‘Se tem alguém que sabe fazer carro popular no Brasil, somos nós’, diz presidente da Stellantis


Segundo Antonio Filosa, grupo está pronto para atender o mercado com carros populares, que ele prefere chamar de ‘carro verde acessível’

Por Cleide Silva
Atualização:
Foto: Fábio Franci/Studio Cerri/Stellantis
Entrevista comAntonio FilosaPresidente da Stellantis América do Sul

À frente do maior conglomerado automotivo do País e da região, que envolve as empresas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, Antonio Filosa, presidente da Stellantis América do Sul, diz que o grupo está pronto para atender o mercado com carros populares — que ele prefere chamar de “carro verde acessível”, a depender do que o presidente Lula deve anunciar nesta quinta-feira, 25.

Segundo o executivo italiano, “se tem alguém que pode fazer esse carro verde acessível, somos nós”. Filosa defende, contudo, que, se houver qualquer isenção fiscal, ela tem de ser direcionada a empresas que produzem no País e utilizam elevado índice de componentes também fabricados localmente.

“Precisa ser uma medida pensada para o Brasil, para se criar PIB adicional para o Brasil”, diz ele, acrescentando que “se a gente quer vender mais e produzir mais, tem de fazer isso aqui e não importando carros. Temos de fazer com fornecedores brasileiros, e não dando trabalho para fornecedores fora do País”.

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A seguir, trechos da entrevista concedida nesta quarta-feira, 24.

Que medidas o sr. aguarda para quinta-feira, para ser possível ter carros populares à venda no Brasil?

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Não sabemos ainda o que será anunciado para o que chamamos de “carro verde acessível”. Acreditamos que é importante algum mecanismo para facilitar o crédito para o consumidor. Tenho também visto, pela imprensa, que falam em algum tipo de isenção fiscal, o que claramente é muito bom, pois, com medidas desse tipo, poderemos vender mais e, consequentemente, produzir mais, criar mais oportunidades de emprego e de investimentos diretos em novos produtos.

De que forma seriam adotadas essas medidas?

Não sei se pode ser isenção fiscal total, parcial, federal ou estadual, mas seria muito bom. De qualquer forma, a receita é complexa, porque o problema é complexo. Temos um problema que é a inflação global e local e os juros altos, então será preciso avaliar quais ferramentas podem funcionar. Não sei se será anunciado algo amanhã, nos próximos dias ou nunca. Mas acho correto que sejam confirmadas algumas medidas. O mais animador é que estamos falando de um programa de suporte para a demanda automotiva que ajuda o consumidor, ajuda os empregos, os investimentos das montadoras e toda a cadeia de valor que carregamos — são milhares de empresas, como fornecedores, concessionários e outros.

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O sr. acha que, de fato, o carro brasileiro é caro?

Existe hoje uma discussão sobre custo e preço dos carros, mas é importante lembrar que teve uma forte inflação de matérias-primas que impactaram preços de forma global. E, aqui no Brasil, temos também o impacto nada positivo dos altos juros, embora entendemos que, neste momento, se faz necessário para conter a inflação. Os altos juros devem se manter até o problema da inflação ser completamente dominado, e o Brasil está no caminho certo para isso.

Filosa defende medidas para o carro popular que gerem empregos e renda no País Foto: Leo Lara/Stellantis
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O governo fala em um carro que custe entre R$ 55 mil e R$ 60 mil e hoje os mais baratos à venda custam R$ 69 mil. É possível chegar a esse preço?

Depende muito de quais são as medidas que serão adotadas, mas para chegar nessa faixa é necessário algum tipo de isenção fiscal. Mas o fundamental é que qualquer isenção fiscal seja um passo para frente, pensando no retorno que as montadoras podem dar na ótica de localização de componentes. Se a gente quer vender mais e produzir mais, tem de fazer isso aqui no Brasil e não importando carros. Temos de fazer com fornecedores brasileiros e não dando trabalho para fornecedores fora do País. Temos de fazer com pessoas nossas não só nas linhas de produção mas também na parte mais qualificada da indústria, que é a engenharia, o desenvolvimento de tecnologia, produtos e inovação. As empresas que têm a coragem de localizar muitos componentes, de chamar fornecedores para abrir fábricas e produzir peças aqui, de ter engenheiros próprios. É preciso pensar no desenvolvimento nacional, ou seja, gerar melhoria da renda, maiores oportunidades para as pessoas e mais investimentos em tecnologia, inovação e fábricas. Acredito que isso deve ser feito, mas vai depender do governo.

