A operação brasileira da rede espanhola de supermercados Dia entrou nesta quinta-feira, 21, com um pedido de recuperação judicial na Justiça de São Paulo, “com o objetivo de tentar superar a sua atual situação econômica e financeira”, afirmou a empresa. O valor da ação é de quase R$ 1,1 bilhão.
A rede afirma que, desde a sua chegada ao Brasil, em 2001, tem realizado investimentos no País, em um esforço que “não obteve o retorno esperado”.
O pedido de recuperação judicial ocorre uma semana após o anúncio de um processo de reestruturação das operações no País, com o fechamento de 343 lojas e três armazéns. A rede continuará operando 244 lojas no Estado de São Paulo, “onde a companhia tem a maioria dos negócios brasileiros”, informou a empresa.
Ao anunciar o fechamento de lojas, o grupo afirmou que a decisão ocorreu devido aos “persistentes resultados negativos do Dia no Brasil” e que faz parte do plano de ajustes que visa “tornar a operação viável”. A concentração dos negócios em São Paulo foi uma opção para otimizar a rede logística e reduzir custos. Segundo a empresa, as operações no Estado têm maior rentabilidade.
“Essas medidas possibilitarão destinar os recursos para mercados mais rentáveis e com maior potencial de crescimento para o Grupo na Espanha e na Argentina, onde atualmente a companhia conseguiu uma posição relevante com uma estratégia focada na distribuição alimentar de proximidade”, afirmou a empresa sobre a reestruturação.
A empresa chegou ao Brasil em 2001. Nos últimos anos, especialmente desde 2022, a operação não trazia resultados esperados, apesar de investimentos da matriz. Dentre os motivos para o agravamento, a empresa cita o preço de commodities e a expansão de concorrentes no modelo atacarejo.
“O pedido de Recuperação Judicial se limita exclusivamente ao Dia Brasil, não impactando a situação financeira na Espanha e na Argentina, onde atualmente o Grupo Dia atingiu uma posição relevante com a estratégia focada na distribuição alimentar de proximidade”, indica a empresa em nota.
O resultado geral da companhia em 2023 foi negativo em 30 milhões de euros, causado pelos 154 milhões de euros em prejuízo líquido no Brasil, de acordo com o balanço divulgado em fevereiro. A operação global teve vendas líquidas de 6,76 bilhões de euros no ano passado, queda anual de 7,2%. Os negócios na Espanha tiveram lucro líquido de 22 milhões e, na Argentina, de 6 milhões de euros.
Em busca de investidores
No documento entregue à Justiça de São Paulo, a rede Dia informa que está prospectando potenciais investidores interessados em comprar sua operação no Brasil como um todo. O Dia afirma que, hoje, “não descarta a possibilidade de alienar seus negócios no Brasil”. A companhia passa por uma reestruturação em suas operações também na Espanha e Portugal.
A empresa diz, ao mesmo tempo, que seu modelo de negócio gera algumas dificuldades na busca por investidores interessados na empresa, pelo histórico de recentes resultados negativos e ao fato de que uma parcela relevante das lojas é operada na forma de franquias.
De todo modo, a companhia explica que vem fazendo esforços para remodelar seu negócio, entre os quais melhorar a apresentação das lojas sob a sua marca no Brasil. “Como esse projeto depende de investimentos mais expressivos, o Dia realizou um teste em 15 lojas selecionadas como pilotos e investiu aproximadamente R$ 15 milhões na melhoria de sua apresentação ao público”, diz o documento entregue à Justiça.
O Dia diz que os resultados foram positivos, com aumento de suas vendas em 16,5% em 2023, comparado ao período anterior às reformas. Mas acrescenta que busca um terceiro investidor para realizar os investimentos necessários para concluir a remodelação das lojas.
No final de 2023, o Dia contava com aproximadamente 6.100 empregados e 590 lojas, das quais aproximadamente 30% eram franquias, e quatro centros de distribuição, sendo três localizados na Grande São Paulo e um em Minas Gerais.
No final de fevereiro, o Dia disse que as operações no Brasil registraram queda nas vendas líquidas de 18,2% em 2023, na comparação com o ano anterior. A operação total da companhia teve vendas líquidas de € 6,76 bilhões no ano passado, queda anual de 7,2%. / Heloísa Scognamiglio, Aramis Merki II e Cynthia Decloedt