Mocktails: Como os drinks e cervejas sem álcool movimentam o mercado de bebidas para a geração Z


Mais jovens buscam bebidas sem álcool para se juntarem aos amigos em festas e em restaurantes; motivos estão ligados a preocupações com saúde física e mental

Por Wesley Gonsalves e Lucas Agrela
Atualização:

Quando sai à noite com os amigos para jantar em algum bar ou restaurante, o advogado Gabriel Prado, de 27 anos, passa batido pela lista de bebidas alcoólicas e vai direto para as opções sem álcool no cardápio. Há dois anos ele decidiu que não estava mais “a fim” de ter de beber para se divertir, uma decisão que envolvia uma mistura de questões religiosas, preocupação com condicionamento físico e saúde mental.

“Geralmente, eu prefiro os drinks sem álcool, mas também gosto de cerveja zero, que é legal. Se eu for em um bar mais movimentado, que fique de pé, vou de cerveja sem álcool. Se for algo sentado, mais para bater papo, peço um drink. Moscow Mule sem álcool é meu favorito”, conta o jovem.

Para atender aos consumidores como Gabriel Prado, o mercado de bebidas começa a se movimentar e oferecer opções que vão além das clássicas cervejas e dos drinks alcoólicos, com cartas cada vez mais elaboradas de bebidas, colocando desde gigantes do setor, a novos entrantes e principalmente bares e restaurante na briga pelo público que consome esses itens e está disposto a pagar por mais sabor e menos álcool.

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O advogado Gabriel Prado, 27, é um dos jovens entusiastas das bebidas sem álcool; quando sai com os amigos para beber, sua escolha é sempre pela cerveja zero álcool ou pelos 'mocktails' Foto: Wesley Gonsalves

Fundador da Companhia Tradicional do Comércio, que detém marcas de bares como Astor, SubAstor, Original e Pirajá, Edgar Bueno, conta que, no passado recente, pensar em um bar com uma carteira de drinks não alcoólicos seria algo inimaginável para o setor, mas que agora, diante das mudanças pós pandemia e também a transformação geracional dos clientes, passa a ser uma realidade nas casas noturnas.

“Não tem como não olhar para esse público, seja o vegano, o vegetariano e o não alcoólico, são tendências que, por efeito de preservação, nós precisamos olhar”, diz Bueno. “Não basta ter apenas uma opção para o cliente, você precisa dar mais opções para ele. Isso já faz parte do nosso dia a dia no menu.”

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Hoje quem frequenta o Bar Sub Astor pode pedir drinks sem álcool como o “Virgin Mary” e “Virgin Mojito”, que diferentemente dos clássicos da coquetelaria como Blood Mary e Mojito, não levam vodca e rum, respectivamente, além de outras opções feitas totalmente sem uso de álcool.

A diretora de marketing e inovação na Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e especialista em bebidas alcoólicas e charutos, Mikaela Paim, afirma que o público que procura por drinks sem álcool está disposto a pagar preços que são de 20% a 30% menores do que os das bebidas sem álcool, porque esse consumo acontece em momentos de comemoração e confraternização. Porém, os bares e restaurantes estão se adaptando à nova ascensão do consumo dessas bebidas, que exigem criatividade e técnica para o preparo.

No Sub Astor, o drink 'Very Berry', a base de morango, é uma das bebidas sem álcool preparadas pelo bartender Alex Sepulchro para os clientes que não querem mais consumir os alcoólicos na casa noturna  Foto: Alex Silva/Estadão
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“Não é só tirar o álcool do drink. No passado, tínhamos apenas o cocktail de frutas. Hoje se espera muito de um mocktail. O consumidor quer a mesma complexidade de um cocktail padrão, além de ter copo, precisa ter sabor e ser equilibrado. Isso exige bastante técnica porque o álcool dá muito corpo ao drink. Para gerar o umami, o efeito do sabor salgado misturado com o doce, é um processo complexo”, diz Mikaela.

A especialista afirma ainda que o consumo de bebidas não alcoólicas, como os mocktails, vem de uma questão geracional. Segundo ela, as gerações mais novas buscam saudabilidade dos alimentos e bebidas, e não sofrem condenações dos amigos por não beberem álcool como acontecia nas gerações mais velhas.

Dados de mercado dão conta de que o comércio de soft drinks está em ascensão, embora o mercado de bebidas com álcool mantenha uma ampla liderança. Em 2024, o mercado de bebidas alcoólicas é projetado para gerar uma receita mundial de US$1,17 trilhão, um crescimento de 5% ante 2023, segundo dados da consultoria Statista. A média de volume por pessoa no mercado de bebidas alcoólicas está prevista para ser de 28,94 litros no ano de 2024.

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No Brasil, o mercado de bebidas alcoólicas tem estimativa de receita de US$ 22,8 bilhões para 2024, o que representa um crescimento modesto de 2,4% diante do ano anterior. Em relação ao consumo per capita, a média é prevista para ser de 28,05 litros por pessoa em 2024, em linha com a média global.

Especialistas do setor de bebidas apontam que os consumidores estão mais dispostos a pagar mais pelos 'mocktails' e cervejas sem álcool desde que produtos inovem em questões de sabor Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

O mercado de soft drinks, excluindo os refrigerantes, apresenta um cenário diferente. Em 2024, a receita de refrigerantes para consumo em casa é estimada em US$ 521,2 bilhões, com uma expectativa de crescimento anual de 6,10% entre 2024 e 2028. Para este ano no Brasil, a expectativa de faturamento do setor é de US$ 1,6 bilhão, um crescimento anual de 3,5%. Espera-se que o mercado cresça anualmente 2,03% entre 2024 e 2028. A média de volume por pessoa para bebidas não alcoólicas em casa é prevista para ser de 6,84 litros em 2024.

