Brasil tem 3,5 mil imóveis com ‘selo verde’; veja vantagens das construções sustentáveis


Certificação passou a ser exigência de vários investidores e bancos, e atrai cada vez mais construtoras e incorporadoras

Por Cleide Silva
Atualização:

Na busca pela redução das emissões de carbono, edifícios e casas sustentáveis começam a atrair projetos de construtoras e incorporadoras brasileiras. O Brasil tem hoje pelo menos 3,5 mil construções certificadas ou em fase de certificação, que atendem vários critérios definidos por organismos nacionais e internacionais. Além de atestar o projeto como sustentável, o selo ajuda a atrair investimentos, valoriza o imóvel e seus requisitos reduzem custos para os moradores.

O número é pequeno diante do total de obras no País, mas vem crescendo anualmente desde que o ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) passou a ser vital para as empresas e requisito por parte de investidores. O foco maior são imóveis comerciais de alto padrão e, mais recentemente, também de residenciais. Na categoria popular, há pelo menos um conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida (MCMV) com o “selo verde”, no Paraná.

No segmento de médio/alto padrão, uma das referências é o Idea Bagé, em Porto Alegre (RS). Foi o primeiro edifício residencial no País a receber a certificação máxima nesse segmento, a GBC Condomínio Platina, do Green Building Council (GBC Brasil). A organização faz parte do World Green Building Council (WGBC), criada nos EUA e com representações em 70 países. No ano passado, a entidade emitiu 139 certificados, 41% a mais em relação a 2021. Os registros (quando o processo começa a ser analisado) subiram 38%, para 219.

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Edifício residencial Idea Bagé tem placas solares e fotovoltaicas e amplas áreas envidraçadas para a entrada de luz  Foto: Capitânia

Há várias empresas certificadoras e diferentes categorias de selos, mas a base de todas elas tem a ver com economia de água e energia, uso de materiais sustentáveis, conforto dos ocupantes, impactos na sociedade e eficiência. No caso do Idea Bagé, entre as soluções adotadas estão painéis fotovoltaicos, sistema de aquecimento de água por energia solar, coleta de água da chuva e da gerada pelos aparelhos de ar-condicionado e amplas janelas e portas de vidro que proporcionam claridade e com proteção solar.

“O sistema produz três vezes mais energia do que o condomínio precisa, e o excedente é redistribuído para os apartamentos”, informa o engenheiro Mauro Touguinha, da incorporadora Capitânia. Só em condomínio há uma economia anual de R$ 10 mil. A fachada, feita com material autolimpante durante as chuvas, evita gastos de R$ 100 mil em lavagem.

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Desde o lançamento do Idea Bagé, há um ano, 12 dos 14 apartamentos foram vendidos por, em média, R$ 1,4 milhão cada, preço próximo ao cobrado por outros convencionais da região. O custo do projeto, segundo Touguinha, foi 6% superior ao de um edifício convencional, mas o retorno do investimento ocorre em prazos similares.

Para ele, ter um projeto diferenciado é uma estratégia que atrai clientela, principalmente aquela que está preocupada com o meio ambiente. A empresa vai lançar mais um prédio no mesmo formato neste ano e outro em 2024.

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Certificadoras

Os certificados são fornecidos por organizações credenciadas e todo o processo é acompanhado por consultorias especializadas que assessoram as empresas na obtenção do selo (que tem diferentes categorias e pontuações) e verificam o cumprimento dos requisitos. A taxa para obtenção do selo e a consultoria podem custar de R$ 100 mil a R$ 200 mil.

A GBC Brasil contabiliza 2.131 certificados e registros desde 2007, quando iniciou atuação no local. Somente com o selo Leed, subdividido em Platinum, Gold e Silver, o GBC Brasil conta com 1.908 projetos. Esse número coloca o Brasil em quinto lugar no ranking internacional da entidade avaliado em 186 países. À frente, e bem distante dos demais países, estão EUA (com 76,7 mil selos), China (8,1 mil), Canadá (7,5 mil) e Índia (4,2 mil). O GBC também concede as certificações nacionais Casa&condomínio, Life e Zero Energia.

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O presidente do conselho do GBC, Raul Penteado, afirma que a procura pelo certificado já vinha crescendo, “mas foi acelerada com a pandemia, que levou as pessoas a pensarem na necessidade de morar melhor”. Ele avalia que ampliar esse movimento para projetos populares é um desafio. “Muitas vezes é preciso aceitar pagar um pouco a mais na compra, por exemplo, sabendo que depois vai economizar no resto da vida.”

Projeto do Minha Casa Minha Vida, feito pela Tecverde e Construtora Valor Real, é único na categoria com selo verde Foto: Tecverde

O conjunto habitacional Pinhais Park, do MCMV em São José dos Pinhais (PR), obteve o selo Ouro da GBC há três anos utilizando um sistema de construção industrializada. Entre as soluções adotadas está o uso de madeira de pinus de reflorestamento no interior das paredes dos 136 apartamentos do residencial.

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O sistema reduz o volume de resíduos na obra, o gasto de água e de energia e o desperdício de materiais na obra, além de outros benefícios para os moradores, como conforto térmico, explica Stael Xavier, diretora comercial da Tecverde, fabricante do material e parceira da construtora Valor Real no projeto.

As peças usadas nas paredes são entregues no tamanho correto, já com partes elétricas e hidráulicas e apenas encaixadas nos apartamentos. O telhado também chega semi pronto e é içado aos prédios que têm quatro pavimentos. Além do prazo de construção ser quatro vezes mais rápido do que o convencional, o custo total da obra é 10% menor, informa Stael.

A Fundação Vanzolini, ligada à Escola Politécnica da USP, é outra certificadora no Brasil com o selo Aqua-HQE, uma adaptação da certificação francesa Démarch HQE com atuação maior em empreendimentos residenciais. A Fundação também trabalha com o selo Procel, voltado à questão da energia. Desde 2008 foram certificadas mais de mil construções, das quais cerca de 900 são edifícios e casas residenciais, a maioria do Estado de São Paulo.

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“É um número pequeno, pois não atingimos nem 0,25% do mercado que poderíamos atingir”, afirma o arquiteto Bruno Casagrande, gestor de Negócios da área de certificação da Fundação Vanzolini. Segundo ele, há um crescimento orgânico de registros, muito concentrado em São Paulo.

Ele avalia que o custo da obra não é impedimento para obter o selo, pois às vezes pode ser até inferior à não sustentável, mas há grande resistência por parte de empreendedores mais conservadoras. “É uma mudança de padrão que começa no canteiro de obra”, diz. Casagrande ressalta que o valor do condomínio chega a ser 20% a 30% mais barato comparado ao de tradicionais. A valorização do imóvel chega a 20% e o tempo de venda e de vacância também é inferior para os sustentáveis.

