberto) deve continuar ativa, como já ocorreu no ano passado, e as empresas devem buscar uma diminuição do endividamento para evitar redução do lucro em razão do juro alto.

No varejo, a rede de produtos para animais de estimação Cobasi, principal concorrente da Petz, segue firme nos planos de expansão, com IPO e aquisições no radar. No fim de 2022, a empresa fechou negócio com a rede nordestina Mundo Pet e se tornou dona das 14 lojas da marca na região.

Paulo Nassar, seu presidente, afirmou, também no fim do ano passado, esperar uma melhora no mercado para dar o próximo passo da Cobasi. Procurada, a empresa diz não ter informações concretas sobre o IPO.

Espera

Com a perspectiva de manutenção dos juros em patamar elevado no fim do ano e o maior apetite do investidor pela renda fixa, as estreias na Bolsa das empresas chamadas de crescimento (como as de tecnologia) podem ser adiadas, enquanto as pagadoras de dividendos podem ter um cenário menos desafiador.

“Fazer a oferta agora não seria atrativo, porque o desconto (nas ações) teria de ser muito grande para atrair o investidor”, diz Danielle Lopes, analista da Nord Research.

Algumas empresas sondaram o mercado para fazer IPO, mas resolveram esperar. É o caso da Caramuru Alimentos, fundada em 1964, especializada em processar soja, milho, girassol e canola. A empresa, que fica em Goiás, diz que apesar de ter sondado a possibilidade de IPO em 2021, ano marcado pela taxa de juros abaixo da média histórica, não definiu uma estratégia para a abertura.

Outro nome que aguarda um cenário mais promissor é a Lupo. Em 2021, a fabricante de roupa íntima e artigos esportivos deu entrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com o pedido de registro do seu IPO. Na ocasião, a expectativa era captar cerca de R$ 1,5 bilhão, usar o dinheiro em caixa para financiar os planos de fusões e aquisições e bancar investimentos para crescer. Os planos não saíram do papel.

Confira as empresas que estão preparando IPO

CTG Brasil

A China Three Gorges Brasil (CTG) é a segunda maior do segmento de energia entre as empresas de capital privado. Com base no Paraná, a empresa é parte do grupo chinês CTG, fundado em 1993. A companhia opera a maior hidrelétrica do mundo, a Três Gargantas, no Rio Yantze, na China.

Usina de Jupiá, na junção dos rios Paraná e Sucuriú. Foto: CTG Brasil

Desde que chegou ao Brasil, em 2013, a companhia foi às compras e assumiu as usinas da Cesp em Ilha Solteira e Jupiá, ambas localizadas no Rio Paraná. Também assumiu ativos da Duke Energy. A aposta no IPO vem em um ano em que o mercado tem apetite por ativos de energia, após o sucesso da privatização da Eletrobras. Com a estreia na Bolsa, a empresa pode ser avaliada entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões.

BRK Ambiental

Inicialmente parte da Organização Odebrecht e hoje controlada pelo fundo de investimentos canadense Brookfield Asset Management, a BRK Ambiental já tentou duas vezes fazer uma oferta pública inicial na B3. Não deu certo por não ter conseguido atingir uma avaliação entre R$ 9 bilhões e R$ 9,5 bilhões. A BRK Ambiental tem operações de água e esgoto em todas as regiões do País e conta com mais de 16 milhões de clientes.

Obra da BRK, ex-Odebrecht Ambiental, em região do Recife Foto: Danilo Santos

Agora, com o mercado interessado por ativos ligados a setores menos voláteis do que o varejo, a empresa aguarda a janela de IPO para fazer sua oferta pública em 2023. Entretanto, a intenção do governo Lula de rever o marco do saneamento é um potencial entrave. Além da Brookfield, dona de 70% do negócio de saneamento, o Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, administrado pela Caixa Econômica Federal, detém os outros 30% da companhia.

Aegea

Criada em 2010, a Aegea assumiu o posto de maior empresa de saneamento do País, ao vencer o leilão de ativos da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) em 2021. Desde a operação que quase dobrou seu tamanho, a empresa atende mais de 20 milhões de clientes em cerca de 150 cidades.

