‘O Brasil caminha para um superciclo de investimentos em infraestrutura’, diz presidente da CCR


Segundo Miguel Setas, existem oportunidades estimadas em R$ 180 bilhões para a concessionária nos próximos anos

Por Carlos Eduardo Valim
Atualização:
Foto: Leandro Fonseca/EDP
Entrevista comMiguel SetasCEO do grupo CCR

O Brasil vai entrar em um superciclo de investimentos em infraestrutura, segundo o CEO do grupo CCR, o português Miguel Setas. E isso, para a concessionária de serviços de infraestrutura de transportes, se traduzirá em oportunidades de R$ 180 bilhões em negócios pelos próximos três anos, principalmente nos segmentos de rodovias e mobilidade urbana.

Pela frente, estão mais concessões de rodovias acontecendo, que devem ser destravadas em relação a 2023, quando as poucas licitações do setor não atraíram muitos interessados.

Setas, que se mudou para o Brasil em 2007 para trabalhar na subsidiária local da empresa portuguesa de energia elétrica EDP, assumiu o comando da CCR há oito meses e vai conduzir uma sequência de investimentos estimada em R$ 33 bilhões em cinco anos, sendo que R$ 28 bilhões irão para rodovias.

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Em 2023, o setor de infraestrutura como um todo, incluindo também aeroportos, energia, saneamento básico e telecomunicações, movimentou R$ 213 bilhões no Brasil, o segundo melhor resultado histórico – abaixo apenas de 2014. E Setas acredita que pode haver crescimento contínuo nos próximos anos a partir dessa base.

Miguel Setas diz que CCR pretende participar de um movimento de consolidação no setor de aeroportos no Brasil Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Uma incerteza para a CCR, porém, é a expectativa de término da concessão da Via Oeste, que inclui a Rodovia Castello Branco, um dos mais importantes ativos da empresa. A empresa vai tentar renovar essa concessão, caso o governo do Estado decida relicitar o ativo em 2024 ou 2025.

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Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Como o sr. espera que será o ano de 2024 para a CCR?

Estamos num período de alta de investimentos. O grupo intensificou os aportes, e estamos com um plano de R$ 33 bilhões de investimentos, sendo que R$ 28 bilhões irão para as rodovias, pelos próximos cinco a sete anos, com criação de 46 mil empregos novos. O restante irá para mobilidade urbana e aeroportos. É importante destacar que esses R$ 28 bilhões são para rodovias que já operamos, como é o caso da Dutra, que liga o Rio de Janeiro a São Paulo, e das concessões no Sul do País. Teremos menos investimentos na concessionária Via Oeste, com as rodovias Castello Branco e Raposo Tavares, que está em fim de ciclo e que pode vir a ser relicitada neste ou no próximo ano. Do lado dos aeroportos, temos um investimento previsto de R$ 2 bilhões. Fomos a empresa concessionária vencedora da sexta rodada de leilões de aeroportos, e ganhamos 15 aeroportos para operar e fazer melhorias.

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Rodovia Presidente Dutra, ligando São Paulo ao Rio, é uma das concessões da CCR Foto: Felipe Rau/Estadão

Qual é a expectativa em relação a novas concessões?

Nos próximos anos, vemos um potencial de mercado na casa dos R$ 180 bilhões em rodovias e mobilidade urbana, sem contar os aeroportos, para um período de cerca de três anos a até cinco anos. Vai depender do ritmo dos leilões que vierem a ser realizados. Há um sentimento no setor de infraestrutura de que vem pela frente, nos próximos anos, aquilo que nós costumamos chamar de um superciclo de investimentos. Existem estudos que mostram que o Brasil, dada a sua dimensão econômica, poderia estar investindo o dobro em infraestrutura do que faz, para que ocorra uma melhoria da sua infraestrutura, e não apenas uma manutenção das redes. O País investe cerca de 2% do seu PIB em infraestrutura e poderia ser cerca de 4%. Ainda assim, estamos fechando o ano com valor de R$ 213 bilhões em investimentos em infraestrutura, o que fica muito próximo do recorde histórico, batido em 2014, e com um crescimento de 20% em relação a 2022. É um sinal de que o Brasil já está caminhando para um superciclo de investimentos em infraestrutura. Tudo leva a isso: um quadro político estável, a queda da taxa de juro, a inflação controlada, o quadro macroeconômico estabilizado e uma reforma tributária esboçada e aprovada, que agora precisa de ter a sua regulamentação.

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Então, o quadro macroeconômico como um todo é benéfico para o setor?

Conquistamos duas posições no ranking do PIB mundial, ultrapassamos o Canadá e a Rússia, e voltamos a estar entre as dez maiores economias do mundo. A infraestrutura tem de acompanhar isso, porque é um viabilizador do crescimento econômico e o retroalimenta. Tudo indica que terminamos o ano de 2023 com um crescimento em torno de 3%. É uma marca muito favorável. Foi também um dos melhores anos de financiamento para infraestrutura, com o BNDES desembolsando R$ 37 bilhões. Estou com uma perspectiva favorável para 2024. Acho que vai ser um ano de continuidade dos bons resultados de 2023.

O setor de infraestrutura pode ajudar a compensar, para o PIB, o setor de agronegócios, que cresceu muito em 2023 e não deve manter o ritmo agora?

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Eu não sou especialista em agronegócios, mas ele continuará a ter o seu papel fundamental na economia nacional. Mas ele depende um pouco do quadro internacional e da cotação das commodities. Já no setor de infraestrutura temos condições para intensificar o crescimento. Precisamos de estabilidade, de segurança jurídica e do tratamento adequado das matrizes de risco e retorno. Vemos que tanto no domínio federal quanto no estadual existe uma vontade muito grande de trazer essa equação correta. Estamos num ambiente de diálogo muito aberto. Os canais de comunicação e diálogo com o poder concedente e com o poder regulatório são muito fluidos. Isso nos dá muita confiança.