A maioria dos certificados da Fundação também foi concedida a projetos de alto padrão, mas há casos de construções mais populares. Casagrande informa que em breve a organização iniciará projetos com um grande empreendedor que opera no mercado de residências populares e que todos os seu projetos daqui para frente vão buscar o certificado Aqua.

A construtora e incorporadora Trisul, que atua com imóveis residenciais em São Paulo há 40 anos, tem 28 empreendimentos certificados com os selos Aqua, Procel e Edge a partir de 2015 – 11 deles em execução. Todos são de médio, alto e altíssimo padrão.

Em agosto passado, o grupo entregou o edifício Oscar Ibirapuera, com duas torres e 56 apartamentos. Eles começaram a ser vendidos em 2019 a R$ 25 mil o metro quadrado (m²), valor que chegou a R$ 48 mil o m² em 2022. “As práticas sustentáveis acabam impactando também nessa valorização”, afirma Roberto Pastor Junior, diretor técnico da Trisul. Em abril, será entregue o edifício Athus Paraíso, que está quase todo vendido. Um dos destaques nas obras de ambos foi o pouco volume de resíduos, que foi todo entregue para reciclagem.

Tratamento de água negra

Também na linha de altíssimo padrão, a capital paulista tem o B32, na avenida Faria Lima, conhecido por ter uma grande baleia metálica em sua praça, símbolo da transformação pessoal. O empreendimento da Birmann S/A tem uma torre corporativa com escritórios, teatro, restaurantes e uma praça de 6 mil m². Ele recebeu o primeiro certificado Leed Platinun, o mais alto da GBC, na categoria comercial.

Rafael Birmann, presidente da empresa e idealizador do B32, diz que esse é o mais completo entre os 25 edifícios feitos pelo grupo, além de shopping centers e residências. Sua opção foi por não vender os escritórios, apenas alugá-los e ele mesmo é o “zelador”. “É uma forma de acompanhar se todas os recursos estão sendo usados de maneira correta e eficiente”.

Além dos vários instrumentos para redução de consumo de água, energia (por gerador a gás) e conforto dos usuários, pátio aberto e integração com a comunidade, o complexo adotou uma solução inédita que é o tratamento, no próprio prédio, da água negra (de esgoto), que retorna para uso nos próprios banheiros, para resfriamento de torres de ar condicionado e irrigação de plantas.

Há um amadurecimento do mercado e os investidores estão buscando a chancela do selo de certificação”

Rafael Birmann, presidente da Birmann S/A

Outra solução é o recolhimento de material de descarte de todos os escritórios para serem levados para reciclagem. Há uma taxa do condomínio para esse serviço, e quem gera menos lixo têm desconto. O lixo orgânico vai para a composteira do prédio.

Segundo Birmann, “está ocorrendo um amadurecimento do mercado em relação aos prédios sustentáveis e os investidores estão buscando a chancela do selo de certificação”. O complexo recebeu investimento de R$ 1,2 bilhão e tem dez inquilinos que ocupam 100% dos 25 andares, entre os quais estão Facebook, Meta e Shopee.

Complexo B23, com baleia na porta, dá desconto no condomínio para locadores que produzem menos lixo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“Conseguimos alugar a preços superiores aos de prédios da região e o retorno do investimento deve ocorrer no longo prazo”, afirma Birmann. Mesmo com os contratos sendo oferecidos em meio à pandemia, o complexo já estava todo alugado em sua inauguração, na segunda metade de 2021.

Rafaella Carvalho Corti, diretora Jurídica, de Compliance e de Sustentabilidade da Cyrela, informa que a construtora tem quatro projetos certificados com selo Aqua HQE e dois certificados pelo Leed, todos na capital paulista. No Rio há um prédio em fase de certificação pelo Leed e outro com o selo Azul da Caixa.

Segundo Rafaella, a Cyrela atua para conquistar certificação em empreendimentos comerciais e residenciais pois, “além de garantir mais rentabilidade, oferece mais segurança e propostas sustentáveis aos clientes e entornos, promovendo melhorias”.

Na busca pela redução das emissões de carbono, edifícios e casas sustentáveis começam a atrair projetos de construtoras e incorporadoras brasileiras. O Brasil tem hoje pelo menos 3,5 mil construções certificadas ou em fase de certificação, que atendem vários critérios definidos por organismos nacionais e internacionais. Além de atestar o projeto como sustentável, o selo ajuda a atrair investimentos, valoriza o imóvel e seus requisitos reduzem custos para os moradores.

O número é pequeno diante do total de obras no País, mas vem crescendo anualmente desde que o ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) passou a ser vital para as empresas e requisito por parte de investidores. O foco maior são imóveis comerciais de alto padrão e, mais recentemente, também de residenciais. Na categoria popular, há pelo menos um conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida (MCMV) com o “selo verde”, no Paraná.

No segmento de médio/alto padrão, uma das referências é o Idea Bagé, em Porto Alegre (RS). Foi o primeiro edifício residencial no País a receber a certificação máxima nesse segmento, a GBC Condomínio Platina, do Green Building Council (GBC Brasil). A organização faz parte do World Green Building Council (WGBC), criada nos EUA e com representações em 70 países. No ano passado, a entidade emitiu 139 certificados, 41% a mais em relação a 2021. Os registros (quando o processo começa a ser analisado) subiram 38%, para 219.

Edifício residencial Idea Bagé tem placas solares e fotovoltaicas e amplas áreas envidraçadas para a entrada de luz  Foto: Capitânia

Há várias empresas certificadoras e diferentes categorias de selos, mas a base de todas elas tem a ver com economia de água e energia, uso de materiais sustentáveis, conforto dos ocupantes, impactos na sociedade e eficiência. No caso do Idea Bagé, entre as soluções adotadas estão painéis fotovoltaicos, sistema de aquecimento de água por energia solar, coleta de água da chuva e da gerada pelos aparelhos de ar-condicionado e amplas janelas e portas de vidro que proporcionam claridade e com proteção solar.

“O sistema produz três vezes mais energia do que o condomínio precisa, e o excedente é redistribuído para os apartamentos”, informa o engenheiro Mauro Touguinha, da incorporadora Capitânia. Só em condomínio há uma economia anual de R$ 10 mil. A fachada, feita com material autolimpante durante as chuvas, evita gastos de R$ 100 mil em lavagem.