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‘Cool’ é não beber

Mesmo que o aumento na demanda pelos itens sem álcool tenha se intensificado nos pós-pandemia, a história do Bear Mate - uma espécie de bebida gaseificada a base de mate, cafeína e suco concentrado de maçã - começou há oito anos no mercado, quando os sócios Alessandro Lickunas e Felipe Della Negra decidiram investir no setor.

Della Negra conta que com o avançar das tendências de consumo de itens mais saudáveis, redução no consumo de alcoólicos e também de mudanças de consumo geracional - a exemplo da chegada da geração z a idade de consumo - atualmente os consumidores estão mais dispostos a pagar por bebidas mais elaboradas, mesmo que elas sejam não alcoólicas, a exemplo dos mocktails, cervejas zero e outros “soft drinks” como Bear Mate. “Nós vivemos hoje um ambiente de negócio mais saudável para inovar em bebidas não alcoólicas”, diz.

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Apesar da aparência do líquido e recipiente que lembram a uma garrafa de cerveja do tipo “long neck”, o Bear Mate é feito 100% sem adição de álcool, o que colocou a bebida entre as queridinha dos “jovens descolados” na capital paulista, um dos principais mercados operados pela empresa.

Os sócios da Bear Mate, Felipe Dela Negre e Alessandro Lickunas apostaram na bebida de olho na crescente busca do público por itens sem adição de álcool Foto: WERTHER

Novos consumidores e produtos

Atento a essa fatia do mercado e para atender ao aumento na demanda por este tipo de bebida sem álcool em seus restaurantes, a Bloomin Brands - dona do Outback - decidiu expandir o seu menu de drinks, que atende tanto às crianças quanto aos adultos adeptos da tendência de sobriedade.

A gerente de marketing da Blooming Brand, Laura, conta que a relação da companhia com essas bebidas começou ainda antes da pandemia, mais precisamente em 2018, quando o Outback introduziu sua primeira opção de mocktail no cardápio. Ela lembra que um dos itens mais pedidos do cardápio, o “suco bifásico” foi criado pelos colaboradores da marca dentro dos restaurantes para consumo próprio, o que chamou a atenção dos clientes que acabaram pedindo a tal bebida que misturava suco de laranja e morango.

“Essa é uma categoria muito expressiva, o que é mais interessante é que ela é uma categoria que é democrática, desde a pessoa que quer um drink e não quer álcool até uma criança, adolescente, ou alguém mais velho. É de fato uma categoria que cresce e é democrática, que atende a todos os nossos consumidores”.

Segundo dados de consumo da companhia, os pedidos dos chamados mocktails cresceram 13%, entre 2022 e 2023, movido principalmente pela Pink Lemonade, uma bebida que mistura suco de limão siciliano com suco de frutas vermelhas e pimenta-rosa. Para atender a essa parcela dos consumidores, a rede lançou uma nova versão em parceria com a marca de energéticos Red Bull: o Tropical Summer Fresh, que leva a já tradicional limonada com xarope de gengibre e uma espuma cítrica, mistura que faz alusão ao drink alcoólico Moscou Mule, mas aqui, sem a tradicional vodca.

A executiva avalia que a procura pelos mocktail na rede ganhou tração durante a pandemia, principalmente puxada pelos consumidores da chamada Geração Z, hoje sabidamente um público que, segundo as pesquisas, têm consumido menos bebidas alcoólicas que as gerações antecessoras. “É um público muito estratégico e importante para o nosso negócio, porque é um público que dita tendência”, diz Laura.

Segundo o diretor de marketing da Fogo de Chão, João Galoppi, apesar de oferecer drinks sem álcool no cardápio há muitos anos, o público jovem puxa uma tendência de alta no consumo dessas bebidas, que se tornaram mais sofisticadas ao longo do tempo. “O grande desafio é criar um drink complexo. Não pode parecer um suco ou um refrigerante. Ele precisa conseguir complementar a experiência gastronômica”, diz.

Galoppi afirma ainda que o aumento no consumo de bebidas sem álcool, que são feitas pela própria equipe da empresa, também está ligado a uma mudança do perfil de público que vai ao restaurante. “No passado, vendíamos esses drinks para as crianças. Hoje, o consumidor, de todos os sexos, têm entre 25 e 35 anos. Na nossa visão, o aumento do consumo dos drinks sem álcool está ligado à mudança de posicionamento da empresa, que hoje oferece diversas opções de rodízio e uma grande variedade para os vegetarianos. Antes, as pessoas vinham duas vezes por ano e hoje elas vêm mais vezes”, diz.

Na mira dos gigantes

Com o aumento na demanda por bebidas sem álcool que fujam aos clássicos sucos e refrigerantes, as gigantes do setor como Ambev e Heineken começam a olhar com mais atenção para os consumidores que querem “curtir” à noite, sem necessariamente ingerir alcoólicos.

Para a Ambev, a aposta na saudabilidade das bebidas levou a companhia ampliar o seu menu de rótulos sem álcool e investir no desenvolvimento de novos produtos. Conforme divulgado, a companhia desenvolveu 18 protótipos de cerveja sem álcool até fechar a fórmula da Bud Zero, uma das suas principais marcas.

O diretor de inovação da cervejaria, Gustavo Castro, conta que uma das principais preocupações para a companhia é garantir que o produto sem álcool tenha um sabor agradável e atrativo aos consumidores. Ele explica que recentemente a empresa adotou um novo formato de confecção das bebidas, que retira todo o álcool ao fim do processo, o que mantém as características clássicas do sabor da cerveja, mesmo sem o álcool. “As pessoas querem uma vida mais saudável, mas elas não querem abrir mão da indulgência e do sabor das bebidas”, diz.

O executivo pontua que apesar de ainda não ser representativa em termos de faturamento, as vendas de cervejas sem álcool são expressivas e garantem atenção da gigante do setor de bebidas, que também tem investido na comunicação desses novos rótulos.