Estação de tratamento de esgoto da Aegea em Piracicaba, interior de São Paulo Foto: Divulgação/ Aegea

No fim do ano passado, a Aegea venceu o leilão da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), com oferta de R$ 4,15 bilhões, e expandiu sua operação no País. Antes, a Aegea atuava no Sul por meio de uma parceria público privada com a Corsan para a coleta e tratamento de esgoto na região metropolitana de Porto Alegre. O negócio concretizou a primeira operação de privatização pelo âmbito do marco legal do saneamento. A empresa já tem registro na CVM para a emissão de títulos de dívida (debêntures) e não descarta o IPO. Porém, a incerteza é, como no caso da BRK, a revisão do marco legal do saneamento. Além da Itaúsa, a Aegea tem como sócios o grupo Equipav (70,72%) e o fundo soberano de Cingapura GIC (19,08%).

Cobasi

A Cobasi surgiu em 1985 como uma agropecuária, mas mudou suas atividades para o segmento pet em 1996. Seu nome ainda é herança de sua origem, uma vez que a sigla é um acrônimo para Comércio de Produtos Básicos e Industriais. Até 1998, quando começou sua expansão, a empresa tinha apenas uma unidade.

Cobasi, varejista do segmento pet, tem quase 200 lojas no País Foto: Cobasi/Divulgação

Hoje, são 188 lojas e o faturamento em 2022 foi de R$ 2,6 bilhões. Com o crescimento do mercado pet no Brasil e no mundo, o negócio aguarda o contexto de mercado mais adequado para a abertura de capital, ou seja, uma perspectiva de queda na taxa de juros. A empresa tem a Petz como principal rival. A concorrente teve queda de cerca de 60% desde a abertura de capital em 2020, refletindo a preocupação do mercado com ações de empresas ligadas ao consumo – principal entrave para o IPO da Cobasi neste ano.

Eurofarma

Apesar do nome, a Eurofarma é 100% nacional. Foi fundada em 1972 por um casal de imigrantes italianos. No fim de 2021, a farmacêutica fez o pedido de registro junto à CVM, mas acabou abandonando os planos de abrir capital diante da falta de oportunidade no momento. Sem conseguir encher o caixa com a estreia na Bolsa, o negócio levantou US$ 150 milhões com o International Finance Corporation (IFC) - braço de investimento do Banco Mundial.

Eurofarma teve receita líquida superior a R$ 7 bilhões em 2021. Foto: Marcelo Soubhia/Ag. Fotosite Foto: Marcelo Soubhia

O recurso deve viabilizar parte de sua nova fábrica em Montes Claros (MG), uma produção de vacinas contra covid-19 em parceria com a Pfizer/BioNTech e planos de expansão nas vendas internacionais. Recentemente, recebeu o aval da agência americana análoga à Anvisa (FDA, na sigla em inglês) para exportar medicamentos para o mercado americano.

Lupo

A fabricante de roupa íntima e produtos esportivos pediu seu registro de oferta inicial de ação de agosto de 2021. Com sede no interior paulista, em Araraquara, a meta da empresa era captar R$ 1,5 bilhão para financiar a expansão dos negócios e os planos de aquisições.

A presidente da Lupo, Liliana Aufiero, comanda grupo há quase três décadas Foto: Amanda Rocha/Estadão

Depois da primeira desistência, causada por incertezas econômicas envolvendo gastos públicos no governo Bolsonaro, a empresa figurava na “lista de espera” para estreia na Bolsa em 2022, mas acabou novamente não encontrando uma janela de oportunidade para debutar no mercado de capitais.

Iguá

Criada em 2017, a empresa de saneamento é responsável pela operação de 15 concessões e três parcerias público-privadas. Está em 39 cidades de seis Estados do Brasil.