Desde o lançamento do Idea Bagé, há um ano, 12 dos 14 apartamentos foram vendidos por, em média, R$ 1,4 milhão cada, preço próximo ao cobrado por outros convencionais da região. O custo do projeto, segundo Touguinha, foi 6% superior ao de um edifício convencional, mas o retorno do investimento ocorre em prazos similares.

Para ele, ter um projeto diferenciado é uma estratégia que atrai clientela, principalmente aquela que está preocupada com o meio ambiente. A empresa vai lançar mais um prédio no mesmo formato neste ano e outro em 2024.

Certificadoras

Os certificados são fornecidos por organizações credenciadas e todo o processo é acompanhado por consultorias especializadas que assessoram as empresas na obtenção do selo (que tem diferentes categorias e pontuações) e verificam o cumprimento dos requisitos. A taxa para obtenção do selo e a consultoria podem custar de R$ 100 mil a R$ 200 mil.

A GBC Brasil contabiliza 2.131 certificados e registros desde 2007, quando iniciou atuação no local. Somente com o selo Leed, subdividido em Platinum, Gold e Silver, o GBC Brasil conta com 1.908 projetos. Esse número coloca o Brasil em quinto lugar no ranking internacional da entidade avaliado em 186 países. À frente, e bem distante dos demais países, estão EUA (com 76,7 mil selos), China (8,1 mil), Canadá (7,5 mil) e Índia (4,2 mil). O GBC também concede as certificações nacionais Casa&condomínio, Life e Zero Energia.

O presidente do conselho do GBC, Raul Penteado, afirma que a procura pelo certificado já vinha crescendo, “mas foi acelerada com a pandemia, que levou as pessoas a pensarem na necessidade de morar melhor”. Ele avalia que ampliar esse movimento para projetos populares é um desafio. “Muitas vezes é preciso aceitar pagar um pouco a mais na compra, por exemplo, sabendo que depois vai economizar no resto da vida.”

Projeto do Minha Casa Minha Vida, feito pela Tecverde e Construtora Valor Real, é único na categoria com selo verde Foto: Tecverde

O conjunto habitacional Pinhais Park, do MCMV em São José dos Pinhais (PR), obteve o selo Ouro da GBC há três anos utilizando um sistema de construção industrializada. Entre as soluções adotadas está o uso de madeira de pinus de reflorestamento no interior das paredes dos 136 apartamentos do residencial.

O sistema reduz o volume de resíduos na obra, o gasto de água e de energia e o desperdício de materiais na obra, além de outros benefícios para os moradores, como conforto térmico, explica Stael Xavier, diretora comercial da Tecverde, fabricante do material e parceira da construtora Valor Real no projeto.

As peças usadas nas paredes são entregues no tamanho correto, já com partes elétricas e hidráulicas e apenas encaixadas nos apartamentos. O telhado também chega semi pronto e é içado aos prédios que têm quatro pavimentos. Além do prazo de construção ser quatro vezes mais rápido do que o convencional, o custo total da obra é 10% menor, informa Stael.

A Fundação Vanzolini, ligada à Escola Politécnica da USP, é outra certificadora no Brasil com o selo Aqua-HQE, uma adaptação da certificação francesa Démarch HQE com atuação maior em empreendimentos residenciais. A Fundação também trabalha com o selo Procel, voltado à questão da energia. Desde 2008 foram certificadas mais de mil construções, das quais cerca de 900 são edifícios e casas residenciais, a maioria do Estado de São Paulo.

“É um número pequeno, pois não atingimos nem 0,25% do mercado que poderíamos atingir”, afirma o arquiteto Bruno Casagrande, gestor de Negócios da área de certificação da Fundação Vanzolini. Segundo ele, há um crescimento orgânico de registros, muito concentrado em São Paulo.

Ele avalia que o custo da obra não é impedimento para obter o selo, pois às vezes pode ser até inferior à não sustentável, mas há grande resistência por parte de empreendedores mais conservadoras. “É uma mudança de padrão que começa no canteiro de obra”, diz. Casagrande ressalta que o valor do condomínio chega a ser 20% a 30% mais barato comparado ao de tradicionais. A valorização do imóvel chega a 20% e o tempo de venda e de vacância também é inferior para os sustentáveis.

A maioria dos certificados da Fundação também foi concedida a projetos de alto padrão, mas há casos de construções mais populares. Casagrande informa que em breve a organização iniciará projetos com um grande empreendedor que opera no mercado de residências populares e que todos os seu projetos daqui para frente vão buscar o certificado Aqua.

A construtora e incorporadora Trisul, que atua com imóveis residenciais em São Paulo há 40 anos, tem 28 empreendimentos certificados com os selos Aqua, Procel e Edge a partir de 2015 – 11 deles em execução. Todos são de médio, alto e altíssimo padrão.

Em agosto passado, o grupo entregou o edifício Oscar Ibirapuera, com duas torres e 56 apartamentos. Eles começaram a ser vendidos em 2019 a R$ 25 mil o metro quadrado (m²), valor que chegou a R$ 48 mil o m² em 2022. “As práticas sustentáveis acabam impactando também nessa valorização”, afirma Roberto Pastor Junior, diretor técnico da Trisul. Em abril, será entregue o edifício Athus Paraíso, que está quase todo vendido. Um dos destaques nas obras de ambos foi o pouco volume de resíduos, que foi todo entregue para reciclagem.

Tratamento de água negra

Também na linha de altíssimo padrão, a capital paulista tem o B32, na avenida Faria Lima, conhecido por ter uma grande baleia metálica em sua praça, símbolo da transformação pessoal. O empreendimento da Birmann S/A tem uma torre corporativa com escritórios, teatro, restaurantes e uma praça de 6 mil m². Ele recebeu o primeiro certificado Leed Platinun, o mais alto da GBC, na categoria comercial.

Rafael Birmann, presidente da empresa e idealizador do B32, diz que esse é o mais completo entre os 25 edifícios feitos pelo grupo, além de shopping centers e residências. Sua opção foi por não vender os escritórios, apenas alugá-los e ele mesmo é o “zelador”. “É uma forma de acompanhar se todas os recursos estão sendo usados de maneira correta e eficiente”.

Além dos vários instrumentos para redução de consumo de água, energia (por gerador a gás) e conforto dos usuários, pátio aberto e integração com a comunidade, o complexo adotou uma solução inédita que é o tratamento, no próprio prédio, da água negra (de esgoto), que retorna para uso nos próprios banheiros, para resfriamento de torres de ar condicionado e irrigação de plantas.

Há um amadurecimento do mercado e os investidores estão buscando a chancela do selo de certificação”

Rafael Birmann, presidente da Birmann S/A

Outra solução é o recolhimento de material de descarte de todos os escritórios para serem levados para reciclagem. Há uma taxa do condomínio para esse serviço, e quem gera menos lixo têm desconto. O lixo orgânico vai para a composteira do prédio.