“Como é uma mudança de comportamento é importante que a gente ajude que isso aconteça. mas acho que o tamanho do patrocínio de olimpíadas mostra o tamanho da nossa aposta para este produto”, afirma Castro, que complementa. “Nós tentamos estar muito próximos dos consumidores, para tentar entender essas mudanças de comportamento e consumo.”

Quando sai à noite com os amigos para jantar em algum bar ou restaurante, o advogado Gabriel Prado, de 27 anos, passa batido pela lista de bebidas alcoólicas e vai direto para as opções sem álcool no cardápio. Há dois anos ele decidiu que não estava mais “a fim” de ter de beber para se divertir, uma decisão que envolvia uma mistura de questões religiosas, preocupação com condicionamento físico e saúde mental.

“Geralmente, eu prefiro os drinks sem álcool, mas também gosto de cerveja zero, que é legal. Se eu for em um bar mais movimentado, que fique de pé, vou de cerveja sem álcool. Se for algo sentado, mais para bater papo, peço um drink. Moscow Mule sem álcool é meu favorito”, conta o jovem.

Para atender aos consumidores como Gabriel Prado, o mercado de bebidas começa a se movimentar e oferecer opções que vão além das clássicas cervejas e dos drinks alcoólicos, com cartas cada vez mais elaboradas de bebidas, colocando desde gigantes do setor, a novos entrantes e principalmente bares e restaurante na briga pelo público que consome esses itens e está disposto a pagar por mais sabor e menos álcool.

O advogado Gabriel Prado, 27, é um dos jovens entusiastas das bebidas sem álcool; quando sai com os amigos para beber, sua escolha é sempre pela cerveja zero álcool ou pelos 'mocktails' Foto: Wesley Gonsalves

Fundador da Companhia Tradicional do Comércio, que detém marcas de bares como Astor, SubAstor, Original e Pirajá, Edgar Bueno, conta que, no passado recente, pensar em um bar com uma carteira de drinks não alcoólicos seria algo inimaginável para o setor, mas que agora, diante das mudanças pós pandemia e também a transformação geracional dos clientes, passa a ser uma realidade nas casas noturnas.

“Não tem como não olhar para esse público, seja o vegano, o vegetariano e o não alcoólico, são tendências que, por efeito de preservação, nós precisamos olhar”, diz Bueno. “Não basta ter apenas uma opção para o cliente, você precisa dar mais opções para ele. Isso já faz parte do nosso dia a dia no menu.”

Hoje quem frequenta o Bar Sub Astor pode pedir drinks sem álcool como o “Virgin Mary” e “Virgin Mojito”, que diferentemente dos clássicos da coquetelaria como Blood Mary e Mojito, não levam vodca e rum, respectivamente, além de outras opções feitas totalmente sem uso de álcool.

A diretora de marketing e inovação na Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e especialista em bebidas alcoólicas e charutos, Mikaela Paim, afirma que o público que procura por drinks sem álcool está disposto a pagar preços que são de 20% a 30% menores do que os das bebidas sem álcool, porque esse consumo acontece em momentos de comemoração e confraternização. Porém, os bares e restaurantes estão se adaptando à nova ascensão do consumo dessas bebidas, que exigem criatividade e técnica para o preparo.

No Sub Astor, o drink 'Very Berry', a base de morango, é uma das bebidas sem álcool preparadas pelo bartender Alex Sepulchro para os clientes que não querem mais consumir os alcoólicos na casa noturna  Foto: Alex Silva/Estadão

“Não é só tirar o álcool do drink. No passado, tínhamos apenas o cocktail de frutas. Hoje se espera muito de um mocktail. O consumidor quer a mesma complexidade de um cocktail padrão, além de ter copo, precisa ter sabor e ser equilibrado. Isso exige bastante técnica porque o álcool dá muito corpo ao drink. Para gerar o umami, o efeito do sabor salgado misturado com o doce, é um processo complexo”, diz Mikaela.

A especialista afirma ainda que o consumo de bebidas não alcoólicas, como os mocktails, vem de uma questão geracional. Segundo ela, as gerações mais novas buscam saudabilidade dos alimentos e bebidas, e não sofrem condenações dos amigos por não beberem álcool como acontecia nas gerações mais velhas.

Dados de mercado dão conta de que o comércio de soft drinks está em ascensão, embora o mercado de bebidas com álcool mantenha uma ampla liderança. Em 2024, o mercado de bebidas alcoólicas é projetado para gerar uma receita mundial de US$1,17 trilhão, um crescimento de 5% ante 2023, segundo dados da consultoria Statista. A média de volume por pessoa no mercado de bebidas alcoólicas está prevista para ser de 28,94 litros no ano de 2024.

No Brasil, o mercado de bebidas alcoólicas tem estimativa de receita de US$ 22,8 bilhões para 2024, o que representa um crescimento modesto de 2,4% diante do ano anterior. Em relação ao consumo per capita, a média é prevista para ser de 28,05 litros por pessoa em 2024, em linha com a média global.

Especialistas do setor de bebidas apontam que os consumidores estão mais dispostos a pagar mais pelos 'mocktails' e cervejas sem álcool desde que produtos inovem em questões de sabor Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

O mercado de soft drinks, excluindo os refrigerantes, apresenta um cenário diferente. Em 2024, a receita de refrigerantes para consumo em casa é estimada em US$ 521,2 bilhões, com uma expectativa de crescimento anual de 6,10% entre 2024 e 2028. Para este ano no Brasil, a expectativa de faturamento do setor é de US$ 1,6 bilhão, um crescimento anual de 3,5%. Espera-se que o mercado cresça anualmente 2,03% entre 2024 e 2028. A média de volume por pessoa para bebidas não alcoólicas em casa é prevista para ser de 6,84 litros em 2024.

‘Cool’ é não beber

Mesmo que o aumento na demanda pelos itens sem álcool tenha se intensificado nos pós-pandemia, a história do Bear Mate - uma espécie de bebida gaseificada a base de mate, cafeína e suco concentrado de maçã - começou há oito anos no mercado, quando os sócios Alessandro Lickunas e Felipe Della Negra decidiram investir no setor.