Concessionária Águas Cuiabá, controlada pela Iguá Saneamento. Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Dom Aquino  Foto: Keydson Barcellos/QAQ Filmes/Divulgação

Atualmente, 45% da empresa pertence à gestora de investimentos IG4 Capital. Em 2021 a companhia se preparava para o IPO na Bolsa com a expectativa de levantar R$ 1,6 bilhão, mas acabou desistindo do plano.

O mercado brasileiro de capitais teve em 2022 o primeiro jejum de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) desde 2003. Neste ano, o mercado segue pautado pela perspectiva de alta dos juros, mas está mais otimista.

Com isso, empresas ligadas ao setor de infraestrutura, mais resilientes às oscilações do consumo, estão de olho na abertura de uma nova janela de oportunidade para lançar seu capital na B3. CTG Brasil, Aegea Saneamento e BRK Ambiental são as companhias que estão mais avançadas no processo de IPO neste ano e seguem como as principais apostas do setor para encerrar a seca de ofertas na Bolsa.

Parte de um nicho conhecido como defensivo no mercado de renda variável, a China Three Gorges Brasil (CTG) atua no setor de geração de energia, sendo a segunda maior do segmento com capital privado.

A companhia chinesa foi fundada em 1993 e é responsável pela operação da maior hidrelétrica do mundo, a Três Gargantas, no Rio Yantze.

Ela chegou ao País em 2013 e, em 2016, comprou os ativos da Duke Energy e de usinas da Cesp. No ano passado, a CTG Brasil concluiu a aquisição de projetos para a construção de dois parques eólicos e um parque solar. A expectativa do mercado é que a companhia levante até R$ 5 bilhões na estreia na Bolsa.

Vista por interlocutores do mercado como um dos nomes mais fortes para debutar na B3 este ano, a CTG não comentou sobre a possibilidade de abertura de capital.

Outra aposta do mercado é a empresa de saneamento BRK Ambiental, apesar de haver incertezas crescentes no setor em razão da transição de governo e da nova composição do Congresso Nacional.

No início de dezembro de 2022, a companhia, que opera em cerca de 100 municípios, fez uma assembleia com acionistas para discutir o processo de abertura de capital, mas 20 dias depois divulgou que estava desistindo de novo da ideia.

Também na lista de empresas de saneamento básico e gestão de efluentes e resíduos, a Aegea estuda oportunidades para romper neste ano a falta de ofertas iniciais de ações na Bolsa brasileira.

Responsável pela gestão hídrica em 178 municípios em 13 Estados, a companhia venceu em setembro de 2022 o leilão de serviços de esgotamento sanitário do Ceará por R$ 7,65 bilhões. A concorrente Iguá Saneamento também participou do certame.

Ao Estadão, a Aegea informou que a abertura de capital é uma possibilidade sempre avaliada pela gestão, mas que depende de “alguns fatores”, como condições de mercado e decisão em conjunto com seus acionistas – entre os quais a Itaúsa, holding controladora do banco Itaú, que detém 10% de participação societária na gigante de saneamento.

“A companhia sempre busca alternativas para aprimorar sua estrutura de capital”, informou, em nota. Atualmente, a Aegea possui registro de capital aberto na CVM para emissão de títulos e debêntures.

Incertezas sobre política fiscal e juro podem dificultar abertura de capital

A incerteza sobre a condução da política fiscal no novo governo e sobre a redução da taxa básica de juros, a Selic, têm deixado empresários inseguros sobre o melhor momento para fazer a oferta inicial de ações (IPO) de suas companhias.

No mercado financeiro, há quem aposte que este será um ano melhor para aberturas de capital e emissão de novas ações (follow-on), mas há quem adote um tom mais conservador e ache mais prudente adiar os planos para 2024.

Na visão de Marcelo Millen, líder de equity no mercado de capitais para a América Latina no Citi, o mercado brasileiro tem menos incertezas em 2023 do que tinha no ano passado e a janela para IPOs deve ocorrer entre março e abril.

O especialista afirma que a agenda de follow-ons (emissões subsequentes de ações de empresas de capital aberto) deve continuar ativa, como já ocorreu no ano passado, e as empresas devem buscar uma diminuição do endividamento para evitar redução do lucro em razão do juro alto.