As primeiras concessões desse governo, no entanto, não atraíram a iniciativa privada como o esperado. Isso foi por conta do perfil das concessões ou a iniciativa privada estava um pouco mais retraída?

A avaliação que o mercado faz é o equilíbrio risco e retorno. O projeto tem de se configurar de forma atrativa para os operadores. O mercado, o poder concedente e as agências reguladoras, estamos todos tentando encontrar essa equação, que permite proteger os interesses da sociedade e garantir que os consumidores tenham um serviço adequado, enquanto o acionista tenha um retorno para rentabilizar o seu capital. Acertando essa equação, é bem possível que as metas do governo e do Ministério dos Transportes possam ser cumpridas. Há 26 mil quilômetros de rodovias concessionadas, e esse número pode dobrar. Existem ainda muitas estradas que não estão pavimentadas, um potencial ainda muito grande para o Brasil, que é um país continental.

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A CCR é considerada uma das empresas com ações na B3 que mais podem se beneficiar da queda dos juros. Como isso pode acontecer?

A função financeira é determinante na nossa operação. Temos uma dívida bruta de cerca de R$ 30 bilhões. Portanto, cada ponto porcentual a menos da taxa de juros representa muito valor que deixamos de pagar em juros. E também é bom pela questão de crédito, e para estimular o setor a entrar com novos projetos. Ficamos com mais espaço no balanço para poder crescer. No setor, fechamos financiamento com horizonte largo, de 30 anos, de 15 anos. Não é bom fechar condições de financiamento no momento em que as taxas de juros estão muito elevadas.

A CCR tem falado muito de rodovias. Em aeroportos, não há tanta expectativa de crescimento?

No Brasil, 90% do tráfego já foi concessionado, e os 10% restantes estão basicamente no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Isso significa que no mercado primário já não há muitas oportunidades. Elas podem aparecer no mercado secundário. A CCR tomou uma decisão de focar o seu crescimento neste momento no segmento de rodovias e mobilidade urbana. Mas, para aeroportos, nós temos um objetivo de conciliar a nossa posição de investimento de R$ 2 bilhões de acordo com os compromissos regulatórios que vieram da sexta rodada de licitações. E, depois, também gostaríamos de participar dos movimentos de consolidação do mercado brasileiro, que está muito fragmentado. Os operadores têm, todos, participações de mercado muito pequenas, com pouca escala. E isso obviamente é essencial para ganhar eficiência. Portanto, é um segmento que, mais cedo ou mais tarde, vai passar por movimentos de consolidação. O grupo CCR naturalmente tem a ambição de participar nesse processo.

Durante a aprovação da reforma tributária na Câmara, o setor de infraestrutura seria um dos beneficiados com uma alíquota especial menor, e esse ponto caiu no fim da tramitação. Como vê essa questão? A reforma continua sendo benéfica para o setor?

Ela confere ao sistema tributário brasileiro uma simplificação. Como sabemos, hoje o sistema tributário é bastante complexo e isso gera ineficiência. Portanto, a reforma é muito boa, e carece agora de definição das chamadas regras complementares, para ser regulamentada. Ela tem um período de transição bem dilatado, e isso permite que vá se fazendo os ajustes necessários para que ele entre da forma correta. De um ponto de vista econômico, ela deve ter uma neutralidade tributária. Com certeza, na regulamentação da lei tributária, as duas dimensões deverão ser contempladas, de proteger, por um lado, os interesses do consumidor, e, por outro lado, garantir o equilíbrio econômico das concessões, que não pode ser posto em perigo.

O Brasil vai entrar em um superciclo de investimentos em infraestrutura, segundo o CEO do grupo CCR, o português Miguel Setas. E isso, para a concessionária de serviços de infraestrutura de transportes, se traduzirá em oportunidades de R$ 180 bilhões em negócios pelos próximos três anos, principalmente nos segmentos de rodovias e mobilidade urbana.

Pela frente, estão mais concessões de rodovias acontecendo, que devem ser destravadas em relação a 2023, quando as poucas licitações do setor não atraíram muitos interessados.

Setas, que se mudou para o Brasil em 2007 para trabalhar na subsidiária local da empresa portuguesa de energia elétrica EDP, assumiu o comando da CCR há oito meses e vai conduzir uma sequência de investimentos estimada em R$ 33 bilhões em cinco anos, sendo que R$ 28 bilhões irão para rodovias.

Em 2023, o setor de infraestrutura como um todo, incluindo também aeroportos, energia, saneamento básico e telecomunicações, movimentou R$ 213 bilhões no Brasil, o segundo melhor resultado histórico – abaixo apenas de 2014. E Setas acredita que pode haver crescimento contínuo nos próximos anos a partir dessa base.

Miguel Setas diz que CCR pretende participar de um movimento de consolidação no setor de aeroportos no Brasil Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Uma incerteza para a CCR, porém, é a expectativa de término da concessão da Via Oeste, que inclui a Rodovia Castello Branco, um dos mais importantes ativos da empresa. A empresa vai tentar renovar essa concessão, caso o governo do Estado decida relicitar o ativo em 2024 ou 2025.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Como o sr. espera que será o ano de 2024 para a CCR?