A Stellantis tem o Fiat Mobi, um dos dois únicos modelos de entrada disponíveis atualmente. Se as medidas a serem anunciadas nesta quinta forem nessa linha que o sr. espera, o grupo terá condição de ter um carro na faixa de preço proposta de imediato?

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Vamos trabalhar para isso, mas vamos primeiro entender as medidas. A partir de amanhã, ou quando seja, vamos dar suporte ao governo nessa direção para aumentar a demanda automotiva. Se tem alguém que pode fazer esse carro verde acessível, somos nós, junto com alguns competidores. Nós estaremos na primeira fila. Mas, como disse, é preciso garantir que tudo seja feito com altíssima localização no Brasil. A pior coisa seria aumentar a demanda, mas não aumentar a produção dos fornecedores locais, mas aumentar a de muitos fornecedores, por exemplo, asiáticos, europeus, mexicanos. Não tenho nada contra, mas precisa ser uma medida pensada para o Brasil, para se criar PIB adicional para o Brasil. Em Betim (MG), onde fazemos o Mobi que você mencionou, temos até 95% de localização e 2 mil engenheiros brasileiros. Acredito que, se for nessa linha, Betim tem uma planta que deveria ser premiada.

O que se comenta também é que, para chegar a preços menores, as montadoras teriam de tirar alguns itens dos carros. Quais seriam?

Hoje não estamos pensando em tirar itens dos carros, ou talvez alguma coisa, mas nada que entre no espaço de segurança e níveis de emissões. Por exemplo, uma possibilidade é mudar o tecido do banco, de um tipo mais caro para outro mais simples. Vamos pegar um carro do jeito que é hoje, fazer mais projetos de produtividade na linha e mais eficiência industrial, mas não vamos mudar nada que é essência do carro. Se tirar, por exemplo, o ar condicionado, ninguém vai comprar. Agora, podemos trabalhar em outras coisas, a gente tem capacidade de, rapidamente, mudar tecidos de bancos que sejam um pouco mais simples, trocar algum material decorativo por outro mais simples.

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Quando o sr. fala em carro verde, fala de um modelo que use preferencialmente etanol, certo? Mas, para isso, o governo teria de adotar alguma ação para incentivar o abastecimento com etanol?

Acho que o uso do etanol deveria ser promovido, mas seriam medidas do governo.

O sr. esteve com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Qual foi o tema da conversa?

Foi a primeira vez que me encontrei pessoalmente com o ministro Haddad, com alguns membros da sua equipe. Nós somos a empresa automotiva que mais investe no Brasil e temos muito interesse nesse contato para entender sobre a visão dele sobre a indústria. Foi uma conversa excelente, animadora, saímos de lá muito motivados porque entendemos que o ministro, assim como o vice-presidente Geraldo Alckmin, com quem falamos alguns dias atrás, têm visões para a reindustrialização do País.

À frente do maior conglomerado automotivo do País e da região, que envolve as empresas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, Antonio Filosa, presidente da Stellantis América do Sul, diz que o grupo está pronto para atender o mercado com carros populares — que ele prefere chamar de “carro verde acessível”, a depender do que o presidente Lula deve anunciar nesta quinta-feira, 25.

Segundo o executivo italiano, “se tem alguém que pode fazer esse carro verde acessível, somos nós”. Filosa defende, contudo, que, se houver qualquer isenção fiscal, ela tem de ser direcionada a empresas que produzem no País e utilizam elevado índice de componentes também fabricados localmente.