Della Negra conta que com o avançar das tendências de consumo de itens mais saudáveis, redução no consumo de alcoólicos e também de mudanças de consumo geracional - a exemplo da chegada da geração z a idade de consumo - atualmente os consumidores estão mais dispostos a pagar por bebidas mais elaboradas, mesmo que elas sejam não alcoólicas, a exemplo dos mocktails, cervejas zero e outros “soft drinks” como Bear Mate. “Nós vivemos hoje um ambiente de negócio mais saudável para inovar em bebidas não alcoólicas”, diz.

Apesar da aparência do líquido e recipiente que lembram a uma garrafa de cerveja do tipo “long neck”, o Bear Mate é feito 100% sem adição de álcool, o que colocou a bebida entre as queridinha dos “jovens descolados” na capital paulista, um dos principais mercados operados pela empresa.

Os sócios da Bear Mate, Felipe Dela Negre e Alessandro Lickunas apostaram na bebida de olho na crescente busca do público por itens sem adição de álcool Foto: WERTHER

Novos consumidores e produtos

Atento a essa fatia do mercado e para atender ao aumento na demanda por este tipo de bebida sem álcool em seus restaurantes, a Bloomin Brands - dona do Outback - decidiu expandir o seu menu de drinks, que atende tanto às crianças quanto aos adultos adeptos da tendência de sobriedade.

A gerente de marketing da Blooming Brand, Laura, conta que a relação da companhia com essas bebidas começou ainda antes da pandemia, mais precisamente em 2018, quando o Outback introduziu sua primeira opção de mocktail no cardápio. Ela lembra que um dos itens mais pedidos do cardápio, o “suco bifásico” foi criado pelos colaboradores da marca dentro dos restaurantes para consumo próprio, o que chamou a atenção dos clientes que acabaram pedindo a tal bebida que misturava suco de laranja e morango.

“Essa é uma categoria muito expressiva, o que é mais interessante é que ela é uma categoria que é democrática, desde a pessoa que quer um drink e não quer álcool até uma criança, adolescente, ou alguém mais velho. É de fato uma categoria que cresce e é democrática, que atende a todos os nossos consumidores”.

Segundo dados de consumo da companhia, os pedidos dos chamados mocktails cresceram 13%, entre 2022 e 2023, movido principalmente pela Pink Lemonade, uma bebida que mistura suco de limão siciliano com suco de frutas vermelhas e pimenta-rosa. Para atender a essa parcela dos consumidores, a rede lançou uma nova versão em parceria com a marca de energéticos Red Bull: o Tropical Summer Fresh, que leva a já tradicional limonada com xarope de gengibre e uma espuma cítrica, mistura que faz alusão ao drink alcoólico Moscou Mule, mas aqui, sem a tradicional vodca.

A executiva avalia que a procura pelos mocktail na rede ganhou tração durante a pandemia, principalmente puxada pelos consumidores da chamada Geração Z, hoje sabidamente um público que, segundo as pesquisas, têm consumido menos bebidas alcoólicas que as gerações antecessoras. “É um público muito estratégico e importante para o nosso negócio, porque é um público que dita tendência”, diz Laura.

Segundo o diretor de marketing da Fogo de Chão, João Galoppi, apesar de oferecer drinks sem álcool no cardápio há muitos anos, o público jovem puxa uma tendência de alta no consumo dessas bebidas, que se tornaram mais sofisticadas ao longo do tempo. “O grande desafio é criar um drink complexo. Não pode parecer um suco ou um refrigerante. Ele precisa conseguir complementar a experiência gastronômica”, diz.

Galoppi afirma ainda que o aumento no consumo de bebidas sem álcool, que são feitas pela própria equipe da empresa, também está ligado a uma mudança do perfil de público que vai ao restaurante. “No passado, vendíamos esses drinks para as crianças. Hoje, o consumidor, de todos os sexos, têm entre 25 e 35 anos. Na nossa visão, o aumento do consumo dos drinks sem álcool está ligado à mudança de posicionamento da empresa, que hoje oferece diversas opções de rodízio e uma grande variedade para os vegetarianos. Antes, as pessoas vinham duas vezes por ano e hoje elas vêm mais vezes”, diz.

Na mira dos gigantes

Com o aumento na demanda por bebidas sem álcool que fujam aos clássicos sucos e refrigerantes, as gigantes do setor como Ambev e Heineken começam a olhar com mais atenção para os consumidores que querem “curtir” à noite, sem necessariamente ingerir alcoólicos.

Para a Ambev, a aposta na saudabilidade das bebidas levou a companhia ampliar o seu menu de rótulos sem álcool e investir no desenvolvimento de novos produtos. Conforme divulgado, a companhia desenvolveu 18 protótipos de cerveja sem álcool até fechar a fórmula da Bud Zero, uma das suas principais marcas.

O diretor de inovação da cervejaria, Gustavo Castro, conta que uma das principais preocupações para a companhia é garantir que o produto sem álcool tenha um sabor agradável e atrativo aos consumidores. Ele explica que recentemente a empresa adotou um novo formato de confecção das bebidas, que retira todo o álcool ao fim do processo, o que mantém as características clássicas do sabor da cerveja, mesmo sem o álcool. “As pessoas querem uma vida mais saudável, mas elas não querem abrir mão da indulgência e do sabor das bebidas”, diz.

O executivo pontua que apesar de ainda não ser representativa em termos de faturamento, as vendas de cervejas sem álcool são expressivas e garantem atenção da gigante do setor de bebidas, que também tem investido na comunicação desses novos rótulos.