Estamos num período de alta de investimentos. O grupo intensificou os aportes, e estamos com um plano de R$ 33 bilhões de investimentos, sendo que R$ 28 bilhões irão para as rodovias, pelos próximos cinco a sete anos, com criação de 46 mil empregos novos. O restante irá para mobilidade urbana e aeroportos. É importante destacar que esses R$ 28 bilhões são para rodovias que já operamos, como é o caso da Dutra, que liga o Rio de Janeiro a São Paulo, e das concessões no Sul do País. Teremos menos investimentos na concessionária Via Oeste, com as rodovias Castello Branco e Raposo Tavares, que está em fim de ciclo e que pode vir a ser relicitada neste ou no próximo ano. Do lado dos aeroportos, temos um investimento previsto de R$ 2 bilhões. Fomos a empresa concessionária vencedora da sexta rodada de leilões de aeroportos, e ganhamos 15 aeroportos para operar e fazer melhorias.

Rodovia Presidente Dutra, ligando São Paulo ao Rio, é uma das concessões da CCR Foto: Felipe Rau/Estadão

Qual é a expectativa em relação a novas concessões?

Nos próximos anos, vemos um potencial de mercado na casa dos R$ 180 bilhões em rodovias e mobilidade urbana, sem contar os aeroportos, para um período de cerca de três anos a até cinco anos. Vai depender do ritmo dos leilões que vierem a ser realizados. Há um sentimento no setor de infraestrutura de que vem pela frente, nos próximos anos, aquilo que nós costumamos chamar de um superciclo de investimentos. Existem estudos que mostram que o Brasil, dada a sua dimensão econômica, poderia estar investindo o dobro em infraestrutura do que faz, para que ocorra uma melhoria da sua infraestrutura, e não apenas uma manutenção das redes. O País investe cerca de 2% do seu PIB em infraestrutura e poderia ser cerca de 4%. Ainda assim, estamos fechando o ano com valor de R$ 213 bilhões em investimentos em infraestrutura, o que fica muito próximo do recorde histórico, batido em 2014, e com um crescimento de 20% em relação a 2022. É um sinal de que o Brasil já está caminhando para um superciclo de investimentos em infraestrutura. Tudo leva a isso: um quadro político estável, a queda da taxa de juro, a inflação controlada, o quadro macroeconômico estabilizado e uma reforma tributária esboçada e aprovada, que agora precisa de ter a sua regulamentação.

Então, o quadro macroeconômico como um todo é benéfico para o setor?

Conquistamos duas posições no ranking do PIB mundial, ultrapassamos o Canadá e a Rússia, e voltamos a estar entre as dez maiores economias do mundo. A infraestrutura tem de acompanhar isso, porque é um viabilizador do crescimento econômico e o retroalimenta. Tudo indica que terminamos o ano de 2023 com um crescimento em torno de 3%. É uma marca muito favorável. Foi também um dos melhores anos de financiamento para infraestrutura, com o BNDES desembolsando R$ 37 bilhões. Estou com uma perspectiva favorável para 2024. Acho que vai ser um ano de continuidade dos bons resultados de 2023.

O setor de infraestrutura pode ajudar a compensar, para o PIB, o setor de agronegócios, que cresceu muito em 2023 e não deve manter o ritmo agora?

Eu não sou especialista em agronegócios, mas ele continuará a ter o seu papel fundamental na economia nacional. Mas ele depende um pouco do quadro internacional e da cotação das commodities. Já no setor de infraestrutura temos condições para intensificar o crescimento. Precisamos de estabilidade, de segurança jurídica e do tratamento adequado das matrizes de risco e retorno. Vemos que tanto no domínio federal quanto no estadual existe uma vontade muito grande de trazer essa equação correta. Estamos num ambiente de diálogo muito aberto. Os canais de comunicação e diálogo com o poder concedente e com o poder regulatório são muito fluidos. Isso nos dá muita confiança.

As primeiras concessões desse governo, no entanto, não atraíram a iniciativa privada como o esperado. Isso foi por conta do perfil das concessões ou a iniciativa privada estava um pouco mais retraída?

A avaliação que o mercado faz é o equilíbrio risco e retorno. O projeto tem de se configurar de forma atrativa para os operadores. O mercado, o poder concedente e as agências reguladoras, estamos todos tentando encontrar essa equação, que permite proteger os interesses da sociedade e garantir que os consumidores tenham um serviço adequado, enquanto o acionista tenha um retorno para rentabilizar o seu capital. Acertando essa equação, é bem possível que as metas do governo e do Ministério dos Transportes possam ser cumpridas. Há 26 mil quilômetros de rodovias concessionadas, e esse número pode dobrar. Existem ainda muitas estradas que não estão pavimentadas, um potencial ainda muito grande para o Brasil, que é um país continental.

A CCR é considerada uma das empresas com ações na B3 que mais podem se beneficiar da queda dos juros. Como isso pode acontecer?

A função financeira é determinante na nossa operação. Temos uma dívida bruta de cerca de R$ 30 bilhões. Portanto, cada ponto porcentual a menos da taxa de juros representa muito valor que deixamos de pagar em juros. E também é bom pela questão de crédito, e para estimular o setor a entrar com novos projetos. Ficamos com mais espaço no balanço para poder crescer. No setor, fechamos financiamento com horizonte largo, de 30 anos, de 15 anos. Não é bom fechar condições de financiamento no momento em que as taxas de juros estão muito elevadas.

A CCR tem falado muito de rodovias. Em aeroportos, não há tanta expectativa de crescimento?

No Brasil, 90% do tráfego já foi concessionado, e os 10% restantes estão basicamente no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Isso significa que no mercado primário já não há muitas oportunidades. Elas podem aparecer no mercado secundário. A CCR tomou uma decisão de focar o seu crescimento neste momento no segmento de rodovias e mobilidade urbana. Mas, para aeroportos, nós temos um objetivo de conciliar a nossa posição de investimento de R$ 2 bilhões de acordo com os compromissos regulatórios que vieram da sexta rodada de licitações. E, depois, também gostaríamos de participar dos movimentos de consolidação do mercado brasileiro, que está muito fragmentado. Os operadores têm, todos, participações de mercado muito pequenas, com pouca escala. E isso obviamente é essencial para ganhar eficiência. Portanto, é um segmento que, mais cedo ou mais tarde, vai passar por movimentos de consolidação. O grupo CCR naturalmente tem a ambição de participar nesse processo.