“Precisa ser uma medida pensada para o Brasil, para se criar PIB adicional para o Brasil”, diz ele, acrescentando que “se a gente quer vender mais e produzir mais, tem de fazer isso aqui e não importando carros. Temos de fazer com fornecedores brasileiros, e não dando trabalho para fornecedores fora do País”.

A seguir, trechos da entrevista concedida nesta quarta-feira, 24.

Que medidas o sr. aguarda para quinta-feira, para ser possível ter carros populares à venda no Brasil?

Não sabemos ainda o que será anunciado para o que chamamos de “carro verde acessível”. Acreditamos que é importante algum mecanismo para facilitar o crédito para o consumidor. Tenho também visto, pela imprensa, que falam em algum tipo de isenção fiscal, o que claramente é muito bom, pois, com medidas desse tipo, poderemos vender mais e, consequentemente, produzir mais, criar mais oportunidades de emprego e de investimentos diretos em novos produtos.

De que forma seriam adotadas essas medidas?

Não sei se pode ser isenção fiscal total, parcial, federal ou estadual, mas seria muito bom. De qualquer forma, a receita é complexa, porque o problema é complexo. Temos um problema que é a inflação global e local e os juros altos, então será preciso avaliar quais ferramentas podem funcionar. Não sei se será anunciado algo amanhã, nos próximos dias ou nunca. Mas acho correto que sejam confirmadas algumas medidas. O mais animador é que estamos falando de um programa de suporte para a demanda automotiva que ajuda o consumidor, ajuda os empregos, os investimentos das montadoras e toda a cadeia de valor que carregamos — são milhares de empresas, como fornecedores, concessionários e outros.

O sr. acha que, de fato, o carro brasileiro é caro?

Existe hoje uma discussão sobre custo e preço dos carros, mas é importante lembrar que teve uma forte inflação de matérias-primas que impactaram preços de forma global. E, aqui no Brasil, temos também o impacto nada positivo dos altos juros, embora entendemos que, neste momento, se faz necessário para conter a inflação. Os altos juros devem se manter até o problema da inflação ser completamente dominado, e o Brasil está no caminho certo para isso.

Filosa defende medidas para o carro popular que gerem empregos e renda no País Foto: Leo Lara/Stellantis

O governo fala em um carro que custe entre R$ 55 mil e R$ 60 mil e hoje os mais baratos à venda custam R$ 69 mil. É possível chegar a esse preço?

Depende muito de quais são as medidas que serão adotadas, mas para chegar nessa faixa é necessário algum tipo de isenção fiscal. Mas o fundamental é que qualquer isenção fiscal seja um passo para frente, pensando no retorno que as montadoras podem dar na ótica de localização de componentes. Se a gente quer vender mais e produzir mais, tem de fazer isso aqui no Brasil e não importando carros. Temos de fazer com fornecedores brasileiros e não dando trabalho para fornecedores fora do País. Temos de fazer com pessoas nossas não só nas linhas de produção mas também na parte mais qualificada da indústria, que é a engenharia, o desenvolvimento de tecnologia, produtos e inovação. As empresas que têm a coragem de localizar muitos componentes, de chamar fornecedores para abrir fábricas e produzir peças aqui, de ter engenheiros próprios. É preciso pensar no desenvolvimento nacional, ou seja, gerar melhoria da renda, maiores oportunidades para as pessoas e mais investimentos em tecnologia, inovação e fábricas. Acredito que isso deve ser feito, mas vai depender do governo.

A Stellantis tem o Fiat Mobi, um dos dois únicos modelos de entrada disponíveis atualmente. Se as medidas a serem anunciadas nesta quinta forem nessa linha que o sr. espera, o grupo terá condição de ter um carro na faixa de preço proposta de imediato?

