O empresário Elie Horn, de 79 anos, é um dos nomes mais importantes do mercado imobiliário no Brasil. É o fundador da Cyrela, incorporadora com valor de mercado de mais de R$ 8 bilhões na Bolsa de Valores. Para ele, o mercado imobiliário de São Paulo tem evoluído para transformar a capital em uma cidade de serviços, como Nova York. “A cidade está hoje como era Nova York há 40 anos”, afirma.
No segmento de luxo, o fundador da Cyrela não vê opções de terrenos em bairros nobres, o que levará a um aumento de preços nas regiões, como Jardins, Vila Nova Conceição e Itaim Bibi. Porém, não acredita na abertura de novos bairros de luxo no município.
Leia os principais trechos da entrevista a seguir.
Como o sr. vê o momento atual do mercado imobiliário no País?
Depois de 60 anos, vejo que as subidas e descidas do mercado imobiliário são normais. É difícil adivinhar o momento certo. É preciso entrar com mentalidade de longo prazo. Só um profeta consegue entrar e sair do mercado em seguida. Nós, normais, não conseguimos. Estamos em uma época mais ou menos boa no mercado imobiliário. O Minha Casa Minha Vida tem ido muito bem, com mais crédito, mais terrenos. No médio (imóveis de médio padrão), o mercado vai mais ou menos bem. Para o luxo, não há terrenos, é uma mercadoria inexistente.
O sr. está otimista com o mercado imobiliário?
Sim, nasci otimista. Não posso não ser. Quem não enxerga não faz. Quem faz, apanha, mas faz, enquanto o pessimista nunca faz nada. Isso vale para todos os países e todos os negócios. O certo no mercado imobiliário é trabalhar com o prazo de cinco anos a partir da compra do terreno. Se tiver o capital necessário para esse período, você não quebra nunca. É preciso ser precavido e nunca ficar de “calça curta”, ainda mais em um país como o Brasil, onde o juro é alto.
O plano diretor ajudou o mercado de luxo?
O plano diretor facilitou projetos para a classe baixa, viabilizando muitos produtos imobiliários. No luxo, não mudou quase nada. No todo, o plano foi positivo.
Há algum lugar para a expansão do luxo em São Paulo, na sua visão?
São Paulo não tem mais terrenos em bairros de luxo. O jeito é fazer retrofit ou até mesmo abrir um bairro novo fora da cidade, coisa que não vai dar certo.
O público não quer imóveis novos de luxo fora da capital?
Quem mora em Alphaville, por exemplo, demora mais de uma hora tanto na ida quanto na volta de São Paulo. Os terrenos ainda vão subir de preço. Não acho que teremos bairros novos de luxo em São Paulo. Quem quiser morar nos bairros de luxo terá de pagar mais caro por isso.
Como o sr. acredita que o plano diretor vai mudar a cara da capital paulista?
A cidade será mais urbana. Será uma cidade de serviços. O Brasil sem São Paulo não existe. O município é o centro nervoso do País. A cidade será mais vertical e terá mais estações de metrô.
Nesse contexto, a vaga de garagem vai continuar a ser importante nos empreendimentos?
Uma garagem custa caro. Em um imóvel de R$ 200 mil, ela custa R$ 40 mil. É normal? Não é. No centro, não tem vagas nos prédios e eu acho isso válido. Hoje é mais barato andar de Uber ou táxi, dá menos dor de cabeça.
Então, mudaremos a forma como vivemos em São Paulo?
Sim. A cidade está hoje como era Nova York há 40 anos.
Como o sr. vê a tendência de venda de imóveis para locação em São Paulo?
Há 40 anos, já se faziam imóveis para locação. Com a inflação alta e sem correção, eles não davam certo e essas construções deixaram de ser feitas. Até que, há cerca de 10 anos, a lei mudou e a condição financeira também. Você pode pegar dinheiro emprestado, alugar o apartamento e pagar uma parte da dívida com essa renda. Hoje, tem pelo menos uns 30 prédios em São Paulo com serviços de motorista e bares. Estamos vivendo como nos Estados Unidos. Estamos fazendo seis prédios nesse sentido, voltado aos solteiros, recém-casados ou casais com um filho. Mas o que mais tem são solteiros e divorciados.
Os apartamentos estão ficando menores diante da menor taxa de natalidade no País?
Os apartamentos já encolheram. O apartamento de 3 dormitórios de 40 anos atrás era maior do que hoje.
Qual foi a principal lição que o sr. aprendeu nos seus anos à frente da Cyrela?
Tudo que eu fazia dava certo. Então, resolvi abrir operações em 60 novas cidades, mas acabei fechando 57 em seguida. Ainda bem que fiz isso, porque quem não fechou quebrou. As regiões do Brasil são diferentes entre si e não se deve crescer de forma uniforme. O tamanho tem limitação. O que tem de ser feito é abrir negócios paralelos ao seu setor principal, como ir da construção para aluguéis ou shoppings. Temos também uma empresa de crédito, que é ligada ao nosso negócio principal.
Como o sr. vê a economia brasileira atualmente?
A economia vai mais ou menos bem. O País cresce pouco, mas cresce. Precisamos de mais crescimento e mais bom senso. O Brasil vai na direção correta, mas ele vai e volta. Sobre o ministro Fernando Haddad, eu o conheci como prefeito e só tenho elogios a ele. Eu o acho muito eficiente. Ele vai bem no ministério, o problema não é ele, e sim os outros. Como dizia o filósofo Jean-Paul Sartre, “o inferno são os outros”.
Qual país seria modelo para o Brasil?
Suíça, Dinamarca ou Holanda. O Brasil teve um período equilibrado com Fernando Henrique (Cardoso) no governo. Em São Paulo, tivemos 20 anos de boa gestão do PSDB.
O que o sr. pensa a respeito da reforma tributária?
Há reformas boas e reformas negativas. O que não pode acontecer é o dinheiro do imposto ser jogado no lixo, ou ser usado para fazer coisas indevidas. É muito bom pagar imposto se ele servir para alguma coisa. Se eu fosse político, daria uma sugestão de fazer leis de longuíssimo prazo para atender à população. Ou seja, não se mexe em saúde, educação, moradia e outras coisas essenciais. Pelo pouco que sobra, pode haver brigas à vontade.
O sr. tem um trabalho de filantropia. Os empresários brasileiros poderiam fazer ações sociais, como acontece no exterior?
O Brasil tem um PIB social de 0,2%. A nossa meta é elevar isso a 0,4% em cinco anos, e não será possível. Estamos tentando. Temos sócios que têm posições elevadas no País, mas isso não basta. Precisamos de mais gente falando e escutando sobre a importância disso. Atualmente, 1% do lucro anual da Cyrela é direcionado ao nosso instituto. Já ajudamos 200 entidades sociais mundo afora. Hoje, dedico 60% do meu tempo à filantropia, e o dinheiro que tenho vai para caridade nessa mesma proporção.
Qual é o seu principal desejo para a Cyrela no futuro?
Gostaria que a empresa exista daqui a 100 anos e continue a dar oportunidades para as pessoas que trabalham nela e fora dela. A filantropia que faço é ligada ao bem do País como um todo, e não só à Cyrela. Gostaria que esse trabalho continuasse a ser feito quando eu estiver no túmulo.