'Dark kitchen' vai do morro para o mundo e já soma mais de 300 franquias


De Vitória, restaurante só para entrega criado pelo empreendedor Rafael Matos já conta com unidades em Portugal e México

Por Célia Froufe

BRASÍLIA - O empresário Rafael Matos ostenta hoje uma coleção de 50 pares de tênis, mas quando era mais novo e não queria chegar a algum lugar especial com o seu surrado calçado pedia um emprestado ao primo. O capixaba do Morro do Cruzamento, uma comunidade de Vitória, sempre sonhou em fazer algo que extrapolasse as fronteiras de sua cidade. A dark kitchen (restaurante que conta apenas com cozinha e faz vendas pelo delivery) que criou com amigos – todos com alguma relação com sua infância no morro – foi além, atravessou mares e chegou à Europa e ao México.

Tirando ele e o primo, Victor Matos, a família de oito pessoas que dividia um barraco era composta por mulheres: mãe, tia e avó e primas. “Não tivemos figura de pai presente”, recorda. Rafael diz que não passou necessidade, mas que a proteína mais recorrente na casa era a salsicha, por seu baixo custo. “Nasci no barraco, sou da chamada favela, venho desse lugar. Nunca me faltou nada, mas também nunca sobrou”, diz.

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'Ninguém acreditava em cozinha só para entrega', diz Rafael Matos, ao lembrar do lançamento, que definiu como 'desastre'. Foto: Gabriel Lordello/Estadão - 16/12/2021

Formado em pedagogia, Rafael já trabalhou vendendo bonés, em escola particular e na empresa de marketing digital de Victor, mas ambos resolveram entrar no ramo de restaurantes por ser um dos que menos se abalam em momentos de crise. Plataformas de entrega eram pouco conhecidas, e de início eles optaram por um formato mais próximo do tradicional, com salão 100 metros para receber clientes. Mesmo assim, usaram as redes sociais. “Hoje não estar em plataforma é inaceitável, mas naquela época era novidade”, compara.

Depois de um ano e meio, tiveram a ideia de abrir uma franqueadora. “Mas do quê?”, perguntavam-se. Botaram no papel todos os custos com o restaurante, que tinha 15 empregados, gastos com ar-condicionado e aluguel em região valorizada. Constataram que 70% do faturamento vinha do delivery, com custos expressivamente mais baixos. “Hoje delivery é o que manda, e tivemos esse insight em 2016.”

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Comida de vó

Inauguraram a primeira loja em 2017, especializada em frango empanado. Rafael garante que não se parece em nada com marcas estrangeiras e que a receita tem “gostinho de comida de vó”, contando até com purê de mandioca (também chamada de aipim).

Rafael e quatro sócios, incluindo Victor, desenvolveram tudo: da receita, ao modelo da franquia, com escolha de metodologia própria, pensando num negócio de fácil replicação, maquinário padrão e contando com manuais para o franqueado, circular de oferta e partes jurídica e contábil. “No primeiro mês, tivemos R$ 50 mil de faturamento, que era o que dava o antigo restaurante”, conta.

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Foi difícil vender a primeira unidade. Um interessado de Juiz de Fora (MG) chegou a visitá-los, mas desistiu do negócio. Rafael explica que, além de o bairro para a loja ser de baixa renda e não tão bonito como a orla de Vitória, estava em obras. Além disso, a marca era pouco conhecida, e cinco jovens encabeçavam o empreendimento. Nada inspirava credibilidade. “O lançamento foi um desastre. Ninguém acreditava em ter cozinha só para entrega. Ninguém queria, pois se sentia meio cobaia.”

Aposentado e vendo de perto o esforço dos empreendedores, foi o pai de outro sócio, Felipe, o primeiro a se aventurar a comprar uma unidade da Number One Chicken (N1 Chicken), em Vila Velha. Depois, um amigo da mãe do Tiago, outro sócio. “Tudo no Espírito Santo, mas a gente queria mais”, diz. 