Vamos trabalhar para isso, mas vamos primeiro entender as medidas. A partir de amanhã, ou quando seja, vamos dar suporte ao governo nessa direção para aumentar a demanda automotiva. Se tem alguém que pode fazer esse carro verde acessível, somos nós, junto com alguns competidores. Nós estaremos na primeira fila. Mas, como disse, é preciso garantir que tudo seja feito com altíssima localização no Brasil. A pior coisa seria aumentar a demanda, mas não aumentar a produção dos fornecedores locais, mas aumentar a de muitos fornecedores, por exemplo, asiáticos, europeus, mexicanos. Não tenho nada contra, mas precisa ser uma medida pensada para o Brasil, para se criar PIB adicional para o Brasil. Em Betim (MG), onde fazemos o Mobi que você mencionou, temos até 95% de localização e 2 mil engenheiros brasileiros. Acredito que, se for nessa linha, Betim tem uma planta que deveria ser premiada.

O que se comenta também é que, para chegar a preços menores, as montadoras teriam de tirar alguns itens dos carros. Quais seriam?

Hoje não estamos pensando em tirar itens dos carros, ou talvez alguma coisa, mas nada que entre no espaço de segurança e níveis de emissões. Por exemplo, uma possibilidade é mudar o tecido do banco, de um tipo mais caro para outro mais simples. Vamos pegar um carro do jeito que é hoje, fazer mais projetos de produtividade na linha e mais eficiência industrial, mas não vamos mudar nada que é essência do carro. Se tirar, por exemplo, o ar condicionado, ninguém vai comprar. Agora, podemos trabalhar em outras coisas, a gente tem capacidade de, rapidamente, mudar tecidos de bancos que sejam um pouco mais simples, trocar algum material decorativo por outro mais simples.

Quando o sr. fala em carro verde, fala de um modelo que use preferencialmente etanol, certo? Mas, para isso, o governo teria de adotar alguma ação para incentivar o abastecimento com etanol?

Acho que o uso do etanol deveria ser promovido, mas seriam medidas do governo.

O sr. esteve com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Qual foi o tema da conversa?

Foi a primeira vez que me encontrei pessoalmente com o ministro Haddad, com alguns membros da sua equipe. Nós somos a empresa automotiva que mais investe no Brasil e temos muito interesse nesse contato para entender sobre a visão dele sobre a indústria. Foi uma conversa excelente, animadora, saímos de lá muito motivados porque entendemos que o ministro, assim como o vice-presidente Geraldo Alckmin, com quem falamos alguns dias atrás, têm visões para a reindustrialização do País.

À frente do maior conglomerado automotivo do País e da região, que envolve as empresas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, Antonio Filosa, presidente da Stellantis América do Sul, diz que o grupo está pronto para atender o mercado com carros populares — que ele prefere chamar de “carro verde acessível”, a depender do que o presidente Lula deve anunciar nesta quinta-feira, 25.

Segundo o executivo italiano, “se tem alguém que pode fazer esse carro verde acessível, somos nós”. Filosa defende, contudo, que, se houver qualquer isenção fiscal, ela tem de ser direcionada a empresas que produzem no País e utilizam elevado índice de componentes também fabricados localmente.

“Precisa ser uma medida pensada para o Brasil, para se criar PIB adicional para o Brasil”, diz ele, acrescentando que “se a gente quer vender mais e produzir mais, tem de fazer isso aqui e não importando carros. Temos de fazer com fornecedores brasileiros, e não dando trabalho para fornecedores fora do País”.

A seguir, trechos da entrevista concedida nesta quarta-feira, 24.

Que medidas o sr. aguarda para quinta-feira, para ser possível ter carros populares à venda no Brasil?

Não sabemos ainda o que será anunciado para o que chamamos de “carro verde acessível”. Acreditamos que é importante algum mecanismo para facilitar o crédito para o consumidor. Tenho também visto, pela imprensa, que falam em algum tipo de isenção fiscal, o que claramente é muito bom, pois, com medidas desse tipo, poderemos vender mais e, consequentemente, produzir mais, criar mais oportunidades de emprego e de investimentos diretos em novos produtos.

De que forma seriam adotadas essas medidas?