Segundo Birmann, “está ocorrendo um amadurecimento do mercado em relação aos prédios sustentáveis e os investidores estão buscando a chancela do selo de certificação”. O complexo recebeu investimento de R$ 1,2 bilhão e tem dez inquilinos que ocupam 100% dos 25 andares, entre os quais estão Facebook, Meta e Shopee.

Complexo B23, com baleia na porta, dá desconto no condomínio para locadores que produzem menos lixo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“Conseguimos alugar a preços superiores aos de prédios da região e o retorno do investimento deve ocorrer no longo prazo”, afirma Birmann. Mesmo com os contratos sendo oferecidos em meio à pandemia, o complexo já estava todo alugado em sua inauguração, na segunda metade de 2021.

Rafaella Carvalho Corti, diretora Jurídica, de Compliance e de Sustentabilidade da Cyrela, informa que a construtora tem quatro projetos certificados com selo Aqua HQE e dois certificados pelo Leed, todos na capital paulista. No Rio há um prédio em fase de certificação pelo Leed e outro com o selo Azul da Caixa.

Segundo Rafaella, a Cyrela atua para conquistar certificação em empreendimentos comerciais e residenciais pois, “além de garantir mais rentabilidade, oferece mais segurança e propostas sustentáveis aos clientes e entornos, promovendo melhorias”.

Na busca pela redução das emissões de carbono, edifícios e casas sustentáveis começam a atrair projetos de construtoras e incorporadoras brasileiras. O Brasil tem hoje pelo menos 3,5 mil construções certificadas ou em fase de certificação, que atendem vários critérios definidos por organismos nacionais e internacionais. Além de atestar o projeto como sustentável, o selo ajuda a atrair investimentos, valoriza o imóvel e seus requisitos reduzem custos para os moradores.

O número é pequeno diante do total de obras no País, mas vem crescendo anualmente desde que o ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) passou a ser vital para as empresas e requisito por parte de investidores. O foco maior são imóveis comerciais de alto padrão e, mais recentemente, também de residenciais. Na categoria popular, há pelo menos um conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida (MCMV) com o “selo verde”, no Paraná.

No segmento de médio/alto padrão, uma das referências é o Idea Bagé, em Porto Alegre (RS). Foi o primeiro edifício residencial no País a receber a certificação máxima nesse segmento, a GBC Condomínio Platina, do Green Building Council (GBC Brasil). A organização faz parte do World Green Building Council (WGBC), criada nos EUA e com representações em 70 países. No ano passado, a entidade emitiu 139 certificados, 41% a mais em relação a 2021. Os registros (quando o processo começa a ser analisado) subiram 38%, para 219.

Edifício residencial Idea Bagé tem placas solares e fotovoltaicas e amplas áreas envidraçadas para a entrada de luz  Foto: Capitânia

Há várias empresas certificadoras e diferentes categorias de selos, mas a base de todas elas tem a ver com economia de água e energia, uso de materiais sustentáveis, conforto dos ocupantes, impactos na sociedade e eficiência. No caso do Idea Bagé, entre as soluções adotadas estão painéis fotovoltaicos, sistema de aquecimento de água por energia solar, coleta de água da chuva e da gerada pelos aparelhos de ar-condicionado e amplas janelas e portas de vidro que proporcionam claridade e com proteção solar.

“O sistema produz três vezes mais energia do que o condomínio precisa, e o excedente é redistribuído para os apartamentos”, informa o engenheiro Mauro Touguinha, da incorporadora Capitânia. Só em condomínio há uma economia anual de R$ 10 mil. A fachada, feita com material autolimpante durante as chuvas, evita gastos de R$ 100 mil em lavagem.

Desde o lançamento do Idea Bagé, há um ano, 12 dos 14 apartamentos foram vendidos por, em média, R$ 1,4 milhão cada, preço próximo ao cobrado por outros convencionais da região. O custo do projeto, segundo Touguinha, foi 6% superior ao de um edifício convencional, mas o retorno do investimento ocorre em prazos similares.

Para ele, ter um projeto diferenciado é uma estratégia que atrai clientela, principalmente aquela que está preocupada com o meio ambiente. A empresa vai lançar mais um prédio no mesmo formato neste ano e outro em 2024.

Certificadoras

Os certificados são fornecidos por organizações credenciadas e todo o processo é acompanhado por consultorias especializadas que assessoram as empresas na obtenção do selo (que tem diferentes categorias e pontuações) e verificam o cumprimento dos requisitos. A taxa para obtenção do selo e a consultoria podem custar de R$ 100 mil a R$ 200 mil.

A GBC Brasil contabiliza 2.131 certificados e registros desde 2007, quando iniciou atuação no local. Somente com o selo Leed, subdividido em Platinum, Gold e Silver, o GBC Brasil conta com 1.908 projetos. Esse número coloca o Brasil em quinto lugar no ranking internacional da entidade avaliado em 186 países. À frente, e bem distante dos demais países, estão EUA (com 76,7 mil selos), China (8,1 mil), Canadá (7,5 mil) e Índia (4,2 mil). O GBC também concede as certificações nacionais Casa&condomínio, Life e Zero Energia.

O presidente do conselho do GBC, Raul Penteado, afirma que a procura pelo certificado já vinha crescendo, “mas foi acelerada com a pandemia, que levou as pessoas a pensarem na necessidade de morar melhor”. Ele avalia que ampliar esse movimento para projetos populares é um desafio. “Muitas vezes é preciso aceitar pagar um pouco a mais na compra, por exemplo, sabendo que depois vai economizar no resto da vida.”

Projeto do Minha Casa Minha Vida, feito pela Tecverde e Construtora Valor Real, é único na categoria com selo verde Foto: Tecverde

O conjunto habitacional Pinhais Park, do MCMV em São José dos Pinhais (PR), obteve o selo Ouro da GBC há três anos utilizando um sistema de construção industrializada. Entre as soluções adotadas está o uso de madeira de pinus de reflorestamento no interior das paredes dos 136 apartamentos do residencial.

O sistema reduz o volume de resíduos na obra, o gasto de água e de energia e o desperdício de materiais na obra, além de outros benefícios para os moradores, como conforto térmico, explica Stael Xavier, diretora comercial da Tecverde, fabricante do material e parceira da construtora Valor Real no projeto.