Durante a aprovação da reforma tributária na Câmara, o setor de infraestrutura seria um dos beneficiados com uma alíquota especial menor, e esse ponto caiu no fim da tramitação. Como vê essa questão? A reforma continua sendo benéfica para o setor?

Ela confere ao sistema tributário brasileiro uma simplificação. Como sabemos, hoje o sistema tributário é bastante complexo e isso gera ineficiência. Portanto, a reforma é muito boa, e carece agora de definição das chamadas regras complementares, para ser regulamentada. Ela tem um período de transição bem dilatado, e isso permite que vá se fazendo os ajustes necessários para que ele entre da forma correta. De um ponto de vista econômico, ela deve ter uma neutralidade tributária. Com certeza, na regulamentação da lei tributária, as duas dimensões deverão ser contempladas, de proteger, por um lado, os interesses do consumidor, e, por outro lado, garantir o equilíbrio econômico das concessões, que não pode ser posto em perigo.

O Brasil vai entrar em um superciclo de investimentos em infraestrutura, segundo o CEO do grupo CCR, o português Miguel Setas. E isso, para a concessionária de serviços de infraestrutura de transportes, se traduzirá em oportunidades de R$ 180 bilhões em negócios pelos próximos três anos, principalmente nos segmentos de rodovias e mobilidade urbana.

Pela frente, estão mais concessões de rodovias acontecendo, que devem ser destravadas em relação a 2023, quando as poucas licitações do setor não atraíram muitos interessados.

Setas, que se mudou para o Brasil em 2007 para trabalhar na subsidiária local da empresa portuguesa de energia elétrica EDP, assumiu o comando da CCR há oito meses e vai conduzir uma sequência de investimentos estimada em R$ 33 bilhões em cinco anos, sendo que R$ 28 bilhões irão para rodovias.

Em 2023, o setor de infraestrutura como um todo, incluindo também aeroportos, energia, saneamento básico e telecomunicações, movimentou R$ 213 bilhões no Brasil, o segundo melhor resultado histórico – abaixo apenas de 2014. E Setas acredita que pode haver crescimento contínuo nos próximos anos a partir dessa base.

Miguel Setas diz que CCR pretende participar de um movimento de consolidação no setor de aeroportos no Brasil Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Uma incerteza para a CCR, porém, é a expectativa de término da concessão da Via Oeste, que inclui a Rodovia Castello Branco, um dos mais importantes ativos da empresa. A empresa vai tentar renovar essa concessão, caso o governo do Estado decida relicitar o ativo em 2024 ou 2025.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Como o sr. espera que será o ano de 2024 para a CCR?

Estamos num período de alta de investimentos. O grupo intensificou os aportes, e estamos com um plano de R$ 33 bilhões de investimentos, sendo que R$ 28 bilhões irão para as rodovias, pelos próximos cinco a sete anos, com criação de 46 mil empregos novos. O restante irá para mobilidade urbana e aeroportos. É importante destacar que esses R$ 28 bilhões são para rodovias que já operamos, como é o caso da Dutra, que liga o Rio de Janeiro a São Paulo, e das concessões no Sul do País. Teremos menos investimentos na concessionária Via Oeste, com as rodovias Castello Branco e Raposo Tavares, que está em fim de ciclo e que pode vir a ser relicitada neste ou no próximo ano. Do lado dos aeroportos, temos um investimento previsto de R$ 2 bilhões. Fomos a empresa concessionária vencedora da sexta rodada de leilões de aeroportos, e ganhamos 15 aeroportos para operar e fazer melhorias.

Rodovia Presidente Dutra, ligando São Paulo ao Rio, é uma das concessões da CCR Foto: Felipe Rau/Estadão

Qual é a expectativa em relação a novas concessões?

Nos próximos anos, vemos um potencial de mercado na casa dos R$ 180 bilhões em rodovias e mobilidade urbana, sem contar os aeroportos, para um período de cerca de três anos a até cinco anos. Vai depender do ritmo dos leilões que vierem a ser realizados. Há um sentimento no setor de infraestrutura de que vem pela frente, nos próximos anos, aquilo que nós costumamos chamar de um superciclo de investimentos. Existem estudos que mostram que o Brasil, dada a sua dimensão econômica, poderia estar investindo o dobro em infraestrutura do que faz, para que ocorra uma melhoria da sua infraestrutura, e não apenas uma manutenção das redes. O País investe cerca de 2% do seu PIB em infraestrutura e poderia ser cerca de 4%. Ainda assim, estamos fechando o ano com valor de R$ 213 bilhões em investimentos em infraestrutura, o que fica muito próximo do recorde histórico, batido em 2014, e com um crescimento de 20% em relação a 2022. É um sinal de que o Brasil já está caminhando para um superciclo de investimentos em infraestrutura. Tudo leva a isso: um quadro político estável, a queda da taxa de juro, a inflação controlada, o quadro macroeconômico estabilizado e uma reforma tributária esboçada e aprovada, que agora precisa de ter a sua regulamentação.

Então, o quadro macroeconômico como um todo é benéfico para o setor?