No varejo, a rede de produtos para animais de estimação Cobasi, principal concorrente da Petz, segue firme nos planos de expansão, com IPO e aquisições no radar. No fim de 2022, a empresa fechou negócio com a rede nordestina Mundo Pet e se tornou dona das 14 lojas da marca na região.

Paulo Nassar, seu presidente, afirmou, também no fim do ano passado, esperar uma melhora no mercado para dar o próximo passo da Cobasi. Procurada, a empresa diz não ter informações concretas sobre o IPO.

Espera

Com a perspectiva de manutenção dos juros em patamar elevado no fim do ano e o maior apetite do investidor pela renda fixa, as estreias na Bolsa das empresas chamadas de crescimento (como as de tecnologia) podem ser adiadas, enquanto as pagadoras de dividendos podem ter um cenário menos desafiador.

“Fazer a oferta agora não seria atrativo, porque o desconto (nas ações) teria de ser muito grande para atrair o investidor”, diz Danielle Lopes, analista da Nord Research.

Algumas empresas sondaram o mercado para fazer IPO, mas resolveram esperar. É o caso da Caramuru Alimentos, fundada em 1964, especializada em processar soja, milho, girassol e canola. A empresa, que fica em Goiás, diz que apesar de ter sondado a possibilidade de IPO em 2021, ano marcado pela taxa de juros abaixo da média histórica, não definiu uma estratégia para a abertura.

Outro nome que aguarda um cenário mais promissor é a Lupo. Em 2021, a fabricante de roupa íntima e artigos esportivos deu entrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com o pedido de registro do seu IPO. Na ocasião, a expectativa era captar cerca de R$ 1,5 bilhão, usar o dinheiro em caixa para financiar os planos de fusões e aquisições e bancar investimentos para crescer. Os planos não saíram do papel.

Confira as empresas que estão preparando IPO

CTG Brasil

A China Three Gorges Brasil (CTG) é a segunda maior do segmento de energia entre as empresas de capital privado. Com base no Paraná, a empresa é parte do grupo chinês CTG, fundado em 1993. A companhia opera a maior hidrelétrica do mundo, a Três Gargantas, no Rio Yantze, na China.

Usina de Jupiá, na junção dos rios Paraná e Sucuriú. Foto: CTG Brasil

Desde que chegou ao Brasil, em 2013, a companhia foi às compras e assumiu as usinas da Cesp em Ilha Solteira e Jupiá, ambas localizadas no Rio Paraná. Também assumiu ativos da Duke Energy. A aposta no IPO vem em um ano em que o mercado tem apetite por ativos de energia, após o sucesso da privatização da Eletrobras. Com a estreia na Bolsa, a empresa pode ser avaliada entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões.

BRK Ambiental

Inicialmente parte da Organização Odebrecht e hoje controlada pelo fundo de investimentos canadense Brookfield Asset Management, a BRK Ambiental já tentou duas vezes fazer uma oferta pública inicial na B3. Não deu certo por não ter conseguido atingir uma avaliação entre R$ 9 bilhões e R$ 9,5 bilhões. A BRK Ambiental tem operações de água e esgoto em todas as regiões do País e conta com mais de 16 milhões de clientes.

Obra da BRK, ex-Odebrecht Ambiental, em região do Recife Foto: Danilo Santos

Agora, com o mercado interessado por ativos ligados a setores menos voláteis do que o varejo, a empresa aguarda a janela de IPO para fazer sua oferta pública em 2023. Entretanto, a intenção do governo Lula de rever o marco do saneamento é um potencial entrave. Além da Brookfield, dona de 70% do negócio de saneamento, o Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, administrado pela Caixa Econômica Federal, detém os outros 30% da companhia.

Aegea

Criada em 2010, a Aegea assumiu o posto de maior empresa de saneamento do País, ao vencer o leilão de ativos da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) em 2021. Desde a operação que quase dobrou seu tamanho, a empresa atende mais de 20 milhões de clientes em cerca de 150 cidades.