As peças usadas nas paredes são entregues no tamanho correto, já com partes elétricas e hidráulicas e apenas encaixadas nos apartamentos. O telhado também chega semi pronto e é içado aos prédios que têm quatro pavimentos. Além do prazo de construção ser quatro vezes mais rápido do que o convencional, o custo total da obra é 10% menor, informa Stael.

A Fundação Vanzolini, ligada à Escola Politécnica da USP, é outra certificadora no Brasil com o selo Aqua-HQE, uma adaptação da certificação francesa Démarch HQE com atuação maior em empreendimentos residenciais. A Fundação também trabalha com o selo Procel, voltado à questão da energia. Desde 2008 foram certificadas mais de mil construções, das quais cerca de 900 são edifícios e casas residenciais, a maioria do Estado de São Paulo.

“É um número pequeno, pois não atingimos nem 0,25% do mercado que poderíamos atingir”, afirma o arquiteto Bruno Casagrande, gestor de Negócios da área de certificação da Fundação Vanzolini. Segundo ele, há um crescimento orgânico de registros, muito concentrado em São Paulo.

Ele avalia que o custo da obra não é impedimento para obter o selo, pois às vezes pode ser até inferior à não sustentável, mas há grande resistência por parte de empreendedores mais conservadoras. “É uma mudança de padrão que começa no canteiro de obra”, diz. Casagrande ressalta que o valor do condomínio chega a ser 20% a 30% mais barato comparado ao de tradicionais. A valorização do imóvel chega a 20% e o tempo de venda e de vacância também é inferior para os sustentáveis.

A maioria dos certificados da Fundação também foi concedida a projetos de alto padrão, mas há casos de construções mais populares. Casagrande informa que em breve a organização iniciará projetos com um grande empreendedor que opera no mercado de residências populares e que todos os seu projetos daqui para frente vão buscar o certificado Aqua.

A construtora e incorporadora Trisul, que atua com imóveis residenciais em São Paulo há 40 anos, tem 28 empreendimentos certificados com os selos Aqua, Procel e Edge a partir de 2015 – 11 deles em execução. Todos são de médio, alto e altíssimo padrão.

Em agosto passado, o grupo entregou o edifício Oscar Ibirapuera, com duas torres e 56 apartamentos. Eles começaram a ser vendidos em 2019 a R$ 25 mil o metro quadrado (m²), valor que chegou a R$ 48 mil o m² em 2022. “As práticas sustentáveis acabam impactando também nessa valorização”, afirma Roberto Pastor Junior, diretor técnico da Trisul. Em abril, será entregue o edifício Athus Paraíso, que está quase todo vendido. Um dos destaques nas obras de ambos foi o pouco volume de resíduos, que foi todo entregue para reciclagem.

Tratamento de água negra

Também na linha de altíssimo padrão, a capital paulista tem o B32, na avenida Faria Lima, conhecido por ter uma grande baleia metálica em sua praça, símbolo da transformação pessoal. O empreendimento da Birmann S/A tem uma torre corporativa com escritórios, teatro, restaurantes e uma praça de 6 mil m². Ele recebeu o primeiro certificado Leed Platinun, o mais alto da GBC, na categoria comercial.

Rafael Birmann, presidente da empresa e idealizador do B32, diz que esse é o mais completo entre os 25 edifícios feitos pelo grupo, além de shopping centers e residências. Sua opção foi por não vender os escritórios, apenas alugá-los e ele mesmo é o “zelador”. “É uma forma de acompanhar se todas os recursos estão sendo usados de maneira correta e eficiente”.

Além dos vários instrumentos para redução de consumo de água, energia (por gerador a gás) e conforto dos usuários, pátio aberto e integração com a comunidade, o complexo adotou uma solução inédita que é o tratamento, no próprio prédio, da água negra (de esgoto), que retorna para uso nos próprios banheiros, para resfriamento de torres de ar condicionado e irrigação de plantas.

Há um amadurecimento do mercado e os investidores estão buscando a chancela do selo de certificação”

Rafael Birmann, presidente da Birmann S/A

Outra solução é o recolhimento de material de descarte de todos os escritórios para serem levados para reciclagem. Há uma taxa do condomínio para esse serviço, e quem gera menos lixo têm desconto. O lixo orgânico vai para a composteira do prédio.

Segundo Birmann, “está ocorrendo um amadurecimento do mercado em relação aos prédios sustentáveis e os investidores estão buscando a chancela do selo de certificação”. O complexo recebeu investimento de R$ 1,2 bilhão e tem dez inquilinos que ocupam 100% dos 25 andares, entre os quais estão Facebook, Meta e Shopee.

Complexo B23, com baleia na porta, dá desconto no condomínio para locadores que produzem menos lixo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“Conseguimos alugar a preços superiores aos de prédios da região e o retorno do investimento deve ocorrer no longo prazo”, afirma Birmann. Mesmo com os contratos sendo oferecidos em meio à pandemia, o complexo já estava todo alugado em sua inauguração, na segunda metade de 2021.

Rafaella Carvalho Corti, diretora Jurídica, de Compliance e de Sustentabilidade da Cyrela, informa que a construtora tem quatro projetos certificados com selo Aqua HQE e dois certificados pelo Leed, todos na capital paulista. No Rio há um prédio em fase de certificação pelo Leed e outro com o selo Azul da Caixa.

Segundo Rafaella, a Cyrela atua para conquistar certificação em empreendimentos comerciais e residenciais pois, “além de garantir mais rentabilidade, oferece mais segurança e propostas sustentáveis aos clientes e entornos, promovendo melhorias”.

Na busca pela redução das emissões de carbono, edifícios e casas sustentáveis começam a atrair projetos de construtoras e incorporadoras brasileiras. O Brasil tem hoje pelo menos 3,5 mil construções certificadas ou em fase de certificação, que atendem vários critérios definidos por organismos nacionais e internacionais. Além de atestar o projeto como sustentável, o selo ajuda a atrair investimentos, valoriza o imóvel e seus requisitos reduzem custos para os moradores.

O número é pequeno diante do total de obras no País, mas vem crescendo anualmente desde que o ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) passou a ser vital para as empresas e requisito por parte de investidores. O foco maior são imóveis comerciais de alto padrão e, mais recentemente, também de residenciais. Na categoria popular, há pelo menos um conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida (MCMV) com o “selo verde”, no Paraná.

No segmento de médio/alto padrão, uma das referências é o Idea Bagé, em Porto Alegre (RS). Foi o primeiro edifício residencial no País a receber a certificação máxima nesse segmento, a GBC Condomínio Platina, do Green Building Council (GBC Brasil). A organização faz parte do World Green Building Council (WGBC), criada nos EUA e com representações em 70 países. No ano passado, a entidade emitiu 139 certificados, 41% a mais em relação a 2021. Os registros (quando o processo começa a ser analisado) subiram 38%, para 219.