Conquistamos duas posições no ranking do PIB mundial, ultrapassamos o Canadá e a Rússia, e voltamos a estar entre as dez maiores economias do mundo. A infraestrutura tem de acompanhar isso, porque é um viabilizador do crescimento econômico e o retroalimenta. Tudo indica que terminamos o ano de 2023 com um crescimento em torno de 3%. É uma marca muito favorável. Foi também um dos melhores anos de financiamento para infraestrutura, com o BNDES desembolsando R$ 37 bilhões. Estou com uma perspectiva favorável para 2024. Acho que vai ser um ano de continuidade dos bons resultados de 2023.

O setor de infraestrutura pode ajudar a compensar, para o PIB, o setor de agronegócios, que cresceu muito em 2023 e não deve manter o ritmo agora?

Eu não sou especialista em agronegócios, mas ele continuará a ter o seu papel fundamental na economia nacional. Mas ele depende um pouco do quadro internacional e da cotação das commodities. Já no setor de infraestrutura temos condições para intensificar o crescimento. Precisamos de estabilidade, de segurança jurídica e do tratamento adequado das matrizes de risco e retorno. Vemos que tanto no domínio federal quanto no estadual existe uma vontade muito grande de trazer essa equação correta. Estamos num ambiente de diálogo muito aberto. Os canais de comunicação e diálogo com o poder concedente e com o poder regulatório são muito fluidos. Isso nos dá muita confiança.

As primeiras concessões desse governo, no entanto, não atraíram a iniciativa privada como o esperado. Isso foi por conta do perfil das concessões ou a iniciativa privada estava um pouco mais retraída?

A avaliação que o mercado faz é o equilíbrio risco e retorno. O projeto tem de se configurar de forma atrativa para os operadores. O mercado, o poder concedente e as agências reguladoras, estamos todos tentando encontrar essa equação, que permite proteger os interesses da sociedade e garantir que os consumidores tenham um serviço adequado, enquanto o acionista tenha um retorno para rentabilizar o seu capital. Acertando essa equação, é bem possível que as metas do governo e do Ministério dos Transportes possam ser cumpridas. Há 26 mil quilômetros de rodovias concessionadas, e esse número pode dobrar. Existem ainda muitas estradas que não estão pavimentadas, um potencial ainda muito grande para o Brasil, que é um país continental.

A CCR é considerada uma das empresas com ações na B3 que mais podem se beneficiar da queda dos juros. Como isso pode acontecer?

A função financeira é determinante na nossa operação. Temos uma dívida bruta de cerca de R$ 30 bilhões. Portanto, cada ponto porcentual a menos da taxa de juros representa muito valor que deixamos de pagar em juros. E também é bom pela questão de crédito, e para estimular o setor a entrar com novos projetos. Ficamos com mais espaço no balanço para poder crescer. No setor, fechamos financiamento com horizonte largo, de 30 anos, de 15 anos. Não é bom fechar condições de financiamento no momento em que as taxas de juros estão muito elevadas.

A CCR tem falado muito de rodovias. Em aeroportos, não há tanta expectativa de crescimento?

No Brasil, 90% do tráfego já foi concessionado, e os 10% restantes estão basicamente no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Isso significa que no mercado primário já não há muitas oportunidades. Elas podem aparecer no mercado secundário. A CCR tomou uma decisão de focar o seu crescimento neste momento no segmento de rodovias e mobilidade urbana. Mas, para aeroportos, nós temos um objetivo de conciliar a nossa posição de investimento de R$ 2 bilhões de acordo com os compromissos regulatórios que vieram da sexta rodada de licitações. E, depois, também gostaríamos de participar dos movimentos de consolidação do mercado brasileiro, que está muito fragmentado. Os operadores têm, todos, participações de mercado muito pequenas, com pouca escala. E isso obviamente é essencial para ganhar eficiência. Portanto, é um segmento que, mais cedo ou mais tarde, vai passar por movimentos de consolidação. O grupo CCR naturalmente tem a ambição de participar nesse processo.

Durante a aprovação da reforma tributária na Câmara, o setor de infraestrutura seria um dos beneficiados com uma alíquota especial menor, e esse ponto caiu no fim da tramitação. Como vê essa questão? A reforma continua sendo benéfica para o setor?

Ela confere ao sistema tributário brasileiro uma simplificação. Como sabemos, hoje o sistema tributário é bastante complexo e isso gera ineficiência. Portanto, a reforma é muito boa, e carece agora de definição das chamadas regras complementares, para ser regulamentada. Ela tem um período de transição bem dilatado, e isso permite que vá se fazendo os ajustes necessários para que ele entre da forma correta. De um ponto de vista econômico, ela deve ter uma neutralidade tributária. Com certeza, na regulamentação da lei tributária, as duas dimensões deverão ser contempladas, de proteger, por um lado, os interesses do consumidor, e, por outro lado, garantir o equilíbrio econômico das concessões, que não pode ser posto em perigo.

O Brasil vai entrar em um superciclo de investimentos em infraestrutura, segundo o CEO do grupo CCR, o português Miguel Setas. E isso, para a concessionária de serviços de infraestrutura de transportes, se traduzirá em oportunidades de R$ 180 bilhões em negócios pelos próximos três anos, principalmente nos segmentos de rodovias e mobilidade urbana.

Pela frente, estão mais concessões de rodovias acontecendo, que devem ser destravadas em relação a 2023, quando as poucas licitações do setor não atraíram muitos interessados.

Setas, que se mudou para o Brasil em 2007 para trabalhar na subsidiária local da empresa portuguesa de energia elétrica EDP, assumiu o comando da CCR há oito meses e vai conduzir uma sequência de investimentos estimada em R$ 33 bilhões em cinco anos, sendo que R$ 28 bilhões irão para rodovias.