Não sei se pode ser isenção fiscal total, parcial, federal ou estadual, mas seria muito bom. De qualquer forma, a receita é complexa, porque o problema é complexo. Temos um problema que é a inflação global e local e os juros altos, então será preciso avaliar quais ferramentas podem funcionar. Não sei se será anunciado algo amanhã, nos próximos dias ou nunca. Mas acho correto que sejam confirmadas algumas medidas. O mais animador é que estamos falando de um programa de suporte para a demanda automotiva que ajuda o consumidor, ajuda os empregos, os investimentos das montadoras e toda a cadeia de valor que carregamos — são milhares de empresas, como fornecedores, concessionários e outros.

O sr. acha que, de fato, o carro brasileiro é caro?

Existe hoje uma discussão sobre custo e preço dos carros, mas é importante lembrar que teve uma forte inflação de matérias-primas que impactaram preços de forma global. E, aqui no Brasil, temos também o impacto nada positivo dos altos juros, embora entendemos que, neste momento, se faz necessário para conter a inflação. Os altos juros devem se manter até o problema da inflação ser completamente dominado, e o Brasil está no caminho certo para isso.

Filosa defende medidas para o carro popular que gerem empregos e renda no País Foto: Leo Lara/Stellantis

O governo fala em um carro que custe entre R$ 55 mil e R$ 60 mil e hoje os mais baratos à venda custam R$ 69 mil. É possível chegar a esse preço?

Depende muito de quais são as medidas que serão adotadas, mas para chegar nessa faixa é necessário algum tipo de isenção fiscal. Mas o fundamental é que qualquer isenção fiscal seja um passo para frente, pensando no retorno que as montadoras podem dar na ótica de localização de componentes. Se a gente quer vender mais e produzir mais, tem de fazer isso aqui no Brasil e não importando carros. Temos de fazer com fornecedores brasileiros e não dando trabalho para fornecedores fora do País. Temos de fazer com pessoas nossas não só nas linhas de produção mas também na parte mais qualificada da indústria, que é a engenharia, o desenvolvimento de tecnologia, produtos e inovação. As empresas que têm a coragem de localizar muitos componentes, de chamar fornecedores para abrir fábricas e produzir peças aqui, de ter engenheiros próprios. É preciso pensar no desenvolvimento nacional, ou seja, gerar melhoria da renda, maiores oportunidades para as pessoas e mais investimentos em tecnologia, inovação e fábricas. Acredito que isso deve ser feito, mas vai depender do governo.

A Stellantis tem o Fiat Mobi, um dos dois únicos modelos de entrada disponíveis atualmente. Se as medidas a serem anunciadas nesta quinta forem nessa linha que o sr. espera, o grupo terá condição de ter um carro na faixa de preço proposta de imediato?

Vamos trabalhar para isso, mas vamos primeiro entender as medidas. A partir de amanhã, ou quando seja, vamos dar suporte ao governo nessa direção para aumentar a demanda automotiva. Se tem alguém que pode fazer esse carro verde acessível, somos nós, junto com alguns competidores. Nós estaremos na primeira fila. Mas, como disse, é preciso garantir que tudo seja feito com altíssima localização no Brasil. A pior coisa seria aumentar a demanda, mas não aumentar a produção dos fornecedores locais, mas aumentar a de muitos fornecedores, por exemplo, asiáticos, europeus, mexicanos. Não tenho nada contra, mas precisa ser uma medida pensada para o Brasil, para se criar PIB adicional para o Brasil. Em Betim (MG), onde fazemos o Mobi que você mencionou, temos até 95% de localização e 2 mil engenheiros brasileiros. Acredito que, se for nessa linha, Betim tem uma planta que deveria ser premiada.

O que se comenta também é que, para chegar a preços menores, as montadoras teriam de tirar alguns itens dos carros. Quais seriam?

Hoje não estamos pensando em tirar itens dos carros, ou talvez alguma coisa, mas nada que entre no espaço de segurança e níveis de emissões. Por exemplo, uma possibilidade é mudar o tecido do banco, de um tipo mais caro para outro mais simples. Vamos pegar um carro do jeito que é hoje, fazer mais projetos de produtividade na linha e mais eficiência industrial, mas não vamos mudar nada que é essência do carro. Se tirar, por exemplo, o ar condicionado, ninguém vai comprar. Agora, podemos trabalhar em outras coisas, a gente tem capacidade de, rapidamente, mudar tecidos de bancos que sejam um pouco mais simples, trocar algum material decorativo por outro mais simples.