Edifício residencial Idea Bagé tem placas solares e fotovoltaicas e amplas áreas envidraçadas para a entrada de luz  Foto: Capitânia

Há várias empresas certificadoras e diferentes categorias de selos, mas a base de todas elas tem a ver com economia de água e energia, uso de materiais sustentáveis, conforto dos ocupantes, impactos na sociedade e eficiência. No caso do Idea Bagé, entre as soluções adotadas estão painéis fotovoltaicos, sistema de aquecimento de água por energia solar, coleta de água da chuva e da gerada pelos aparelhos de ar-condicionado e amplas janelas e portas de vidro que proporcionam claridade e com proteção solar.

“O sistema produz três vezes mais energia do que o condomínio precisa, e o excedente é redistribuído para os apartamentos”, informa o engenheiro Mauro Touguinha, da incorporadora Capitânia. Só em condomínio há uma economia anual de R$ 10 mil. A fachada, feita com material autolimpante durante as chuvas, evita gastos de R$ 100 mil em lavagem.

Desde o lançamento do Idea Bagé, há um ano, 12 dos 14 apartamentos foram vendidos por, em média, R$ 1,4 milhão cada, preço próximo ao cobrado por outros convencionais da região. O custo do projeto, segundo Touguinha, foi 6% superior ao de um edifício convencional, mas o retorno do investimento ocorre em prazos similares.

Para ele, ter um projeto diferenciado é uma estratégia que atrai clientela, principalmente aquela que está preocupada com o meio ambiente. A empresa vai lançar mais um prédio no mesmo formato neste ano e outro em 2024.

Certificadoras

Os certificados são fornecidos por organizações credenciadas e todo o processo é acompanhado por consultorias especializadas que assessoram as empresas na obtenção do selo (que tem diferentes categorias e pontuações) e verificam o cumprimento dos requisitos. A taxa para obtenção do selo e a consultoria podem custar de R$ 100 mil a R$ 200 mil.

A GBC Brasil contabiliza 2.131 certificados e registros desde 2007, quando iniciou atuação no local. Somente com o selo Leed, subdividido em Platinum, Gold e Silver, o GBC Brasil conta com 1.908 projetos. Esse número coloca o Brasil em quinto lugar no ranking internacional da entidade avaliado em 186 países. À frente, e bem distante dos demais países, estão EUA (com 76,7 mil selos), China (8,1 mil), Canadá (7,5 mil) e Índia (4,2 mil). O GBC também concede as certificações nacionais Casa&condomínio, Life e Zero Energia.

O presidente do conselho do GBC, Raul Penteado, afirma que a procura pelo certificado já vinha crescendo, “mas foi acelerada com a pandemia, que levou as pessoas a pensarem na necessidade de morar melhor”. Ele avalia que ampliar esse movimento para projetos populares é um desafio. “Muitas vezes é preciso aceitar pagar um pouco a mais na compra, por exemplo, sabendo que depois vai economizar no resto da vida.”

Projeto do Minha Casa Minha Vida, feito pela Tecverde e Construtora Valor Real, é único na categoria com selo verde Foto: Tecverde

O conjunto habitacional Pinhais Park, do MCMV em São José dos Pinhais (PR), obteve o selo Ouro da GBC há três anos utilizando um sistema de construção industrializada. Entre as soluções adotadas está o uso de madeira de pinus de reflorestamento no interior das paredes dos 136 apartamentos do residencial.

O sistema reduz o volume de resíduos na obra, o gasto de água e de energia e o desperdício de materiais na obra, além de outros benefícios para os moradores, como conforto térmico, explica Stael Xavier, diretora comercial da Tecverde, fabricante do material e parceira da construtora Valor Real no projeto.

As peças usadas nas paredes são entregues no tamanho correto, já com partes elétricas e hidráulicas e apenas encaixadas nos apartamentos. O telhado também chega semi pronto e é içado aos prédios que têm quatro pavimentos. Além do prazo de construção ser quatro vezes mais rápido do que o convencional, o custo total da obra é 10% menor, informa Stael.

A Fundação Vanzolini, ligada à Escola Politécnica da USP, é outra certificadora no Brasil com o selo Aqua-HQE, uma adaptação da certificação francesa Démarch HQE com atuação maior em empreendimentos residenciais. A Fundação também trabalha com o selo Procel, voltado à questão da energia. Desde 2008 foram certificadas mais de mil construções, das quais cerca de 900 são edifícios e casas residenciais, a maioria do Estado de São Paulo.

“É um número pequeno, pois não atingimos nem 0,25% do mercado que poderíamos atingir”, afirma o arquiteto Bruno Casagrande, gestor de Negócios da área de certificação da Fundação Vanzolini. Segundo ele, há um crescimento orgânico de registros, muito concentrado em São Paulo.

Ele avalia que o custo da obra não é impedimento para obter o selo, pois às vezes pode ser até inferior à não sustentável, mas há grande resistência por parte de empreendedores mais conservadoras. “É uma mudança de padrão que começa no canteiro de obra”, diz. Casagrande ressalta que o valor do condomínio chega a ser 20% a 30% mais barato comparado ao de tradicionais. A valorização do imóvel chega a 20% e o tempo de venda e de vacância também é inferior para os sustentáveis.

A maioria dos certificados da Fundação também foi concedida a projetos de alto padrão, mas há casos de construções mais populares. Casagrande informa que em breve a organização iniciará projetos com um grande empreendedor que opera no mercado de residências populares e que todos os seu projetos daqui para frente vão buscar o certificado Aqua.

A construtora e incorporadora Trisul, que atua com imóveis residenciais em São Paulo há 40 anos, tem 28 empreendimentos certificados com os selos Aqua, Procel e Edge a partir de 2015 – 11 deles em execução. Todos são de médio, alto e altíssimo padrão.

Em agosto passado, o grupo entregou o edifício Oscar Ibirapuera, com duas torres e 56 apartamentos. Eles começaram a ser vendidos em 2019 a R$ 25 mil o metro quadrado (m²), valor que chegou a R$ 48 mil o m² em 2022. “As práticas sustentáveis acabam impactando também nessa valorização”, afirma Roberto Pastor Junior, diretor técnico da Trisul. Em abril, será entregue o edifício Athus Paraíso, que está quase todo vendido. Um dos destaques nas obras de ambos foi o pouco volume de resíduos, que foi todo entregue para reciclagem.