Em 2023, o setor de infraestrutura como um todo, incluindo também aeroportos, energia, saneamento básico e telecomunicações, movimentou R$ 213 bilhões no Brasil, o segundo melhor resultado histórico – abaixo apenas de 2014. E Setas acredita que pode haver crescimento contínuo nos próximos anos a partir dessa base.

Miguel Setas diz que CCR pretende participar de um movimento de consolidação no setor de aeroportos no Brasil Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Uma incerteza para a CCR, porém, é a expectativa de término da concessão da Via Oeste, que inclui a Rodovia Castello Branco, um dos mais importantes ativos da empresa. A empresa vai tentar renovar essa concessão, caso o governo do Estado decida relicitar o ativo em 2024 ou 2025.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Como o sr. espera que será o ano de 2024 para a CCR?

Estamos num período de alta de investimentos. O grupo intensificou os aportes, e estamos com um plano de R$ 33 bilhões de investimentos, sendo que R$ 28 bilhões irão para as rodovias, pelos próximos cinco a sete anos, com criação de 46 mil empregos novos. O restante irá para mobilidade urbana e aeroportos. É importante destacar que esses R$ 28 bilhões são para rodovias que já operamos, como é o caso da Dutra, que liga o Rio de Janeiro a São Paulo, e das concessões no Sul do País. Teremos menos investimentos na concessionária Via Oeste, com as rodovias Castello Branco e Raposo Tavares, que está em fim de ciclo e que pode vir a ser relicitada neste ou no próximo ano. Do lado dos aeroportos, temos um investimento previsto de R$ 2 bilhões. Fomos a empresa concessionária vencedora da sexta rodada de leilões de aeroportos, e ganhamos 15 aeroportos para operar e fazer melhorias.

Rodovia Presidente Dutra, ligando São Paulo ao Rio, é uma das concessões da CCR Foto: Felipe Rau/Estadão

Qual é a expectativa em relação a novas concessões?

Nos próximos anos, vemos um potencial de mercado na casa dos R$ 180 bilhões em rodovias e mobilidade urbana, sem contar os aeroportos, para um período de cerca de três anos a até cinco anos. Vai depender do ritmo dos leilões que vierem a ser realizados. Há um sentimento no setor de infraestrutura de que vem pela frente, nos próximos anos, aquilo que nós costumamos chamar de um superciclo de investimentos. Existem estudos que mostram que o Brasil, dada a sua dimensão econômica, poderia estar investindo o dobro em infraestrutura do que faz, para que ocorra uma melhoria da sua infraestrutura, e não apenas uma manutenção das redes. O País investe cerca de 2% do seu PIB em infraestrutura e poderia ser cerca de 4%. Ainda assim, estamos fechando o ano com valor de R$ 213 bilhões em investimentos em infraestrutura, o que fica muito próximo do recorde histórico, batido em 2014, e com um crescimento de 20% em relação a 2022. É um sinal de que o Brasil já está caminhando para um superciclo de investimentos em infraestrutura. Tudo leva a isso: um quadro político estável, a queda da taxa de juro, a inflação controlada, o quadro macroeconômico estabilizado e uma reforma tributária esboçada e aprovada, que agora precisa de ter a sua regulamentação.

Então, o quadro macroeconômico como um todo é benéfico para o setor?

Conquistamos duas posições no ranking do PIB mundial, ultrapassamos o Canadá e a Rússia, e voltamos a estar entre as dez maiores economias do mundo. A infraestrutura tem de acompanhar isso, porque é um viabilizador do crescimento econômico e o retroalimenta. Tudo indica que terminamos o ano de 2023 com um crescimento em torno de 3%. É uma marca muito favorável. Foi também um dos melhores anos de financiamento para infraestrutura, com o BNDES desembolsando R$ 37 bilhões. Estou com uma perspectiva favorável para 2024. Acho que vai ser um ano de continuidade dos bons resultados de 2023.

O setor de infraestrutura pode ajudar a compensar, para o PIB, o setor de agronegócios, que cresceu muito em 2023 e não deve manter o ritmo agora?

Eu não sou especialista em agronegócios, mas ele continuará a ter o seu papel fundamental na economia nacional. Mas ele depende um pouco do quadro internacional e da cotação das commodities. Já no setor de infraestrutura temos condições para intensificar o crescimento. Precisamos de estabilidade, de segurança jurídica e do tratamento adequado das matrizes de risco e retorno. Vemos que tanto no domínio federal quanto no estadual existe uma vontade muito grande de trazer essa equação correta. Estamos num ambiente de diálogo muito aberto. Os canais de comunicação e diálogo com o poder concedente e com o poder regulatório são muito fluidos. Isso nos dá muita confiança.

As primeiras concessões desse governo, no entanto, não atraíram a iniciativa privada como o esperado. Isso foi por conta do perfil das concessões ou a iniciativa privada estava um pouco mais retraída?

A avaliação que o mercado faz é o equilíbrio risco e retorno. O projeto tem de se configurar de forma atrativa para os operadores. O mercado, o poder concedente e as agências reguladoras, estamos todos tentando encontrar essa equação, que permite proteger os interesses da sociedade e garantir que os consumidores tenham um serviço adequado, enquanto o acionista tenha um retorno para rentabilizar o seu capital. Acertando essa equação, é bem possível que as metas do governo e do Ministério dos Transportes possam ser cumpridas. Há 26 mil quilômetros de rodovias concessionadas, e esse número pode dobrar. Existem ainda muitas estradas que não estão pavimentadas, um potencial ainda muito grande para o Brasil, que é um país continental.

A CCR é considerada uma das empresas com ações na B3 que mais podem se beneficiar da queda dos juros. Como isso pode acontecer?

