São Paulo - Após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sugerir em evento nesta quarta-feira, 12, a reedição de um programa de incentivo à compra de eletrodomésticos da linha branca (como geladeiras e lavadoras de roupas), o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Jorge Nascimento, disse ao Estadão/Broadcast que o setor trabalha em uma proposta de política pública para substituição de aparelhos desse segmento. O mote é melhorar a eficiência energética do País, enquanto se estimula um setor desgastado no último ano.
“Já conversamos com alguns ministérios e a proposta está em construção no setor. Dentro de 40 dias devemos ter algo mais estruturado”, disse Nascimento. Ainda durante o processo de votação da Medida Provisória que retomou o programa Minha Casa, Minha Vida, o setor tentou emplacar a disponibilização, custeada pelo Governo, de eletrodomésticos para os beneficiários da faixa 1 do programa, bem como crédito subsidiado para a aquisição desses bens duráveis em outras faixas de renda do MCMV.
“A discussão surgiu próximo à aprovação da MP e ficaram muitas pontas soltas. No entanto, como o governo recebeu bem, começamos a pensar na construção de uma política pública para isso”, explica Nascimento.
A lógica para justificar o projeto agora está no fato de que novos produtos lançados pela indústria têm maior eficiência energética. “Hoje a indústria fornece produtos mais eficientes do que há 10 ou 15 anos. Temos aparelhos de ar condicionado, refrigeradores e lavadoras que trazem economia de 30% a 40% de energia elétrica e água”, diz. Ele acredita que, além de impulsionar o varejo e movimentar a economia, a medida ainda tem potencial para melhorar metas de sustentabilidade do País.
A Whirlpool, dona das marcas Brastemp, Consul e KitchenAid, acha válida a proposta mencionada pelo presidente Lula, interpretada pela companhia como “abertura de crédito para compra de eletrodomésticos”. O vice-presidente de Jurídico, Compliance e Assuntos Corporativos da companhia para América Latina, Bernardo Gallina, também cita a eficiência energética como justificativa.
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“É importante que o debate sobre esse assunto tenha voltado à pauta. Enxergamos essa iniciativa de forma muito clara: tornar os eletrodomésticos acessíveis gera um impacto positivo não só na sociedade, oferecendo mais qualidade de vida e dignidade para as famílias, mas também estimula a economia, geração de emprego, renda e arrecadação do setor”
O projeto ainda não está definido. “Falta a parte operacional”, diz Nascimento. Em sua visão, é por isso que a ministra do Planejamento, Simone Tebet, se mostrou mais cautelosa ao comentar a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o tema na manhã desta quarta-feira. Ele disse que a proposta pode contar com desoneração tributária para esses aparelhos, bem como crédito subsidiado pelo governo.
Fragilidade
Se concretizada, a medida representaria um afago ao setor. Depois de acumular 18 meses de queda nas vendas, o setor de eletroeletrônicos registrou um semestre de alta de 13% entre janeiro e junho deste ano, em comparação com o mesmo período de 2022. A Eletros, porém, vê essa melhora com cautela.
“Temos de esperar o segundo semestre para saber se o crescimento não foi apenas um movimento de reposição de estoque das varejistas”, diz Nascimento. “Estamos conservadores com as expectativas para o ano”, complementa.
Conforme o levantamento da Eletros, que monitora os indicadores de comercialização da indústria para o varejo, foram vendidas 44,02 milhões de unidades nos seis primeiros meses de 2023 ante as 39,07 milhões de unidades registradas no mesmo período do ano anterior. Ainda assim, o nível de atividade industrial do setor de eletroeletrônicos ficou abaixo do registrado no mesmo período de 2019, em que foram comercializados 47,13 milhões de unidades de produtos pelo setor.