Quando o sr. fala em carro verde, fala de um modelo que use preferencialmente etanol, certo? Mas, para isso, o governo teria de adotar alguma ação para incentivar o abastecimento com etanol?

Acho que o uso do etanol deveria ser promovido, mas seriam medidas do governo.

O sr. esteve com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Qual foi o tema da conversa?

Foi a primeira vez que me encontrei pessoalmente com o ministro Haddad, com alguns membros da sua equipe. Nós somos a empresa automotiva que mais investe no Brasil e temos muito interesse nesse contato para entender sobre a visão dele sobre a indústria. Foi uma conversa excelente, animadora, saímos de lá muito motivados porque entendemos que o ministro, assim como o vice-presidente Geraldo Alckmin, com quem falamos alguns dias atrás, têm visões para a reindustrialização do País.

À frente do maior conglomerado automotivo do País e da região, que envolve as empresas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, Antonio Filosa, presidente da Stellantis América do Sul, diz que o grupo está pronto para atender o mercado com carros populares — que ele prefere chamar de “carro verde acessível”, a depender do que o presidente Lula deve anunciar nesta quinta-feira, 25.

Segundo o executivo italiano, “se tem alguém que pode fazer esse carro verde acessível, somos nós”. Filosa defende, contudo, que, se houver qualquer isenção fiscal, ela tem de ser direcionada a empresas que produzem no País e utilizam elevado índice de componentes também fabricados localmente.

“Precisa ser uma medida pensada para o Brasil, para se criar PIB adicional para o Brasil”, diz ele, acrescentando que “se a gente quer vender mais e produzir mais, tem de fazer isso aqui e não importando carros. Temos de fazer com fornecedores brasileiros, e não dando trabalho para fornecedores fora do País”.

A seguir, trechos da entrevista concedida nesta quarta-feira, 24.

Que medidas o sr. aguarda para quinta-feira, para ser possível ter carros populares à venda no Brasil?

Não sabemos ainda o que será anunciado para o que chamamos de “carro verde acessível”. Acreditamos que é importante algum mecanismo para facilitar o crédito para o consumidor. Tenho também visto, pela imprensa, que falam em algum tipo de isenção fiscal, o que claramente é muito bom, pois, com medidas desse tipo, poderemos vender mais e, consequentemente, produzir mais, criar mais oportunidades de emprego e de investimentos diretos em novos produtos.

De que forma seriam adotadas essas medidas?

Não sei se pode ser isenção fiscal total, parcial, federal ou estadual, mas seria muito bom. De qualquer forma, a receita é complexa, porque o problema é complexo. Temos um problema que é a inflação global e local e os juros altos, então será preciso avaliar quais ferramentas podem funcionar. Não sei se será anunciado algo amanhã, nos próximos dias ou nunca. Mas acho correto que sejam confirmadas algumas medidas. O mais animador é que estamos falando de um programa de suporte para a demanda automotiva que ajuda o consumidor, ajuda os empregos, os investimentos das montadoras e toda a cadeia de valor que carregamos — são milhares de empresas, como fornecedores, concessionários e outros.

O sr. acha que, de fato, o carro brasileiro é caro?

Existe hoje uma discussão sobre custo e preço dos carros, mas é importante lembrar que teve uma forte inflação de matérias-primas que impactaram preços de forma global. E, aqui no Brasil, temos também o impacto nada positivo dos altos juros, embora entendemos que, neste momento, se faz necessário para conter a inflação. Os altos juros devem se manter até o problema da inflação ser completamente dominado, e o Brasil está no caminho certo para isso.

Filosa defende medidas para o carro popular que gerem empregos e renda no País Foto: Leo Lara/Stellantis

O governo fala em um carro que custe entre R$ 55 mil e R$ 60 mil e hoje os mais baratos à venda custam R$ 69 mil. É possível chegar a esse preço?