Estação de tratamento de esgoto da Aegea em Piracicaba, interior de São Paulo Foto: Divulgação/ Aegea

No fim do ano passado, a Aegea venceu o leilão da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), com oferta de R$ 4,15 bilhões, e expandiu sua operação no País. Antes, a Aegea atuava no Sul por meio de uma parceria público privada com a Corsan para a coleta e tratamento de esgoto na região metropolitana de Porto Alegre. O negócio concretizou a primeira operação de privatização pelo âmbito do marco legal do saneamento. A empresa já tem registro na CVM para a emissão de títulos de dívida (debêntures) e não descarta o IPO. Porém, a incerteza é, como no caso da BRK, a revisão do marco legal do saneamento. Além da Itaúsa, a Aegea tem como sócios o grupo Equipav (70,72%) e o fundo soberano de Cingapura GIC (19,08%).

Cobasi

A Cobasi surgiu em 1985 como uma agropecuária, mas mudou suas atividades para o segmento pet em 1996. Seu nome ainda é herança de sua origem, uma vez que a sigla é um acrônimo para Comércio de Produtos Básicos e Industriais. Até 1998, quando começou sua expansão, a empresa tinha apenas uma unidade.

Cobasi, varejista do segmento pet, tem quase 200 lojas no País Foto: Cobasi/Divulgação

Hoje, são 188 lojas e o faturamento em 2022 foi de R$ 2,6 bilhões. Com o crescimento do mercado pet no Brasil e no mundo, o negócio aguarda o contexto de mercado mais adequado para a abertura de capital, ou seja, uma perspectiva de queda na taxa de juros. A empresa tem a Petz como principal rival. A concorrente teve queda de cerca de 60% desde a abertura de capital em 2020, refletindo a preocupação do mercado com ações de empresas ligadas ao consumo – principal entrave para o IPO da Cobasi neste ano.

Eurofarma

Apesar do nome, a Eurofarma é 100% nacional. Foi fundada em 1972 por um casal de imigrantes italianos. No fim de 2021, a farmacêutica fez o pedido de registro junto à CVM, mas acabou abandonando os planos de abrir capital diante da falta de oportunidade no momento. Sem conseguir encher o caixa com a estreia na Bolsa, o negócio levantou US$ 150 milhões com o International Finance Corporation (IFC) - braço de investimento do Banco Mundial.

Eurofarma teve receita líquida superior a R$ 7 bilhões em 2021. Foto: Marcelo Soubhia/Ag. Fotosite Foto: Marcelo Soubhia

O recurso deve viabilizar parte de sua nova fábrica em Montes Claros (MG), uma produção de vacinas contra covid-19 em parceria com a Pfizer/BioNTech e planos de expansão nas vendas internacionais. Recentemente, recebeu o aval da agência americana análoga à Anvisa (FDA, na sigla em inglês) para exportar medicamentos para o mercado americano.

Lupo

A fabricante de roupa íntima e produtos esportivos pediu seu registro de oferta inicial de ação de agosto de 2021. Com sede no interior paulista, em Araraquara, a meta da empresa era captar R$ 1,5 bilhão para financiar a expansão dos negócios e os planos de aquisições.

A presidente da Lupo, Liliana Aufiero, comanda grupo há quase três décadas Foto: Amanda Rocha/Estadão

Depois da primeira desistência, causada por incertezas econômicas envolvendo gastos públicos no governo Bolsonaro, a empresa figurava na “lista de espera” para estreia na Bolsa em 2022, mas acabou novamente não encontrando uma janela de oportunidade para debutar no mercado de capitais.

Iguá

Criada em 2017, a empresa de saneamento é responsável pela operação de 15 concessões e três parcerias público-privadas. Está em 39 cidades de seis Estados do Brasil.

Concessionária Águas Cuiabá, controlada pela Iguá Saneamento. Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Dom Aquino  Foto: Keydson Barcellos/QAQ Filmes/Divulgação

Atualmente, 45% da empresa pertence à gestora de investimentos IG4 Capital. Em 2021 a companhia se preparava para o IPO na Bolsa com a expectativa de levantar R$ 1,6 bilhão, mas acabou desistindo do plano.