“Como é uma mudança de comportamento é importante que a gente ajude que isso aconteça. mas acho que o tamanho do patrocínio de olimpíadas mostra o tamanho da nossa aposta para este produto”, afirma Castro, que complementa. “Nós tentamos estar muito próximos dos consumidores, para tentar entender essas mudanças de comportamento e consumo.”

Quando sai à noite com os amigos para jantar em algum bar ou restaurante, o advogado Gabriel Prado, de 27 anos, passa batido pela lista de bebidas alcoólicas e vai direto para as opções sem álcool no cardápio. Há dois anos ele decidiu que não estava mais “a fim” de ter de beber para se divertir, uma decisão que envolvia uma mistura de questões religiosas, preocupação com condicionamento físico e saúde mental.

“Geralmente, eu prefiro os drinks sem álcool, mas também gosto de cerveja zero, que é legal. Se eu for em um bar mais movimentado, que fique de pé, vou de cerveja sem álcool. Se for algo sentado, mais para bater papo, peço um drink. Moscow Mule sem álcool é meu favorito”, conta o jovem.

Para atender aos consumidores como Gabriel Prado, o mercado de bebidas começa a se movimentar e oferecer opções que vão além das clássicas cervejas e dos drinks alcoólicos, com cartas cada vez mais elaboradas de bebidas, colocando desde gigantes do setor, a novos entrantes e principalmente bares e restaurante na briga pelo público que consome esses itens e está disposto a pagar por mais sabor e menos álcool.

O advogado Gabriel Prado, 27, é um dos jovens entusiastas das bebidas sem álcool; quando sai com os amigos para beber, sua escolha é sempre pela cerveja zero álcool ou pelos 'mocktails' Foto: Wesley Gonsalves

Fundador da Companhia Tradicional do Comércio, que detém marcas de bares como Astor, SubAstor, Original e Pirajá, Edgar Bueno, conta que, no passado recente, pensar em um bar com uma carteira de drinks não alcoólicos seria algo inimaginável para o setor, mas que agora, diante das mudanças pós pandemia e também a transformação geracional dos clientes, passa a ser uma realidade nas casas noturnas.

“Não tem como não olhar para esse público, seja o vegano, o vegetariano e o não alcoólico, são tendências que, por efeito de preservação, nós precisamos olhar”, diz Bueno. “Não basta ter apenas uma opção para o cliente, você precisa dar mais opções para ele. Isso já faz parte do nosso dia a dia no menu.”

Hoje quem frequenta o Bar Sub Astor pode pedir drinks sem álcool como o “Virgin Mary” e “Virgin Mojito”, que diferentemente dos clássicos da coquetelaria como Blood Mary e Mojito, não levam vodca e rum, respectivamente, além de outras opções feitas totalmente sem uso de álcool.

A diretora de marketing e inovação na Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e especialista em bebidas alcoólicas e charutos, Mikaela Paim, afirma que o público que procura por drinks sem álcool está disposto a pagar preços que são de 20% a 30% menores do que os das bebidas sem álcool, porque esse consumo acontece em momentos de comemoração e confraternização. Porém, os bares e restaurantes estão se adaptando à nova ascensão do consumo dessas bebidas, que exigem criatividade e técnica para o preparo.

No Sub Astor, o drink 'Very Berry', a base de morango, é uma das bebidas sem álcool preparadas pelo bartender Alex Sepulchro para os clientes que não querem mais consumir os alcoólicos na casa noturna  Foto: Alex Silva/Estadão

“Não é só tirar o álcool do drink. No passado, tínhamos apenas o cocktail de frutas. Hoje se espera muito de um mocktail. O consumidor quer a mesma complexidade de um cocktail padrão, além de ter copo, precisa ter sabor e ser equilibrado. Isso exige bastante técnica porque o álcool dá muito corpo ao drink. Para gerar o umami, o efeito do sabor salgado misturado com o doce, é um processo complexo”, diz Mikaela.

A especialista afirma ainda que o consumo de bebidas não alcoólicas, como os mocktails, vem de uma questão geracional. Segundo ela, as gerações mais novas buscam saudabilidade dos alimentos e bebidas, e não sofrem condenações dos amigos por não beberem álcool como acontecia nas gerações mais velhas.

Dados de mercado dão conta de que o comércio de soft drinks está em ascensão, embora o mercado de bebidas com álcool mantenha uma ampla liderança. Em 2024, o mercado de bebidas alcoólicas é projetado para gerar uma receita mundial de US$1,17 trilhão, um crescimento de 5% ante 2023, segundo dados da consultoria Statista. A média de volume por pessoa no mercado de bebidas alcoólicas está prevista para ser de 28,94 litros no ano de 2024.

No Brasil, o mercado de bebidas alcoólicas tem estimativa de receita de US$ 22,8 bilhões para 2024, o que representa um crescimento modesto de 2,4% diante do ano anterior. Em relação ao consumo per capita, a média é prevista para ser de 28,05 litros por pessoa em 2024, em linha com a média global.

Especialistas do setor de bebidas apontam que os consumidores estão mais dispostos a pagar mais pelos 'mocktails' e cervejas sem álcool desde que produtos inovem em questões de sabor Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

O mercado de soft drinks, excluindo os refrigerantes, apresenta um cenário diferente. Em 2024, a receita de refrigerantes para consumo em casa é estimada em US$ 521,2 bilhões, com uma expectativa de crescimento anual de 6,10% entre 2024 e 2028. Para este ano no Brasil, a expectativa de faturamento do setor é de US$ 1,6 bilhão, um crescimento anual de 3,5%. Espera-se que o mercado cresça anualmente 2,03% entre 2024 e 2028. A média de volume por pessoa para bebidas não alcoólicas em casa é prevista para ser de 6,84 litros em 2024.

‘Cool’ é não beber

Mesmo que o aumento na demanda pelos itens sem álcool tenha se intensificado nos pós-pandemia, a história do Bear Mate - uma espécie de bebida gaseificada a base de mate, cafeína e suco concentrado de maçã - começou há oito anos no mercado, quando os sócios Alessandro Lickunas e Felipe Della Negra decidiram investir no setor.