Do Rio Grande do Sul surgiu o primeiro franqueado comercial. No fim de 2018, a rede tinha 30 franquias comercializadas e nove em operação. No ano seguinte, o salto foi para 104 negociadas. Em 2020, a franquia passou a oferecer mais marcas na mesma cozinha: a Gringo Wing’s Planet (asinha de frango e hambúrguer) e a de cachorro quente “Julius Doggs”. No ano passado, nasceram ainda “O que comer, Fernando?”, de pratos prontos, assim como “Arroz Feijão”, e a Uma Yá, especializada em lámen (macarrão japonês).

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Expansão internacional

Atualmente com 336 franquias (135 em implantação), o grupo ATW Delivery Brands se vende como a maior rede de dark kitchens – restaurantes que contam apenas com cozinha, não têm salão para consumo no local e fazem suas vendas por delivery – do mundo. Cinco estão em Portugal (uma funcionando e quatro em andamento), e uma será implantada no México. “Expandir o ATW para o exterior sempre foi uma ideia, mas não imaginávamos que isso aconteceria tão rápido.”

BRASÍLIA - O empresário Rafael Matos ostenta hoje uma coleção de 50 pares de tênis, mas quando era mais novo e não queria chegar a algum lugar especial com o seu surrado calçado pedia um emprestado ao primo. O capixaba do Morro do Cruzamento, uma comunidade de Vitória, sempre sonhou em fazer algo que extrapolasse as fronteiras de sua cidade. A dark kitchen (restaurante que conta apenas com cozinha e faz vendas pelo delivery) que criou com amigos – todos com alguma relação com sua infância no morro – foi além, atravessou mares e chegou à Europa e ao México.

Tirando ele e o primo, Victor Matos, a família de oito pessoas que dividia um barraco era composta por mulheres: mãe, tia e avó e primas. “Não tivemos figura de pai presente”, recorda. Rafael diz que não passou necessidade, mas que a proteína mais recorrente na casa era a salsicha, por seu baixo custo. “Nasci no barraco, sou da chamada favela, venho desse lugar. Nunca me faltou nada, mas também nunca sobrou”, diz.

'Ninguém acreditava em cozinha só para entrega', diz Rafael Matos, ao lembrar do lançamento, que definiu como 'desastre'. Foto: Gabriel Lordello/Estadão - 16/12/2021

Formado em pedagogia, Rafael já trabalhou vendendo bonés, em escola particular e na empresa de marketing digital de Victor, mas ambos resolveram entrar no ramo de restaurantes por ser um dos que menos se abalam em momentos de crise. Plataformas de entrega eram pouco conhecidas, e de início eles optaram por um formato mais próximo do tradicional, com salão 100 metros para receber clientes. Mesmo assim, usaram as redes sociais. “Hoje não estar em plataforma é inaceitável, mas naquela época era novidade”, compara.

Depois de um ano e meio, tiveram a ideia de abrir uma franqueadora. “Mas do quê?”, perguntavam-se. Botaram no papel todos os custos com o restaurante, que tinha 15 empregados, gastos com ar-condicionado e aluguel em região valorizada. Constataram que 70% do faturamento vinha do delivery, com custos expressivamente mais baixos. “Hoje delivery é o que manda, e tivemos esse insight em 2016.”

Comida de vó

Inauguraram a primeira loja em 2017, especializada em frango empanado. Rafael garante que não se parece em nada com marcas estrangeiras e que a receita tem “gostinho de comida de vó”, contando até com purê de mandioca (também chamada de aipim).

Rafael e quatro sócios, incluindo Victor, desenvolveram tudo: da receita, ao modelo da franquia, com escolha de metodologia própria, pensando num negócio de fácil replicação, maquinário padrão e contando com manuais para o franqueado, circular de oferta e partes jurídica e contábil. “No primeiro mês, tivemos R$ 50 mil de faturamento, que era o que dava o antigo restaurante”, conta.