Tratamento de água negra

Também na linha de altíssimo padrão, a capital paulista tem o B32, na avenida Faria Lima, conhecido por ter uma grande baleia metálica em sua praça, símbolo da transformação pessoal. O empreendimento da Birmann S/A tem uma torre corporativa com escritórios, teatro, restaurantes e uma praça de 6 mil m². Ele recebeu o primeiro certificado Leed Platinun, o mais alto da GBC, na categoria comercial.

Rafael Birmann, presidente da empresa e idealizador do B32, diz que esse é o mais completo entre os 25 edifícios feitos pelo grupo, além de shopping centers e residências. Sua opção foi por não vender os escritórios, apenas alugá-los e ele mesmo é o “zelador”. “É uma forma de acompanhar se todas os recursos estão sendo usados de maneira correta e eficiente”.

Além dos vários instrumentos para redução de consumo de água, energia (por gerador a gás) e conforto dos usuários, pátio aberto e integração com a comunidade, o complexo adotou uma solução inédita que é o tratamento, no próprio prédio, da água negra (de esgoto), que retorna para uso nos próprios banheiros, para resfriamento de torres de ar condicionado e irrigação de plantas.

Há um amadurecimento do mercado e os investidores estão buscando a chancela do selo de certificação”

Rafael Birmann, presidente da Birmann S/A

Outra solução é o recolhimento de material de descarte de todos os escritórios para serem levados para reciclagem. Há uma taxa do condomínio para esse serviço, e quem gera menos lixo têm desconto. O lixo orgânico vai para a composteira do prédio.

Segundo Birmann, “está ocorrendo um amadurecimento do mercado em relação aos prédios sustentáveis e os investidores estão buscando a chancela do selo de certificação”. O complexo recebeu investimento de R$ 1,2 bilhão e tem dez inquilinos que ocupam 100% dos 25 andares, entre os quais estão Facebook, Meta e Shopee.

Complexo B23, com baleia na porta, dá desconto no condomínio para locadores que produzem menos lixo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“Conseguimos alugar a preços superiores aos de prédios da região e o retorno do investimento deve ocorrer no longo prazo”, afirma Birmann. Mesmo com os contratos sendo oferecidos em meio à pandemia, o complexo já estava todo alugado em sua inauguração, na segunda metade de 2021.

Rafaella Carvalho Corti, diretora Jurídica, de Compliance e de Sustentabilidade da Cyrela, informa que a construtora tem quatro projetos certificados com selo Aqua HQE e dois certificados pelo Leed, todos na capital paulista. No Rio há um prédio em fase de certificação pelo Leed e outro com o selo Azul da Caixa.

Segundo Rafaella, a Cyrela atua para conquistar certificação em empreendimentos comerciais e residenciais pois, “além de garantir mais rentabilidade, oferece mais segurança e propostas sustentáveis aos clientes e entornos, promovendo melhorias”.

Na busca pela redução das emissões de carbono, edifícios e casas sustentáveis começam a atrair projetos de construtoras e incorporadoras brasileiras. O Brasil tem hoje pelo menos 3,5 mil construções certificadas ou em fase de certificação, que atendem vários critérios definidos por organismos nacionais e internacionais. Além de atestar o projeto como sustentável, o selo ajuda a atrair investimentos, valoriza o imóvel e seus requisitos reduzem custos para os moradores.

O número é pequeno diante do total de obras no País, mas vem crescendo anualmente desde que o ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) passou a ser vital para as empresas e requisito por parte de investidores. O foco maior são imóveis comerciais de alto padrão e, mais recentemente, também de residenciais. Na categoria popular, há pelo menos um conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida (MCMV) com o “selo verde”, no Paraná.

No segmento de médio/alto padrão, uma das referências é o Idea Bagé, em Porto Alegre (RS). Foi o primeiro edifício residencial no País a receber a certificação máxima nesse segmento, a GBC Condomínio Platina, do Green Building Council (GBC Brasil). A organização faz parte do World Green Building Council (WGBC), criada nos EUA e com representações em 70 países. No ano passado, a entidade emitiu 139 certificados, 41% a mais em relação a 2021. Os registros (quando o processo começa a ser analisado) subiram 38%, para 219.

Edifício residencial Idea Bagé tem placas solares e fotovoltaicas e amplas áreas envidraçadas para a entrada de luz  Foto: Capitânia

Há várias empresas certificadoras e diferentes categorias de selos, mas a base de todas elas tem a ver com economia de água e energia, uso de materiais sustentáveis, conforto dos ocupantes, impactos na sociedade e eficiência. No caso do Idea Bagé, entre as soluções adotadas estão painéis fotovoltaicos, sistema de aquecimento de água por energia solar, coleta de água da chuva e da gerada pelos aparelhos de ar-condicionado e amplas janelas e portas de vidro que proporcionam claridade e com proteção solar.

“O sistema produz três vezes mais energia do que o condomínio precisa, e o excedente é redistribuído para os apartamentos”, informa o engenheiro Mauro Touguinha, da incorporadora Capitânia. Só em condomínio há uma economia anual de R$ 10 mil. A fachada, feita com material autolimpante durante as chuvas, evita gastos de R$ 100 mil em lavagem.

Desde o lançamento do Idea Bagé, há um ano, 12 dos 14 apartamentos foram vendidos por, em média, R$ 1,4 milhão cada, preço próximo ao cobrado por outros convencionais da região. O custo do projeto, segundo Touguinha, foi 6% superior ao de um edifício convencional, mas o retorno do investimento ocorre em prazos similares.

Para ele, ter um projeto diferenciado é uma estratégia que atrai clientela, principalmente aquela que está preocupada com o meio ambiente. A empresa vai lançar mais um prédio no mesmo formato neste ano e outro em 2024.

Certificadoras

Os certificados são fornecidos por organizações credenciadas e todo o processo é acompanhado por consultorias especializadas que assessoram as empresas na obtenção do selo (que tem diferentes categorias e pontuações) e verificam o cumprimento dos requisitos. A taxa para obtenção do selo e a consultoria podem custar de R$ 100 mil a R$ 200 mil.

A GBC Brasil contabiliza 2.131 certificados e registros desde 2007, quando iniciou atuação no local. Somente com o selo Leed, subdividido em Platinum, Gold e Silver, o GBC Brasil conta com 1.908 projetos. Esse número coloca o Brasil em quinto lugar no ranking internacional da entidade avaliado em 186 países. À frente, e bem distante dos demais países, estão EUA (com 76,7 mil selos), China (8,1 mil), Canadá (7,5 mil) e Índia (4,2 mil). O GBC também concede as certificações nacionais Casa&condomínio, Life e Zero Energia.