Della Negra conta que com o avançar das tendências de consumo de itens mais saudáveis, redução no consumo de alcoólicos e também de mudanças de consumo geracional - a exemplo da chegada da geração z a idade de consumo - atualmente os consumidores estão mais dispostos a pagar por bebidas mais elaboradas, mesmo que elas sejam não alcoólicas, a exemplo dos mocktails, cervejas zero e outros “soft drinks” como Bear Mate. “Nós vivemos hoje um ambiente de negócio mais saudável para inovar em bebidas não alcoólicas”, diz.

Apesar da aparência do líquido e recipiente que lembram a uma garrafa de cerveja do tipo “long neck”, o Bear Mate é feito 100% sem adição de álcool, o que colocou a bebida entre as queridinha dos “jovens descolados” na capital paulista, um dos principais mercados operados pela empresa.

Os sócios da Bear Mate, Felipe Dela Negre e Alessandro Lickunas apostaram na bebida de olho na crescente busca do público por itens sem adição de álcool Foto: WERTHER

Novos consumidores e produtos

Atento a essa fatia do mercado e para atender ao aumento na demanda por este tipo de bebida sem álcool em seus restaurantes, a Bloomin Brands - dona do Outback - decidiu expandir o seu menu de drinks, que atende tanto às crianças quanto aos adultos adeptos da tendência de sobriedade.

A gerente de marketing da Blooming Brand, Laura, conta que a relação da companhia com essas bebidas começou ainda antes da pandemia, mais precisamente em 2018, quando o Outback introduziu sua primeira opção de mocktail no cardápio. Ela lembra que um dos itens mais pedidos do cardápio, o “suco bifásico” foi criado pelos colaboradores da marca dentro dos restaurantes para consumo próprio, o que chamou a atenção dos clientes que acabaram pedindo a tal bebida que misturava suco de laranja e morango.

“Essa é uma categoria muito expressiva, o que é mais interessante é que ela é uma categoria que é democrática, desde a pessoa que quer um drink e não quer álcool até uma criança, adolescente, ou alguém mais velho. É de fato uma categoria que cresce e é democrática, que atende a todos os nossos consumidores”.

Segundo dados de consumo da companhia, os pedidos dos chamados mocktails cresceram 13%, entre 2022 e 2023, movido principalmente pela Pink Lemonade, uma bebida que mistura suco de limão siciliano com suco de frutas vermelhas e pimenta-rosa. Para atender a essa parcela dos consumidores, a rede lançou uma nova versão em parceria com a marca de energéticos Red Bull: o Tropical Summer Fresh, que leva a já tradicional limonada com xarope de gengibre e uma espuma cítrica, mistura que faz alusão ao drink alcoólico Moscou Mule, mas aqui, sem a tradicional vodca.

A executiva avalia que a procura pelos mocktail na rede ganhou tração durante a pandemia, principalmente puxada pelos consumidores da chamada Geração Z, hoje sabidamente um público que, segundo as pesquisas, têm consumido menos bebidas alcoólicas que as gerações antecessoras. “É um público muito estratégico e importante para o nosso negócio, porque é um público que dita tendência”, diz Laura.

Segundo o diretor de marketing da Fogo de Chão, João Galoppi, apesar de oferecer drinks sem álcool no cardápio há muitos anos, o público jovem puxa uma tendência de alta no consumo dessas bebidas, que se tornaram mais sofisticadas ao longo do tempo. “O grande desafio é criar um drink complexo. Não pode parecer um suco ou um refrigerante. Ele precisa conseguir complementar a experiência gastronômica”, diz.

Galoppi afirma ainda que o aumento no consumo de bebidas sem álcool, que são feitas pela própria equipe da empresa, também está ligado a uma mudança do perfil de público que vai ao restaurante. “No passado, vendíamos esses drinks para as crianças. Hoje, o consumidor, de todos os sexos, têm entre 25 e 35 anos. Na nossa visão, o aumento do consumo dos drinks sem álcool está ligado à mudança de posicionamento da empresa, que hoje oferece diversas opções de rodízio e uma grande variedade para os vegetarianos. Antes, as pessoas vinham duas vezes por ano e hoje elas vêm mais vezes”, diz.

Na mira dos gigantes

Com o aumento na demanda por bebidas sem álcool que fujam aos clássicos sucos e refrigerantes, as gigantes do setor como Ambev e Heineken começam a olhar com mais atenção para os consumidores que querem “curtir” à noite, sem necessariamente ingerir alcoólicos.

Para a Ambev, a aposta na saudabilidade das bebidas levou a companhia ampliar o seu menu de rótulos sem álcool e investir no desenvolvimento de novos produtos. Conforme divulgado, a companhia desenvolveu 18 protótipos de cerveja sem álcool até fechar a fórmula da Bud Zero, uma das suas principais marcas.

O diretor de inovação da cervejaria, Gustavo Castro, conta que uma das principais preocupações para a companhia é garantir que o produto sem álcool tenha um sabor agradável e atrativo aos consumidores. Ele explica que recentemente a empresa adotou um novo formato de confecção das bebidas, que retira todo o álcool ao fim do processo, o que mantém as características clássicas do sabor da cerveja, mesmo sem o álcool. “As pessoas querem uma vida mais saudável, mas elas não querem abrir mão da indulgência e do sabor das bebidas”, diz.

O executivo pontua que apesar de ainda não ser representativa em termos de faturamento, as vendas de cervejas sem álcool são expressivas e garantem atenção da gigante do setor de bebidas, que também tem investido na comunicação desses novos rótulos.

“Como é uma mudança de comportamento é importante que a gente ajude que isso aconteça. mas acho que o tamanho do patrocínio de olimpíadas mostra o tamanho da nossa aposta para este produto”, afirma Castro, que complementa. “Nós tentamos estar muito próximos dos consumidores, para tentar entender essas mudanças de comportamento e consumo.”