A função financeira é determinante na nossa operação. Temos uma dívida bruta de cerca de R$ 30 bilhões. Portanto, cada ponto porcentual a menos da taxa de juros representa muito valor que deixamos de pagar em juros. E também é bom pela questão de crédito, e para estimular o setor a entrar com novos projetos. Ficamos com mais espaço no balanço para poder crescer. No setor, fechamos financiamento com horizonte largo, de 30 anos, de 15 anos. Não é bom fechar condições de financiamento no momento em que as taxas de juros estão muito elevadas.

A CCR tem falado muito de rodovias. Em aeroportos, não há tanta expectativa de crescimento?

No Brasil, 90% do tráfego já foi concessionado, e os 10% restantes estão basicamente no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Isso significa que no mercado primário já não há muitas oportunidades. Elas podem aparecer no mercado secundário. A CCR tomou uma decisão de focar o seu crescimento neste momento no segmento de rodovias e mobilidade urbana. Mas, para aeroportos, nós temos um objetivo de conciliar a nossa posição de investimento de R$ 2 bilhões de acordo com os compromissos regulatórios que vieram da sexta rodada de licitações. E, depois, também gostaríamos de participar dos movimentos de consolidação do mercado brasileiro, que está muito fragmentado. Os operadores têm, todos, participações de mercado muito pequenas, com pouca escala. E isso obviamente é essencial para ganhar eficiência. Portanto, é um segmento que, mais cedo ou mais tarde, vai passar por movimentos de consolidação. O grupo CCR naturalmente tem a ambição de participar nesse processo.

Durante a aprovação da reforma tributária na Câmara, o setor de infraestrutura seria um dos beneficiados com uma alíquota especial menor, e esse ponto caiu no fim da tramitação. Como vê essa questão? A reforma continua sendo benéfica para o setor?

Ela confere ao sistema tributário brasileiro uma simplificação. Como sabemos, hoje o sistema tributário é bastante complexo e isso gera ineficiência. Portanto, a reforma é muito boa, e carece agora de definição das chamadas regras complementares, para ser regulamentada. Ela tem um período de transição bem dilatado, e isso permite que vá se fazendo os ajustes necessários para que ele entre da forma correta. De um ponto de vista econômico, ela deve ter uma neutralidade tributária. Com certeza, na regulamentação da lei tributária, as duas dimensões deverão ser contempladas, de proteger, por um lado, os interesses do consumidor, e, por outro lado, garantir o equilíbrio econômico das concessões, que não pode ser posto em perigo.

O Brasil vai entrar em um superciclo de investimentos em infraestrutura, segundo o CEO do grupo CCR, o português Miguel Setas. E isso, para a concessionária de serviços de infraestrutura de transportes, se traduzirá em oportunidades de R$ 180 bilhões em negócios pelos próximos três anos, principalmente nos segmentos de rodovias e mobilidade urbana.

Pela frente, estão mais concessões de rodovias acontecendo, que devem ser destravadas em relação a 2023, quando as poucas licitações do setor não atraíram muitos interessados.

Setas, que se mudou para o Brasil em 2007 para trabalhar na subsidiária local da empresa portuguesa de energia elétrica EDP, assumiu o comando da CCR há oito meses e vai conduzir uma sequência de investimentos estimada em R$ 33 bilhões em cinco anos, sendo que R$ 28 bilhões irão para rodovias.

Em 2023, o setor de infraestrutura como um todo, incluindo também aeroportos, energia, saneamento básico e telecomunicações, movimentou R$ 213 bilhões no Brasil, o segundo melhor resultado histórico – abaixo apenas de 2014. E Setas acredita que pode haver crescimento contínuo nos próximos anos a partir dessa base.

Miguel Setas diz que CCR pretende participar de um movimento de consolidação no setor de aeroportos no Brasil Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Uma incerteza para a CCR, porém, é a expectativa de término da concessão da Via Oeste, que inclui a Rodovia Castello Branco, um dos mais importantes ativos da empresa. A empresa vai tentar renovar essa concessão, caso o governo do Estado decida relicitar o ativo em 2024 ou 2025.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Como o sr. espera que será o ano de 2024 para a CCR?

Estamos num período de alta de investimentos. O grupo intensificou os aportes, e estamos com um plano de R$ 33 bilhões de investimentos, sendo que R$ 28 bilhões irão para as rodovias, pelos próximos cinco a sete anos, com criação de 46 mil empregos novos. O restante irá para mobilidade urbana e aeroportos. É importante destacar que esses R$ 28 bilhões são para rodovias que já operamos, como é o caso da Dutra, que liga o Rio de Janeiro a São Paulo, e das concessões no Sul do País. Teremos menos investimentos na concessionária Via Oeste, com as rodovias Castello Branco e Raposo Tavares, que está em fim de ciclo e que pode vir a ser relicitada neste ou no próximo ano. Do lado dos aeroportos, temos um investimento previsto de R$ 2 bilhões. Fomos a empresa concessionária vencedora da sexta rodada de leilões de aeroportos, e ganhamos 15 aeroportos para operar e fazer melhorias.

Rodovia Presidente Dutra, ligando São Paulo ao Rio, é uma das concessões da CCR Foto: Felipe Rau/Estadão

Qual é a expectativa em relação a novas concessões?