O mercado brasileiro de capitais teve em 2022 o primeiro jejum de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) desde 2003. Neste ano, o mercado segue pautado pela perspectiva de alta dos juros, mas está mais otimista.

Com isso, empresas ligadas ao setor de infraestrutura, mais resilientes às oscilações do consumo, estão de olho na abertura de uma nova janela de oportunidade para lançar seu capital na B3. CTG Brasil, Aegea Saneamento e BRK Ambiental são as companhias que estão mais avançadas no processo de IPO neste ano e seguem como as principais apostas do setor para encerrar a seca de ofertas na Bolsa.

Parte de um nicho conhecido como defensivo no mercado de renda variável, a China Three Gorges Brasil (CTG) atua no setor de geração de energia, sendo a segunda maior do segmento com capital privado.

A companhia chinesa foi fundada em 1993 e é responsável pela operação da maior hidrelétrica do mundo, a Três Gargantas, no Rio Yantze.

Ela chegou ao País em 2013 e, em 2016, comprou os ativos da Duke Energy e de usinas da Cesp. No ano passado, a CTG Brasil concluiu a aquisição de projetos para a construção de dois parques eólicos e um parque solar. A expectativa do mercado é que a companhia levante até R$ 5 bilhões na estreia na Bolsa.

Vista por interlocutores do mercado como um dos nomes mais fortes para debutar na B3 este ano, a CTG não comentou sobre a possibilidade de abertura de capital.

Outra aposta do mercado é a empresa de saneamento BRK Ambiental, apesar de haver incertezas crescentes no setor em razão da transição de governo e da nova composição do Congresso Nacional.

No início de dezembro de 2022, a companhia, que opera em cerca de 100 municípios, fez uma assembleia com acionistas para discutir o processo de abertura de capital, mas 20 dias depois divulgou que estava desistindo de novo da ideia.

Também na lista de empresas de saneamento básico e gestão de efluentes e resíduos, a Aegea estuda oportunidades para romper neste ano a falta de ofertas iniciais de ações na Bolsa brasileira.

Responsável pela gestão hídrica em 178 municípios em 13 Estados, a companhia venceu em setembro de 2022 o leilão de serviços de esgotamento sanitário do Ceará por R$ 7,65 bilhões. A concorrente Iguá Saneamento também participou do certame.

Ao Estadão, a Aegea informou que a abertura de capital é uma possibilidade sempre avaliada pela gestão, mas que depende de “alguns fatores”, como condições de mercado e decisão em conjunto com seus acionistas – entre os quais a Itaúsa, holding controladora do banco Itaú, que detém 10% de participação societária na gigante de saneamento.

“A companhia sempre busca alternativas para aprimorar sua estrutura de capital”, informou, em nota. Atualmente, a Aegea possui registro de capital aberto na CVM para emissão de títulos e debêntures.

Incertezas sobre política fiscal e juro podem dificultar abertura de capital

A incerteza sobre a condução da política fiscal no novo governo e sobre a redução da taxa básica de juros, a Selic, têm deixado empresários inseguros sobre o melhor momento para fazer a oferta inicial de ações (IPO) de suas companhias.

No mercado financeiro, há quem aposte que este será um ano melhor para aberturas de capital e emissão de novas ações (follow-on), mas há quem adote um tom mais conservador e ache mais prudente adiar os planos para 2024.

Na visão de Marcelo Millen, líder de equity no mercado de capitais para a América Latina no Citi, o mercado brasileiro tem menos incertezas em 2023 do que tinha no ano passado e a janela para IPOs deve ocorrer entre março e abril.

O especialista afirma que a agenda de follow-ons (emissões subsequentes de ações de empresas de capital aberto) deve continuar ativa, como já ocorreu no ano passado, e as empresas devem buscar uma diminuição do endividamento para evitar redução do lucro em razão do juro alto.