Quando sai à noite com os amigos para jantar em algum bar ou restaurante, o advogado Gabriel Prado, de 27 anos, passa batido pela lista de bebidas alcoólicas e vai direto para as opções sem álcool no cardápio. Há dois anos ele decidiu que não estava mais “a fim” de ter de beber para se divertir, uma decisão que envolvia uma mistura de questões religiosas, preocupação com condicionamento físico e saúde mental.

“Geralmente, eu prefiro os drinks sem álcool, mas também gosto de cerveja zero, que é legal. Se eu for em um bar mais movimentado, que fique de pé, vou de cerveja sem álcool. Se for algo sentado, mais para bater papo, peço um drink. Moscow Mule sem álcool é meu favorito”, conta o jovem.

Para atender aos consumidores como Gabriel Prado, o mercado de bebidas começa a se movimentar e oferecer opções que vão além das clássicas cervejas e dos drinks alcoólicos, com cartas cada vez mais elaboradas de bebidas, colocando desde gigantes do setor, a novos entrantes e principalmente bares e restaurante na briga pelo público que consome esses itens e está disposto a pagar por mais sabor e menos álcool.

O advogado Gabriel Prado, 27, é um dos jovens entusiastas das bebidas sem álcool; quando sai com os amigos para beber, sua escolha é sempre pela cerveja zero álcool ou pelos 'mocktails' Foto: Wesley Gonsalves

Fundador da Companhia Tradicional do Comércio, que detém marcas de bares como Astor, SubAstor, Original e Pirajá, Edgar Bueno, conta que, no passado recente, pensar em um bar com uma carteira de drinks não alcoólicos seria algo inimaginável para o setor, mas que agora, diante das mudanças pós pandemia e também a transformação geracional dos clientes, passa a ser uma realidade nas casas noturnas.

“Não tem como não olhar para esse público, seja o vegano, o vegetariano e o não alcoólico, são tendências que, por efeito de preservação, nós precisamos olhar”, diz Bueno. “Não basta ter apenas uma opção para o cliente, você precisa dar mais opções para ele. Isso já faz parte do nosso dia a dia no menu.”

Hoje quem frequenta o Bar Sub Astor pode pedir drinks sem álcool como o “Virgin Mary” e “Virgin Mojito”, que diferentemente dos clássicos da coquetelaria como Blood Mary e Mojito, não levam vodca e rum, respectivamente, além de outras opções feitas totalmente sem uso de álcool.

A diretora de marketing e inovação na Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e especialista em bebidas alcoólicas e charutos, Mikaela Paim, afirma que o público que procura por drinks sem álcool está disposto a pagar preços que são de 20% a 30% menores do que os das bebidas sem álcool, porque esse consumo acontece em momentos de comemoração e confraternização. Porém, os bares e restaurantes estão se adaptando à nova ascensão do consumo dessas bebidas, que exigem criatividade e técnica para o preparo.

No Sub Astor, o drink 'Very Berry', a base de morango, é uma das bebidas sem álcool preparadas pelo bartender Alex Sepulchro para os clientes que não querem mais consumir os alcoólicos na casa noturna  Foto: Alex Silva/Estadão

“Não é só tirar o álcool do drink. No passado, tínhamos apenas o cocktail de frutas. Hoje se espera muito de um mocktail. O consumidor quer a mesma complexidade de um cocktail padrão, além de ter copo, precisa ter sabor e ser equilibrado. Isso exige bastante técnica porque o álcool dá muito corpo ao drink. Para gerar o umami, o efeito do sabor salgado misturado com o doce, é um processo complexo”, diz Mikaela.

A especialista afirma ainda que o consumo de bebidas não alcoólicas, como os mocktails, vem de uma questão geracional. Segundo ela, as gerações mais novas buscam saudabilidade dos alimentos e bebidas, e não sofrem condenações dos amigos por não beberem álcool como acontecia nas gerações mais velhas.

Dados de mercado dão conta de que o comércio de soft drinks está em ascensão, embora o mercado de bebidas com álcool mantenha uma ampla liderança. Em 2024, o mercado de bebidas alcoólicas é projetado para gerar uma receita mundial de US$1,17 trilhão, um crescimento de 5% ante 2023, segundo dados da consultoria Statista. A média de volume por pessoa no mercado de bebidas alcoólicas está prevista para ser de 28,94 litros no ano de 2024.

No Brasil, o mercado de bebidas alcoólicas tem estimativa de receita de US$ 22,8 bilhões para 2024, o que representa um crescimento modesto de 2,4% diante do ano anterior. Em relação ao consumo per capita, a média é prevista para ser de 28,05 litros por pessoa em 2024, em linha com a média global.

Especialistas do setor de bebidas apontam que os consumidores estão mais dispostos a pagar mais pelos 'mocktails' e cervejas sem álcool desde que produtos inovem em questões de sabor Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

O mercado de soft drinks, excluindo os refrigerantes, apresenta um cenário diferente. Em 2024, a receita de refrigerantes para consumo em casa é estimada em US$ 521,2 bilhões, com uma expectativa de crescimento anual de 6,10% entre 2024 e 2028. Para este ano no Brasil, a expectativa de faturamento do setor é de US$ 1,6 bilhão, um crescimento anual de 3,5%. Espera-se que o mercado cresça anualmente 2,03% entre 2024 e 2028. A média de volume por pessoa para bebidas não alcoólicas em casa é prevista para ser de 6,84 litros em 2024.

‘Cool’ é não beber

Mesmo que o aumento na demanda pelos itens sem álcool tenha se intensificado nos pós-pandemia, a história do Bear Mate - uma espécie de bebida gaseificada a base de mate, cafeína e suco concentrado de maçã - começou há oito anos no mercado, quando os sócios Alessandro Lickunas e Felipe Della Negra decidiram investir no setor.