Foi difícil vender a primeira unidade. Um interessado de Juiz de Fora (MG) chegou a visitá-los, mas desistiu do negócio. Rafael explica que, além de o bairro para a loja ser de baixa renda e não tão bonito como a orla de Vitória, estava em obras. Além disso, a marca era pouco conhecida, e cinco jovens encabeçavam o empreendimento. Nada inspirava credibilidade. “O lançamento foi um desastre. Ninguém acreditava em ter cozinha só para entrega. Ninguém queria, pois se sentia meio cobaia.”

Aposentado e vendo de perto o esforço dos empreendedores, foi o pai de outro sócio, Felipe, o primeiro a se aventurar a comprar uma unidade da Number One Chicken (N1 Chicken), em Vila Velha. Depois, um amigo da mãe do Tiago, outro sócio. “Tudo no Espírito Santo, mas a gente queria mais”, diz. 

Do Rio Grande do Sul surgiu o primeiro franqueado comercial. No fim de 2018, a rede tinha 30 franquias comercializadas e nove em operação. No ano seguinte, o salto foi para 104 negociadas. Em 2020, a franquia passou a oferecer mais marcas na mesma cozinha: a Gringo Wing’s Planet (asinha de frango e hambúrguer) e a de cachorro quente “Julius Doggs”. No ano passado, nasceram ainda “O que comer, Fernando?”, de pratos prontos, assim como “Arroz Feijão”, e a Uma Yá, especializada em lámen (macarrão japonês).

Expansão internacional

Atualmente com 336 franquias (135 em implantação), o grupo ATW Delivery Brands se vende como a maior rede de dark kitchens – restaurantes que contam apenas com cozinha, não têm salão para consumo no local e fazem suas vendas por delivery – do mundo. Cinco estão em Portugal (uma funcionando e quatro em andamento), e uma será implantada no México. “Expandir o ATW para o exterior sempre foi uma ideia, mas não imaginávamos que isso aconteceria tão rápido.”

BRASÍLIA - O empresário Rafael Matos ostenta hoje uma coleção de 50 pares de tênis, mas quando era mais novo e não queria chegar a algum lugar especial com o seu surrado calçado pedia um emprestado ao primo. O capixaba do Morro do Cruzamento, uma comunidade de Vitória, sempre sonhou em fazer algo que extrapolasse as fronteiras de sua cidade. A dark kitchen (restaurante que conta apenas com cozinha e faz vendas pelo delivery) que criou com amigos – todos com alguma relação com sua infância no morro – foi além, atravessou mares e chegou à Europa e ao México.

Tirando ele e o primo, Victor Matos, a família de oito pessoas que dividia um barraco era composta por mulheres: mãe, tia e avó e primas. “Não tivemos figura de pai presente”, recorda. Rafael diz que não passou necessidade, mas que a proteína mais recorrente na casa era a salsicha, por seu baixo custo. “Nasci no barraco, sou da chamada favela, venho desse lugar. Nunca me faltou nada, mas também nunca sobrou”, diz.

'Ninguém acreditava em cozinha só para entrega', diz Rafael Matos, ao lembrar do lançamento, que definiu como 'desastre'. Foto: Gabriel Lordello/Estadão - 16/12/2021

Formado em pedagogia, Rafael já trabalhou vendendo bonés, em escola particular e na empresa de marketing digital de Victor, mas ambos resolveram entrar no ramo de restaurantes por ser um dos que menos se abalam em momentos de crise. Plataformas de entrega eram pouco conhecidas, e de início eles optaram por um formato mais próximo do tradicional, com salão 100 metros para receber clientes. Mesmo assim, usaram as redes sociais. “Hoje não estar em plataforma é inaceitável, mas naquela época era novidade”, compara.

Depois de um ano e meio, tiveram a ideia de abrir uma franqueadora. “Mas do quê?”, perguntavam-se. Botaram no papel todos os custos com o restaurante, que tinha 15 empregados, gastos com ar-condicionado e aluguel em região valorizada. Constataram que 70% do faturamento vinha do delivery, com custos expressivamente mais baixos. “Hoje delivery é o que manda, e tivemos esse insight em 2016.”