No varejo, a rede de produtos para animais de estimação Cobasi, principal concorrente da Petz, segue firme nos planos de expansão, com IPO e aquisições no radar. No fim de 2022, a empresa fechou negócio com a rede nordestina Mundo Pet e se tornou dona das 14 lojas da marca na região.

Paulo Nassar, seu presidente, afirmou, também no fim do ano passado, esperar uma melhora no mercado para dar o próximo passo da Cobasi. Procurada, a empresa diz não ter informações concretas sobre o IPO.

Espera

Com a perspectiva de manutenção dos juros em patamar elevado no fim do ano e o maior apetite do investidor pela renda fixa, as estreias na Bolsa das empresas chamadas de crescimento (como as de tecnologia) podem ser adiadas, enquanto as pagadoras de dividendos podem ter um cenário menos desafiador.

“Fazer a oferta agora não seria atrativo, porque o desconto (nas ações) teria de ser muito grande para atrair o investidor”, diz Danielle Lopes, analista da Nord Research.

Algumas empresas sondaram o mercado para fazer IPO, mas resolveram esperar. É o caso da Caramuru Alimentos, fundada em 1964, especializada em processar soja, milho, girassol e canola. A empresa, que fica em Goiás, diz que apesar de ter sondado a possibilidade de IPO em 2021, ano marcado pela taxa de juros abaixo da média histórica, não definiu uma estratégia para a abertura.

Outro nome que aguarda um cenário mais promissor é a Lupo. Em 2021, a fabricante de roupa íntima e artigos esportivos deu entrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com o pedido de registro do seu IPO. Na ocasião, a expectativa era captar cerca de R$ 1,5 bilhão, usar o dinheiro em caixa para financiar os planos de fusões e aquisições e bancar investimentos para crescer. Os planos não saíram do papel.

Confira as empresas que estão preparando IPO

CTG Brasil

A China Three Gorges Brasil (CTG) é a segunda maior do segmento de energia entre as empresas de capital privado. Com base no Paraná, a empresa é parte do grupo chinês CTG, fundado em 1993. A companhia opera a maior hidrelétrica do mundo, a Três Gargantas, no Rio Yantze, na China.

Usina de Jupiá, na junção dos rios Paraná e Sucuriú. Foto: CTG Brasil

Desde que chegou ao Brasil, em 2013, a companhia foi às compras e assumiu as usinas da Cesp em Ilha Solteira e Jupiá, ambas localizadas no Rio Paraná. Também assumiu ativos da Duke Energy. A aposta no IPO vem em um ano em que o mercado tem apetite por ativos de energia, após o sucesso da privatização da Eletrobras. Com a estreia na Bolsa, a empresa pode ser avaliada entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões.

BRK Ambiental

Inicialmente parte da Organização Odebrecht e hoje controlada pelo fundo de investimentos canadense Brookfield Asset Management, a BRK Ambiental já tentou duas vezes fazer uma oferta pública inicial na B3. Não deu certo por não ter conseguido atingir uma avaliação entre R$ 9 bilhões e R$ 9,5 bilhões. A BRK Ambiental tem operações de água e esgoto em todas as regiões do País e conta com mais de 16 milhões de clientes.

Obra da BRK, ex-Odebrecht Ambiental, em região do Recife Foto: Danilo Santos

Agora, com o mercado interessado por ativos ligados a setores menos voláteis do que o varejo, a empresa aguarda a janela de IPO para fazer sua oferta pública em 2023. Entretanto, a intenção do governo Lula de rever o marco do saneamento é um potencial entrave. Além da Brookfield, dona de 70% do negócio de saneamento, o Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, administrado pela Caixa Econômica Federal, detém os outros 30% da companhia.

Aegea

Criada em 2010, a Aegea assumiu o posto de maior empresa de saneamento do País, ao vencer o leilão de ativos da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) em 2021. Desde a operação que quase dobrou seu tamanho, a empresa atende mais de 20 milhões de clientes em cerca de 150 cidades.

