Apesar da morte do fundador das Casas Bahia, Samuel Klein (1923-2014), estar quase completando uma década, a disputa em torno de sua herança está longe de terminar. No centro dos problemas está uma série de contestações que o filho mais novo, Saul Klein, faz de doações feitas ainda em vida para o primogênito, Michael Klein, e seus filhos.
Em entrevista ao Estadão, Michael falou sobre a disputa e respondeu às acusações que têm sido feitas pelo irmão na Justiça.
Seu irmão, Saul Klein, está numa cruzada para aumentar a participação dele na herança deixada por seu pai, Samuel Klein. Ele vem por meio de processos querendo acessar mais ativos que estão em sua posse e reclama que estariam sendo escondidos dele. Como isso está transcorrendo?
Na Justiça, ele está perdendo tudo. Ele só está ganhando num lugar: na imprensa. A imprensa quer sangue, vender mais e mostrar a briga entre irmãos. O inventário está em sigilo, mas ele consegue passar informações para a imprensa e ela publica. Ele alega que as transferências de participações foram feitas com assinaturas falsas. Contratou dois peritos para dizer que elas foram forjadas. Mas foi o meu pai que assinou. Não faria nem sentido eu falsificar qualquer assinatura, por que eu tinha procuração para assinar por ele. Mas, quando o meu pai foi assinar algo que beneficiaria a mim, eu disse a ele: você que assina. Até o testamento os advogados do Saul estão contestando. Eu também contratei peritos para mostrar que as assinaturas eram verdadeiras. O delegado pediu para ouvir o escrivão que viu o meu pai fazer as assinaturas.
O seu advogado diz que havia dois outros advogados como testemunha, não?
Sim, mas (os advogados de Saul) podem alegar que eles seriam testemunhas parciais. Mas eu registrei tudo.
Agora, o Saul busca também ativos que seriam seus nos Estados Unidos?
Eles entraram nos EUA com um pedido de discovery, um termo de lá que garante o direito de descobrir alguma coisa. Mas eles pediram e os bancos nem deram resposta.
O Saul recebeu um adiamento de cerca de R$ 800 milhões da herança e vendeu sua parte na Casas Bahia, ainda durante a vida de Samuel. O sr. acredita que ele gastou todo esse dinheiro recebido na época?
Eu não sei, ainda mais considerando quanto valia este tanto de dinheiro na época. O que se conta é que ele foi “pra esbornia”.
Vocês não se falam mais?
A última vez que nos falamos foi quando ele pediu para mim uma antecipação do inventário (isso aconteceu em 2018). Eu concordei em dar R$ 30 milhões. Mas, no meio do caminho, o filho dele pediu uma intervenção do pai e me pediu para interromper os pagamentos, com receio de que ele gastasse tudo e não sobrasse nada para a próxima geração. Depois, eles fizeram um acordo e o filho retirou a ação.
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O inventário ainda deve demorar?
O problema é que, antes da morte do meu pai, em 2014, apareceu uma pessoa, moradora de Minas Gerais, que alegou que soube da sua mãe, no leito de morte, que ele seria filho de um caso dela com o meu pai, e que não seria filho do pai que constava na sua certidão de nascimento. Depois, ele morreu (em 2020). Mas, fiquei sabendo que a questão fica para os herdeiros. O meu advogado pediu (quando o alegado filho ainda estava vivo) que, antes de fazer um exame de DNA com o meu pai, ele fizesse com os irmãos dele, para saber se não eram mesmo da mesma família. O problema é que ele morreu antes de fazer isso. Agora, não sei como essa questão será possível de ser resolvida. Teria de exumar a pessoa e fazer o DNA, e fazer o exame com os irmãos vivos dele. E, se o DNA não batesse, teria de exumar o meu pai. O inventário já dura 10 anos e pelo jeito vai continuar demorando mais um bom tempo.