Comida de vó

Inauguraram a primeira loja em 2017, especializada em frango empanado. Rafael garante que não se parece em nada com marcas estrangeiras e que a receita tem “gostinho de comida de vó”, contando até com purê de mandioca (também chamada de aipim).

Rafael e quatro sócios, incluindo Victor, desenvolveram tudo: da receita, ao modelo da franquia, com escolha de metodologia própria, pensando num negócio de fácil replicação, maquinário padrão e contando com manuais para o franqueado, circular de oferta e partes jurídica e contábil. “No primeiro mês, tivemos R$ 50 mil de faturamento, que era o que dava o antigo restaurante”, conta.

Foi difícil vender a primeira unidade. Um interessado de Juiz de Fora (MG) chegou a visitá-los, mas desistiu do negócio. Rafael explica que, além de o bairro para a loja ser de baixa renda e não tão bonito como a orla de Vitória, estava em obras. Além disso, a marca era pouco conhecida, e cinco jovens encabeçavam o empreendimento. Nada inspirava credibilidade. “O lançamento foi um desastre. Ninguém acreditava em ter cozinha só para entrega. Ninguém queria, pois se sentia meio cobaia.”

Aposentado e vendo de perto o esforço dos empreendedores, foi o pai de outro sócio, Felipe, o primeiro a se aventurar a comprar uma unidade da Number One Chicken (N1 Chicken), em Vila Velha. Depois, um amigo da mãe do Tiago, outro sócio. “Tudo no Espírito Santo, mas a gente queria mais”, diz. 

Do Rio Grande do Sul surgiu o primeiro franqueado comercial. No fim de 2018, a rede tinha 30 franquias comercializadas e nove em operação. No ano seguinte, o salto foi para 104 negociadas. Em 2020, a franquia passou a oferecer mais marcas na mesma cozinha: a Gringo Wing’s Planet (asinha de frango e hambúrguer) e a de cachorro quente “Julius Doggs”. No ano passado, nasceram ainda “O que comer, Fernando?”, de pratos prontos, assim como “Arroz Feijão”, e a Uma Yá, especializada em lámen (macarrão japonês).

Expansão internacional

Atualmente com 336 franquias (135 em implantação), o grupo ATW Delivery Brands se vende como a maior rede de dark kitchens – restaurantes que contam apenas com cozinha, não têm salão para consumo no local e fazem suas vendas por delivery – do mundo. Cinco estão em Portugal (uma funcionando e quatro em andamento), e uma será implantada no México. “Expandir o ATW para o exterior sempre foi uma ideia, mas não imaginávamos que isso aconteceria tão rápido.”

BRASÍLIA - O empresário Rafael Matos ostenta hoje uma coleção de 50 pares de tênis, mas quando era mais novo e não queria chegar a algum lugar especial com o seu surrado calçado pedia um emprestado ao primo. O capixaba do Morro do Cruzamento, uma comunidade de Vitória, sempre sonhou em fazer algo que extrapolasse as fronteiras de sua cidade. A dark kitchen (restaurante que conta apenas com cozinha e faz vendas pelo delivery) que criou com amigos – todos com alguma relação com sua infância no morro – foi além, atravessou mares e chegou à Europa e ao México.

Tirando ele e o primo, Victor Matos, a família de oito pessoas que dividia um barraco era composta por mulheres: mãe, tia e avó e primas. “Não tivemos figura de pai presente”, recorda. Rafael diz que não passou necessidade, mas que a proteína mais recorrente na casa era a salsicha, por seu baixo custo. “Nasci no barraco, sou da chamada favela, venho desse lugar. Nunca me faltou nada, mas também nunca sobrou”, diz.

'Ninguém acreditava em cozinha só para entrega', diz Rafael Matos, ao lembrar do lançamento, que definiu como 'desastre'. Foto: Gabriel Lordello/Estadão - 16/12/2021

Formado em pedagogia, Rafael já trabalhou vendendo bonés, em escola particular e na empresa de marketing digital de Victor, mas ambos resolveram entrar no ramo de restaurantes por ser um dos que menos se abalam em momentos de crise. Plataformas de entrega eram pouco conhecidas, e de início eles optaram por um formato mais próximo do tradicional, com salão 100 metros para receber clientes. Mesmo assim, usaram as redes sociais. “Hoje não estar em plataforma é inaceitável, mas naquela época era novidade”, compara.