Estação de tratamento de esgoto da Aegea em Piracicaba, interior de São Paulo Foto: Divulgação/ Aegea

No fim do ano passado, a Aegea venceu o leilão da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), com oferta de R$ 4,15 bilhões, e expandiu sua operação no País. Antes, a Aegea atuava no Sul por meio de uma parceria público privada com a Corsan para a coleta e tratamento de esgoto na região metropolitana de Porto Alegre. O negócio concretizou a primeira operação de privatização pelo âmbito do marco legal do saneamento. A empresa já tem registro na CVM para a emissão de títulos de dívida (debêntures) e não descarta o IPO. Porém, a incerteza é, como no caso da BRK, a revisão do marco legal do saneamento. Além da Itaúsa, a Aegea tem como sócios o grupo Equipav (70,72%) e o fundo soberano de Cingapura GIC (19,08%).

Cobasi

A Cobasi surgiu em 1985 como uma agropecuária, mas mudou suas atividades para o segmento pet em 1996. Seu nome ainda é herança de sua origem, uma vez que a sigla é um acrônimo para Comércio de Produtos Básicos e Industriais. Até 1998, quando começou sua expansão, a empresa tinha apenas uma unidade.

Cobasi, varejista do segmento pet, tem quase 200 lojas no País Foto: Cobasi/Divulgação

Hoje, são 188 lojas e o faturamento em 2022 foi de R$ 2,6 bilhões. Com o crescimento do mercado pet no Brasil e no mundo, o negócio aguarda o contexto de mercado mais adequado para a abertura de capital, ou seja, uma perspectiva de queda na taxa de juros. A empresa tem a Petz como principal rival. A concorrente teve queda de cerca de 60% desde a abertura de capital em 2020, refletindo a preocupação do mercado com ações de empresas ligadas ao consumo – principal entrave para o IPO da Cobasi neste ano.

Eurofarma

Apesar do nome, a Eurofarma é 100% nacional. Foi fundada em 1972 por um casal de imigrantes italianos. No fim de 2021, a farmacêutica fez o pedido de registro junto à CVM, mas acabou abandonando os planos de abrir capital diante da falta de oportunidade no momento. Sem conseguir encher o caixa com a estreia na Bolsa, o negócio levantou US$ 150 milhões com o International Finance Corporation (IFC) - braço de investimento do Banco Mundial.

Eurofarma teve receita líquida superior a R$ 7 bilhões em 2021. Foto: Marcelo Soubhia/Ag. Fotosite Foto: Marcelo Soubhia

O recurso deve viabilizar parte de sua nova fábrica em Montes Claros (MG), uma produção de vacinas contra covid-19 em parceria com a Pfizer/BioNTech e planos de expansão nas vendas internacionais. Recentemente, recebeu o aval da agência americana análoga à Anvisa (FDA, na sigla em inglês) para exportar medicamentos para o mercado americano.

Lupo

A fabricante de roupa íntima e produtos esportivos pediu seu registro de oferta inicial de ação de agosto de 2021. Com sede no interior paulista, em Araraquara, a meta da empresa era captar R$ 1,5 bilhão para financiar a expansão dos negócios e os planos de aquisições.

A presidente da Lupo, Liliana Aufiero, comanda grupo há quase três décadas Foto: Amanda Rocha/Estadão

Depois da primeira desistência, causada por incertezas econômicas envolvendo gastos públicos no governo Bolsonaro, a empresa figurava na “lista de espera” para estreia na Bolsa em 2022, mas acabou novamente não encontrando uma janela de oportunidade para debutar no mercado de capitais.

Iguá

Criada em 2017, a empresa de saneamento é responsável pela operação de 15 concessões e três parcerias público-privadas. Está em 39 cidades de seis Estados do Brasil.

Concessionária Águas Cuiabá, controlada pela Iguá Saneamento. Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Dom Aquino  Foto: Keydson Barcellos/QAQ Filmes/Divulgação

Atualmente, 45% da empresa pertence à gestora de investimentos IG4 Capital. Em 2021 a companhia se preparava para o IPO na Bolsa com a expectativa de levantar R$ 1,6 bilhão, mas acabou desistindo do plano.

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