Della Negra conta que com o avançar das tendências de consumo de itens mais saudáveis, redução no consumo de alcoólicos e também de mudanças de consumo geracional - a exemplo da chegada da geração z a idade de consumo - atualmente os consumidores estão mais dispostos a pagar por bebidas mais elaboradas, mesmo que elas sejam não alcoólicas, a exemplo dos mocktails, cervejas zero e outros “soft drinks” como Bear Mate. “Nós vivemos hoje um ambiente de negócio mais saudável para inovar em bebidas não alcoólicas”, diz.

Apesar da aparência do líquido e recipiente que lembram a uma garrafa de cerveja do tipo “long neck”, o Bear Mate é feito 100% sem adição de álcool, o que colocou a bebida entre as queridinha dos “jovens descolados” na capital paulista, um dos principais mercados operados pela empresa.

Os sócios da Bear Mate, Felipe Dela Negre e Alessandro Lickunas apostaram na bebida de olho na crescente busca do público por itens sem adição de álcool Foto: WERTHER

Novos consumidores e produtos

Atento a essa fatia do mercado e para atender ao aumento na demanda por este tipo de bebida sem álcool em seus restaurantes, a Bloomin Brands - dona do Outback - decidiu expandir o seu menu de drinks, que atende tanto às crianças quanto aos adultos adeptos da tendência de sobriedade.

A gerente de marketing da Blooming Brand, Laura, conta que a relação da companhia com essas bebidas começou ainda antes da pandemia, mais precisamente em 2018, quando o Outback introduziu sua primeira opção de mocktail no cardápio. Ela lembra que um dos itens mais pedidos do cardápio, o “suco bifásico” foi criado pelos colaboradores da marca dentro dos restaurantes para consumo próprio, o que chamou a atenção dos clientes que acabaram pedindo a tal bebida que misturava suco de laranja e morango.

“Essa é uma categoria muito expressiva, o que é mais interessante é que ela é uma categoria que é democrática, desde a pessoa que quer um drink e não quer álcool até uma criança, adolescente, ou alguém mais velho. É de fato uma categoria que cresce e é democrática, que atende a todos os nossos consumidores”.

Segundo dados de consumo da companhia, os pedidos dos chamados mocktails cresceram 13%, entre 2022 e 2023, movido principalmente pela Pink Lemonade, uma bebida que mistura suco de limão siciliano com suco de frutas vermelhas e pimenta-rosa. Para atender a essa parcela dos consumidores, a rede lançou uma nova versão em parceria com a marca de energéticos Red Bull: o Tropical Summer Fresh, que leva a já tradicional limonada com xarope de gengibre e uma espuma cítrica, mistura que faz alusão ao drink alcoólico Moscou Mule, mas aqui, sem a tradicional vodca.

A executiva avalia que a procura pelos mocktail na rede ganhou tração durante a pandemia, principalmente puxada pelos consumidores da chamada Geração Z, hoje sabidamente um público que, segundo as pesquisas, têm consumido menos bebidas alcoólicas que as gerações antecessoras. “É um público muito estratégico e importante para o nosso negócio, porque é um público que dita tendência”, diz Laura.

Segundo o diretor de marketing da Fogo de Chão, João Galoppi, apesar de oferecer drinks sem álcool no cardápio há muitos anos, o público jovem puxa uma tendência de alta no consumo dessas bebidas, que se tornaram mais sofisticadas ao longo do tempo. “O grande desafio é criar um drink complexo. Não pode parecer um suco ou um refrigerante. Ele precisa conseguir complementar a experiência gastronômica”, diz.

Galoppi afirma ainda que o aumento no consumo de bebidas sem álcool, que são feitas pela própria equipe da empresa, também está ligado a uma mudança do perfil de público que vai ao restaurante. “No passado, vendíamos esses drinks para as crianças. Hoje, o consumidor, de todos os sexos, têm entre 25 e 35 anos. Na nossa visão, o aumento do consumo dos drinks sem álcool está ligado à mudança de posicionamento da empresa, que hoje oferece diversas opções de rodízio e uma grande variedade para os vegetarianos. Antes, as pessoas vinham duas vezes por ano e hoje elas vêm mais vezes”, diz.

Na mira dos gigantes

Com o aumento na demanda por bebidas sem álcool que fujam aos clássicos sucos e refrigerantes, as gigantes do setor como Ambev e Heineken começam a olhar com mais atenção para os consumidores que querem “curtir” à noite, sem necessariamente ingerir alcoólicos.

Para a Ambev, a aposta na saudabilidade das bebidas levou a companhia ampliar o seu menu de rótulos sem álcool e investir no desenvolvimento de novos produtos. Conforme divulgado, a companhia desenvolveu 18 protótipos de cerveja sem álcool até fechar a fórmula da Bud Zero, uma das suas principais marcas.

O diretor de inovação da cervejaria, Gustavo Castro, conta que uma das principais preocupações para a companhia é garantir que o produto sem álcool tenha um sabor agradável e atrativo aos consumidores. Ele explica que recentemente a empresa adotou um novo formato de confecção das bebidas, que retira todo o álcool ao fim do processo, o que mantém as características clássicas do sabor da cerveja, mesmo sem o álcool. “As pessoas querem uma vida mais saudável, mas elas não querem abrir mão da indulgência e do sabor das bebidas”, diz.

O executivo pontua que apesar de ainda não ser representativa em termos de faturamento, as vendas de cervejas sem álcool são expressivas e garantem atenção da gigante do setor de bebidas, que também tem investido na comunicação desses novos rótulos.

“Como é uma mudança de comportamento é importante que a gente ajude que isso aconteça. mas acho que o tamanho do patrocínio de olimpíadas mostra o tamanho da nossa aposta para este produto”, afirma Castro, que complementa. “Nós tentamos estar muito próximos dos consumidores, para tentar entender essas mudanças de comportamento e consumo.”

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