Depois de um ano e meio, tiveram a ideia de abrir uma franqueadora. “Mas do quê?”, perguntavam-se. Botaram no papel todos os custos com o restaurante, que tinha 15 empregados, gastos com ar-condicionado e aluguel em região valorizada. Constataram que 70% do faturamento vinha do delivery, com custos expressivamente mais baixos. “Hoje delivery é o que manda, e tivemos esse insight em 2016.”

Comida de vó

Inauguraram a primeira loja em 2017, especializada em frango empanado. Rafael garante que não se parece em nada com marcas estrangeiras e que a receita tem “gostinho de comida de vó”, contando até com purê de mandioca (também chamada de aipim).

Rafael e quatro sócios, incluindo Victor, desenvolveram tudo: da receita, ao modelo da franquia, com escolha de metodologia própria, pensando num negócio de fácil replicação, maquinário padrão e contando com manuais para o franqueado, circular de oferta e partes jurídica e contábil. “No primeiro mês, tivemos R$ 50 mil de faturamento, que era o que dava o antigo restaurante”, conta.

Foi difícil vender a primeira unidade. Um interessado de Juiz de Fora (MG) chegou a visitá-los, mas desistiu do negócio. Rafael explica que, além de o bairro para a loja ser de baixa renda e não tão bonito como a orla de Vitória, estava em obras. Além disso, a marca era pouco conhecida, e cinco jovens encabeçavam o empreendimento. Nada inspirava credibilidade. “O lançamento foi um desastre. Ninguém acreditava em ter cozinha só para entrega. Ninguém queria, pois se sentia meio cobaia.”

Aposentado e vendo de perto o esforço dos empreendedores, foi o pai de outro sócio, Felipe, o primeiro a se aventurar a comprar uma unidade da Number One Chicken (N1 Chicken), em Vila Velha. Depois, um amigo da mãe do Tiago, outro sócio. “Tudo no Espírito Santo, mas a gente queria mais”, diz. 

Do Rio Grande do Sul surgiu o primeiro franqueado comercial. No fim de 2018, a rede tinha 30 franquias comercializadas e nove em operação. No ano seguinte, o salto foi para 104 negociadas. Em 2020, a franquia passou a oferecer mais marcas na mesma cozinha: a Gringo Wing’s Planet (asinha de frango e hambúrguer) e a de cachorro quente “Julius Doggs”. No ano passado, nasceram ainda “O que comer, Fernando?”, de pratos prontos, assim como “Arroz Feijão”, e a Uma Yá, especializada em lámen (macarrão japonês).

Expansão internacional

Atualmente com 336 franquias (135 em implantação), o grupo ATW Delivery Brands se vende como a maior rede de dark kitchens – restaurantes que contam apenas com cozinha, não têm salão para consumo no local e fazem suas vendas por delivery – do mundo. Cinco estão em Portugal (uma funcionando e quatro em andamento), e uma será implantada no México. “Expandir o ATW para o exterior sempre foi uma ideia, mas não imaginávamos que isso aconteceria tão rápido.”

BRASÍLIA - O empresário Rafael Matos ostenta hoje uma coleção de 50 pares de tênis, mas quando era mais novo e não queria chegar a algum lugar especial com o seu surrado calçado pedia um emprestado ao primo. O capixaba do Morro do Cruzamento, uma comunidade de Vitória, sempre sonhou em fazer algo que extrapolasse as fronteiras de sua cidade. A dark kitchen (restaurante que conta apenas com cozinha e faz vendas pelo delivery) que criou com amigos – todos com alguma relação com sua infância no morro – foi além, atravessou mares e chegou à Europa e ao México.