Nos próximos anos, vemos um potencial de mercado na casa dos R$ 180 bilhões em rodovias e mobilidade urbana, sem contar os aeroportos, para um período de cerca de três anos a até cinco anos. Vai depender do ritmo dos leilões que vierem a ser realizados. Há um sentimento no setor de infraestrutura de que vem pela frente, nos próximos anos, aquilo que nós costumamos chamar de um superciclo de investimentos. Existem estudos que mostram que o Brasil, dada a sua dimensão econômica, poderia estar investindo o dobro em infraestrutura do que faz, para que ocorra uma melhoria da sua infraestrutura, e não apenas uma manutenção das redes. O País investe cerca de 2% do seu PIB em infraestrutura e poderia ser cerca de 4%. Ainda assim, estamos fechando o ano com valor de R$ 213 bilhões em investimentos em infraestrutura, o que fica muito próximo do recorde histórico, batido em 2014, e com um crescimento de 20% em relação a 2022. É um sinal de que o Brasil já está caminhando para um superciclo de investimentos em infraestrutura. Tudo leva a isso: um quadro político estável, a queda da taxa de juro, a inflação controlada, o quadro macroeconômico estabilizado e uma reforma tributária esboçada e aprovada, que agora precisa de ter a sua regulamentação.

Então, o quadro macroeconômico como um todo é benéfico para o setor?

Conquistamos duas posições no ranking do PIB mundial, ultrapassamos o Canadá e a Rússia, e voltamos a estar entre as dez maiores economias do mundo. A infraestrutura tem de acompanhar isso, porque é um viabilizador do crescimento econômico e o retroalimenta. Tudo indica que terminamos o ano de 2023 com um crescimento em torno de 3%. É uma marca muito favorável. Foi também um dos melhores anos de financiamento para infraestrutura, com o BNDES desembolsando R$ 37 bilhões. Estou com uma perspectiva favorável para 2024. Acho que vai ser um ano de continuidade dos bons resultados de 2023.

O setor de infraestrutura pode ajudar a compensar, para o PIB, o setor de agronegócios, que cresceu muito em 2023 e não deve manter o ritmo agora?

Eu não sou especialista em agronegócios, mas ele continuará a ter o seu papel fundamental na economia nacional. Mas ele depende um pouco do quadro internacional e da cotação das commodities. Já no setor de infraestrutura temos condições para intensificar o crescimento. Precisamos de estabilidade, de segurança jurídica e do tratamento adequado das matrizes de risco e retorno. Vemos que tanto no domínio federal quanto no estadual existe uma vontade muito grande de trazer essa equação correta. Estamos num ambiente de diálogo muito aberto. Os canais de comunicação e diálogo com o poder concedente e com o poder regulatório são muito fluidos. Isso nos dá muita confiança.

As primeiras concessões desse governo, no entanto, não atraíram a iniciativa privada como o esperado. Isso foi por conta do perfil das concessões ou a iniciativa privada estava um pouco mais retraída?

A avaliação que o mercado faz é o equilíbrio risco e retorno. O projeto tem de se configurar de forma atrativa para os operadores. O mercado, o poder concedente e as agências reguladoras, estamos todos tentando encontrar essa equação, que permite proteger os interesses da sociedade e garantir que os consumidores tenham um serviço adequado, enquanto o acionista tenha um retorno para rentabilizar o seu capital. Acertando essa equação, é bem possível que as metas do governo e do Ministério dos Transportes possam ser cumpridas. Há 26 mil quilômetros de rodovias concessionadas, e esse número pode dobrar. Existem ainda muitas estradas que não estão pavimentadas, um potencial ainda muito grande para o Brasil, que é um país continental.

A CCR é considerada uma das empresas com ações na B3 que mais podem se beneficiar da queda dos juros. Como isso pode acontecer?

A função financeira é determinante na nossa operação. Temos uma dívida bruta de cerca de R$ 30 bilhões. Portanto, cada ponto porcentual a menos da taxa de juros representa muito valor que deixamos de pagar em juros. E também é bom pela questão de crédito, e para estimular o setor a entrar com novos projetos. Ficamos com mais espaço no balanço para poder crescer. No setor, fechamos financiamento com horizonte largo, de 30 anos, de 15 anos. Não é bom fechar condições de financiamento no momento em que as taxas de juros estão muito elevadas.

A CCR tem falado muito de rodovias. Em aeroportos, não há tanta expectativa de crescimento?

No Brasil, 90% do tráfego já foi concessionado, e os 10% restantes estão basicamente no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Isso significa que no mercado primário já não há muitas oportunidades. Elas podem aparecer no mercado secundário. A CCR tomou uma decisão de focar o seu crescimento neste momento no segmento de rodovias e mobilidade urbana. Mas, para aeroportos, nós temos um objetivo de conciliar a nossa posição de investimento de R$ 2 bilhões de acordo com os compromissos regulatórios que vieram da sexta rodada de licitações. E, depois, também gostaríamos de participar dos movimentos de consolidação do mercado brasileiro, que está muito fragmentado. Os operadores têm, todos, participações de mercado muito pequenas, com pouca escala. E isso obviamente é essencial para ganhar eficiência. Portanto, é um segmento que, mais cedo ou mais tarde, vai passar por movimentos de consolidação. O grupo CCR naturalmente tem a ambição de participar nesse processo.

Durante a aprovação da reforma tributária na Câmara, o setor de infraestrutura seria um dos beneficiados com uma alíquota especial menor, e esse ponto caiu no fim da tramitação. Como vê essa questão? A reforma continua sendo benéfica para o setor?

Ela confere ao sistema tributário brasileiro uma simplificação. Como sabemos, hoje o sistema tributário é bastante complexo e isso gera ineficiência. Portanto, a reforma é muito boa, e carece agora de definição das chamadas regras complementares, para ser regulamentada. Ela tem um período de transição bem dilatado, e isso permite que vá se fazendo os ajustes necessários para que ele entre da forma correta. De um ponto de vista econômico, ela deve ter uma neutralidade tributária. Com certeza, na regulamentação da lei tributária, as duas dimensões deverão ser contempladas, de proteger, por um lado, os interesses do consumidor, e, por outro lado, garantir o equilíbrio econômico das concessões, que não pode ser posto em perigo.

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