Depende muito de quais são as medidas que serão adotadas, mas para chegar nessa faixa é necessário algum tipo de isenção fiscal. Mas o fundamental é que qualquer isenção fiscal seja um passo para frente, pensando no retorno que as montadoras podem dar na ótica de localização de componentes. Se a gente quer vender mais e produzir mais, tem de fazer isso aqui no Brasil e não importando carros. Temos de fazer com fornecedores brasileiros e não dando trabalho para fornecedores fora do País. Temos de fazer com pessoas nossas não só nas linhas de produção mas também na parte mais qualificada da indústria, que é a engenharia, o desenvolvimento de tecnologia, produtos e inovação. As empresas que têm a coragem de localizar muitos componentes, de chamar fornecedores para abrir fábricas e produzir peças aqui, de ter engenheiros próprios. É preciso pensar no desenvolvimento nacional, ou seja, gerar melhoria da renda, maiores oportunidades para as pessoas e mais investimentos em tecnologia, inovação e fábricas. Acredito que isso deve ser feito, mas vai depender do governo.

A Stellantis tem o Fiat Mobi, um dos dois únicos modelos de entrada disponíveis atualmente. Se as medidas a serem anunciadas nesta quinta forem nessa linha que o sr. espera, o grupo terá condição de ter um carro na faixa de preço proposta de imediato?

Vamos trabalhar para isso, mas vamos primeiro entender as medidas. A partir de amanhã, ou quando seja, vamos dar suporte ao governo nessa direção para aumentar a demanda automotiva. Se tem alguém que pode fazer esse carro verde acessível, somos nós, junto com alguns competidores. Nós estaremos na primeira fila. Mas, como disse, é preciso garantir que tudo seja feito com altíssima localização no Brasil. A pior coisa seria aumentar a demanda, mas não aumentar a produção dos fornecedores locais, mas aumentar a de muitos fornecedores, por exemplo, asiáticos, europeus, mexicanos. Não tenho nada contra, mas precisa ser uma medida pensada para o Brasil, para se criar PIB adicional para o Brasil. Em Betim (MG), onde fazemos o Mobi que você mencionou, temos até 95% de localização e 2 mil engenheiros brasileiros. Acredito que, se for nessa linha, Betim tem uma planta que deveria ser premiada.

O que se comenta também é que, para chegar a preços menores, as montadoras teriam de tirar alguns itens dos carros. Quais seriam?

Hoje não estamos pensando em tirar itens dos carros, ou talvez alguma coisa, mas nada que entre no espaço de segurança e níveis de emissões. Por exemplo, uma possibilidade é mudar o tecido do banco, de um tipo mais caro para outro mais simples. Vamos pegar um carro do jeito que é hoje, fazer mais projetos de produtividade na linha e mais eficiência industrial, mas não vamos mudar nada que é essência do carro. Se tirar, por exemplo, o ar condicionado, ninguém vai comprar. Agora, podemos trabalhar em outras coisas, a gente tem capacidade de, rapidamente, mudar tecidos de bancos que sejam um pouco mais simples, trocar algum material decorativo por outro mais simples.

Quando o sr. fala em carro verde, fala de um modelo que use preferencialmente etanol, certo? Mas, para isso, o governo teria de adotar alguma ação para incentivar o abastecimento com etanol?

Acho que o uso do etanol deveria ser promovido, mas seriam medidas do governo.

O sr. esteve com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Qual foi o tema da conversa?

Foi a primeira vez que me encontrei pessoalmente com o ministro Haddad, com alguns membros da sua equipe. Nós somos a empresa automotiva que mais investe no Brasil e temos muito interesse nesse contato para entender sobre a visão dele sobre a indústria. Foi uma conversa excelente, animadora, saímos de lá muito motivados porque entendemos que o ministro, assim como o vice-presidente Geraldo Alckmin, com quem falamos alguns dias atrás, têm visões para a reindustrialização do País.

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