O presidente do conselho do GBC, Raul Penteado, afirma que a procura pelo certificado já vinha crescendo, “mas foi acelerada com a pandemia, que levou as pessoas a pensarem na necessidade de morar melhor”. Ele avalia que ampliar esse movimento para projetos populares é um desafio. “Muitas vezes é preciso aceitar pagar um pouco a mais na compra, por exemplo, sabendo que depois vai economizar no resto da vida.”

Projeto do Minha Casa Minha Vida, feito pela Tecverde e Construtora Valor Real, é único na categoria com selo verde Foto: Tecverde

O conjunto habitacional Pinhais Park, do MCMV em São José dos Pinhais (PR), obteve o selo Ouro da GBC há três anos utilizando um sistema de construção industrializada. Entre as soluções adotadas está o uso de madeira de pinus de reflorestamento no interior das paredes dos 136 apartamentos do residencial.

O sistema reduz o volume de resíduos na obra, o gasto de água e de energia e o desperdício de materiais na obra, além de outros benefícios para os moradores, como conforto térmico, explica Stael Xavier, diretora comercial da Tecverde, fabricante do material e parceira da construtora Valor Real no projeto.

As peças usadas nas paredes são entregues no tamanho correto, já com partes elétricas e hidráulicas e apenas encaixadas nos apartamentos. O telhado também chega semi pronto e é içado aos prédios que têm quatro pavimentos. Além do prazo de construção ser quatro vezes mais rápido do que o convencional, o custo total da obra é 10% menor, informa Stael.

A Fundação Vanzolini, ligada à Escola Politécnica da USP, é outra certificadora no Brasil com o selo Aqua-HQE, uma adaptação da certificação francesa Démarch HQE com atuação maior em empreendimentos residenciais. A Fundação também trabalha com o selo Procel, voltado à questão da energia. Desde 2008 foram certificadas mais de mil construções, das quais cerca de 900 são edifícios e casas residenciais, a maioria do Estado de São Paulo.

“É um número pequeno, pois não atingimos nem 0,25% do mercado que poderíamos atingir”, afirma o arquiteto Bruno Casagrande, gestor de Negócios da área de certificação da Fundação Vanzolini. Segundo ele, há um crescimento orgânico de registros, muito concentrado em São Paulo.

Ele avalia que o custo da obra não é impedimento para obter o selo, pois às vezes pode ser até inferior à não sustentável, mas há grande resistência por parte de empreendedores mais conservadoras. “É uma mudança de padrão que começa no canteiro de obra”, diz. Casagrande ressalta que o valor do condomínio chega a ser 20% a 30% mais barato comparado ao de tradicionais. A valorização do imóvel chega a 20% e o tempo de venda e de vacância também é inferior para os sustentáveis.

A maioria dos certificados da Fundação também foi concedida a projetos de alto padrão, mas há casos de construções mais populares. Casagrande informa que em breve a organização iniciará projetos com um grande empreendedor que opera no mercado de residências populares e que todos os seu projetos daqui para frente vão buscar o certificado Aqua.

A construtora e incorporadora Trisul, que atua com imóveis residenciais em São Paulo há 40 anos, tem 28 empreendimentos certificados com os selos Aqua, Procel e Edge a partir de 2015 – 11 deles em execução. Todos são de médio, alto e altíssimo padrão.

Em agosto passado, o grupo entregou o edifício Oscar Ibirapuera, com duas torres e 56 apartamentos. Eles começaram a ser vendidos em 2019 a R$ 25 mil o metro quadrado (m²), valor que chegou a R$ 48 mil o m² em 2022. “As práticas sustentáveis acabam impactando também nessa valorização”, afirma Roberto Pastor Junior, diretor técnico da Trisul. Em abril, será entregue o edifício Athus Paraíso, que está quase todo vendido. Um dos destaques nas obras de ambos foi o pouco volume de resíduos, que foi todo entregue para reciclagem.

Tratamento de água negra

Também na linha de altíssimo padrão, a capital paulista tem o B32, na avenida Faria Lima, conhecido por ter uma grande baleia metálica em sua praça, símbolo da transformação pessoal. O empreendimento da Birmann S/A tem uma torre corporativa com escritórios, teatro, restaurantes e uma praça de 6 mil m². Ele recebeu o primeiro certificado Leed Platinun, o mais alto da GBC, na categoria comercial.

Rafael Birmann, presidente da empresa e idealizador do B32, diz que esse é o mais completo entre os 25 edifícios feitos pelo grupo, além de shopping centers e residências. Sua opção foi por não vender os escritórios, apenas alugá-los e ele mesmo é o “zelador”. “É uma forma de acompanhar se todas os recursos estão sendo usados de maneira correta e eficiente”.

Além dos vários instrumentos para redução de consumo de água, energia (por gerador a gás) e conforto dos usuários, pátio aberto e integração com a comunidade, o complexo adotou uma solução inédita que é o tratamento, no próprio prédio, da água negra (de esgoto), que retorna para uso nos próprios banheiros, para resfriamento de torres de ar condicionado e irrigação de plantas.

Há um amadurecimento do mercado e os investidores estão buscando a chancela do selo de certificação”

Rafael Birmann, presidente da Birmann S/A

Outra solução é o recolhimento de material de descarte de todos os escritórios para serem levados para reciclagem. Há uma taxa do condomínio para esse serviço, e quem gera menos lixo têm desconto. O lixo orgânico vai para a composteira do prédio.

Segundo Birmann, “está ocorrendo um amadurecimento do mercado em relação aos prédios sustentáveis e os investidores estão buscando a chancela do selo de certificação”. O complexo recebeu investimento de R$ 1,2 bilhão e tem dez inquilinos que ocupam 100% dos 25 andares, entre os quais estão Facebook, Meta e Shopee.

Complexo B23, com baleia na porta, dá desconto no condomínio para locadores que produzem menos lixo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

“Conseguimos alugar a preços superiores aos de prédios da região e o retorno do investimento deve ocorrer no longo prazo”, afirma Birmann. Mesmo com os contratos sendo oferecidos em meio à pandemia, o complexo já estava todo alugado em sua inauguração, na segunda metade de 2021.

Rafaella Carvalho Corti, diretora Jurídica, de Compliance e de Sustentabilidade da Cyrela, informa que a construtora tem quatro projetos certificados com selo Aqua HQE e dois certificados pelo Leed, todos na capital paulista. No Rio há um prédio em fase de certificação pelo Leed e outro com o selo Azul da Caixa.

Segundo Rafaella, a Cyrela atua para conquistar certificação em empreendimentos comerciais e residenciais pois, “além de garantir mais rentabilidade, oferece mais segurança e propostas sustentáveis aos clientes e entornos, promovendo melhorias”.

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