Tirando ele e o primo, Victor Matos, a família de oito pessoas que dividia um barraco era composta por mulheres: mãe, tia e avó e primas. “Não tivemos figura de pai presente”, recorda. Rafael diz que não passou necessidade, mas que a proteína mais recorrente na casa era a salsicha, por seu baixo custo. “Nasci no barraco, sou da chamada favela, venho desse lugar. Nunca me faltou nada, mas também nunca sobrou”, diz.

'Ninguém acreditava em cozinha só para entrega', diz Rafael Matos, ao lembrar do lançamento, que definiu como 'desastre'. Foto: Gabriel Lordello/Estadão - 16/12/2021

Formado em pedagogia, Rafael já trabalhou vendendo bonés, em escola particular e na empresa de marketing digital de Victor, mas ambos resolveram entrar no ramo de restaurantes por ser um dos que menos se abalam em momentos de crise. Plataformas de entrega eram pouco conhecidas, e de início eles optaram por um formato mais próximo do tradicional, com salão 100 metros para receber clientes. Mesmo assim, usaram as redes sociais. “Hoje não estar em plataforma é inaceitável, mas naquela época era novidade”, compara.

Depois de um ano e meio, tiveram a ideia de abrir uma franqueadora. “Mas do quê?”, perguntavam-se. Botaram no papel todos os custos com o restaurante, que tinha 15 empregados, gastos com ar-condicionado e aluguel em região valorizada. Constataram que 70% do faturamento vinha do delivery, com custos expressivamente mais baixos. “Hoje delivery é o que manda, e tivemos esse insight em 2016.”

Comida de vó

Inauguraram a primeira loja em 2017, especializada em frango empanado. Rafael garante que não se parece em nada com marcas estrangeiras e que a receita tem “gostinho de comida de vó”, contando até com purê de mandioca (também chamada de aipim).

Rafael e quatro sócios, incluindo Victor, desenvolveram tudo: da receita, ao modelo da franquia, com escolha de metodologia própria, pensando num negócio de fácil replicação, maquinário padrão e contando com manuais para o franqueado, circular de oferta e partes jurídica e contábil. “No primeiro mês, tivemos R$ 50 mil de faturamento, que era o que dava o antigo restaurante”, conta.

Foi difícil vender a primeira unidade. Um interessado de Juiz de Fora (MG) chegou a visitá-los, mas desistiu do negócio. Rafael explica que, além de o bairro para a loja ser de baixa renda e não tão bonito como a orla de Vitória, estava em obras. Além disso, a marca era pouco conhecida, e cinco jovens encabeçavam o empreendimento. Nada inspirava credibilidade. “O lançamento foi um desastre. Ninguém acreditava em ter cozinha só para entrega. Ninguém queria, pois se sentia meio cobaia.”

Aposentado e vendo de perto o esforço dos empreendedores, foi o pai de outro sócio, Felipe, o primeiro a se aventurar a comprar uma unidade da Number One Chicken (N1 Chicken), em Vila Velha. Depois, um amigo da mãe do Tiago, outro sócio. “Tudo no Espírito Santo, mas a gente queria mais”, diz. 

Do Rio Grande do Sul surgiu o primeiro franqueado comercial. No fim de 2018, a rede tinha 30 franquias comercializadas e nove em operação. No ano seguinte, o salto foi para 104 negociadas. Em 2020, a franquia passou a oferecer mais marcas na mesma cozinha: a Gringo Wing’s Planet (asinha de frango e hambúrguer) e a de cachorro quente “Julius Doggs”. No ano passado, nasceram ainda “O que comer, Fernando?”, de pratos prontos, assim como “Arroz Feijão”, e a Uma Yá, especializada em lámen (macarrão japonês).

Expansão internacional

Atualmente com 336 franquias (135 em implantação), o grupo ATW Delivery Brands se vende como a maior rede de dark kitchens – restaurantes que contam apenas com cozinha, não têm salão para consumo no local e fazem suas vendas por delivery – do mundo. Cinco estão em Portugal (uma funcionando e quatro em andamento), e uma será implantada no México. “Expandir o ATW para o exterior sempre foi uma ideia, mas não imaginávamos que isso aconteceria tão rápido.”

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